Anjo escrita por Urano


Capítulo 1
Anjo


Notas iniciais do capítulo

Mais uma oneshot. Mais uma pequena história de amor. Acho que é basicamente o que eu gosto de escrever, né? Bem, essa é mais slice of life que qualquer outra coisa. Espero que emocione você, pelo menos um pouquinho.

Gostaria de agradecer especialmente ao Felipe Pegher por ter me ajudado não só na escrita, mas também com a capa. Você mora no meu coração, Lipe.



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Um suave cheiro amadeirado me atingiu quando toquei em seu terno. Mais macio que o habitual, mais elegante que o habitual, mais quente e perfumado do que todas as flores que enfeitavam a primavera lá fora. Ajeitei sua gravata azul escura, procurando manter um ar de reprovação. Disse qualquer coisa sobre seu desleixo em um dia tão especial e só escutei uma pequena risada em resposta.

Levantei os olhos para encará-lo, procurando qualquer coisa para desaprovar em seu rosto. Lindas pérolas azuis como o céu, emolduradas por cachos loiros cuidadosamente penteados, sustentaram meu olhar. Eu conhecia aquele rosto tão bem quanto a palma da minha mão. Talvez não houvesse mais ninguém na terra que ansiasse tanto por ver aquele sorriso. Meu anjo.

Dei-lhe um tapinha no braço, sorrindo junto com ele, sem jamais querer superar seu brilho. Passos e vozes foram ouvidas na porta e alguns homens entraram sorrindo no cômodo de paredes claras, decorado com imagens santas. Estavam muito bem vestidos e com taças vazias nas mãos. Todos traziam consigo a expectativa da celebração que viria.

“Você deveria estar aqui?” perguntou um deles, enquanto se recostava em uma viga da parede. Respondi-lhe com uma piadinha indecente e escutei um coral de risos. Prestei atenção em apenas um. Ajeitei o busto do meu vestido, querendo que o homem a minha frente espiasse um pouco de mim. Eram nossos últimos momentos antes da grande festa. Permiti-me ser um pouco egoísta.

Apressei-lhe para que entrasse no grande salão, decorado com flores brancas e um majestoso tapete vermelho. Panos dourados separavam o corredor dos convidados, dando ao local uma aura quase divina. Pouco observei o altar, contudo. Eu teria tempo de fazer isso depois. Corri para me juntar às outras mulheres. Muita conversa e histórias que eu não queria ouvir. Eu já estava mais do que pronta e só queria entrar logo no salão.

Os minutos se passaram como se fossem horas até que finalmente pude vê-lo novamente. Um homem alto e esguio no centro de toda a atenção. Subi no altar, tímida, com meus cabelos negros me cobrindo a testa. Posicionei-me onde agora era meu lugar.

De canto, meu anjo olhou para mim. Estava sorrindo como sempre fazia, mas agora parecia tão radiante quanto o sol. Levantou o polegar em um gesto curto e percebi que ele tremia. Retribui-lhe o sinal, acrescentando uma piscadela de olho. Ele piscou de volta e se virou para a grande porta de entrada marrom escura. Permiti-me observá-lo por um mínimo instante, seus cachos loiros e rebeldes se recusaram a ceder ao creme.

O som da marcha nupcial crescia, tomando para si todo o salão. Como que saído do próprio cheiro das rosas, avistei um véu branco se arrastar pelo chão. Maçãs do rosto pintadas de pêssego se comprimiam em um sorriso cintilante. Talvez a cena mais linda que aquela pequena igreja já houvesse sediado. O amor nos olhos dele correspondia à riqueza da ocasião.

Todos no altar ajoelharam-se. Os noivos tinham todos os olhares em si, mas não se preocupavam com mais nada. Um pequeno mundo particular. O padre começou a falar coisas que não prestei atenção. Ao terminar o discurso veio a pergunta: “Aceita este homem, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, para amá-lo e respeitá-lo até que a morte vos separe?” Era uma pergunta tão obvia. “Aceito.” Murmurei tão baixo que talvez nunca tenha realmente deixado de ser um pensamento.

Vi alianças sendo trocadas, enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto. Uma pela celebração, tão linda e impecável. A segunda por ele ter sua felicidade, seja como fosse. Sua felicidade era o mais importante na minha vida. A terceira, porém, era por mim. Por todas as coisas que não foram ditas, por algo que me fazia querer gritar e correr daquele lugar, por tudo que estava se dissolvendo em meu coração naquele exato momento.

Esta tarde meu anjo iria se casar. E eu não estava de branco.


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Notas finais do capítulo

Fiz você ficar triste? Fica triste não. Estou pensando seriamente em fazer uma continuação em uma provável longfic não tão long assim. Me deixem comentário, se puderem, para que eu tenha noção do que você achou, mesmo se tiver muito ruim, e para eu saber se uma continuação é bem vinda.