Hermione se permitiu ficar deitada um instante a mais, o cabelo espalhado pela cama feito nuvem dispersiva, seus olhos fixos no teto. Ela queria que aquilo durasse só um pouco mais: a certeza de que se virasse o rosto encontraria Ronald ainda vermelho da cabeça aos pés, olhando-a como se ela fosse uma deusa grega recém-saída do Olimpo, ainda constrangido por ter estado entre as pernas dela um instante antes.
Era, ao mesmo tempo, adorável e triste que sexo ainda fosse um evento entre eles. Que fosse o tipo de memória que ainda dava para contar nos dedos das mãos e que eles certamente contavam nos longos períodos em que não se viam.
A verdade é que relacionamentos a distância eram difíceis. E Hermione não era ingênua: ela sabia que qualquer tipo de relacionamento - inclusive os não amorosos - podiam ser difíceis, independente das circunstâncias. Ela sabia e nem por isso doía menos.
Mas eles estavam dando um jeito. Ron, que preferiria ter uma intoxicação alimentar a escrever redações em seus anos escolares, preenchia pergaminhos quase todos os dias por e para ela. Hermione amava com a mesma intensidade cada uma das correspondências que ele enviava, das mais simples às quase-românticas.
Amava o modo como a letra dele sempre era bonita ao escrever "Hermione" e como ficava quase impossível de ler quando ele se empolgava narrando algum evento corriqueiro do treinamento intenso para auror. Ela amava os pequeninos erros ortográficos, os problemas sintáticos, o modo como ele fazia a curva da letra R.
Amava quando as vezes, já tarde da noite, eles conseguiam se falar pela lareira da sala comunal, e o modo como ele se empenhava em tirar folgas sempre em consonância com os dias de visita dela a Hogsmeade.
Daquela vez, ele havia chegado ainda na noite anterior e pagara a diária de um quarto no Três Vassouras. A ideia inicial é que eles se encontrariam pela manhã e passariam o tempo juntos. Mas Hermione mandara ao inferno a ideia inicial - e o seu senso moral e também o seu distintivo de monitora e, ainda, as regras da escola - e usara o seu incrível cérebro e múltiplos talentos para escapar depois do jantar.
Ronald ficara tão surpreso e tão agradecido que bastava ela evocar a memória de seu rosto se iluminando ao vê-la para que sentisse uma súbita vontade de chorar.
— Você sabe, eu ainda estou aqui - ele disse, adivinhando-lhe o pensamento e fazendo um carinho em sua bochecha. - E nós ainda temos umas duas horas! Vamos descer e beber cervejas amanteigadas com Harry e Gina, hm? – tentou animá-la.