Durante escrita por Nina


Capítulo 2
Depois


Notas iniciais do capítulo

Cheguei tarde por motivos de ter um capítulo e ter decidido escrever uma coisa completamente diferente depois de pronto, mas aqui estou e é isso que importa.
Considerem o "depois de Lily/James" como depois que eles pararam de se encontrar.
Espero que gostem bastante s2



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DEPOIS de James Potter, a vida de Lily voltou a funcionar. Ela sempre conheceu o estilo de vida despojado de James e, apesar de ele nada cobrar dela, ela passava os dias se esforçando para ser alguém como ele. Corajosa. Confiante. Porém, tentar fugir do clichê, ter o luxo do estanho sentimento de liberdade e questionar sua existência a cada segundo não era para ela. Não. Não mesmo.

Lily Evans para sempre seria aquela mesma menina, agora mulher: responsável, prolixa, metódica. Preferia perder minutos escolhendo as vestes da semana, do que se atrasar no momento dos compromissos por não saber o que pôr no corpo. Ela organizava planilhas como ninguém, e seus trabalhos estavam prontos e copiados com duas semanas de antecedência. Era feliz vivendo assim.

Só que não era.

Entre ser a adulta perfeita, a filha que orgulhava os olhos do pai, e sentir saudade da sua época de juventude, Lily odiava James por ter mostrado a ela como a vida poderia ser intensa. Como a vida não precisava ser perfeita, apenas vivida. Como ela não deveria se importar com o que esperavam que ela fizesse, como ela poderia se arriscar.

Mas, novamente, essa não era Lily.

Lily era diária.

Certa. Precisa. Imutável.

E, dessa vez, James conhecia o outro ângulo dos seus defeitos. Mas, em vez de odiar cada um deles como era de se esperar, ele ainda prendia a respiração por causa dela.

DEPOIS de Lily Evans, James tentou não se importar. Não apenas com o fato de seu coração estar despedaçado, mas com tudo. Se Lily queria que ele fosse seu príncipe dos sonhos – engomado, educado e estudioso –, se ela não conseguia aceitar quem ele era, ele não se importava quantos riscos tomaria para não ser a pessoa que ela queria que ele fosse.

Ele seria o extremo que ela abominava. O imprudente. O rebelde. O inconsequente. Delinquente. Maluco. Ele viveria intensamente apenas para provar que podia fazer isso e era mais feliz que ela.

E, de fato, ele era. Porque tem pessoas que gostam do modo seguro de se viver, mas, por mais que Lily tenha passado a vida achando que era uma dessas pessoas, ela não era. Porque, apesar de julgar as atitudes de James, no fim do dia elas a divertiam.

Parecia ser um romancezinho de escola que não havia vingado e pode ser que, depois de anos, eles realmente nem sequer se lembrassem um do outro com tanta frequência, mas James fora uma das causas das mudanças na personalidade de Lily na adolescência, assim como Lily foi uma das de James, e essas personalidades eles levariam até o fim da vida.

Eles estavam bem, sendo opostos e vivendo a fase adulta de suas vidas, até aquela sexta fria de Novembro, quase seis anos depois da última vez que se viram, quando o destino resolveu brincar com eles.

O cenário dessa tragédia era um simples hospital na área periférica de Bristol, onde James fazia seu estágio remunerado na emergência infantil. Em média, mais de vinte crianças passavam com algum osso quebrado por ali e, quando o avisaram de um garotinho com deslocamento da patela na cama oito, ele nunca imaginou que reencontraria Lily.

Porém, lá estava ela quando James foi conferir o que havia acontecido com o menino. Os olhos imperdoavelmente encantadores de Lily Evans pareciam preocupados ao encontrar os olhos castanho-esverdeados de James.

Por essa ele não esperava.

Ele não sabia se ela tinha o reconhecido ou não, afinal, nesse meio tempo, mudara a armação dos óculos por uma mais séria e quadrada, deixara a barba crescer e ganhara alguns músculos em seu corpo esguio. E seus cabelos, sempre bagunçados como se ele tivesse acabado de sair de uma montanha russa, estavam mais curtos, quase disciplinados.

Não que Lily não tivesse mudado, porque ela mudara. Parecia ter pintado as pontas dos seus fios cor de acaju de loiro, e era como se seu belo cabelo estivesse pegando fogo. Os traços não eram mais de menina, eram de mulher, e ela com certeza estava alguns centímetros mais alta desde a última vez que se falaram.

De qualquer forma, ela estava diferente, mas seus olhos verdes eram sempre reconhecíveis.

“Lily?”, ele questionou meio perdido, meio sem jeito, e ela desviou o olhar do garotinho para reconhecer o dono da voz.

“James!”, ela exclamou surpresa, sem nenhum tipo de ressentimento. “Que surpresa.”

Ele apenas assentiu.

A palavra que o descreveria não era exatamente perdido, mas era quase isso. Alguns anos sem ver Lily e ela lhe aparecia na frente com um garotinho de mais ou menos seis anos, o tempo que estiveram sem ter notícias um do outro, que tinha olhos tão verdes quanto os dela. A preocupação materna dela com ele apenas o fez imaginar o que raios acontecera nos últimos anos da vida de Lily Evans.

“O que nós temos aqui?”, James decidiu perguntar para o garotinho, decidindo usar o seu bom humor para se livrar de um momento constrangedor com a Evans.

“Ele estava jogando hóquei com os vizinhos em um lago congelado perto de casa e, bem, ele caiu”, ela contou.

“É a primeira vez que ele desloca o joelho?”

“Sim.”

“Qual o seu nome, camarada?”, James perguntou despojadamente para o garotinho.

“Ross”, ele respondeu.

“Ross, nome de campeão de hóquei. Já joguei muito, sabia? Eu era um dos melhores. Uma vez desloquei a patela, assim como você, e tive que ficar um tempo sem jogar, mas voltei sendo o melhor do time, acredita? Era o que mais fazia gols, o mais rápido, o que todos adoravam”, mentiu James, enquanto examinava o joelho o menino. “Será que você consegue ficar duas semanas sem jogar?”

Ele assentiu, envergonhado, e James balançou os cabelos dele.

“Muito bem, garotão.” E se virou para Lily. “Não vou dizer que é algo comum, mas não há nada para se preocupar com o joelho dele. Vou pôr no lugar e ele vai precisar alguns dias sem força-lo, mas depois voltará como novo. Caso se repita, aí sim será caso de preocupação.” Sua voz era profissional e, quando se virou mais uma vez para Ross, tentou usar da sua simpatia e paciência mais uma vez. “Eu vou dar uma mexida aqui, está bem? Se você não chorar, tenho um pouco de chocolate para você.”

“Tia Lily”, Ross chamou pela ruiva, estendendo a mão para que ela a segurasse.

“Vai ser rápido”, ela prometeu para o garotinho.

“Filho da Petúnia?”, questionou James, após algum tempo tentando lembrar o nome da irmã de Lily.

“Enteado da Marlene”, Lily respondeu. “Você trabalha aqui?”

“É o que parece.” Ele sorriu.

Naquele momento, James não entendeu a assombrada expressão que havia tomado conta do rosto de Lily. Foi na segunda-feira, quatro dias depois, que a compreensão lhe ocorreu.

Lily estava trabalhando ali.

Se ele cuidava das crianças da emergência, Lily cuidava dos recém-nascidos como parte de seu estudo em medicina e muitas vezes era requisitada na sala de parto, para assistir e até mesmo ajudar. Não era a mesma ala – a maternidade e a emergência eram, no mínimo, distantes –, mas estavam no mesmo hospital e isso era o bastante para que eles se encontrassem pelo menos uma vez por semana.

Isso mexia, de alguma forma, com James. Na primeira vez que se falaram ali, ele estava bem, porque reencontrar ex-ficantes e ex-colegas de escola ele fazia toda hora. Mas à medida que os dias se passavam e ele ordinariamente encontrava Lily em algum elevador ou tendo dificuldades para acertar o carro em alguma vaga do estacionamento para médicos, alguns sentimentos extras voltavam à tona em seu estômago.

Ele tinha mágoas guardadas, diversas e intensas, mas era mais do que isso. Apesar de não querer proximidade de forma alguma com aquela mulher mais uma vez, ele estava curioso. O que havia acontecidos nesses últimos anos? O que ela fazia em Bristol? Por que decidira fazer medicina?

Lembrava-se bem do quanto ela não estava inclinada a fazer Medicina, embora amasse biologia. Lembrava-se ainda melhor de quando eles estudaram juntos para a olímpiada daquele ano.

Eles eram diferentes, James sempre soube. Mas o curioso entre os dois, e até mesmo divertido, era o quanto eles podiam ser difusos até mesmo na hora de estudar. Se Lily tinha um ritual, de primeiro reproduzir as gravações que tomara liberdade de fazer das aulas, e depois fazer o próprio resumo com dezesseis canetas diferentes, o mais colorido e organizado que podia, e tudo isso a cada vinte e cinco minutos, tendo cinco minutos de descanso entre cada período; James não planejava nada. Ele abria o livro, lia uma vez, procurava por outras fontes na internet, e estava de bom tamanho enquanto tivesse um fone de ouvido com música alta. Sem intervalos. Sem métodos.

Enquanto ela demorava cinco horas para terminar um assunto, ele estudava duas matérias e batia o recorde do videogame no mesmo tempo.

Eram assim e nem por isso um era melhor que o outro. A prova disso foi a proximidade de suas pontuações na olímpiada. Assim que James recebeu a ligação com sua nota, foi correndo encontrar Lily.

"Quanto?", Lily perguntou, ansiosa, assim que abriu a porta da sua casa.

"Diga primeiro", ele ordenou, e ela mordeu os lábios.

"Noventa e um."

James soltou um muxoxo, e ela pareceu preocupada quando ele abaixou os olhos.

“O que foi?”, perguntou docilmente. “Quanto você tirou?"

Então ele ergueu o olhar e a preocupação da menina se dissipou ao encontrar o tão adorado sorriso maroto em seu rosto.

"Noventa e dois."

“Idiota.” Ele riu ao ver sua expressão chateada.

“Aproveitando que estou aqui, o idiota está te chamando para comer uma pizza. O que acha?”

“Eu bem que gostaria.” Ela suspirou. “Mas já são sete horas e meu pai não me deixa sair à noite.”

“Você nem pediu!”

“Eu conheço o meu pai.”

“Ligue para ele.”

“Ele vai dizer não, James.” Ela bufou. “Mas, aproveitando que você está aqui, você pode entrar um pouco, e então pedimos uma pizza pelo telefone e ficamos no jardim até a hora que ele chegar do trabalho.”

Ele sorriu, não tendo tempo para uma resposta, já que Lily segurara sua mão e o puxara para dentro da casa.

“James!”, a Sra. Evans o saudou, feliz, abraçando-o. “Que bom ver você aqui! Já viu o resultado da olimpíada de biologia?”

“Já, sim, senhora.” Ele sorriu. “Infelizmente, um ponto a mais que sua filha.”

“Mas, Lily, como pôde?”, brincou a mãe, fingindo estar zangada.

“Tenho certeza de que ele colou”, disse Lily.

“Lily, querida, quando vai aprender que eu sou o que passa a cola?”, ele questionou.

“Tanto faz”, Lily murmurou. “Mãe, posso pedir uma pizza?”

“Tendo um pedaço de queijo para mim está ótimo”, liberou a Sra. Evans. “Só seja rápida no telefone, sabe como o seu pai é quando recebe a conta.”

Lily assentiu e pegou o telefone, fazendo o pedido da pizza enquanto James apenas a seguia com o olhar.

“Não, sem bebidas”, ela dizia.

“Peça uma Coca!”, James sussurrou, fazendo Lily tampar o telefone para olhá-lo feio. “Você sabe quanto de mau uma Coca-Cola pode te trazer?” Ele encolheu os ombros. “Não. Sem Coca”, sussurrou de volta.

E, ao finalizar o pedido, continuou:

“Você sabe que a acidez da Coca-Cola pode te causar úlcera, dano nos ossos e nos dentes?”

“Sabia, mas é bom.”

“Bom porque a quantidade de açúcar está disfarçada!”, ela se irritou. James apenas sabia sorrir, porque sabia o quanto Lily gostava de tagarelar sobre assuntos que eram do seu conhecimento. “Você não aguentaria de tão doce que é, pode te causar diabetes.”

“É, realmente”, ele ironizou.

Pois é” ela falou, indignada, não percebendo o sarcasmo na voz de James. “Todo mundo sabe que corante artificial é prejudicial e, mesmo depois de muita discussão, ainda vem na lista de ingredientes. Eu acho. Não sei, não compro Coca mesmo. Prejudica o intestino, e claramente significa que você está bebendo uma coisa que não vai fazer bem em nada para você. E tem o ciclamato de potássio, né.”

“Por que você é tão indignada com a Coca-Cola?”, ele perguntou, divertido com a empolgação dela.

“Porque Coca é um veneno!”, ela gritou. “Não beba Coca, obrigada.”

Ele riu alto e, naquele momento, teve mais vontade do que nunca de tacar-lhe um beijo na boca, mas não podia porque, até então, eles ainda eram apenas amigos, e ele sabia que alguém como Lily não gostava de beijos de surpresa.

No mínimo, ele levaria uma tapa no rosto.

Mais outro.

"Planos para o futuro?", Lily perguntou, abocanhando um pedaço de pizza, quando ela chegou.

Estavam sozinhos no quintal da casa, a caixa de pizza no chão, e a jarra de suco que ela havia feito ao lado. Estava silencioso, e eles estavam confortáveis. Naturais.

"Ser pediatra, você?"

"Pediatra?", Lily ergueu as sobrancelhas parecendo surpresa. “Você não tem cara de quem tem paciência com crianças.”

“Geralmente, não tenho”, ele confessou. “Mas eu gosto das crianças encapetadas.”

“Se identifica?”, ela provocou.

“Bastante.” Ele abriu um sorriso. “O que você quer ser?”

"Eu não sei."

"Como não sabe?" James riu. "Você sabe de tudo."

"Não meu futuro." Ela franziu a testa, como se avaliasse suas opções. "Gostaria de estudar ciências políticas, mas a área de atuação é péssima. Sou atraída por Medicina porque respiro biologia, mas a Marlene diz que me vê mais como uma pesquisadora de novos vírus do que como uma médica, e eu também vejo isso. Meus pais me veem como advogada, e é assim que eu me enxergo algumas vezes. Eu não sei ainda."

Ela suspirou aliviada, e James se perguntou quem sabia dessas incertezas dela, do quanto ela parecia à beira de um colapso por não saber o que fazer no futuro.

"São essas opções?", ele ironizou, mas ela não pareceu ter notado.

"Tenho sempre a opção astronomia, mas, novamente, péssimas áreas de atuação."

“Você não deveria se preocupar com área de atuação”, ele aconselhou. “Tem trabalho em todas áreas, só os caminhos que acabam sendo mais fáceis ou mais difíceis.”

Mas ali, James ainda não sabia o quanto os caminhos difíceis assustavam Lily.

“Ainda não sei.”

“Você precisa parar com isso de pensar o que esperam de você”, ele falou. “Noventa por cento das pessoas que fazem Medicina não tem o sonho de ser médicos, só é a opção mais fácil. Ache o seu sonho, Lily.”

“O meu sonho é trabalhar na NASA”, ela falou sonhadoramente, fazendo-o prender o riso.

"De todas as pessoas, eu achei que você seria a que tinha todo o futuro planejado”, ele contou. “Sabe, aquelas listas de metas para os próximos dez anos. Fazer faculdade de Medicina em Boston, com estágio remunerado por lá, voltar para a Inglaterra, fazer especialização, trabalhar em Londres, ter o apartamento próprio, casar, ter dois filhos e um gato. Essas coisas.”

Ela sorriu travessa.

"Mas eu tenho listas dessas", confessou. "Para cada uma das minhas opções."

"É mesmo?" James sorriu.

E era mesmo, ela havia pensando em tudo porque, afinal de contas, ela era Lily Evans.

“Quero que me diga algo”, ele falou, de repente.

“O quê?” Lily mantinha um sorriso bobo no rosto.

“Alguma coisa sobre você que iria me surpreender.”

“Não sou uma pessoa que geralmente surpreende.”

“Tente.”

“Hum”, ela murmurou e, enquanto pensava, James só conseguia admirar o rosto de Lily pelo tempo que podia. “Eu sou fã...”

“Fã de quê?” Ele a olhava divertidamente.

“De High School Musical e Taylor Swift.”

James, naquele momento, precisou cair para trás na grama para rir alto. E, quando olhou para o lado, encontrou Lily sorrindo com as bochechas vermelhas.

Porque, depois de James, corar virara algo frequente na vida de Lily.

A questão é que em algum ponto desse momento divertido, onde James não acreditava que Lily Evans – a garota aparentemente tão certa e racional – gostava dos clichês adolescentes, os seus rostos ficaram próximos. E, de algum modo, James se viu envolvido no jeito como os olhos de Lily pararam de sorrir para atingir certa intensidade.

“Eu posso beijar você agora, Lily?”, ele murmurou e ela foi capaz apenas de assentir.

Quando seus lábios se roçaram, de forma tão inocente, James, que sempre teve a certeza de estar apaixonado por Lily, soube de verdade o que é estar apaixonado, e como apaixonado e certeza não podiam estar na mesma frase. James estava perdido. Ele se sentia perdido.

Lily, em algum momento do beijo, encostou suavemente os dedos no rosto dele, na semi-barba que começava a nascer e que ele se esquecera de tirar; foi nesse momento que o coração de James bombeou com mais força. E, se ele não se ativesse a detalhes banais como o fato da mão de Lily estar mais do que gelada, provavelmente teria perdido a cabeça.

“Você foi meu primeiro beijo”, ela murmurou contra a boca dele. “Não sei se surpreende, mas... Você foi.”

Não surpreendia muito, mas, ao ouvir tais palavras, James puxou o queixo da menina mais uma vez para beijá-la, porque era só isso que ele pensava em fazer. E quando eles, mais uma vez, se separaram, James enroscou os dedos nos de Lily, deixando-os entrelaçados entre os dois.

“Sua vez de me surpreender”, ela sussurrou.

James prendeu a respiração e, quando soltou, confessou:

“Estou apaixonado por você.”

E a lembrança daquela noite, daquela simples declaração, era importante porque, depois de Lily, ele nunca mais repetiu tais palavras.

Porém, não era mentira. Ele estava apaixonado por ela. Apesar de não terem nada concreto, nenhum relacionamento além da amizade, ele se sentia feliz em ter a honra de passar noites como aquela, jogado no jardim dos Evans até que o pai dela chegasse em casa. Ficava feliz ao sentar ao lado dela na sala de aula e conversar com ela entre uma anotação e outra do professor no quadro.

Ela sempre ficava com as bochechas vermelhas quando fazia algo tão errado como conversar durante a aula, principalmente com ele, e ele gostava de se aproveitar da situação para deixa-la ainda mais constrangida, perguntando ao professor se ele também não achava Lily Evans particularmente bonita aquela manhã ou simplesmente tacando-lhe um beijo nas costas da mão, fazendo com que todos os colegas soltassem risadinhas e passassem a murmurar sobre o novo casal da Hogwarts High School.

Mas eles não eram um casal ainda.

“James, o que nós somos?”, ela questionou em uma tarde ensolarada da primavera daquele ano e, naquele momento, ele não soube dizer o que eram.

James, durante o tempo em que era amigo de Lily, na verdade esperava o momento certo. As coisas com Lily não eram rápidas e ele não poderia bater em sua porta com um pedido de namoro do nada. A questão era que ele podia. A questão era que ela esperava. Mas essa não era a única razão para o esperado pedido de namoro não ter chegado, e ele nunca percebeu que precisavam dessa definição até o último dia de aula daquele ano, quando Marlene chamou James em um canto do colégio.

“Você não vai pedir a Lily em namoro, não?”

Namoro?” Era como se a palavra o assustasse.

“Você não vai?” Marlene parecia decepcionada.

“Vou”, ele rapidamente garantiu. “Em algum ponto.”

“James!”

O rapaz suspirou.

Precisou pensar rapidamente se confiava em Marlene ou não. Ela era melhor amiga de Lily, poderia facilmente denunciar tudo o que James lhe contasse, mas suas atitudes até então não demonstravam que ela faria isso.

Por essa razão, por passar a considerar Marlene como uma amiga, ele contou:

“Nunca parei para pensar sobre isso.”

“Como assim, James?”

“Eu estou apaixonado por ela”, ele afirmou com convicção. “É claro que eu penso em nós dois em um relacionamento, mas as coisas não são tão simples.”

“Claro que são.”

“Não são”, ele discordou. “Nós somos muito diferentes. Essas coisas não costumam dar certo.”

“Como você vai saber se não tentar?”

“Eu estou tentando. Estive esse tempo todo tentando. Não somos apenas amigos, Mackie. Há meses não saio com nenhuma garota, eu estou tentando. Só preciso ter a certeza antes de tomar alguma atitude.”

“Pois tenha logo”, aconselhou a menina. “Porque quanto mais tempo passa, mais a Lily pensa que você está enrolando ela. Assim como a Petúnia.”

“O que a Petúnia tem com isso?”

“Ela não gosta de você”, confidenciou Marlene.

“Ela gostava de mim.”

Gostava”, concordou Marlene. “Até ela decidir que você está enrolando a irmãzinha dela. E ela e a Lily são próximas. Enquanto eu, de um lado, ando te defendendo e incentivando Jily, Petúnia é a oposição. Faça alguma coisa, James, ou você vai perder a garota.”

“E por que ela não pode fazer?”

“O que quer dizer?”

“Por que a Lily não pode tomar alguma atitude? A menor que seja, só para demonstrar um pouco dos sentimentos dela? Sei mais dela por você do que por ela.”

“Ela é assim.” Marlene parecia a ponto de revirar os olhos. “Só faça alguma coisa.”

Mas ele não fez.

James Potter nunca se considerou covarde, mas, depois de Lily, essa era a única palavra que ele conseguia encontrar para se definir.

E até nisso eles combinavam porque, depois de James, Lily também passou a se considerar uma pessoa covarde.

As férias de verão daquele ano haviam chegado e nem James ou Lily foram capazes de manter contato. Ele, esperando alguma iniciativa dela, esperando que ela tivesse cabeça para não escutar Petúnia e ir atrás dele, esperando que ela deixasse a passividade de lado. Ela, esperando que ele não fosse o cretino que Petúnia tanto nomeava.

A atitude veio dela, algumas semanas depois que as aulas voltaram, depois de Marlene tanto insistir para Lily voltar a conversar com ele.

“Você ainda vai escrever para o jornal da escola?”, ela perguntou, parando-o no corredor. “Tem alguns interessados na vaga, aquele-”

“Dê a vaga”, ele a interrompeu com um falso sorriso. “Último ano na escola, preciso me concentrar.”

“Mas seus textos são tão bons!”

“Não tenho mais tempo para besteiras, Lily.”

E ela entendeu que era tarde demais. A partir dali, era como se eles nunca tivessem se conhecido. Lily soube, uma semana depois, que James havia ficado com uma menina na festa de despedida do verão e as fofocas eram que eles estavam juntos. Era o fim de James e Lily.

E, depois que a mágoa passou, ambos agradeceram quando pararam de se falar. Eram péssimos um para o outro. Ele a deixou ir e ela foi.

Até se encontrarem naquele hospital.

E, enquanto James se sentia curioso a respeito de Lily mais uma vez, Lily se sentia nervosa. Não tinha sentimentos antigos rasgando o seu peito, porém tinha novos. Era como se nunca tivesse conhecido aquele James mais velho, mais sério e mais bonito, e não podia negar o quanto ele a atraía. Lembrar-se do quanto já o conheceu e do quanto já gostou dele era apenas um detalhe que reforçava aquele sentimento na moça.

O fato era que Lily não o detestava como um dia já o havia feito, e isso era alguma coisa.

“Você sabe”, começou Marlene algum dia, quando ainda estavam na escola. “Recrimina tanto o James por ser extremo, por ser diferente de você, mas não vejo essa diferença toda, Lily.”

“Como não?”, Lily se lembra de ter recrutado.

“O que de tão ruim ele fez? Perdeu a virgindade aos dezessete? Grande coisa”, ridicularizou Marlene. “Ele não é maluco, não faz nada que possa pôr a vida dele em risco. Você às vezes exagera.”

“Ele pulou de um penhasco.”

“Assim como você”, retorquiu a amiga. “E provavelmente essa é a lembrança mais perigosa que você tem com o James. E você sabe o quanto ele pode ser responsável. As notas dele são as melhores, ele ajuda a cuidar do pai... Eu não entendo como você se sente em relação a ele. Vocês são iguais!”

Agora adulta, Lily entendia que toda aquela raiva que sentia de James era, na verdade, frustração. Frustração por muitas coisas. Por não conseguir ser como ele, por não ter mais chances com ele. Inveja também, um pouco. Inveja de como ele podia fazer tudo diferente dela, de um jeito menos complexo e mais arriscado, e ainda assim se dar bem. Indignação.

A prova estava ali, naquele ordinário hospital no sul da Inglaterra. Apesar de todas as diferenças, acabaram tendo o mesmo destino profissional e um não era melhor do que o outro.

Ela duvidava que, se não estivessem trabalhando no mesmo local, jamais ficaria relembrando do primeiro cara que ela beijou, percebendo como tiveram o mesmo fim e lembrando o quanto ela já sentiu raiva dele. Não se perguntaria como ele estava e como era agora. Ela nem sequer se lembraria do nome James Potter se não fossem colegas de trabalho, a não ser em algum futuro próximo quando seu marido perguntasse “quantos namorados você já teve?”, ou sua filha fizesse aquela pergunta “quem foi seu primeiro amor?”. Então ela se lembraria de James Potter. Com quase vinte e cinco anos, no início da sua carreira profissional, porém, não.

A questão é que eles estavam trabalhando no mesmo local, eles eram colegas de trabalho, e isso fazia Lily pensar sobre as possibilidades. Ela podia deixar isso para lá, mas não queria.

Mas até então, eles trabalhavam em alas diferentes e o esbarrão entre os dois que ela tanto queria que acontecesse não parecia próximo de acontecer.

A conversa só aconteceu na primeira segunda-feira de dezembro, quando James entrava na lanchonete do hospital e Lily saía. Lily, distraída com o celular, não notara que James, também distraído, esbarraria nela se ela não desviasse e só notou quando o líquido quente do copo derramou um pouco nas calças dele.

“Perdão”, ela pedira polidamente.

Ele não se moveu, muito menos ela.

“Não me importo”, ele respondeu, algum tempo depois, surpreendendo Lily. “Precisando de cafeína?”

“Bastante.” Ela sorriu fracamente. “Não me sustentaria em pé se não fosse esse líquido preto.”

“O mesmo.”

E mais uma vez eles não se moveram.

Se um dia James se sentira interessado por Lily o bastante para correr atrás dela, a situação agora era a contrária. Ela se sentia sem ar o bastante perto de James para ter certeza de que gostaria de conversar com ele mais algumas vezes.

Por essa razão, aproveitando a deixa de um relacionamento que eles nunca, de fato, colocaram um fim, aproveitando um assunto inacabado, ela procurou o olhar dele mais uma vez.

“Você não teria nenhum dia livre para, não sei, tomar um suco?”, ela convidou.

Porque, depois de James, ela havia aprendido a lição. Podia ter continuado a ser muitas coisas, mas, a cada dia que se passava, ela tentava não ser a menina sem atitude que ela havia sido. Gostava da ideia de ser uma mulher decidida e fazia de tudo para continuar daquela maneira pelo resto da sua vida.

Com outras palavras, ela era quase hipócrita, porque criticava James, mas, inconscientemente, tentava ser como ele.

“Tomar um suco?”, ele perguntou.

“É, sair. Conversar. Quero saber como você está, foram muitos anos.”

Ele coçou a barba distraidamente e Lily sabia que ele estava arrumando um jeito de pensar rápido.

“Dois velhos amigos se reencontrando”, ela insistiu dissimuladamente.

Mesmo que, na teoria, eles realmente fossem velhos amigos.

“Faço plantão aos finais de semana”, ele contou. “Quarta-feira é um dia ruim para você?”

“Quarta-feira parece ótimo.” Ela sorriu.

Quando a quarta-feira próxima chegou, Lily decidiu se vestir de forma simples, usando um jeans e uma camisa amarela. Por mais que ela quisesse uma aproximação com James, aquilo ainda era apenas um suco com alguém por quem ela fora apaixonada no colegial e uma conversa para saciar sua curiosidade. A situação era simples.

Porém, mesmo simples, ela não podia deixar de ficar nervosa porque, depois de James, ela não tinha saído com mais nenhum homem além de Severus, que era seu amigo, de qualquer forma.

E James, depois de Lily, só tinha sentado para fazer coisas simples, como tomar suco, com Sirius.

Mas James não estava nervoso.

Ele estava intrigado. Não era frio o bastante para não ter se abalado com o convite de Lily, mas também não esperava muitas coisas. Não sabia o que esperar, na verdade. Não sabia por que Lily gostaria de conversar com ele, nem mesmo foram namorados, mas estava para descobrir. Ele estava curioso.

E, por mais que ele não estivesse tendo ataques de ansiedade, quando ela entrou naquele pequeno café consideravelmente vazio de Bristol e se sentou à mesa redonda que James já ocupava, ele se sentiu um pouquinho agitado.

Era culpa do perfume. Aquele maldito perfume que ela não usava no hospital, mas era o mesmo que ela usava anos antes, na escola. E ele se lembrava porque, depois de Lily, nenhuma outra fragrância marcara tanto a memória de James.

“Desculpe o atraso”, ela pediu, sentando-se à mesa. “Você pediu alguma coisa?”

“Um croissant, na verdade”, contou James. “Estava com fome.”

“Certo.” Ela estalou a língua no céu da boca e chamou o garçom, optando por pedir uma jarra de suco de laranja e pãezinhos de queijo.

“Está gostando do hospital?”, ele questionou assim que voltaram a ficar a sós.

“Sim, eu estava doida para exercer de alguma forma e as pessoas aqui são boas, Bristol como um geral tem pessoas boas.”

“Está morando aqui?”

“Há algum tempo”, ela respondeu. “Marlene se casou e veio morar aqui com o marido. Aconteceram algumas coisas em Londres e eu precisava de espaço. Quando não tive para onde ir, a cidade da minha melhor amiga parecia uma boa ideia.”

James gostaria de perguntar o que tinha acontecido com ela, mas sabia que não podia ter essa liberdade.

“Cidade do melhor amigo sempre parece uma boa ideia”, James decidiu concordar. “Não me mudei. Quer dizer, tenho um apartamento aqui, mas moro com Sirius e com o Remus em Londres, volto para lá dia sim, dia não.”

“Sirius Black e Remus Lupin. Há quanto tempo não ouço esses nomes?”, questionou retoricamente, quase usando um tom nostálgico. “Eles estão bem?”

“Estão ótimos. Sirius virou organizador de eventos, mesmo tendo feito faculdade de odontologia. Mas isso é só um termo profissional, quem ouve pensa em festas de classe com famílias ricas. Ele só organiza festas em algumas boates. E o Remus... Está bem na tarefa de terminar a faculdade de história e ser pai.”

“O quê?”, espantou-se Lily. “Remus é pai?”

“Lisa Lupin”, contou James, pegando o celular para mostrar para a Lily. “Ela mora com nós três.”

“Que gracinha, ela se parece com o Lupin”, disse Lily. “O que aconteceu com a mãe?”

“Faleceu no parto”, James contou. “Sirius, que nunca teve responsabilidade com muita coisa, foi quem mais ajudou o Remus a cuidar dela. Eu teria ajudado, mas de Bristol é um pouco complicado.”

“Ele deve ter ficado arrasado, o Lupin.”

“Ficou”, concordou James. “Ele ficou perdido, mas não quis deixar Lisa com os avós.”

“Uau.” Lily estava surpresa. “Mas eles eram casados?”

“Namorados.”

Lily fez uma careta.

“Jamais pensei que o Lupin fosse ter uma filha antes de se casar.”

“Pois é.” James abriu um pequeno sorriso. “E a Marlene? Como ela está?”

“Noiva”, respondeu Lily. “O cara é uns dez anos mais velho que ela e tem um filho. Eu achei que ela estivesse doida no início, mas ele é bom para ela.”

“Um filho... O Ross?”

“Você lembra.” Lily sorriu. “É, ele tem seis anos. Eu estava cuidando dele naquela tarde em que ele caiu.”

“Babá quase perfeita”, comentou James.

“Quase.” Ela riu. “Como estão seus pais?”

James sentiu a boca ficar seca. Não era um assunto que ele gostava de comentar por ser consideravelmente recente, mas ele responderia a pergunta de Lily.

“Faleceram”, ele disse, bebericando o suco. “Papai já tinha tido um derrame quando você o conheceu, não durou muitos anos na cama. Minha mãe não suportou a perda.”

“Sinto muito.”

“Tudo bem”, ele mentiu. “E os seus?”

“Estão bem. Estão meio surtados comigo porque estou morando em Londres com a minha amiga perturbada, mas eles estão bem.”

James, que já estava notando mudanças na personalidade de Lily, não pôde deixar de ficar surpreso com aquela. A Lily que ele costumava conhecer era mais fechada, mais covarde e, principalmente, fazia tudo para agradar os pais. Não aquela mulher à sua frente.

"Alguma namorada?", ela perguntou despojadamente, porém James notou que ela estava um pouco envergonhada porque, antes de perguntar, Lily havia mordido os lábios.

"Algumas.” Ele sorriu de canto. "Mas nada muito sério, você me traumatizou."

“Não namoramos.” Ela fez uma careta.

James precisou desviar o olhar. Não, eles não haviam namorado.

"Algum namorado?”, perguntou, mudando o foco da conversa.

Lily escolheu aquele momento para dar um longo gole no seu suco e, quando ela desencostou o copo dos lábios, precisou pigarrear e endireitar a postura antes de murmurar constrangida:

“Severus Snape.”

“O quê?” James riu alto. “Você saiu com o Snape?”

“Éramos amigos e ele era bonzinho”, falou Lily. “Ele sempre estava nervoso perto de mim, achei que eu deveria... Dar uma chance.”

“Vocês ficaram quanto tempo juntos?”

“Perto de dois anos. Ou três. Quase quatro.”

James voltou a rir.

"Que decadência, Lily", resmungou o rapaz. "Como alguém sai de James Potter para Severus Snape?"

“Mais uma vez, Potter, nós não namoramos.”

“Porque você não quis.”

“Porque você não pediu.”

James respirou fundo. Sabia que falar do relacionamento deles era algo que poderia vir a acontecer, mas as palavras simplesmente saíram de sua boca. Foram anos, como anteriormente foi mencionado, de mágoa guardada. Sempre que ele saía, transava e dispensava uma moça, ele acabava se lembrando daquele primeiro amor colegial, a única vez que ele se sentira de forma parecida.

“Porque você não demonstrou que queria”, ele retrucou. “Por que eu tinha que pedir você em namoro? Se era algo que você queria, por que você não começou uma conversa sobre isso?”

“Ora, porque eu sabia que minha irmã estava certa!”

“Ela estava? Era ridículo. Petúnia nem me conhecia, Lily, e você dava ouvidos a ela. Ela fez a sua cabeça sem que você percebesse.”

Lily não respondeu e James sabia que não era porque ela havia concordado com ele. Era justamente por não ter concordado. Lily era o tipo de pessoa que, por mais que tivesse motivos para brigar e discutir, ela não faria isso e, pelo que parecia, mesmo depois de James, ela continuava dessa maneira.

“Petúnia nunca conversou comigo para valer. O que ela sabia sobre mim? Que eu era ateu, que não pedia você em namoro? Você sabia mais sobre mim, você quase soube tanto quanto o Sirius. E, mesmo assim, preferiu ouvir a Petúnia.”

“Não exagere, James, eu sabia bem pouco sobre você.”

“Eu contava”, James a cortou. “Se você prestava atenção ou não, aí não é comigo.”

“Por que você está na defensiva dessa maneira?”, Lily questionou com a testa franzida. “Isso já não passou?”

“Tinha passado”, James respondeu. “Mas agora tocamos no assunto.”

“Não podemos deixar de lado?”

“Não”, James negou. “Você preferiu se achar melhor do que eu por ter a vida perfeita, por ter esse maldito TOC que você tem para as coisas. Você teria um futuro brilhante por ser menininha do papai. Olha a surpresa, Lily, chegamos no mesmo lugar independente do método.”

“Nunca falei nada sobre isso, quem se inferiorizou esse tempo todo foi você”, Lily acidamente rebateu. Era verdade, ela nunca havia falado, mas James sabia que pensado ela já havia. “E não me venha jogar a culpa em mim. Eu falei com você, tentei conversar, não tentei?”

“Tentar conversar era inútil, você ainda tinha o mesmo tipo de pensamento! E, francamente, você não sentiu metade do que eu senti por você. Se tivesse sentido, teria feito mais.”

“Se você sentisse metade das coisas que diz ter sentido, não teria desistido tão fácil. Você era um adolescente que se dizia, oh, apaixonado. Quando adolescentes sabem o que realmente dizem? Você não estava apaixonado por mim.”

“Você não pode afirmar isso.”

“Nem você pode ficar tentando me acusar. Se não quer deixar lado, ótimo, continue me acusando sozinho. Eu vou pra casa.”

E, quando James chegou em casa depois daquela confusão, a primeira coisa que ele fez foi socar a parede. Estava furioso. Com Lily, com ele. Porque, depois de Lily, nenhuma outra mulher o deixou naquele estado de irritação, frustração e indignação. Porque, mesmo depois de anos, ela ainda era a que tinha a capacidade de fazê-lo perder o juízo.

O jantar no café, contudo, serviu de uma coisa para James: sua curiosidade havia se dissipado. Ele voltara a seu estado de irritação com a pessoa que era Lily Evans, a pessoa certinha e perfeita que ela era. A pessoa que havia feito Medicina por ser a opção mais fácil. A pessoa que tinha uma mente mais do que fechada para aceitar as diferenças.

Porém, quanto mais a detestava, quanto mais ele sentia repulsa de si mesmo por um dia ter sido apaixonado por ela, mais ele acabava observando-a em momentos triviais como o horário que ela aparecia para bater o ponto.

Depois de Lily, ele jamais observara tantos detalhes em uma mulher, mas ali estava ele, notando que ela ainda mordia os lábios quando estava nervosa, que ainda jogava distraidamente o cabelo para o lado esquerdo, e que ela ainda usava sutiãs azuis nas quintas-feiras. Pelo menos, no dia que sua alça ficou à mostra era uma quinta-feira e era azul.

“O que você está fazendo aqui?”, ela questionou quando o viu entrar no berçário.

“Trabalho aqui.”

“Não no berçário.”

“Sou pediatra.”

“James, o que está fazendo aqui?”

“Miles sofreu um acidente, fui requisitado para substitui-lo”, James mentiu.

Ele, por alguma razão, foi o primeiro a se voluntariar.

“Você não tem experiência nenhuma com recém-nascidos.”

“Fiz faculdade, Lily.”

“Mas não tem experiência!”, ela surtou.

“Você prefere trazer os recém-nascidos para cá e cuidar deles sozinha, ou quer ter minha ajuda?”

Ela bufou.

“Ótimo.”

Entre testes do pezinho, higiene do cordão umbilical e exame de sangue nos recém-nascidos, James entrava cada vez mais em situações irrefreavelmente constrangidas. Eram trocas de olhares rápidos e confusos que, em uma noite chuvosa do início de fevereiro, se transformou em uma conversa.

"Posso fazer uma pergunta para você?", Lily questionou quando ela e James, silenciosamente, pegavam o elevador para a recepção do hospital.

"Outra?", ele questionou sorrindo.

"Quando nós não namoramos”, começou Lily. “Por que quando eu decidi conversar com você, você simplesmente foi grosso e não conversou direito?”

James parou um tempo para ponderar se, àquela pergunta, deveria responder honestamente ou não. Porém, por pior, mais covarde e mais sem noção que possa parecer a verdade, foi o que ele soltou:

"Estava cansado de esperar."

"Mas eu estava ali, não estava?"

"Depois que eu me convenci de que não teríamos um futuro. Depois que eu estava quase conseguindo superar." Ele não queria justificar, apenas explicar, e torcia para que Lily entendesse isso.

"Quase", ela observou. "Você poderia ter se arriscado. Se arriscar não é algo que você adora fazer?"

"Você está tentando me acusar?"

"Não!", ela rapidamente negou, corando. "Eu só queria saber por que... Por que não deu certo."

James assentiu e as portas do elevador abriram. Era fim de seus turnos, mas nem por isso o hospital estava vazio. Na verdade, estava lotado. A emergência infantil ainda mais tumultuada tendo um pediatra a menos, famílias andando de um lado a outro na recepção esperando por notícias a respeito de alguma cirurgia e visitantes dos internados naquele prédio. Estava cheio e foi nisso que James focou para não precisar falar nada.

Contudo, quando chegaram ao estacionamento e viram seus carros estacionados quase que lado a lado, James contou:

"Foi minha culpa tanto quanto foi sua. Eu poderia ter conversado de volta com você." Ele girava as chaves nervosamente. “Eu poderia não ter esperado você falar alguma coisa. Eu poderia ter tentado entender o seu lado nisso tudo."

"Poderia", ela concordou, chutando algumas pedrinhas no chão. “Eu poderia ter falado com você, deve ter sido horrível a situação incerta que eu te deixei, mas... Acho que, na verdade, você está certo.”

“Estou certo?”

“Sobre eu não ter sentido metade do que você sentiu”, Lily murmurou. “Era a primeira vez que eu gostava de alguém, eu não sei.”

James assentiu.

“Acho que devo desculpas, está bem?”, ela perguntou.

“O mesmo.”

“Fico feliz que nós tivemos essa conversa, James.” Ele podia ver que ela se preparava para entrar em seu carro. “Boa noite.”

Ela abriu um sorriso. O primeiro sorriso que parecia verdadeiro em sua direção desde o momento em que eles se reencontraram.

James demorou cerca de quatro segundos para processar porque, por um momento, se perdeu no sorriso sensacional de Lily Evans. Depois dela, nenhum outro movimento facial o deixara tão fascinado. Era ela, e apenas ela, capaz de parar o mundo por alguns minutos apenas curvando os lábios para cima.

“Boa noite”, ele acabou murmurando para o estacionamento agora vazio.

No dia seguinte após aquele, as coisas estavam mais fácil. Os olhares ainda aconteciam, mas algumas vezes um sorriso simpático surgia no rosto de um dos dois. Às vezes, até uma conversa banal se iniciava e James se sentia à vontade para elogiar Lily quando quisesse.

"Você está linda essa manhã, Lily."

"Ah, claro, acabei de auxiliar um parto e um bebê fez xixi em mim", Lily disse sarcástica. "E você estava lá dentro comigo, mas só agora estou linda."

"É algo na luz do ambiente."

"Sempre achei que aquela luz clara da sala de parto não favorecia meus traços", ela murmurou como se estivesse pensativa, mas James reconhecia os tons irônicos em sua voz.

Ele aprendeu que Lily sabia como ser sarcástica com alguém que tinha intimidade e se sentia à vontade para tal comportamento, e ficou feliz ao vê-la abusar do seu bom humor com ele mais uma vez. Era um avanço que ele, com certeza, não estava esperando àquela altura.

“Sabia que eu pratiquei Le Parkour?”, James questionou durante uma tarde tranquila no berçário do hospital.

“Você é doido?”

“Talvez”, ele riu. “Foi inconscientemente por sua causa.”

“Minha causa?”

“Fiquei puto porque você me achava extremo, então decidi ser. A minha melhor opção na época foi sair pulando de muro em muro e arriscando minha vida por um tempo.”

“Enquanto isso eu estava ganhando medalha de bronze na Olímpiada de Biologia. Você nem apareceu na terceira fase.”

E, sem perceber, eles estavam gostando de conversar um com o outro, sem nenhum interesse aparente. Mesmo depois que James não era mais necessário no berçário, mesmo depois que ele voltou para a emergência infantil, eles davam um jeito de se encontrar naquele hospital, na lanchonete dele ou em um elevador, apenas para ter uma conversa de uma ou duas palavras.

Mas era apenas isso: conversas. James não se sentia diferente. Depois de Lily, ele não sentiu mais aquelas borboletas que costumavam fazer cambalhotas em seu estômago, e nem mesmo ela parecia capaz de fazer ele se sentir daquele jeito novamente. Eram os hormônios da adolescência que o faziam desesperado daquela maneira, hormônios que ele não mais tinha.

Porém ele estava enganado, e só conseguiu constatar isso no começo do mês de março. Faltavam algumas semanas para o seu aniversário quando ele convidou Lily para a festa de cinco anos da afilhada, filha do Remus, que nascera no mesmo 27 de março que ele.

Ele não era de comemorar aniversários. Foi depois de Lily, quando Lisa Lupin nasceu, que ele passou a soprar as velas do bolo junto da menina.

"Tio Jimmy, faz um pedido." Era o que ela sempre falava desde o momento que aprendeu a falar.

E ele fazia um pedido. E ele soprava a vela. E ele furava o bolo com o dedo. Porque nada podia negar àquela garotinha.

Ela não era filha dele, mas ele cuidava dela como se fosse. Na verdade, Lisa tinha muito sorte por ter três pais ali por ela, três caras que ficaram desesperados com um bebê no começo, mas que souberam como cuidar dela à medida em que os anos passaram.

O ponto é que James queria o bem dela e nunca – nem ele, nem Remus e nem Sirius – chegou a perceber o quanto Lisa carecia de uma presença materna até o momento que ele conseguiu levar Lily até a sua casa.

“Feliz aniversário”, Lily desejou, entregando a ele uma embalagem. “Você ainda gosta de ler, não gosta?”

“Obrigado”, ele agradeceu. “Sim, eu ainda leio. Só não escrevo mais por falta de tempo, mas leio.”

“Do que é sua festa de aniversário mesmo? Das princesas?”

“Da Barbie.” James riu. “Ainda existe Barbie?”

“Deve existir.” Ela sorriu de volta. “Não tenho muita paciência com criança, mas vou fazer um esforço essa tarde.”

Mas era uma mentira porque quando eles entraram no salão de festas do prédio de James em Londres, a menina chorava por causa do vestido manchado antes da festa e o rabo-de-cavalo mal feito de Sirius e foi Lily quem a levou para o banheiro e fez questão de arrumá-la como uma boneca.

Talvez ela só estivesse querendo fugir de conversar com Sirius e Remus, era mais provável, mas, quando voltou ao salão, Lisa não largou sua mão por nada e nem Lily parecia querer soltar. Estavam se dando bem. Enquanto as coleguinhas de Lisa não chegavam, ela se distraiu fazendo um penteado no cabelo da Lily e rindo das histórias que a mais velha contava sobre Ross.

Foi aquela visão.

Aquele sorriso genuíno em Lily que lembrou a James o que, depois dela, ele nunca mais se permitiu lembrar: os motivos de ter se apaixonado.

"O que você vê nela?", lembrou-se de Emmeline ter perguntando certa vez quando ele estava com ela e com Sirius, ainda na escola.

E, por mais que qualquer um possa entender a pergunta da menina como um resmungo inconformado, como se ela não compreendesse por que James Potter estava apaixonado por uma mosca morta e não por ela, Emmeline não perguntara nesse tom. Ela e James foram amigos desde sempre, assim como de Sirius. Ela só estava curiosa.

"Tudo", James respondeu na época, meio rindo, meio falando sério.

Sirius soltou uma risada debochada dando um gole na cerveja que dividia com a amiga.

"Ela nem gostosa é", ele reclamou.

"Ainda bem que você não acha ela gostosa", disse James de forma divertida.

"Ela me dá raiva", confessou Emmeline. "Tanta menina legal para você se apaixonar, que combina mais com você. Por que ela não deixa de cu doce e fala com você de uma vez, afinal?"

"Não acho que ela esteja fazendo doce", opinou James. "Ela só não gosta de mim da mesma forma."

"Cerveja?", ofereceu Sirius em brincadeira, como se o amigo precisasse de bebida para esquecer um pouco dos problemas. James sorriu de canto.

"Respondendo à sua pergunta, Emme", começou James. "Gosto de como somos diferentes. Gosto da certeza dela nas coisas."

"Ela é virgem, não é?", questionou Sirius com um sorriso malicioso.

"Deve ser", falou James, também abrindo um pequeno sorriso.

"Explicou", riu Emmeline. "O que vocês meninos tem com virgens?"

Sirius riu, James gargalhou.

"Eu juro que não é isso", James falou entre as risadas.

"O que é, então?"

"Eu só gosto dela, Emmeline. Esse tipo de coisa não se explica."

"Que romântico", zombou Sirius. "Uma pena que ela não gosta de você."

"Eu sempre imaginei que se um dia você se apaixonasse, não iria desistir da menina até o dia que ela aparecesse com um mandato de distância", contou Emmeline. "Daqueles que levaria todos os foras existentes e imagináveis até parar."

"Ele fez isso", disse Sirius. "Mas a sensação é diferente depois que consegue."

"E o que você sabe sobre isso?", Emmeline deu uma risadinha.

Sirius ficou calado.

"É isso", concordou James. "Ela me deu uma chance pra me aproximar, mas acho que eu falhei."

"E agora fica sofrendo feito um idiota", resmungou Sirius.

"Quando vê você só confundiu os sentimentos", disse Emmeline. "Como sabe que é pra valer?"

"Não sei", confessou James. "Esse tipo de certeza eu só tenho quando estou de frente à ela e consigo fazer ela sorrir. Os olhos dela meio que brilham."

"Vampira", caçoou Sirius enquanto Emmeline tentava não rir. James sabia que os amigos o achavam ridículo naquele momento.

"E tenho vontade de fazer aquele brilho ficar lá pra sempre", ele falou, dessa vez se divertindo com a reação dos dois, e Emmeline não se aguentou, soltando uma baixa risada.

"Você está brincando com a gente, James!", acusou Emmeline.

James riu.

"Talvez", ele brincou misteriosamente.

Porém, não poderia estar falando mais sério.

Ali, no salão de festas que acontecia a festa de sua afilhada, ele via o mesmo sorriso e mesmo brilho nos olhos dela. O mesmo de anos atrás. E foi ali que ele entendeu que ele fora um idiota por ter deixado alguém como Lily ir.

Não por causa do sorriso, o sorriso fora apenas seu instrumento de percepção para todas as qualidades que Lily Evans escondia. Ela podia ter seus defeitos que, quando adolescentes, James desconhecia, mas, agora, ele tinha conhecimento o bastante sobre eles para ignorá-los.

Lily era complexa e, pelas horas que trabalhou com ela no berçário, pôde perceber que ela era metódica, certinha e organizada. Depois de James, muita coisa não mudou na personalidade dela. Mas, por outro lado, tanta coisa mudou. Depois de James, Lily parecia menos indecisa, mais confiante e com mais garra e atitude do que ele se lembrava. Era a mesma pessoa, porém melhor.

Era o mesmo sentimento de anos atrás, porém pior. Mais intenso. Mais impactante. Mais devastador.

E Lily, do outro lado, sentia-se exatamente do mesmo jeito em relação a James. Não sabia se realmente tinha sido apaixonada por James, mas, se não fora, agora era. Na época da adolescência, ela gostava de James. E tudo que ela gostava nele, depois dela, não havia ido embora.

James era profundo. James era extremamente inteligente. James tinha uma coragem admiravelmente estúpida, que causava certa inveja em Lily. E, por mais que houvessem coisas, como a irresponsabilidade do rapaz, que irritassem Lily, ela agora compreendia James e admirava o quanto ele parecia mais complacente e, apesar de seus esforços para se afastar da pessoa que Lily Evans desejava, menos imprudente.

Era quase o mesmo James e, embora ele tivesse mudado, a maior mudança havia sido nos olhos de Lily. Ela não buscava mais o príncipe engomadinho dos seus sonhos.

Era James e apenas James. Aquele James que desafiava os limites de Lily e, diante de todos os extremos que James fez Lily ultrapassar, ter deixado a moça apaixonada fora o maior deles. Aquele era o pior extremo. O que mais a assustava, o que mais a deixava incerta, o que mais a deixava insegura e o que mais a apavorava.

Porque, nem antes e nem depois, Lily havia sentido algo parecido.

E, uma vez que tanto ela quanto ele haviam percebido tal sentimento, estava mais do que na hora de darem um passo à frente, sem mais enrolações e afastamentos sem motivos. Lily queria fazer certo.

Foi por essa razão que, no final de março, de manhã cedinho, ela estava até mesmo tímida ao convidar:

“É o aniversário de Petúnia esse domingo e ela vai apresentar o noivo para a família. Você não quer vir?”

Depois de James, Lily não fazia muita questão da aprovação dos seus pais em alguma coisa.

E, depois de Lily, James não visitou o pai de nenhuma das garotas nas quais estivera interessado.

Mas ali estavam eles: ela, desesperada para que dessem uma segunda chance a James. Ele, penteando mais uma vez os cabelos para sentar na velha mesa de jantar dos Evans.

E, qualquer outra pessoa, teria achado um almoço em família algo grandioso demais para, até então, apenas amigos, mas eles entendiam. As coisas com eles tinham que atingir grandes proporções antes que eles se perdessem no esquecimento mais uma vez.

Contudo, apesar da aparente pressa com algumas coisas, eles não se sentiam incomodados ou pressionados. Eles apenas queriam.

“Qual a coisa com seus pais?”, James questionou enquanto se aproximavam de Londres com o carro. “Se não quiser falar, tudo bem. Só ando curioso nesses últimos dias.”

“A coisa com meus pais?” Lily franziu a testa.

“Você era a queridinha dos Evans, coisa que não parece mais ser. O que mudou?”

“Ah”, ela murmurou. “O Severus me pediu em casamento.”

“Quê?”

Lily via que James se esforçava para não rir, e acabou soltando um risinho.

“Dois anos atrás”, ela continuou. “Meu pai o adorava, Petúnia o adorava e mamãe realmente gostava dele, não era só educada. Ele já tinha falado com eles, estavam felizes com a ideia.”

“Você disse não.”

“Eu disse não”, Lily confirmou.

“Por quê?”

“Sempre fui acomodada às situações, eu sei o que está passando na sua cabeça”, Lily disse. “Todos pensaram que eu ia dizer sim, porque, olha, é Lily Evans, Lily Evans aceita tudo. Mas esse não é o tipo de coisa que você deve fazer por achar certo.”

E, esse tipo de pensamento, ela só adquiriu depois de James.

“Não, não é.”

“Não amava o Severus”, Lily confessou. “Não terminei com ele antes justamente por acomodação, mas eu não tinha como continuar a partir dali.” James assentiu. “Meu pai não recebeu bem a notícia, o que foi um pouco ridículo. Passei um ano e meio morando sozinha em Londres, mas era péssimo.”

“E a Marlene por Bristol?”

“A Marlene por Bristol”, assentiu Lily. “Precisei apenas terminar as aulas na faculdade e de um emprego e, quando consegui, foi a liberdade.”

“Mas você está falando com os seus pais?”

“Estou falando normal com eles, eu só acordei um pouco para algumas coisas.”

James, mais uma vez, assentiu, pensativo. Enquanto Lily, de um lado, estava feliz por conseguir contar esse tipo de coisa para James e não esperar ser julgada, James parecia ter outro assunto na cabeça porque, alguns minutos mais tarde, perguntou:

“Você falava comigo por acomodação?”

“Eu? Quê?”

“Na escola. Falava por acomodação?”

“Não, falava porque queria. Por quê?”

“Porque você não puxava assunto comigo, não me procurava.”

“Já conversamos sobre isso”, lembrou Lily, com um sorriso discreto. “Sou assim, você sabe. Eu não puxo assunto com as pessoas, sou péssima. Se agora eu estou procurando você e fazendo esse esforço descomunal para algumas coisas, é porque quero que dê certo dessa vez.”

Ela só percebeu o que falou depois de ter falado e quando suas bochechas esquentaram por alguns segundos diante do aberto sorriso que James havia aberto.

“Quer?”

Ela abriu a boca algumas vezes, balbuciando inícios de frases e, quando não conseguiu formular nada, sentiu o estômago remexer ao sentir o carro parar aos poucos no encostamento. Os dedos alongados e finos de James procuraram tocar a palma macia de Lily, e aqueles olhos castanho-esverdeados que tanto a tirava o fôlego pareciam desesperados pela aceitação de Lily.

“Quer?”, James insistiu.

Podia ser impressão de Lily, mas os olhos dele estavam brilhando.

Depois de James, ninguém nunca mais olhara para ela daquela forma, como se ela fosse especial. Ninguém a fez se sentir daquela forma.

Ela apenas balançou a cabeça confirmando.

A respiração dela estava irregular e ela praguejava por parecer uma adolescente, mas, quando James inclinou o rosto na direção do dela, segurando o rosto de Lily com a mão livre, ela viu que não era a única com dificuldades de respiração ali. E, quando ela sentiu os lábios finos e quentes de James contra os seus, ela soltou um pequeno suspiro que tinha entalada na garganta.

Reconhecimento. Era isso que o corpo de Lily gritava enquanto a língua macia de James alisava a sua. O coração palpitava forte e chegava a doer de tanto tempo que ela havia esperado por aquela aproximação. Não chegaram a trocar muitos beijos na adolescência, mas ela se lembrava de ter gostado quando aconteciam. Era justamente por pouco terem feito, que ela mais sentia falta.

E, por Deus, ainda era bom. A sincronia perfeita, o encaixe perfeito e a velocidade perfeita que, depois dele, ela jamais sentiu outra vez. Gostava de como o cheiro dele atingia em cheio o seu fino nariz e gostava como ele era delicado ao fazer carinho em seu rosto enquanto movimentava a boca.

Gostou da barba dele arranhando o seu queixo quando ele, aos poucos, se afastou da boca para levar os lábios ao pescoço dela.

Com o peito subindo e descendo com dificuldade, Lily repousou a mão no peito dele, empurrando-o levemente. Conseguiu captar o olhar dele mais uma vez antes de abrir um sorriso maroto e sussurrar:

“Precisamos chegar na hora.”

Ele assentiu, passando as mãos nervosamente nos cabelos, e colocando o carro mais uma vez na pista. Com o canto do olho, Lily via que ele estava sorrindo discretamente e ela estava eufórica o bastante para não conseguir segurar a risada que escapou dos seus lábios alguns minutos depois.

Era claro que ela queria que desse certo daquela vez. Era o que ela provavelmente mais queria. Porque, como uma vez Marlene dissera, eles eram opostos o bastantes para serem iguais. Não havia mais o que discutir.

E, dessa vez, deu certo. Não só porque ela estava se esforçando, nem só porque ele também estava se esforçando. Não porque agora Lily estava mais madura do que um dia já fora, nem porque James também estava mais maduro. Não porque ela tinha a certeza de estar apaixonada, nem porque ele, mais uma vez, tinha essa mesma certeza. Era o conjunto dos motivos e mais um pouco.

Eles se amavam.

O resultado era óbvio. Eles namoraram e, dois anos e algumas mudanças depois, eles diziam sim um para o outro. Moravam juntos em Bristol, teriam Harry em nove meses e eram felizes.

Sabiam que tinham feito a escolha certa.

Porque, depois de James, Lily não iria encontrar ninguém que a fizesse se sentir daquela maneira, e o mesmo servia para ele.


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Notas finais do capítulo

Se você leu esse capítulo gigante, espero que tenha gostado. Queria escrever uma jily e não tinha tempo para long e não sou muito fã de ones. Foi a saída perfeita. Obrigada por terem lido, tá? E obrigada a Carol Lair (mais uma vez pdkaspodk) por ter revisado esse capítulo. s2 Carol melhor pessoa.