Pequeno Potter escrita por Nena Machado


Capítulo 9
8. Março, 1978.


Notas iniciais do capítulo

Oiii, eu nem vou mais da desculpinha pra vocês. Quem tem meu twitter sabe que eu to muito enrolada com a faculdade, minha beta também, por isso to demorando tanto. Mas prometo que não vou abandonar.



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Conseguir falar com a Professora Minerva se mostrou mais difícil do que parecia. Ela estava tão ocupada com a organização dos N.I.E.M.s, que só conseguiu nos atender quase uma semana depois de falarmos que era algo de grande importância.

Eu estava tão nervosa que não consegui comer nada desde o dia anterior. Eu preciso saber o que as regras da escola dizem sobre casos de gravidez. Esse era meu segundo maior medo, o primeiro ainda era não saber ser mãe, não poder terminar os estudos em Hogwarts.

A partir dessa resposta eu poderia planejar todo o resto da minha vida.  Sou maior de idade, tanto no mundo bruxo quanto no trouxa, sou responsável por mim mesma e, em breve, serei responsável por uma criança.

Portanto, fiquei extremamente ansiosa, quando a Prof. Minerva avisou que teria como falar conosco na manhã de quinta-feira. James me encontrou no Salão Comunal antes do café da manhã e nos dirigimos para a sala dela em silêncio, cada um mergulhado em seus próprios pensamentos.

Sinto meu coração bater freneticamente. O que eu faria se a escola me expulsasse? É essa a pergunta que eu fiz a mim mesma inúmeras vezes, em nenhuma delas consigo uma resposta. Nunca vi uma menina grávida em Hogwarts. Isso quer dizer que a escola não permite ou que não aconteceu durante os anos que estive aqui?

— Bom dia, professora. — falamos eu e James ao entrarmos na sala.

— Bom dia. — respondeu, sentada em sua cadeira, lendo calmamente um documento e completamente alheia ao meu desespero. — sentem-se.

James me olha uma vez antes de se sentar na cadeira a frente da professora. Ele sacode a perna sem parar, noto que suas unhas estão tão roídas que apresentam pequenas feridas. Ele está nervoso, tanto quando eu. Quero fazer algo para acalmá-lo, mas não consigo nem acalmar a mim mesma.

A Prof. Minerva olha de mim para James, e de volta para mim. Tenho a impressão de que ela já sabe o que vamos dizer e tento achar algo em seu rosto, uma pista do que esperar, mas não há nada, ela está séria, esperando nós nos pronunciarmos.

Eu paraliso, tentando pensar em como falar isso. Sempre admirei muito a Professora Minerva, foi ela que me explicou diversas coisas sobre o mundo bruxo, e sempre a considerei uma bruxa poderosa e forte. Não consigo encarar o fato de que talvez eu vá decepciona-la com o que tenho para contar.

Graças a Merlin, James parece entender a questão, e aperta minha mão antes de tomar a iniciativa.

— Lily e eu queremos conversar com a senhora sobre um assunto importante, acontece que Lily esta gravida. — ele diz em tom de confissão e imagino se também não esta com medo do julgamento. — E queremos saber como a escola se posiciona quanto a isso.

Ela solta o documento que estava lendo. E suspira antes de nos olhar de novo.

— Para o senhor Potter estar aqui, devo deduzir que ele é o pai da criança, certo?

— Sim. — responde James, ele está pálido, mas parece firme, confiante de que tudo ficará bem. — E que vou arcar com as responsabilidades de pai.

Mais uma vez sinto que ela já sabia sobre isso também. A professora respira fundo, ela parece achar o assunto muito sério, quase lamentável. Preparo-me para ouvir um sermão, mas não é isso que acontece.

— Vocês conhecem a regra sobre ter relações sexuais no território escolar, e embora vocês não tenham sidos pegos fazendo nada a gravidez tona muito evidente que ocorreu, mas isso seria solucionado com algumas semanas de detenção. — ela fala enquanto pega um papel novo para anotar algo, ao mesmo tempo em que fala. — Quanto à gravidez, é um pouco mais complicado.

Vou ser expulsa, é isso. Sinto uma vontade enorme de chorar, mas me seguro. Prendo a respiração para evitar soluçar e pisco diversas vezes para afastar as lágrimas.

— Não temos regras que expulsem por isso, não mais pelo menos. Na maioria das vezes as meninas preferem ir embora, ter o bebê e terminar os estudos em casa. — ela finalmente termina de escrever e nos olha.

Meu coração dá pulos dentro do meu peito, sinto um alívio tão grande, é como se tivesse tirado um peso dos meus ombros.

— A escolha é sua, mas você precisa saber que a escola não tem capacidade de acomodar um bebê.

— Não, não o terei aqui. — falo, minha voz sai embaçada e aguda, então limpo a garganta antes de continuar. — Ainda estarei com sete meses quando me formar.

— Além disso, deve saber que os alunos irão comentar, levantar hipóteses, e nós não poderemos fazer nada. — ela faz uma pausa, para me dar um tempo para entender isso, porém eu já imaginava isso, uma moça solteira grávida tão nova sempre é um escândalo, ainda mais quando o pai é rico. — Dito isso a escolha é toda sua.

— Eu vou ficar.

Ela sorrir, parecendo feliz por minha escolha.

— Depois teremos que nos encontrar para resolver alguns pontos importantes, obviamente tem a questão da monitoria

— Vou perder meu cargo? — pergunto tristemente.

— Vou garantir que não, mas com a gravidez avançando talvez seja difícil continuar com todas as funções. — ela fala, e nos entrega o papel em que estava escrevendo antes, era uma detenção.

— Posso ajudar. — James responde prontamente. — Cubro qualquer coisa que seja necessária, posso fazer isso.

— É ótimo saber que você esta empenhado, Sr. Potter. — ela responde com um aceno de cabeça. — Mas por hora só preciso lembrar-lhe que sua dispensa para ir ao casamento de sua irmã no próximo fim de semana já foi liberada.

Perco o fôlego de novo, todo o alívio que senti ao saber que iria continuar estudando some com a perspectiva de que em uma semana irei estar frente a frente com meus pais.

— Se me permite o conselho, seria um bom momento para contar aos seus pais. Posso providenciar uma dispensa para o Sr. Potter também.

Permaneço em silêncio, em um pequeno ataque de pânico mudo. Então James toma a frente para mim mais uma vez.

— Pode preparar a minha dispensa, professora, por favor.

X-X

Logo no outro dia, a Prof. Minerva convocou James e eu para ir na Ala Hospitalar de Hogwarts, não imagino muito bem o que pode ser ate chegar lá e encontrar uma mulher vestida com um tipo diferente de uniforme de enfermeira.

— Querida, essa é Obstetriz Andrea Bartlett — diz Prof. Minerva me apresentando uma moça que não parece ter mais do que 25 anos de idade. — ela muito gentilmente aceitou acompanhar sua gravidez vindo aqui em Hogwarts.

— É um prazer te conhecer, pode me chamar de Andrea, vamos nos encontrar bastante nos próximos meses. — Andrea fala apertando minha mão e em seguida a de James. — Você presumo que deve ser o pai.

— Exatamente.

—Você se sente a vontade com ele aqui? — ela pergunta diretamente para mim. — posso pedir para ele se retirar, caso prefira.

Por um momento não sei o que responder e a sala fica com um clima tenso. Não é como se eu me sentisse totalmente a vontade com James, porem espero que com o costume eu passe a me sentir assim, e se esse for o caso...

— Quero que ele fique. — respondo e escuto um suspiro aliviado de James ao meu lado.

— Certo, bom, professora — ela começa se virando para a mesma. — agora preciso pedir que a senhora saia assim posso conversar com os futuros papais.

A conversa é bem simples, falamos sobre quando descobrir a gravidez, sobre quanto tempo estou, quinze semanas, também conhecido como quase quatro meses, falamos sobre meus hábitos alimentares e sobre vitaminas. Ela faz uma serie de feitiços apontando a varinha para minha barriga e emitindo diversas luzes.

— O bebe esta saudável e sua formação esta bem adequada para esse momento da gestação, vou lhe receitar as vitaminas normais que será bom você tomar para que tudo continue ocorrendo bem. — ela responde me entregando uma poção colorida e anotando no papel como devo toma-la. — você tem alguma pergunta?

Passo a poção e o papel para James imediatamente, me inclinando para frente para perguntar o que estou extremamente curiosa.

— Eu tomava poção contraceptiva, como posso ter engravidado?

— O caso mais normal é a poção ter sido feita incorretamente, bem comum para quem compra ela pronta.

— Eu fazia minha poção, — respondo prontamente. — e eu nunca faço uma errada.

— Nesse caso, pode ter sido várias coisas. — ela responde começando a arrumar seus materiais. — ela perder um pouco do efeito se você tomar outras poções no dia, ou então de beber muito, também não funciona bem se você tiver algum episódio de vomito ou diarreia logo após beber...

— Você esta dizendo que nunca vamos saber exatamente o que aconteceu de errado? — pergunta James, parecendo confuso. — Nunca saberemos o que devemos corrigir?

— Não, a verdade é que toda poção tem falhas, a única forma 100% eficaz de não engravidar é simplesmente não transar com um homem. — ela responde colocando a bolsa no ombro. — se for só isso, agora preciso voltar pro St. Mungos, nossa próxima consulta é quando você completar 24 semanas, mas se algo ocorrer nesse meio tempo, dores, sangramentos ou qualquer coisa do tipo, mande entrarem em contato comigo que eu venho.

X-X

— Ela disse que eu não posso mais aparatar, então vou para o casamento usando uma chave de portal, — digo a Lene e Dorcas enquanto almoçamos apenas nos três pela primeira vez em meses, James estava resolvendo algo sobre o próximo jogo da Grifinoria, enquanto Remus estava fazendo uma ronda, Sirius tinha ido ao beco diagonal resolver alguma coisa no banco e Peter simplesmente não ficava com a gente quando os outros não estavam. — James insistiu em ir juntos, então vamos contar para meus pais no fim de semana.

— Pelo menos assim você vai ficar mais calma — afirma Lene apertando minha mão de forma confortadora.

Dorcas começa a falar algo também, porem é interrompida por um Sirius sentando na nossa frente e dizendo de forma brusca.

— Fiz uma coisa impulsiva.

— Mas do que comprar uma motocicleta no ultimo verão? — pergunta Lene irnonicamente.

— Talvez.

— Porque isso deveria nos interessar? — pergunta Dorcas. — não deveria, sei lá, surtar com seus amigos?

— Porque talvez eu tenha comprado algo impulsivamente para Lily e só agora me toquei que talvez eu não tenha uma relação tão amistosa assim e que ela só me ature porque sou namorado da amiga dela. — ele responde, falando tão rápido que até demoro para entender tudo.

— Sirius, momento estranho para ter uma crise existencial. — digo rindo. — somos amigos.

Minha relação com Sirius não era tão diferente da com James, eu os achava ridículos com todas aquelas pegadinhas e brincadeiras, mas então aconteceu a morte do Sr. Potter, e assim como acobertei James, fiz o mesmo com Sirius. Desde então criamos uma relação até melhor do que a que eu tinha com James, viramos verdadeiros amigos, conheci uma parte dele que eu nunca tinha visto antes. Ele me contou sobre sua família e o que o Sr. Potter significava para ele. Foi apenas depois de conhece-lo assim que passei a apoiar o relacionamento dele com a Lene.

— Certo, certo, eu não sei se tem alguma tradição para isso, ou se eu estou sendo precipitado ou algo assim, acontece que fui no banco tirar dinheiro porque gastei tudo o que eu tinha no natal, e ai passei na frente de uma loja infantil, e então... — ele não completa a frase apenas tira as mão de trás das costas e coloca um objeto na mesa.

Era um cachorrinho de pelúcia, todo preto e com uma língua rosada para fora, o tipo de coisa que uma criança dormiria abraçada e levaria para todos os cantos. Sinto meus olhos se encherem de lagrimas imediatamente.

— Ai, meu Merlin, você está chorando. — Sirius parece quase apavorado. — Eu fiz uma coisa errada? Eu não devia comprar isso ne? Você odiou? Claro que odiou. Eu vou devolver!

— Não, não, não. — digo respirando fundo para me acalmar agradecendo mentalmente que esta no fim no horário do almoço e que não tem quase ninguém vendo a cena. — É apenas que... Sirius, isso foi muito fofo, e o bebê ainda não tinha ganhado nada, e eu estou como um poço profundo de hormônios.

Ele sorrir, parecendo aliviado por eu não ter ficado com raiva e vejo seus olhos brilharem também.

— É um ótimo presente, eu amei, e tenho certeza que o bebê vai amar também. — digo por fim.

Passo meu braço por cima da mesa, alcançando sua mão e apartando levemente, tentando transmitir nesse gesto o quanto estou grata por tudo que ele fez por mim nos últimos meses.

X-X

Três dias após eu completar quatro meses de gestação, eu ainda não me sinto pronta para contar que estou grávida. Isso, entretanto, não muda em nada o fato de que hoje a noite é o casamento de Petúnia e em alguns minutos estarei cara a cara com meus pais.

Estou na sala de Dumbledore, esperando James chegar para irmos para minha casa pela chave de portal, iremos agora pela tarde e voltaremos amanhã pela manhã.

Tempo suficiente para ficar na festa e contar aos meus pais a bomba. Uma pequena parte de mim acha importante que nossos pais sejam os primeiros a saber. Então James aceitou minha escolha, embora ele se sinta culpado por Remus e Peter ainda não saberem. Principalmente por que Sirius e minhas amigas já sabem de tudo.

Sirius continua sendo protetor, talvez ainda mais do que antes, não comentou nada sobre James ser o pai do bebê e nem sobre como isso aconteceu, mas deixou claro que já sabia de tudo. James deve ter contado para ele, claro, Sirius é o único amigo com quem pode surtar.

Ele escuta pacientemente todos os surtos de James sobre como ele será um mau pai. Ele acalma e fala que tudo vai ficar bem. Mesmo sem saber como isso vai acontecer.

Um grande amigo que sempre aparece com uma fruta de três em três horas durante as aulas, que sempre toma conta de mim, impedindo que as crianças dos primeiros anos me empurrem, que age como se fosse o pai do bebê.

Não que eu esteja reclamando de James. Ele está sendo ótimo. Leu tudo que tinha na biblioteca sobre gravidez (não que seja muita coisa), sempre pergunta como estou me sentindo, se preciso de alguma coisa e se pode me ajudar com algo.

Mas por algum motivo, me sinto muito mais a vontade quando Sirius faz isso, ultimamente fico até irritada quando James está por perto. Uns dias atrás escutei ele e Sirius conversando aos sussurros.

— Tenho uma tia que quando engravidou detestava ver o marido, ele teve até que dormir em outro quarto — falou Sirius. — não imaginei que isso aconteceria com vocês, afinal não estão juntos.

— Bem, ela definitivamente não gosta muito quando estou por perto. — respondeu James. — Mas tudo bem, vou fazer minha parte, é ela que está passando pelas maiores mudanças, posso aguentar um pouquinho de mau humor.

Fiquei com mais raiva dele ainda. Ora, mau humor, ele nem sabe o que eu sou quando estou com mau humor, e se eu não o quero por perto, ele tem é que ir pra longe.

Fiquei sem falar com ele por três dias. Mas isso não o impediu de continuar me perguntando como estou e se preciso de algo.

E então um dia acordei com ele me carregando até minha cama (honestamente, por algum motivo aquele sofá parece muito mais confortável), e me senti extremamente tocada com o fato de ele continuar preocupado comigo mesmo eu agindo como uma louca.

James entrou na sala logo após uma batida na porta, me despertando dos meus pensamentos conturbados. Ele, assim como eu, trazia uma bolsa com uma muda de roupa para voltar para Hogwarts e a roupa de festa em um saco plástico.

— Bom dia, Professor — cumprimentou James, depois ele veio até mim e falou baixinho. — tudo bem?

Sorri um pouco, tentando esconder o nervosismo, e confirmo com a cabeça.

— Bem, meus queridos faltam cinco minutos para a chave se ativar, então sugiro que tomem seus lugares. — James e eu nos posicionamos em lados opostos do caldeirão de lataria velha e encostando um dedo nele. — às 15h, amanhã ele será ativado novamente e vocês voltarão, não atrasem nem um minuto.

Olho para James, ele sorri para mim, me dando coragem durante todo o tempo até a chave se ativar e nós sermos levados dali.

Antes mesmo de eu conseguir identificar onde estou me inclino para frente e vômito. Fazia algum tempo que isso não acontecia, o que fez com que eu me sentisse bem mal, principalmente porque um pouco de vomito respingou nos calçados de James. Porem ele parece não se importar, apenas segura meus cabelos e passa a mão em minhas costas.

— Pronto. Pronto. Passou? — respiro fundo enquanto afirmo com um aceno de cabeça.

Olho onde estou, é em um beco próximo de casa, entre uma loja de conveniências e uma locadora de vídeo cassete.

— Certo vamos, estamos perto. — falo agora com o estômago embrulhado por outro motivo.

Não demoramos nem três minutos para chegar a casa. E assim que aperto a campainha, minha mãe abre a porta me dando um grande abraço.

Eu engordei um pouco, principalmente na barriga. Na escola, ninguém ainda notou isso, mas quando se tratava de alguém que não me via há meses era mais fácil de perceber esse detalhe. Mais cedo, vesti uma blusa folgada com a intenção de esconder um pouco, mas não ajudou em nada quando minha mãe pressionou o corpo contra o meu.

Ela se afasta, notando algo errado não só no meu corpo, mas também em meu rosto. Ela sabe, eu sei que sabe, então tudo o que eu digo é:

— Eu sinto muito, mamãe.

X-X

Vejo os olhos da minha mãe se revirarem e ela cair no chão, desmaiada. James logo a ampara, meu pai vem correndo para ver o que está acontecendo.

James carrega minha mãe com dificuldades até o sofá. Enquanto isso meu pai grita todo tipo de pergunta complicada.

— O que está acontecendo? Quem é esse, Lily? Por que sua mãe desmaiou?

Começo a hiperventilar, surtando ainda mais com os gritos dele. Se ele já tá assim agora, imagina quando eu soltar a bomba.

Petúnia vem correndo lá de cima, onde acho que ela estava se arrumando. Ela está vestida em um robe branco, o cabelo está preso em bobes e mais bobes, a maquiagem pela metade.

Sinto James se aproximar de mim e parar logo atrás, e é só aí, sentido que ele está ao meu lado é que tenho coragem de falar.

— Pai, eu preciso que você fique muito calmo agora. — começo pedindo, mesmo tendo consciência que eu própria não estou nenhum pouco calma. — Eu estou grávida, pai.

Imagino que esse é uma das maiores preocupações dos pais de moças, que elas engravidem antes do tempo, embora tenhamos avançado consideravelmente em alguns aspectos, ainda era um escândalo sem tamanho.

Meu pai tem o rosto tão vermelho que penso que a qualquer momento ele vai explodir. E quando ele fala, é com gritos absurdamente altos do tipo que tenho certeza que toda a rua pode ouvir.

— EU NÃO ACREDITO NISSO! DEPOIS DE TANTA CONVERSA QUE SUA MÃE TEVE COM VOCÊ. AINDA ASSIM VOCÊ FOI IDIOTA O SUFICIENTE PARA FAZER UMA COISA DESSAS!!! — começo a chorar descontroladamente, sei que ele está decepcionado, mas não esperava esse tipo de reação dele. — ONDE ESTÁ O IMPRESTÁVEL DAQUELE SEU NAMORADO? ELE SÓ É HOMEM PARA FAZER POR ACASO?!

Antes, Spinnet era amado por meus pais, o namorado perfeito, quem eles queriam que eu casasse, mas a forma como meu pai fala dele agora faz parecer que ele é um cara desprezível que meu pai queria a vinte metros de distância e que eu fui uma filha rebelde que continuou o namoro mesmo assim. Não quero pensar no que ele fará quando souber que Spinnet nem é o pai do bebê.

Ele solta outros montes de xingamentos e reclamos, o zumbido nos meus ouvidos abafam a maior parte deles, me desligo da sala e só consigo chorar, choro mais do que quando peguei Spinnet me traindo, mais do que quando descobri estar grávida, mais do que quando achei que James ia me deixar sozinha nessa.

Minha mãe acorda, tenho a vaga impressão dela tentando acalmar meu pai, falando sobre sua pressão, mas ela está visivelmente enraivecida também. Exige explicações. E uma pergunta sempre se repete.

— ONDE ESTÁ ASHTON!?

Meu pai perde o resto de paciência que ele tem. Agarra meus ombros, me puxando do sofá para ficar em pé e me sacode com força, me fazendo voltar a mim para respondê-lo.

— Nós terminamos. - falo de forma quase incompreensível.

— ÓTIMO. ELE PENSA QUE É SÓ FAZER E DEPOIS IR EMBORA!

James dá um passo a frente, fazendo meu pai me soltar, provavelmente James não gostou nenhum pouco de ver me sacudirem assim.

— Na verdade senhor, o pai do bebê sou eu, e não pretendo ir embora.

Meu pai parece não ouvir a última parte, apenas se volta novamente para mim.

— SÉRIO, LILY? COM QUANTOS CARAS VOCÊ SE DEITOU NOS ÚLTIMOS MESES? REALMENTE SABE SE ELE AÍ É O PAI OU SÓ JOGOU NELE?

Não consigo nem acreditar que meu pai está falando isso de mim.

— Eu sou o pai! — afirma James elevando a voz para ser ouvido por cima dos gritos.

E então meu pai explode mais ainda. Ele avança para cima de James, o xingando de tudo quanto é forma, noto que sua intenção é bater em James e noto também que James não pretende fazer nada para se defender.

Puxo James para trás de mim. Mas isso não impede meu pai de continuar tentando bater em James. Uma parte de mim sabe que ele nunca me machucaria, mas outra parte sabe que ele está completamente fora de si.

Isso faz James tentar me proteger e se proteger por tabela. Minha mãe que tenta tirar meu pai de cima de James, que acaba caindo no sofá e me puxando junto com ele. Mas nada dá muito certo. Nossa sala ainda parece uma zona de guerra até um grito feminino ser ouvido.

— PAREM COM ISSO, PAREM JÁ COM ISSO TODOS VOCÊS.

Todos nós paralisamos.

No início imagino que foi minha mãe que gritou, mas não, foi Petúnia que correu até nós, e se pôs no meio, deixando James e eu de um lado e meus pais de outro. Ela está de costas para mim, em uma posição protetora que me lembrou a minha infância.

— O QUE DIABOS VOCÊS ESTÃO FAZENDO! GRITAR COM LILY ASSIM NÃO VAI RESOLVER NADA. FRANCAMENTE, QUEM VOCÊS SÃO PARA FALAR ALGUMA COISA. - nunca vi minha irmã gritar com meus pais, ela nunca nem mesmo respondeu para eles, e isso me choca, mas nada me choca mais do que ela fala em seguida. - EU REALMENTE PRECISO LEMBRAR QUE EU NASCI APENAS SEIS MESES DEPOIS DO CASAMENTO DE VOCÊS?!!!

X-X

Nos sentamos a mesa de jantar. Papai na cabeceira, mamãe ao seu lado direito, Petúnia ao esquerdo, eu ao lado de Petúnia e James ao lado de mamãe.

Estamos em silêncio há uns vinte minutos. Não sei o que pensar, o que Petúnia falou realmente colocou meus pais de volta ao juízo deles. Nunca imaginei algo assim, e agora tudo o que consigo fazer é contar os meses mentalmente, chegando a conclusão que eles tinham acabado de completar seis meses de casados quando Petúnia nasceu, pouco tempo demais para ela ter sido concebida depois do casamento, um bebe prematuro de seis meses não teria sobrevivido. Como eu nunca fiz essa conta antes?

Mas agora pequenas lembranças me fazem ver que isso era uma verdade que sempre esteve na minha frente. Sussurros sobre um casamento apressado, a forma como mamãe ficava quando alguém falava sobre a “prima distante” que ficou grávida solteira, o fato de que todos paravam de falar nisso em sua presença, sua constante preocupação sobre nossas vidas sexuais.

Talvez se ela tivesse contado para gente, se ela tivesse falado da dificuldade de tudo, do pânico, do medo. Talvez eu tivesse tido mais cuidado. Mas agora não adianta pensar nesse “e se”, eu já estava grávida e nós só tínhamos que resolver o futuro.

— Vocês estão juntos? — pergunta meu pai, calmante. — Vão casar? O que pretendem fazer?

— Não estamos juntos, e nem vamos casar — falo, porque ainda não estou confiante de que ele pode ouvir a voz de James sem tentar socar a cara dele. — a primeira ideia é terminarmos a escola.

Minha mãe arregala tanto os olhos que parece que eles vão pular na mesa a qualquer momento.

— Você vai continuar lá assim. — ela aponta pra mim, como se isso fosse uma ideia idiota.

Lembro de outra coisa que ignorei durante toda a minha vida. Minha mãe não terminou os estudos, ela se casou antes. Obviamente, é o fim do mundo uma adolescente andando nos corredores das escolas com uma barriga.

— Não vou me casar mãe, vou continuar a viver minha vida e para isso eu tenho que ter minha educação completa. — respondo. — Já conversei com a direção da escola, vai da tudo certo.

— Você presente de sustentar como se não vai casar? — pergunta mamãe, soando como se o casamento fosse um emprego. — é sua obrigação como mãe.

— Não, não é. Minha obrigação como mãe é dar a esse bebe toda a estabilidade necessária já que decidir te-lo. Acho que será melhor ele crescer com pais separados do que vendo um casamento sem amor, sem nenhum sentimento.

— E eu irei sustentá-los. — fala James, se pronunciando pela primeira vez. — Irei começar a trabalhar assim que deixar Hogwarts e tenho uma grande herança. Tenho certeza de que Lily não gosta da ideia de ser sustentada por mim, mas precisará ser assim até o bebê crescer e ela poder deixá-lo com uma babá.

Ele tem razão, não gosto da ideia. Mas terei que aceitá-la. Tenho um dinheiro guardado dos anos trabalhando no verão. A ideia era que eu, Lene e Dorcas iriamos morar juntas assim que tivéssemos um emprego. Não sei mais como isso vai ficar.

Eu também tinha um emprego para assim que deixasse Hogwarts, mas agora, grávida não acho que ainda conseguirei. O mercado de trabalho é absurdamente preconceituoso com grávidas.

— Como isso aconteceu? — pergunta meu pai, e eu sei que ele fala de como fiquei grávida se eu e James não estamos namorando.

— Apenas aconteceu. — respondo com o rosto queimando de vergonha, sem querer entrar em mais detalhes, e graças a Merlin ele deixa por isso mesmo.

— O que vocês vão fazer? — pergunta meu pai esfregando os dedos indicadores e polegares nos olhos.

E então contamos a eles. James e eu nos dividimos para contar que a decisão era ter e criar o bebê, nós dois íamos fazer isso, mas somente como pais, não como marido e esposa. Não nos amamos e não vamos nos amar. Contamos que vou ter o bebê depois da formatura, que James vai pagar tudo até o momento em que eu tiver um emprego. Que eu não sei se vou ficar em casa ou vou embora, mas eu tive certeza que eu tinha que ir assim que fechei a boca e meus pais se mostraram desgostosos com a ideia sobre ter uma filha grávida sob o mesmo teto.

— Eles têm razão. — diz Petúnia olhando para meus pais. Ela não falou uma única palavra desde que nos fez sentar e deu ao papai um remédio para a pressão. — a vida de vocês deu certo por que vocês se amavam mais que tudo, esse não é o caso deles. Força-los a se casar não vai ser nada bacana, eles apenas vão se separar em dois ou três anos. Uma família tem que ser formada por amor, se eles vão amar o bebezinho e não um ao outro, a família deles será esse bebê. Não tem porque forçar mais do que isso.

Ela se levanta da mesa, dando a conversa por encerrada. Nunca imaginei que Petúnia me ajudaria tanto, da família ela era a que mais estava me dando apoio.

— Agora, com licença, pois em algumas horas será meu casamento. James espero que você fique para a festa.

X-X

Eu acordo do nada.

Tento entender o que me fez acordar mais não sei. Tudo está absurdamente normal. James está dormindo na sala e eu no meu antigo quarto.

Embora ele estivesse absurdamente encantado com as tradições de um casamento trouxa, não pudemos aproveitar em nada. A exaustão emocional do dia recaiu sobre mim e eu mal pude aguentar até a hora da mesa ser liberada.

Petúnia estava linda, e seu, agora, marido parecia tão feliz que nem conseguia ficar parado. Não fui à luta pelo buquê, não por não querer pegá-lo, mas por que eu nem conseguia mais me mexer de tanto sono.

Meu vestido era folgado, de forma que escondeu minha barriga pontuda, e ninguém fez perguntas. Ninguém comentou nada também, meus pais não queriam um escândalo no casamento da filha, e eu não queria tirar a atenção de Petúnia.

James me trouxe para casa assim que vários casais começaram a dançar. Meus pais não gostaram da ideia dele dormir aqui. Mas o que mais poderia acontecer? Eu já estou grávida mesmo.

Petúnia me deu um abraço apertado como não dávamos há vários anos e me perguntei se foi algo realmente bom ia acontecer no meio de todo esse estresse. Ela ia da festa direto para lua de mel em Amsterdã e não poderia se despedir de mim depois.

— Vai ficar tudo bem, ok? — sussurrou ela em meu ouvido. — Eles só estão em choque, logo passa e vão te apoiar em tudo. E eu também. Você será uma ótima mãe, só siga o seu coração e instinto.

Sorrio para ela, agradecida por suas palavras de incentivo.

— Te mando uma carta logo, te contar as novidades.

Sorrio com a lembrança doce, não pensei que a gravidez traria isso. A melhora da minha relação com minha irmã. Ela parece está disposta a me ajudar com tudo.

Fecho os olhos para voltar a dormir. E é aí que eu sinto. Uma pequenina movimentação no baixo ventre, provavelmente o motivo de eu ter me acordado, não era como nada que já senti na minha vida, mas ainda assim eu soube imediatamente o que era.

Meu bebê.

Se mexendo dentro de mim.

Ponho a mão na barriga, mas não dá para sentir nada pelo lado de fora, somente eu sinto isso. Meus olhos se enchem de lágrimas e uma emoção se apodera de mim, algo tão forte que me sinto zonza. Isso seria o tal amor materno de que minha mãe falava?

Não, não isso. Por que sinto amor por esse bebê desde o momento em que larguei a poção abortiva estúpida, talvez até antes disso. Isso está mais para orgulho materno.

Meu bebê está crescendo, logo o terei em meus braços. Mal posso esperar por isso.

Esfrego a mão em minha barriga carinhosamente.

— A tia Petúnia tem razão, amor, vai ficar tudo bem. A mamãe te ama muito.

X-X

— Bem vindos de volta. — saudou Professor Dumbledore quando eu e James aparecemos em seu gabinete. — Espero que tenha ocorrido tudo bem.

Sorrio para ele enquanto James deseja um bom dia. Não ocorreu exatamente tudo bem, mas no final deu certo.

Saímos da sala depois de uma breve troca de palavras. Achar nossos amigos não é uma tarefa difícil, todo domingo à tarde desde o fim do inverno eles sentam-se na beira do lago para conversar um pouco.

— Eu estava pensando. — diz James quando estamos nos aproximando dos jardins. — talvez devêssemos contar logo para nossos amigos.

Olho para ele pelo canto do olho.

— Você não quer contar para sua mãe antes?

— Na verdade acho que ela pode esperar mais um pouco, deixa você se recuperar do estresse que foi contar para seus pais. Ou talvez eu possa fazer isso sozinho.

— Não, — digo parando para olha-lo. — você esteve comigo em casa, vou estar com você também.

James para alguns passos na minha frente e se vira para mim.

— Certo, a escolha é sua. — ele passa a mão pelos cabelos, bagunçando os fios ainda mais. — mas só vamos ver minha mãe em umas duas semanas. Você realmente quer esconder por mais tanto tempo?

Não, eu não quero. Não sou muito próxima de Peter, mas com certeza queria contar para Remus. E quero isso logo. James tem razão, não tem mais porque esperar.

— Ok, vamos logo.

Eles estão exatamente onde eu imaginei. Sirius e Lene estão abraçados de forma carinhosa. Remus tem um livro aberto no colo, mas parece já ter desistido da leitura. Dorcas está mexendo com algumas miçangas, provavelmente fazendo algum colar novo. Peter conta algo, sacode os braços animadamente.

— Ei pessoal. — fala James se jogando ao lado de Sirius e Lene.

Me sento ao lado de Remus e tento ver qual é o livro que ele está lendo.

— Aaaah, finalmente voltaram. — exclama Remus, com aquele ar irônico que me faz lembrar porque ele também é considerado um maroto mesmo sendo tão certinho. — talvez vocês queiram dizer para nós por que Lily convidou James pra ir com ela no casamento da irmã.

Quando James foi comigo, não avisamos ninguém além de Sirius. Cruel, eu sei, mas se fôssemos explicar, teríamos que falar o motivo. Então simplesmente deixamos para Sirius a tarefa de contar onde James estava e dizer que não sabia o porque dele ter ido comigo.

Olho para James, e espero que ele entenda meu olhar. Um olhar de “você conta dessa vez”. Ele suspira, mostrando seu entendimento.

— Certo, alguns de vocês já sabem disso por causa do momento desesperador da descoberta. — ele fala. — Lily e eu vamos ter um bebê. Digo, juntos.

Encaro Remus ao meu lado, que parece em um completo choque paralisante. Olhos arregalados, boca escancarada. Eles estão tão absurdamente parados que posso apostar que nem estão respirando.

— Ai meu Merlin. — exclama Peter, arrancando uma gargalhada de Sirius e Dorcas.

E então, uma avalanche de perguntas recai sobre nós.

— Como assim?

— Como aconteceu?

— Vocês estão juntos?

— Está com quanto tempo?

— Vai terminar a escola?

— Porque não contou pra gente antes?

Deixo James responder tudo, explicar tudo, apenas confirmo com a cabeça cada frase.

— Você já sabia Sirius? — pergunta Peter, notando que Sirius não parece nem um pouco surpreso.

— Soube antes mesmo do James.

Ele diz que uma voz quase convencida, como se dissesse “sou muito importante na vida de Lily, lógico que ela veio até mim”.

— Oh, meu Deus. — sufoca Peter. — agora tudo vai mudar, né?

— Vamos ter um bebê no nosso grupo. — Remus reforça.

— Isso quer dizer… — começa Lene, seriamente. Por um momento, penso que ela vai me dar uma lição de moral, mas ela engole em seco e diz. — isso quer dizer, que quando nos formarmos teremos que achar um apartamento com quatro quartos?

Eu e Dorcas sorrimos. E Dorcas não pensa duas vezes antes de confirmar.

Será um momento bem complicado da minha vida, principalmente no resguardo, então me sinto muito aliviada ao saber que minhas melhores amigas estarão a uma distância de apenas alguns metros.


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Notas finais do capítulo

Bem, espero que tenham gostado, é um cap bem grandinho para compensar o tempo.
[Capitulo editado em 08/09/2020] Eu fiquei bem chocada ao notar que quando escrevi esse cap pela primeira vez simplesmente esqueci de colocar a primeira consulta a Lily, ficou parecendo que ela não fez pre-natal em Hogwarts, eu tinha pesquisado bastante pra por e queria muito colocar que mesmo com magia imprevistos acontecem. Também amei escrever essa cena cut cut do Sirius, porque a amizade dele com a Lily é muito importante nessa historia e sinto que eu não tinha demonstrado direito o relacionamento deles. Espero que tenham gostado das mudanças.