Por Dimitri Belikov.

Eu estava vivendo um verdadeiro pesadelo só que estando totalmente acordado dessa vez, quer dizer aparentemente eu havia sofrido um acidente de carro bizarro a pelo menos dois dias ou algo assim e com isso somente nas últimas 3 horas algumas coisas haviam voltado em minha cabeça, mas isso ainda não era exatamente o suficiente para me fazer entender o que havia acontecido e porque. Eu sabia quem eu era em nosso mundo sobrenatural e o que fazia, sabia que protegia o noivo da atual Rainha, e que ela era declarante do Espírito assim como um outro Moroi chamado Adrian Ivashkov que namorava uma alquimista que tinha uma ligação direta com grande parte das pessoas que eu conhecia mesmo que não me lembrasse delas inicialmente, sabia que Tasha Ozera minha amiga mais antiga havia assassinado nossa antiga Rainha, Tatiana Ivashkova e acima de tudo isso sabia que por mais que não conseguisse me lembrar tinha uma ligação muito especial e aparentemente bastante íntima com a Dhampira de olhos azuis e cabelos castanhos a minha frente visto que quando finalmente abri os olhos não tive tempo para fazer perguntas já que ela se jogou em meus braços e me beijou.
– Ah, ok eu acho que não posso ficar aqui agora, realmente não é uma boa hora. Sinto muito Camarada Belikov, espero que fique bem. De verdade. -Disse a mesma garota olhando-me com decepção estampada em seus olhos antes de se afastar e sumir da sala.
Encarei a médica sem saber se deveria dizer alguma coisa, então simplesmente dei de ombros afundando na cama abaixo de mim.
– Bem senhor Belikov, vamos fazer alguns testes rápidos antes de qualquer decisão final e uma radiografia do seu cérebro para ver se encontramos o que você perdeu. Olhe para o meu dedo e acompanhe sem mexer a cabeça, apenas com os olhos. -Disse a Doutora Hetzel erguendo as mãos e colocando uma lanterna em meus olhos , fazendo o processo dos dois lado e então dando um sorriso gentil. -Os reflexos aparentemente não foram afetados, não houve concessões.
– Ajuda se eu disser que lembro de tudo na minha vida, menos as coisas envolvendo a garota que acabara de sair por aquela porta? -Perguntei franzindo a testa ao encarar minhas pernas e depois novamente os olhos dela.
– Vamos fazer os exames no seu cérebro e avaliar os resultados antes que qualquer outra coisa. Ok? -Disse ela aapertanso meu ombro num ato descontraído afim de tentar me fazer relaxar ou algo assim.
Fiz todos os exames necessários que foram pedidos e me trouxeram de volta ao quarto de recuperação e lá estava a Guardiã Hathaway Mazur virada para as janelas gigantes encarando o céu azul claro, os enfermeiros saíram nos deixando sozinhos.
– Estou surpreso por ter voltado para cá depois do que aconteceu algumas horas atrás, quer dizer pensei que não veria você de novo. Não por um bom tempo. -Falei sentando na cama com cuidado para assim poder encará-la com precisão, mesmo arriscando alguém entrar ali e me dar uma bronca por quebrar as regras. - Porque ainda está aqui Guardiã Hathaway? Desculpa se pareço horrivelmente insensível, mas acontece que eu não lembro de você. Eu lembro de toda a minha vida, mas eu não lembro de você.
Não houve nenhuma reação por parte dela.
– Tratamento de silêncio? Relaxa Guardiã, meu cérebro já fez isso quando arrancou as minhas memórias no acidente. -Falei revirando os olhos com a voz tensa. -Fala alguma coisa, ou me deixa sozinho. Por favor.
– 24 de Agosto de 2012. -Disse ela sem se mover ou mesmo me olhar.
– É uma data, não faz o menor sentido Guardiã Hathaway Mazur. Sem memórias. - Falei sem tirar os olhos dela mesmo que estivesse de costas para mim, franzindo a testa diante do óbvio.
Deus, o que diabos ela queria de mim?
– Não é só uma data Dimitri Belikov, é "A data". Foi a primeira vez que eu te vi. Era quase onze horas da noite, você junto com um grupo de Guardiões foram mandamos ao Oregon atrás de mim e da atual Rainha, Vasilissa Dragomir. Haviamos fugido da Academia São Vladimir por motivos que envolviam a segurança dela na época e você foi solicitado porque era... Não, porque você é o melhor que eles tem na equipe, naquele momento quando nossos olhos se cruzaram segundos antes de você me deixar inconsciente só com a palma da mão eu sabia que havia algo de especial, sabia que havia sido colocada num caminho sem volta, mas eu não me importava, afinal ainda poderia agir como uma aprendiz irritante e fazer da sua vida um inferno. -Disse ela finalmente virando-se em minha direção, seus olhos vermelhos e rosto molhado denunciavam as lágrimas que haviam passado por ali. Ela deu alguns passos até ficar bem na minha frente. - Então a Diretora da Academia São Vladimir, Ellen Kirova para ajudar não intencionalmente é claro, te colocou como minha babá definitiva como forma de punição por meus atos não muito aprováveis, treinavamos todos os dias antes e depois dos meus horários normais, tínhamos uma sincronia incrível, você sempre me protegendo, me ajudando com os dons da Lissa e seis meses depois estávamos apaixonados. Ferradamente apaixonados um pelo outro e mesmo diante dos riscos que corríamos estávamos dispostos a levar isso a diante, estão em Spokane eu tento salvar um bando de alguns alunos idiotas, sou sequestrada com eles por um grupo de Strigois que estavam trabalhando com humanos, eu mato os idiotas praticamente sozinha tendo ajuda do Christian Ozera com seu dom, perco meu melhor amigo Mason Ashford e então a Academia sofre um ataque Strigoi que gerou muitos estragos, fomos os dois sequestrados no centro da área rochosa nos arredores da propriedade, fugimos com a ajuda do meu pai e da Sidney, visitamos sua mãe e irmãs e a assustadora da sua vó meio bruxa Yeva e continuavamos apaixonados e então eu sou presa acusada de matar a Rainha Tatiana Ivashkova e meus... Nossos amigos provam que na verdade foi Tasha Ozera que a matou e fizera parecer que fui eu porque a louca te ama e aí ela é presa. Eu levo um tiro que quase me mandou pro inferno ou algo assim e continuei te amando. Victor Dashkov tenta me matar porque aparentemente é só isso que todos querem de mim; me ver morta. Então o Moroi Adrian Ivashkov me traz se volta com o sangue dele e descubro que estou grávida. De gêmeas. Parabéns papai nossas filhas nasceram semana passada e são a sua cópia em versão feminina. Então sinto muito, mas eu não vou facilitar as coisas pra você.
Me aproximei sentindo-me um tanto irritado com a postura dela e sua forma carrancuda.
– Essa é sua estratégia final Guardiã Hathaway Mazur? Jogar na minha cara todas as coisas boas que tive em dois anos e perdi? Eu daria qualquer coisa para ter minhas memórias de nós dois de volta, mas eu não tenho controle sobre mais nada. O que exatamente você quer que eu faça a respeito? -Questionei praticamente aos gritos ignorando o fato de que estávamos num hospital.
Uma dica, se seu objetivo é amenizar a situação atual, nunca por hipótese alguma a faça gritando. A situação não melhora.
– O que você acha que eu quero? Eu sei que é difícil ter uma lacuna de 2 anos no cérebro por causa de um acidente idiota, mas já parou para pensar em como me sinto? Você perdeu as memórias no acidente Dimitri, mas eu perdi o amor da minha vida. E você me pergunta o que eu quero que você faça. - Praguejou a Guardiã Hathaway Mazur andando de um lado a outro aparentemente tentando lutar contra as lágrimas. - Quero que não seja covarde com si mesmo e lute. Lute pelas suas memórias com vontade, pela sua vida e por mim... Pelo que sentimos. Mesmo que você não lembre de mais nada apenas... Droga Camarada, apenas lute. Por favor, eu não sei quanto tempo aguento fazer isso funcionar sem você. Então me deixa ser egoísta uma vez na vida e te obrigue a lutar.
Paralisei.
Por Deus! Todo aquele desespero preso dentro dela ecoou dentro de mim e com memórias ou não simplesmente segui meus instintos mais profundos com relação a ela, a puxei para os meus braços rapidamente sem me importar com o fato de que ela poderia surtar e me agredir e a apertei contra meu peito gentilmente enterrando meu rosto em seu couro cabeludo sentindo-a ter pequenos espasmos contra meu corpo; ela estava chorando em meus braços.
– Desculpa, mas eu não consigo fazer isso sem você. Eu simplesmente não consigo e você não facilita nada agindo como não se importasse. -Disse ela com o rosto em meu peito.
– Shhh! Tudo bem, vamos dar um jeito de consertar isso. Guar... Rose... Olha pra mim. Tudo bem, eu não me lembro, mas isso não significa que não podemos construir novas memórias. -Falei apertando-a em meu peito com cuidado.
Ah Deus! Como era possível eu ter uma vida tão intensa e tão perfeita com uma garota incrivelmente linda e não lembrar de nada? E como eu conseguiria controlar o fato de que mesmo sem as memórias havia me apaixonado por ela.
Pela segunda vez, pelo visto.
Durante toda aquela ssemana recebi visitas e me lembrava de cada um dos rostos que me encaravam e das vozes que me desejavam boa recuperação e então os médicos decidiram que talvez frequentar os lugares que eu costumava estar quando estava bem poderia me ajudar e no entanto tudo que eu queria era estar ao lado dela. Eu só queria Rosemarie Hathaway Mazur ao meu lado. Cuidando de mim e me deixando cuidar dela.
Três batidas sutis na porta do quarto me arrancaram dos meus devaneios e ao virar o corpo lá estava ela sorrindo timidamente ao me olhar.
– Está vendo alguma coisa que gosta Guardiã Hathaway Mazur? -Perguntei antes que pudesse me conter, com um pequeno sorriso.
– Você não faz ideia Camarada. -Respondeu ela encostando no batente da porta sorrindo.
Santo Deus! Aquela garota iria me matar!
– Eu não dormi essa noite tentando tomar uma decisão. -Comecei a encarando com seriedade.
– Decisão sobre? -Perguntou ela franzindo a testa; o sorriso sumindo dos lábios imediatamente.
– Isso. Nós dois, as minhas memórias... Quero lutar pra ter tudo isso de volta. E quero que você me ajude com isso. -Falei ao me aproximar dela e então juntando nossos lábios.
– Porque fez isso Camarada? -Perguntou ela franzindo a testa.
– Eu não tenho memórias do que parecia ser a melhor fase da minha vida, então pensei em construir novas. -Falei dando de ombros ao soltá-la e voltar a arrumar minhas coisas. -Estou confiando totalmente em você, então espero que saiba por onde devemos começar a recuperar minhas memórias de nós dois.
– Vamos começar por Montana então, porque foi onde nos apaixonamos e também existe algo lá que eu preciso encontrar sobre mim. Explico pra você quando eu descobrir, eu juro. -Disse ela após parecer pensar um pouco em minhas palavras.
– Montana então. -Falei com um pequeno sorriso pegando minha bolsa de viagem.
Foi lá que nos apaixonamos... Então eu iria acrescentar o restante da frase mentalmente. Foi lá que nnos apaixonamos pela primeira vez. Eu só não sabia como contar a ela que estava me apaixonado novamente por ela e nem faria isso. Não por enquanto