A Filha de Roma e Grécia escrita por Wondy


Capítulo 24
Hayley - Avalanche alimentícia


Notas iniciais do capítulo

Heeeey Divosas! Quanto tempo, não? Eu sei que vocês devem estar querendo me matar, e com razão... Assim, vai ocorrer uma mudancinha: vai ter um cap por semana ao invés de dois, pois está ficando muito corrido para mim... E, para compensar, os caps vão ter mais de duas mil palavras, agora vocês gostaram, não é? E vocês viram o que aconteceu na França? Obvio que eles viram o que aconteceu na França, se liga Wondy! Cara, que horrível! Coitados dos fraceses!
Aqui vai ter as tão esperadas desculpas de Jason, também.
Enjoyyy



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Sinceramente, eu já tenho problemas de mais para uma semideusa normal. Mas, eu precisava admitir que minhas ancestrais, obviamente, não eram descendentes de Atena.

Afinal, foi por causa da minha tão querida tata(infinitos “tata”)ravó resolveu ofender Dioniso, que eu estou fadada a virar minha mãe. A idéia já me deixa com vontade de socar uma parede, mas acho que não seria inteligente da minha parte. Eu poderia ter me usar minha mão futuramente para, quem sabe, lutar com monstros.

Minha mãe era uma verdadeira fã de Vera Bennet, tanto que meu nome é Hayley Vera Amélia Bennet. Hayley por que ela dizia ser um nome alegre, então quem o ouvisse acharia que eu fosse uma criança feliz e nunca desconfiaria dos cortes. Amélia por causa da personagem principal do seu livro favorito.

Eu até aceito o Amélia, mas Vera? Por favor! Eu sou obrigada a ter que conviver com essa maldição e Sarah ainda me dá o nome da causadora dessa dor toda?

Tenho a esperança de que a maldição acabe me pulando, pois eu estou morta. Mas, por outro lado, ela pode ter dado só uma pausa, pois eu preciso fazer quinze anos de vida. De vida, eu tenho quatorze, de morte setenta e quatro. Já que eu dei um Thriller e voltei à vida (obrigada por não ser em forma de zumbi. Carne podre descolando dos meus ossos não combina muito comigo), talvez a contagem continue de onde parei, talvez recomece do zero. A segunda parece a melhor. Também parece a menos provável.

Mas nada disso importa. Quando ativada, é impossível evitar a Maldição Bennet.

Mas eu não posso tê-la ativado. Eu não a amava. Eu a odiava.

Sarah nunca amou ninguém, mas acabou ativando também (eita, rimou).

Eu não amava nenhum Bambino que matei. Eu não amava Sarah. Eu não ativei. Não causei a morte de ninguém que eu amasse.

Eu precisava parar de mentir para mim mesma. Se eu aceitar, talvez a dor fique mais suportável.

Afinal, ele saiu aquela noite, pois tinha descoberto o que fiz com ela. Ele saiu e “viu o que não devia”. Nunca soube o que ele viu, acho que nunca vou saber. Mas, se eu não tivesse contado, ele não teria saído. Se ele não tivesse saído, não teríamos morrido naquela igreja. A verdade é inevitável.

Eu causei a morte de Arthur.

*****

Bem quando eu estava começando a gostar de Aqueloo, ele nos ataca. Mas não sem antes jogar na minha cara que eu ativei a Maldição Bennet e que ela já tinha começado. Lindo. Entrou para minha lista dos meus deuses favoritos.

A rajada de água foi tão forte que me fez bater contra uma árvore.

Xinguei sem nem prestar atenção na língua em que falei. Minha cabeça latejava e minha visão ficou turva.

Tentei ignorar a dor, sem sucesso, e olhei ao redor procurando Piper. Ela estava a alguns metros, tentando levantar. Ao que parecia, ela tinha batido as costas na árvore. Provavelmente ficou com falta de ar devido a batida que deve ter acertado a parte de trás do diafragma, mas ficaria bem em alguns minutos. Fiquei aliviada.

Nunca fui muito próxima de Piper, mas, nas últimas horas, eu havia contado mais para ela do que contei em meses para Hazel. Piper parecia transmitir confiança para as pessoas. Acho que deve ser por conta disso que me senti tão à vontade em contar à ela sobre Sarah. Não me senti daquele jeito com ninguém que compartilhei isso. Nem mesmo com Nico.

Consegui ficar de pé com certa dificuldade, me apoiando em um Art encharcado até conseguir diferenciar quatro dedos de dois. Art não chegou a conseguir fugir da rajada de água, mas pareceu não ter batido em nada. Graças aos deuses.

Corri até Piper, mas no meio do caminho o rio voltou a nos atacar. Era como se a água fosse um punho, pois eu não conseguia sair. Tentei controla-la, mas não consegui. Aquele rio estava sob o comando de Aqueloo e não de Netuno.

A mão de água me arrastou para o fundo do rio. Por mais que aquele rio não estivesse no domínio de Netuno, consegui respirar normalmente.

Foi mais fácil me desvencilhar da água lá embaixo, principalmente quando pensei em Piper se afogando.

De repente, eu submergi tão rápido que me deixou um pouco tonta. Me vi no centro de um redemoinho, ele não me levava para baixo como deveria, mas não conseguia me mexer.

A alguns metros de onde eu estava, Piper submergiu arfando em busca de ar. Pelo menos ela estava bem.

A alguns metros de onde eu estava, Aqueloo ergueu-se da água.

– Sinto muito por isso, de verdade – disse ele.

Descobri que o que mais me irrita é um deus que se desculpa antes de atacar. Não basta apenas tentar nos matar? Uma boa maneira de demonstrar que não queria nos matar é, rufem os tambores (tarararararam) NÃO NOS MATANDO!!! (Imagine essa frase flutuando no céu com fogos de artificio atrás dela. Acredite, fica legal)

Desejei que a água impulsionasse meus pés e não aceitei um não como resposta. Aqueloo pode ser o deus-touro-esquisitão dos lagos e rios, mas eu sou uma filha de Netuno. A água me obedece, não importa onde eu esteja.

Fui lançada no ar, mas Aqueloo balançou a mão como se tentasse espantar um inseto, me acertando e me deixando tonta. Quanto orgulho da filha de Netuno...

Fiquei debaixo d’agua por um tempo, tonta de mais para conseguir raciocinar. Devo ter ficado assim por alguns minutos, mas, quando lembrei que Piper estava lá encima sozinha com um deus-touro gigante metido a galã, meu raciocino acordou à mil por hora.

A água impulsionou meus pés para cima. Emergi minha cabeça e vi Piper estava usando charme em Aqueloo. Isso era bom. Submergi minhas orelhas, pois não gostaria que as palavras tivessem efeito em mim tanto quanto para Aqueloo.

Pipes me notou e trocou um olhar comigo, fazendo-me entender seu plano na hora. Para uma filha de Afrodite, ela era bem esperta.

Nadei até ficar atrás de Aqueloo, tentando o máximo possível não notar o quão constrangedora era a imagem que o ângulo me proporcionava.

Ouvi Piper falar algo como: “Não se preocupe se ouvir algum barulho, provavelmente não é nada”.

Me alcei no ar com a água impulsionando minha subida, aterrissando no ombro de Aqueloo. Ele nem pareceu notar. Agradeci mentalmente por ele ter escamas, senão eu não conseguiria me segurar.

Empunhei minha espada e bati contra o chifre do deus. A espada o cortou como se fosse manteiga, e Aqueloo berrou. Eu e Piper mergulhamos na água.

Art latia desesperado quando emergimos.

Os gritos de Aqueloo eram muito altos e pareciam fazer a terra tremer. Piper e eu corríamos o mais rápido que podíamos com Art em nossos calcanhares.

Quando já estávamos a uma distância segura do deus, paramos para descansar.

A única coisa que eu conseguia pensar era: Não vou levar esse chifre para Hércules-Sou-O-Máximo.

Ele revelou meu segredo, jogou na minha cara que não tinha como fugir da maldição, nos fez decepar o chifre de um deus pacífico (ou não tão pacifico assim, mas você me entendeu) e certamente vai matar Art quando chegarmos lá.

– Hércules vai mata-lo – ofeguei. Piper me olhou confusa. – Art. Ele vai matar Art.

Piper olhou para o cão infernal que estava deitado no chão. Os olhos dele eram vermelhos, mas tenho certeza que nunca vi filhote mais fofo. Ele era mais baixo do que a Sra. O’Leary, mais ou menos a altura de Unda, acho. Ele era todo preto, mas as pontas de suas orelhas pareciam ter sidos pintadas de vermelho. Seus olhos pareciam arder em chamas, mas isso passava um ar aconchegante, como se eu estivesse em casa.

– Não podemos deixar – sussurrou Pipes. Ela olhava para Art com compaixão.

Hércules mataria Art se não fizéssemos algo. Não posso deixar que isso aconteça.

O deus ator de cinema só que não, não merecia a cornucópia depois de nos mandar naquela missão suicida. Se não fosse por Piper, não iriamos ter saído vivas daquele rio.

– O que vamos fazer, Hay?

Então, eu tive uma idéia.

– Tenho um plano.

Expliquei para Piper o que iriamos fazer. Ela também deu algumas idéias ótimas. Surpreendi-me com o fato de Piper e eu conseguirmos nos entender tão bem. Os poucos filhos de Vênus que conheci, só pensavam em roupas e aparência. Piper não era assim, ela tentava esconder sua beleza. Isso é tipo o fim do mundo para qualquer filho de Vênus, mas não para ela.

Quando julgamos que nosso plano estava mais do que bom, Piper comentou:

– Vamos morrer.

Esse comentário me fez lembrar de Nico e seu pessimismo além dos limites. Eu sempre pedia para ele ser mais otimista, mas não adiantava. Na verdade, eu até gostava do jeito que ele era pessimista daquele jeito. Me fazia lembrar que até os opostos podem se atrair de vez em quando.

*****

Hércules esperava exatamente onde estava antes de irmos na Missão Deus-Touro. Ele olhava fixamente para o Argo II com o sol se pondo às suas costas. Era só colocar uma música dramática de fundo e se transformaria em cena de filme dos anos 60.

Piper mandara uma mensagem de Íris para Leo e nós estávamos preparadas, montadas nas costas de Art. O cão infernal rosnou de leve ao ver Hércules, mas Piper sussurrou umas palavras com charme que fizeram Art ficar dócil novamente.

Hércules pareceu notar que havíamos chegado. Seu rosto não chegou a se iluminar quando viu a cornucópia nas mãos de Piper, mas sua carranca suavizou.

– Muito bem, vocês conseguiram – disse ele. – Estão livres para cruzar o Mediterrâneo.

Isso soava como uma permissão concedida, mas, para não arriscar, perguntei:

– Isso significa que nosso navio pode entrar no Mediterrâneo?

– Sim, sim – Hércules falou com tédio e estralou os dedos. Em língua de deus, isso significava que a permissão foi concedida permanentemente. – Agora me dê o chifre.

Eu e Piper trocamos um olhar cúmplice.

– Não.

O deus franziu a testa, como se não tivesse entendido direito.

– Como?

– Não iremos te entregar a cornucópia, mas ainda assim você nos deixará sair dessa ilha ilesas – O plano era que Piper convencesse Hércules com charme, como ela está fazendo.

Hércules riu.

– Passei tempo o bastante com Afrodite para saber como resistir ao charme! – ele gritou. – Vocês vão morrer se não me entregarem esse chifre!

Suspirei.

– Tudo bem – Virei-me para Piper. – Plano B.

Ergui a cornucópia. Na verdade, eu não tinha idéia do que ela fazia; se era mágica ou apenas um enfeite. Mas eu acreditava que deveria ter alguma propriedade mágica, senão Hércules não a quereria tanto assim.

Me concentrei em minhas lembranças mais felizes.

Pensei em Arthur dedilhando o piano de maneira errada só para me ouvir tocá-lo da maneira certa. Ele não gostava de tocar, mas sim de me ouvir tocando. Pensei nas piadas que Lindsay fazia sobre eu e Nico antes de dormimos. Seu sotaque francês deixavam-nas mais engraçadas ainda. Pensei na primeira vez que vi Percy naquele trem, e soube que era ele quem eu estava procurando.

A cornucópia lançou uma enxurrada de comida tão poderosa quanto o rio de Aqueloo. Um monte de fast foods, presuntos, assados e frutas enterraram Hércules completamente. Eu não conseguia entender como toda aquela comida saía de uma cornucópia tão pequena.

Depois de despejar tudo quanto era comida encima do deus, a cornucópia se autodesligou. Ouvi Hércules gritando e se debatendo debaixo de toda aquela comida. Era até engraçado, mas não planejávamos ficar ali para observar.

– Agora! – exclamei.

E então, entramos nas sombras. Era arriscado viajar nas sombras com um cão infernal filhote e pouco experiente, mas arriscamos.

As sombras nos envolveram, eu não conseguia mais sentir meus membros e não ousei abrir os olhos. Eu sentia como se meu estômago estivesse sendo virado do avesso. Eu não conseguia pensar em nada.

De repente, a sensação passou. Abri meus olhos. Estávamos no convés do navio. Antes que eu pudesse falar “oi”, o Argo II levantou voo.

Corri para a amurada, onde Percy estava. Ele sorriu para mim.

– O que você acha de darmos um banhinho em Hércules, maninha? – perguntou ele.

Sorri.

– Eu acho uma ótima ideia, maninho.

Então, nós dois apontamos para Hércules e uma onda de 3metros fez ele cair. O Argo II entrou no meio das nuvens deixando a ilha para trás.

*****

Descobri que a batida atrás da minha cabeça, na verdade foi mais grave do que eu pensei. A água amenizou a dor e curou, mas não totalmente (o tapa que Aqueloo me deu também não ajudou muito). Resultado: onze pontos.

Quem se encarregou de fazer os pontos foi Hazel, e eu agradeci eternamente por isso. Ela costumava fazer os curativos dos feridos no Acampamento Júpiter, o que me deixou mais tranquila estando nas mãos de alguém que sabia o que estava fazendo.

Art foi bem recebido por todos, principalmente por Frank, que o adorou e afirmou que Art precisava brincar um pouco. Como a Sra. O’Leary não estava conosco, Frank se ofereceu, pois sempre quis se transformar num cão infernal.

– Ai! – exclamei, com a dor aguda no topo da cabeça.

– Se você ficar quieta não vai doer – aconselhou Haz. – Estou com um mau pressentimento. – comentou depois de anunciar que estava pronto.

Olhei para ela. Depois da nossa missão para o Alasca, aprendi que o instinto de Hazel nunca estava errado.

– Sobre o que, Haz?

Ela deu de ombros.

– Não sei bem, é só um pressentimento – respondeu.

– Acha que tem algo a ver com Crisaor? Vamos encontra-lo hoje? – perguntei.

– Provavelmente, mas posso estar errada.

– Você não está errada.

– Posso estar.

– Não está.

– Não estou. – cedeu ela.

Suspirei.

Hazel é minha melhor amiga. Não consigo ficar escondendo coisas dela, me faz sentir culpada.

– Conheço seu irmão – As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse contê-las.

Hazel olhou para mim, perplexa.

– O-o quê?

– Nico – expliquei. – Conheço Nico.

Contei tudo à ela: como o conheci, como ele entrou na Resistência e como ele desapareceu revelando ser um infiltrado de Hades.

Hazel ouviu tudo com atenção, e quando terminei, ela ficou olhando para o nada por alguns segundos antes de explodir:

– Por que você nunca me contou? – exclamou ela.

– Estou te contando agora.

– Isso não é argumento!

– Claro que é!

– Não, não é!

– E por que não?

– Por que não!

– Por que não também não é argumento.

– Cale a boca, Bennet! – exclamou ela, porém sorria.

Depois disso, Hazel e eu começamos a falar sobre o que achávamos de cada deus que conhecíamos, e eu não consegui parar de rir quando ela chamou Hades de “Stalker de deusas menores da primavera”. Fazia tempo que eu não conversava com Hazel desse jeito, sem ter que se preocupar com ataques a qualquer hora, como se fossemos adolescentes normais.

Quando Hazel decidiu ir tomar um banho, Jason apareceu na enfermaria para se desculpar por ter desconfiado de Nico daquele jeito.

– Ah, e sobre antes – começou ele, parecendo constrangido. – Sei que você acha que eu estava sendo machista e tal...

– É, eu estava.

– É que, veja bem – ele tenta explicar. – Você tem quatorze anos. Quatorze. Tem 1,57, é magra e delicada. O que você pensaria se uma garota assim simplesmente dissesse que iria ir falar com Hércules e que tinha mais chances de vencê-lo em uma luta?

Eu pensaria que ela é louca.

Pela primeira vez, eu vi o lado de Jason. E ele estava certo (embora eu nunca vá admitir isso em voz alta), afinal de contas eu tenho quatorze anos para ele, e não oitenta e seis. Ele não sabe que eu treinei por setenta e dois anos na Resistência, no Mundo Inferior, onde você pode se alimentar de cheesburguers pelo resto da sua morte sem nem ao menos mudar a fisionomia, só por meio de magia.

Ele não sabe que treinei minha capacidade de estratégia por anos, não sabe a dor que é ter que se esforçar cada dia mais para não esquecer quem é. Alguns dias é uma luta, outros uma guerra. Alguns ficam completamente malucos com isso, eu quase fiquei. Lindsay me ajudava nisso, ela não fazia nenhum esforço para se lembrar de quem é, o que era muito estranho. Em setenta e dois anos, eu nunca vi uma sequer alma como Lindsay.

Ele não sabe que a convivência com minha mãe me tornou uma pessoa fria e calculista, mas a convivência com Arthur me tornou uma pessoa divertida e impulsiva. Não sou um caso clínico de bipolaridade, apenas uso o termo para justificar algumas atitudes minhas.

Nico adorava me chamar de bipolar, pois uma hora estava xingando ele por ser tão pessimista e outra estava rindo da cara de desinteressado dele.

Jason não sabe de nada disso, não é culpa dele. Acho que é hora de começar a ver o lado das outras pessoas ao invés do meu.


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Notas finais do capítulo

Rupert Grint as Freddie Lewis! Sim, eu simplesmente amo o Rupe e não poderia deixar de transformá-lo num personagem!
Espero que tenham gostado do cap, e me perdoado pelo atraso!
Beijinhos da Tia Wondy!