Apenas uma garota... escrita por Luana Nascimento


Capítulo 6
Capítulo 6 - Passando o tempo


Notas iniciais do capítulo

O título está melhor graças a CandyRoad6. Obrigada =D



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— Esclarecimentos — comecei — Kerrisdale é um bairro, mas é grande, assim como muitos bairros americanos. Obteve seu nome em 1905, quando o gerente da Ferrovia Elétrica da Colúmbia Britânica indagou a Mrs. William McKinnon como ela nomearia a parada no Wilson Road, que é a atual West 41st Avenue. Ela chamou de "Kerry's Dale", que vinha de Kerrydale, nome de uma família que ela tinha na Escócia, algo assim. Só que "Kerrydale" significa "pequeno lugar para fadas", daí mudaram o nome para Kerrisdale.

— Obrigado, Miss Enciclopédia. — seu sorriso foi desdenhoso. Limitei-me a ignorar.

Estávamos em um ônibus até que paramos e descemos no centro do bairro. Tinha lojas, padarias, um monte de pessoas e outras coisas a mais. No meio do caminho, quando íamos começar a explorar, o celular tocou. Era Ashley. Atendi:

— Alô?

— Oi, Shelly!

— E então, Ash, qual é a novidade?

— O aniversário da Cindy vai ser amanhã e ela vai dar uma daquelas festas!

— Interessante... — considerei com um tom um tanto presunçoso. As festas de Cindy eram As Festas com “f” maiúsculo. Iam até o dia seguinte e olhe lá. Tinha de tudo e mais um pouco. Uma garota rica, cujos pais davam tudo o que ela queria.

— E então? Você vai?

— Você está louca para que eu leve Jaden, não é? — sorri maliciosa. Jaden olhou para mim com expressão duvidosa e assustada, quase dizendo: "O quê?!".

— Ah, você sabe que sim, Shelly.

Ri.

— Onde vai ser?

— Na segunda casa dela a partir das 10. Vai ser ótimo! E leve Jaden antes que você o seduza mais rápido do que eu!

Gargalhei alto.

— Não... prefiro ele como um amigo, já te disse. — falei em tom divertido. — Eu vou dar um jeito de ir e de levar o garoto, não se preocupe com isso. Tenho que desligar, vou comprar o presente da Cindy. Tchau, Ash!

— Tchau, Shelly!

Desliguei.

— Quem era? — Jaden indagou.

— Era a Ashley. Ela está doida para que eu te leve na festa da Cindy. — respondi com naturalidade.

— Ué, por quê?

Rolei os olhos. Garotos são tão lentos...

— Porque ela está caidinha por você, ué!

— Ah, você só pode estar brincando!

— Dá uma chance a ela, ué! — sugeri, prática.

— Ela tem cara de ser muito grudenta. — ele prejulgou com cara de quem tem nojo.

— O antigo namorado dela mal podia respirar. — confirmei.

— Dispenso, obrigado.

Ri e acabei dizendo:

— Mas vamos à festa de Cindy! É a melhor ocasião para conhecer o resto da escola.

— Portanto que Ashley não fique na minha cola...

— Vou tentar fazer isso, não garanto nada. Agora vamos explorar esse bairro e comprar algo para Cindy.

Ele apenas concordou com a cabeça.

Eu sabia que Cindy estava louca por uma blusa que ela tinha visto por aí em uma loja. Jaden deu parte do dinheiro e compramos a dita cuja blusa. No mais, a tarde foi muito agradável. Vimos alguns livros em uma livraria, comemos uma torta deliciosa em uma padaria e não pudemos deixar de admirar algumas residências. Era quase noite quando paramos em frente à minha casa.

— É, o dia foi bom. — ele comentou sorrindo. — Embora eu agradeceria caso você me desse um copo d'água.

— Pode entrar, cara. Eu também estou louca de sede.

Fomos para a cozinha.

— Minha mãe deve estar perto de chegar. — lembrei ao ver as horas: quase 3:00 p.m. — A sua não se preocupa com você não?

— Ah, verdade. Foi tudo tão rápido que me esqueci de falar a ela que eu não ia chegar em casa no horário habitual.

Bebi meu segundo copo d’água e comentei:

— Bem, tecnicamente, isso não foi programado.

Ele sorriu.

— Verdade.

Quando ele terminou de beber a água, ouvi:

— Shelly! – minha mãe gritou, certamente abrindo a porta da frente.

— Ah, vem conhecer minha mãe, ela é bem legal.

Segurei ele pela mão e o arrastei até a sala.

— Shelly. — ela sorriu.

— Oi, mãe — cumprimentei abraçando-a. — Esse é meu colega de sala e nosso mais novo vizinho Jaden. Ele e sua família acabaram de se mudar para a casa da esquina.

— Ah, bem-vindo ao bairro. Meu nome é Mary Ann e é um prazer conhece-lo. Diga a sua mãe que, caso ela precise se socializar com as vizinhas, basta ir à casa do lado dela, é a da Ms. Montgomery. Ela tem uma tradição meio irritante de fazer um chá aos domingos e reunir todas as vizinhas e fofocar sobre a vida alheia.

Jaden abafou uma risada. Provavelmente foi a forma extrovertida que a minha mãe falava. Imagine a pessoa mais louquinha e no sense que você conhece falando. Pronto, é a mesma coisa. Ela era tão extrovertida que às vezes eu desconfiava se ela era canadense ou não.

— Certo, vou falar isso a ela. — ele prometeu sorrindo.

— Shelly, você arranja cada garoto bonito para vir aqui em casa e não namora nenhum!

Jaden ficou um pouco vermelho, mas, certamente, não foi mais que eu. Meu rosto ficou na temperatura de Johnny Storm quando ele fica em chamas.

— A senhora sabe perfeitamente o porquê. — retruquei um tanto irritada.

— Até parece que todo garoto é igual ao Damon.

— Mãe, já entendi. — falei séria.

— Ok, ok. Você sabe como eu sou Shelly, sou muito prática.

Até demais.

E então, Jaden, onde você morava antes de vir para cá? — minha mãe continuou, curiosa.

— Eu morava em Sacramento.

— Califórnia, certo? — rápida sacudida de cabeça por parte de Jaden. —Que bacana.

— Ele toca violino. — informei sorrindo.

— Ponha logo nos noticiários! — o loiro exclamou, sorrindo sarcasticamente.

— Ah, não ligue para isso, Jaden, ela acha bom quando encontra um músico. Ela quase enfartou quando viu que Damon...

Pigarreei alto.

— Mãe, não interessa. Enfim, vocês já se conheceram, mas acho que a mãe de Jaden deve estar louca atrás dele. Eu o acompanho até a casa dele.

— Vocês compartilham da mesma mania de deixar mães loucas... Enfim, querido, pode vir quando quiser. Foi um prazer.

— Digo o mesmo. — ele respondeu num sorriso simpático. — Até mais.

Eu o acompanhei (praticamente o arrastei) até a porta. Depois, fomos caminhando lentamente.

— E então... qual é o lance com esse tal de Damon?

— Deixa para lá.

Não era um assunto dos mais agradáveis.

— Bem, esse pode ser um teste para mim, afinal, você precisa saber se confia em mim ou não.

Ele tinha um argumento. Sem pensar bem no que fazia, comecei a narrar:

— Damon era um garoto da minha antiga escola que namorei. Tínhamos uma relação meio... conturbada. Eu sempre tinha a sensação de que ele não gostava de mim o suficiente. Dito e feito: ele partiu meu coração. Eu o peguei conversando intimamente com uma garota. Chegamos a uma conclusão: não dava mais. Assim que terminamos, ele começou a namorar a outra garota. Doeu ver aquilo. Para evitar maiores dissabores, Damon mudou de escola. Depois, decidi fechar meu coração. Rejeito qualquer garoto da minha escola.

— Parece que você fechou o coração para qualquer garoto na face da Terra. — ele observou sorrindo.

— Talvez. — considerei num sorriso amargo. A verdade? Minha habilidade já me dava dor de cabeça o suficiente.

— Eu fiz o mesmo.

— Não vale a pena ficar com ar carente e namorar o primeiro cara que aparece a sua frente. Desisti dessa ideia.

— Verdade. Não dá para se confiar em qualquer pessoa.

— Nossa. Estamos amargurados demais com o mundo. — comentei sorrindo.

— Talvez com as pessoas. — ele acrescentou sorrindo também, um sorriso meio amargo.

Já estávamos sentados no batente da porta da casa dele.

— Bem, tenho que ir. Venho te pegar amanhã as 10:30 p.m. para a festa da Cindy.

— Mas a festa não começa às 10:00 p.m.? — ele estranhou.

— Acredite em mim, só começa a esquentar as 11:00 p.m. e é meia hora para chegar lá.

— Então ok. Tchau, até amanhã.

— Até amanhã.

Despedimo-nos com uma palma deslizante e um soco de leve no final. Depois, voltei até a minha casa, pronta para ouvir os comentários da minha mãe. Entrei em casa e vi minha mãe sentada em uma das poltronas, olhando para mim com ar divertido.

— Nem comece, mãe.

— Eu não disse nada. — Depois de um tempo em silêncio, ela comentou: — Mas, mesmo assim, que galã! Se ele fosse uns aninhos mais velho, até que ia.

Limite-me a bater na minha própria testa e menear a cabeça.

— Jesus... ah, mãe, próxima vez, tenta não ser tão indiscreta, ok?

— Ok, ok. — ela concordou rindo.

— Enfim, vou subir. Qualquer coisa, me chame.

Subi rapidamente as escadas e me tranquei no quarto. Pensei na minha conversa com Jaden sobre Damon. Era informação demais sobre mim para outra pessoa. Será que eu havia feito a coisa certa? A mente achou que não e o coração disse sim, então resolvi deixar a pergunta em aberto e esperar para ver qual dos dois estava certo. Olhei meus desenhos por algum tempo até que ouvi minha mãe gritar:

— Shelly, a comida está pronta!

Desci as escadas, comi, conversei com minha mãe e voltei ao quarto. Decidi pegar minha balestra e ir ao bosque. Fiz o meu caminho habitual, atirei como uma louca e, dessa vez, consegui tirar todos os dardos. Quando voltei para casa e entrei no quarto pela janela, quase tive um ataque cardíaco. Minha mãe estava no quarto, sentada elegantemente na cadeira perto da minha bancada.

— Você está fazendo aquilo de novo. — ela disse em tom sério e um tanto ríspido.

— Por favor, mãe...

— Por quê? — ela cortou.

— É uma forma de distração. — respondi simplesmente.

— Você sabe que se você for pega...

— Eu não vou ser pega atirando, mãe. — dessa vez eu a interrompi. — Eu tomo cuidado.

— Shelly, você sabe que por aqui nesse país não se pode ter uma arma...

— De fogo. — completei.

— Mesmo assim! Querendo ou não, isso é uma arma. Prometa que você não vai fazer mais isso. — ela pediu em tom autoritário.

— Tudo bem, mãe. — falei depois de um suspiro resignado.

— "Tudo bem, mãe" não é "Eu prometo". — ela percebeu.

— Exatamente. — respondi. — É bom a senhora ir dormir, tem hora extra amanhã.

— Mesmo assim. Eu não quero ver você saindo a noite para atirar.

— Mãe! — reclamei. Poxa, atirar com a balestra é vida!

— Você sabe que pode jogar sua vida fora se você for presa. — ela inquiriu séria.

— Tudo bem, mãe. Eu não vou atirar mais.

— Vá tomar banho, tem folhas no seu cabelo. Até amanhã.

Dito isso, ela saiu do quarto. Suspirei. Certamente minha mãe não ia ter mais aquela confiança em mim. Resolvi entrar no banheiro. Tomei um bom banho, saí do banheiro, vesti uma roupa leve. Joguei-me na cama, pensei em todos os fatos do dia e, antes que eu notasse, apaguei. E os sonhos comigo iam.


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Notas finais do capítulo

Meu Deus, faz duas semanas que não atualizo D:
Desculpem-me, gente. Trabalhos, provas, IF...
Enfim, obrigada a quem comentou no último capítulo:
CandyRoad6
Morena
HannibalBarca
Críticas, sugestões e comentários são bem vindos :D
Até a próxima ;)