Apenas uma garota... escrita por Luana Nascimento


Capítulo 48
Capítulo 47 – Reencontro: Parte II


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!
Depois de quase 60 dias, aqui estou eu de volta. Weeeeeee :3
Eu não pretendia dividir o dia em dois capítulos, mas foi necessário. Está curtinho, mas está uma fofurinha :3
Espero que gostem ;)



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— Ben, cuidado com o bolo! — Clint gritou da cozinha enquanto Ben carregava a torta que ele fez para a mesa de centro. 

— Eu carrego uma Polaroid comigo, Clint, eu sei  lidar com coisas frágeis. — o fotógrafo retrucou rolando os olhos. 

Lá estava eu no apartamento de Jaden com os Snakes e cheguei à conclusão de que eles eram os melhores amigos que alguém queria ter. Estávamos nós cinco em um espaço bastante apertado e um tanto mal ventilado para fazer uma surpresa para alguém de quem gostávamos muito.

— Caralho, isso é mesmo um lençol enrolado em um pote de palmito? — Dave indagou. — Seu namorado é estranho, Shelly. 

— Ninguém é perfeito, certo? — respondi sorrindo enquanto guardava o violino na case. Quantas lembranças aquele instrumento me trazia... era quase uma parte dele. 

— Shelly, tenta encontrar alguma bandeja para colocar os cookies — Mel pediu. 

— Ok! 

Mel e Clint dividiam a minúscula cozinha e eu não sabia como. Achei uma bandeja e entreguei a ela. 

— Valeu. 

Ela jogou muitos cookies na bandeja circular. 

— Como você conseguiu fazer tantos biscoitos? 

— A gente desenvolve algumas habilidades com o tempo — ela deu uma piscadela. — Ben, venha lavar a louça! 

— Por que eu? 

— Porque Dave está terminando de arrumar a sala e Clint e eu cozinhamos! 

— Shelly podia fazer isso, não? 

Alguém bateu na porta: 

— Eu atendo — corri até a porta enquanto Ben suspirava. 

— Lá vamos nós vencer o monstro da pia suja... 

Abri a porta: 

— Mr. Wang! 

— Oi, Shelly. Deu certo a conversa dos dois? 

— Sim. Muito obrigada pela ajuda.

— Só fiz o que julguei certo. Trouxe uns petiscos para a festa. — Ele me entregou um pacote grande de plástico. 

— Se o senhor quiser aparecer mais tarde, fique à vontade — convidei. 

— Acho que não venho. Muita gente em um lugar pequeno. Agradeço o convite, de qualquer forma. 

— Tudo bem. Muito obrigada, Mr. Wang. 

— Não por isso. — E, como quem quer recuperar a rigidez de outrora, ele pede, ligeiramente ríspido: — Não façam muito barulho, pode incomodar os vizinhos. 

— Sim, senhor. Até logo! 

Fechei a porta e fui olhar o que tinha ali: pratos, guardanapos e copos descartáveis, três garrafas de refrigerante, três caixas de pizza congelada e alguns pacotes de Doritos, que Jaden adorava. Mr. Wang não era tão ruim quanto diziam. Coloquei os refrigerantes na geladeira, guardei os descartáveis no armário, peguei as pizzas e me preparei para esquentá-las. 

— Hora de dividir a cozinha, Marie — Ben comentou bem-humorado enquanto ensaboava uma pilha de louça suja. 

— Boa sorte para não quebrar nada, McCarthy, você vai precisar.

Mel, Dave e Clint se sentaram em um dos sofás que Jaden tinha trazido da casa dos Pendlebury logo após o falecimento deles. Havia outro maior, então tínhamos onde nos sentar. 

— Deus, eu não esperava que decorar um espaço tão pequeno desse tanto trabalho — Dave comentou. 

 — Acho que esse é o bolo mais gostoso que fiz, então espero que não reclamem. — Clint sorriu. 

— Espero que os cookies tenham ficado bons — Mel desejou ansiosa. 

Clint riu: 

— Nossa, que diferença de expectativa! 

— As expectativas se adaptam aos cozinheiros, né, chef? — Mel retrucou dando um soquinho no braço do canadense. 

— Você fala como se os cookies fossem ficar ruins — Ben reclamou. — Eles sempre ficam bons pra caralho! 

— Alguém pode ligar para Tommy? — indaguei enquanto dava um jeito de duas pizzas caberem num forno pequeno. — Precisamos saber quando Jaden vai chegar. 

Batidas se fizeram ouvir na porta. 

— Eu atendo — Mel dirigiu-se à porta e fiquei feliz por isso, pois eu ainda tinha que encontrar algo para pôr os Doritos dentro. — Oi, Mr. McCarthy. Senhora. 

— Olá, Mel. — Eve McCarthy cumprimentou. — Tudo bem com você? 

— Sim, sim. Pode me dar o presente, estamos reunindo todos em cima do colchão. 

— Você pode ligar para Tommy, Dave? — pedi enquanto ligava o forno. 

— Se é o jeito... — Ele sacou o telefone do bolso e começou a discar. 

Eu ainda tinha que entender o que havia entre Dave e Tommy... mas aquilo era para outra hora, Jaden provavelmente estava perto de chegar. Fechei o forno, abri um pacote de Doritos, roubei um e o gosto me fez sorrir. As possibilidades me pareceram maravilhosas.  

— Caramba, meus pais já chegaram? — Ben se surpreendeu. 

— Só o aniversário do amigo do meu filho para fazê-lo lavar uma louça — o pai dele reclamou falsamente, sorrindo. 

— Que inocência a minha, eu achava que seria poupado de tal comentário. — Ben considerou baixinho. Depois em voz alta: — Pois é, pai, o que não fazemos pelos amigos, certo? 

— Espero que esteja fazendo bem feito, Ben — comentei enquanto começava a despejar os pacotes de Doritos em um recipiente plástico grande. — Metade dessas coisas são da minha casa. 

— Bem feito é uma expressão muito forte. 

Sorri. 

— Ele não tem muita experiência nisso, então o perdoe se algo ficar meio engordurado — Eve adiantou o pedido de desculpas. 

— Você a ouviu — Ben sorriu inocentemente. 

— Bem, qualquer coisa eu lavo de novo — procurei tranquiliza-los.  Coloquei o plástico na mesa: — Alguém quer Doritos? 

— Eu — Ben reclamou. Rimos. Ele continuou a lavar a louça. Trágico. Por sorte, Mel é uma boa namorada e levou alguns para ele comer. — Valeu, amor. 

— E então, Clint, como está no time de hóquei? — William indagou. Eles começaram a conversar distraidamente. 

— Shelly, meu avô disse que chega aqui em uns quinze minutos com todos os Lancaster — Dave informou. 

Eu tive que explicar para todo mundo sobre eles quando cheguei ao apartamento de Jaden. Eles ficaram irritados quando notaram que eu havia escondido isso deles, mas compreenderam as razões e se animaram.

— Ok, dá tempo. Obrigada, Dave. 

— Não há de quê.  

Mais batidas na porta. 

— Eu vou — me ofereci, louca para sair da cozinha imprensada. Abri a porta: 

— Filha, me ajude com isso aqui. — Minha mãe não fica cansada de chegar esbaforida nos lugares não? Sorri com esse pensamento. 

— Mãe, o que é isso? 

— Canudinhos e patê. — Seu sorriso foi orgulhoso. — A receita da sua avó. 

— Meu. Deus. — Peguei a travessa de vidro de muita boa vontade e coloquei na mesa. Antes que a minha mãe fechasse a porta, alguém a impediu: 

— Espero não ter chegado atrasado — Mr. Harrington comentou. 

— O senhor chegou bem na hora, pai. — Clint respondeu. 

— Ah, e encontrei alguém no meio do caminho — ele mostrou Donald, o namorado de Clint. 

— Você veio! — Clint pareceu estranhamente surpreso.

— Bem, eu não podia deixar de provar o seu bolo, certo? E de prestigiar o aniversário de Jaden — ele mostrou um presente. 

— Pode colocar em cima da cama — indiquei.

Donald fez o que pedi e minha mãe aproveitou para fazer o mesmo. Começaram a conversar sobre banalidades. Minha mãe tinha a habilidade natural de integrar todos a uma mesma conversa. Eu não sabia como ela conseguia essa proeza.

— Eles estão chegando — Mel avisou. Já se passaram quinze minutos?! Me esforcei para conter minha ansiedade. 

— Todo mundo em silêncio — Dave pediu. 

Alguém apagou a luz e ficamos esperando. 

— Droga, queria ir ao banheiro — Ben reclamou. 

— Ssshhh — foi a resposta coletiva. 

Ouvi passos na escada. A maçaneta se mexeu: 

— Estranho, achei que Shelly estaria aqui. 

A porta foi destrancada e Jaden acendeu a luz: 

— Surpresa! — foi o grito coletivo. Sua expressão ficou bastante surpresa, mas uma surpresa boa, pois seu sorriso foi sincero: 

— Caralho. Vocês são... meu Deus. — Ele passou a mão pelos cabelos e voltou-se para os Lancaster: — Vocês sabiam? 

— Mencionaram — Angel respondeu sorrindo. 

— Você não achou que deixaríamos seu aniversário passar batido, achou? — Mel cruzou os braços. 

Ele olhou ao redor, viu todo mundo, a mesa de centro com os aperitivos e o bolo. 

— Vocês são os melhores amigos que eu poderia ter. De verdade. Caramba. 

— Agradeça a baixinha ali — Ben apontou para mim. — Ela deu a ideia e a gente topou. 

Jaden olhou para mim e eu sorri baixando os olhos, sem graça. 

— Vocês ajudaram também ao aceitar! — afirmei tentando desviar a atenção, porque meu rosto estava começando a ficar quente. — Se fossem outras pessoas, talvez nem tivessem... 

Fui interrompida por um abraço forte.

— Obrigado — Jaden sussurrou no meu ouvido. — Muito obrigado mesmo. 

Correspondi ao seu abraço, sentindo-me feliz. Ele estava em casa. Ele tinha amigos e família e aquilo era tudo o que importava. Ele estava bem e feliz. Ouvi um “Own” coletivo e Jaden me deu um selinho. O pessoal vibrou. Ainda me abraçando, Jaden falou em voz alta:

— Bem, eu estou com fome, mas antes preciso apresentar David e Angel Lancaster, meus pais biológicos. 

A expressão de surpresa se espalhou entre todos. 

— Caramba, então é verdade mesmo — Dave comentou. 

— Onde está Tommy? — indaguei. — Ele faz parte disso tudo também. 

— Estou aqui — ouvi sua voz no corredor. 

— Entra, vô — Mel gritou. 

O espaço estava bem apertado, mas conseguimos encaixar todo mundo ali. Depois da organização das pessoas que já estavam dentro do pequeno cômodo, Tommy entrou junto com Eleanor e senti o coração apertado ao vê-la, mas procurei me conter. Ela era uma bela garotinha, usava um vestido rosa e sorriu para todos. Seu sorriso doce e os fios loiros emoldurando seu rosto, junto com uma franja loira, deixavam-na com uma aparência inocente e infantil. Ela parecia feliz.

— Eleanor, essa é Shelly, minha namorada — Jaden apresentou, feliz.

A lembrança do sonho que tive no começo do ano foi inevitável, mas os olhos de Eleanor eram tão sinceros e inocentes que por um instante não me preocupei com isso. Ela apertou minha mão:

— Muito prazer — ela cumprimentou sorridente. Retribuí seu sorriso:

— O prazer é todo meu, Eleanor.

Carter continuava com seu estilo punk, a calça rasgada, os piercings. 

— Que mundo pequeno, não? — ele sorriu aproximando-se.

— Minúsculo, pirralho — concordei e ele fechou a cara.

Cantamos parabéns para Jaden e logo procuramos distribuir as comidas. Entre bebidas e comidas, o tópico do dia foi os Lancaster. Eu não quis me integrar à conversa, então deixei essa tarefa a cargo de Tommy. De modo geral, ficaram felizes por Jaden. Ele tinha uma família de novo.

— Oi — Eleanor me cumprimentou. 

— Oi — respondi. — O bolo estava gostoso? 

— Uma delícia! 

— Foi aquele menino que fez — apontei para Clint. 

— Ele cozinha bem. 

— Já comeu os cookies? 

— Já. Foi ele que fez também? 

— Não, foi Melinda. — Apontei para Mel. 

— Estavam muito bons. 

— Quantos anos você tem? — perguntei. 

— Seis — ela respondeu em um sorriso animado. 

— Tudo isso? Você é muito inteligente! 

Ela sorriu, orgulhosa. 

— Obrigada. Você parece ser legal — ela comentou. 

— Obrigada, Eleanor. 

— Pode me chamar de Ellie. 

— Ok, Ellie.

— Quero Doritos. Pode pegar para mim, por favor? 

Ela era tão educada. Procurei o Doritos e vi que Jaden estava mais comprometido com o salgadinho do que comigo, ouvindo histórias de quando tinha uns três anos, então sugeri: 

— Peça ao seu irmão. 

Por um instante, ela olhou para Carter, mas aparentemente lembrou que tinha outro irmão. 

— Ele é meu irmão perdido, não é? 

— Sim, é. Você está contente por ter dois irmãos agora? 

— Sim, porque papai e mamãe estão felizes. 

— Isso é bom. Agora vá lá pegar seu salgadinho. 

— Ele é legal, não é? — ela hesitou. 

— O cara mais legal que você conheceu esse ano — respondi com o meu melhor sorriso. 

Ela correu até ele e pediu Doritos. Jaden os deu a ela de bom grado. 

— Você está monopolizando o Doritos, Jaden — Ben reclamou. 

— Falou o cara que está comendo o patê todinho junto com os canudinhos — meu namorado retrucou em um sorriso, pegando um cookie. — Deus, estou comendo um pedaço de paraíso. Quem fez? 

— Eu, quem mais? — Mel sorriu abrindo os braços orgulhosamente. Ela sabia disfarçar bem a sua insegurança. 

Observei o cenário como um todo. Clint e Donald ouviam atentos a palestra de Tommy sobre todas as implicações do desaparecimento de Jaden enquanto os Lancaster complementavam algumas partes. Dave e Carter conversavam sobre algo que não pude dizer o que era. Minha mãe e Eve McCarthy se concentraram em reunir os descartáveis enquanto procuravam ouvir também a conversa principal. William conversava discretamente com Mr. Harrington sobre empreendedorismo, o que achei no mínimo inusitado. Ben e Mel competiam para ver quem comia mais canudinhos com patê enquanto escutavam também a Tommy. Jaden ouvia tudo com sua atenção costumeira e me perguntei o que ele estava achando de tudo aquilo. Quando ele me notou observando tudo, sorriu e me convidou para sentar perto dele. 

Então, aceitei e me permiti aproveitar o momento. Ter contribuído para que aquele reencontro desse certo me fez sentir que estava fazendo a coisa certa. Optei por esperar dias tão bons quanto aquele e por acreditar que eu poderia usar a minha habilidade para renovar a esperança das pessoas, incluindo a minha. Sabia que os problemas não acabariam; havia minha visão com Melinda, com Eleanor, com Jaden, possíveis assassinatos, porém me permitir viver aquele momento, aquele fim de dia em que tudo terminou em histórias, risadas, comidas e muita alegria.

Me permiti relaxar.


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Notas finais do capítulo

Enfim essa criatura está de boas!
Fênix, obrigada por ter comentado ^^
Comentários, sugestões e críticas são bem-vindos.
Tenho que revisar o próximo capítulo e terminar o outro, mas acho que dá certo postar daqui para o fim do ano kkkkkk
Até mais o/



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