Apenas uma garota... escrita por Luana Nascimento


Capítulo 43
Capítulo 42 - Insight


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus queridos!
Como estão? Bem?
Nos vemos lá embaixo e espero que gostem do capítulo :)



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Eu só tinha meia hora para troca de roupa, pegar o que eu precisava e ir ao Stanley Park conversar com Tommy. Depois de explicar para minha mãe a razão daquela ligação, subi as escadas, peguei meus desenhos sobre o passado de Jaden e fiz menção de pegar a mecha de cabelo que eu tinha dele, mas Elizabeth interveio:

Jaden deixou a escova de cabelo dele no quarto de hóspedes, tire um fio de lá, facilita o trabalho de quem fará o exame”.

Então para que eu guardei essa outra mecha esse tempo todo?

Era só caso você e Jaden não tivessem se tornado tão próximos. Quis considerar todas as possibilidades”.

Prevenida.

Fui ao quarto de hóspedes e vi a escova: um fio loiro ou outro perdido em meio às cerdas. Levei-a ao meu quarto, esterilizei uma pinça e um pote de comprimidos com álcool, sequei o recipiente com algodão, peguei os fios com a pinça e os coloquei no potinho de comprimidos. Quase não consegui, pois minhas mãos tremiam. Aquilo era muito importante. Depois, coloquei a caixinha em uma bolsa junto com os desenhos, troquei de roupa rapidamente, vesti uma jaqueta jeans devido ao frio e saí, avisando à minha mãe eu poderia demorar.

— Mãe, se Jaden chegar antes de mim, diga a ele que fui em Melinda.

— Ok! — ela gritou do banheiro.

Peguei um ônibus e, no caminho, senti meu telefone vibrar:

— Jaden? — atendi. Ainda faltavam quase duas horas para ele sair do mercado do Mr. Wang.

Oi, Shelly. — a voz dele estava realmente estranha. — Eu realmente posso ir dormir na sua casa?

— Claro! Está tudo bem?

Ouvi um suspiro profundo e trêmulo do outro lado da linha.

Não.

Fiquei imediatamente preocupada:

— Posso fazer algo agora?

Você já fez. — A frase me deixou minimamente mais feliz. — Quando eu sair daqui, vou só pegar algumas roupas e ir para sua casa, certo?

— Ok. Jaden?

Oi.

— Fique bem, certo? Está tudo bem.

Ele fez silêncio por alguns segundos, tempo suficiente para olhar o visor do telefone e ver que ele ainda estava na linha. Sussurrou:

Obrigado. Até mais tarde.

— Até.

Desliguei a tempo de pedir parada e, ao descer do ônibus, corri o mais rápido que pude para encontrar Tommy; estava cinco minutos atrasada. Encontrei Tommy perto de um dos polos de totens.

— Oi, Tommy, desculpe o atraso. — Abracei-o, mas ele não correspondeu como o esperado. Olhei-o: ele tinha uma expressão preocupada e confusa no rosto. — Algum problema?

— Boa tarde, Shelly. Por que você procurou Mr. Lancaster para falar que tinha encontrado o filho perdido dele?

Entendi imediatamente a situação e me senti culpada.

— Tommy, eu peço mil desculpas. Podemos nos sentar por uns quinze minutos? Podemos ir ao Nine O'Clock Gun e conversar enquanto andamos.

Ele olhou a hora, pensou um pouco e concordou. Enquanto andávamos, criei alguma coragem para desenterrar algumas dores e procurei escolher bem as palavras para me explicar:

— Eu fui ao centro da cidade porque quero encontrar os pais biológicos de Jaden, prometi que faria isso antes do aniversário dele.

— Você prometeu a ele?

— Sim.

— Promessa perigosa, não?

— Um pouco. Seria mais se eu não tivesse ideia de onde começar. — Breve pausa e prossegui: — Eu sonho muito com os Lancaster, com mais frequência do que eu gostaria. Graças a algumas visões, tenho praticamente certeza de que eles são os pais de Jaden.

— Sempre desconfiei.

Fiquei confusa:

— Por que o senhor não falou nada?

— Não quis gerar mais sofrimento para os Lancaster ou criar expectativas falsas dos dois lados caso eu estivesse errado. Também não tinha como provar nada e havia os Pendlebury, não quis interferir.

Bem, o nosso pensamento foi praticamente o mesmo: não interferir. Concordei com a cabeça:

— Entendo. Bem, foi por isso que procurei David Lancaster. Tentei conversar com ele, mas ele sequer me ouviu depois que mencionei o desaparecimento do filho.

— Você esbarrou no muro de amargura dele.

Aquiesci.

— Poucas vezes na vida fiquei tão irritada e confusa. Tentei pensar em alguma outra forma de convencê-lo, em vão; nada me veio à cabeça. Dormi e tive uma visão que me fez perceber que não sou eu quem precisa fazer isso.

Parei, hesitante. Sentamos no chão mesmo, em algumas pedras, diante do fiorde de Burrard Inlet, que separava Vancouver das regiões metropolitanas de North Vancouver e West Vancouver. O Nine O’Clock Gun era um canhão que disparava toda noite às 9:00 p.m.; antes era um toque de recolher e depois tornou-se apenas tradição e um ponto turístico peculiar. Aquele parecia o dia certo, mas minha insegurança fez com que eu me sentisse inadequada. O céu prenunciava chuva, assim como os ventos. As pessoas se preparavam para ir embora, algumas já saíam para não voltar...

— Pode continuar, jovem coruja.

Saí do meu devaneio e respirei fundo para criar coragem:

— Sonhei com o dia em que você o perdeu.

Tommy estava mais silencioso que o comum naquele dia, mas aquele silêncio que ele fez depois dessa sentença não foi o seu silêncio discreto e acolhedor; foi um silêncio atordoado, repleto de dor, surpresa e alguma culpa.

— No parque? — sua voz ficou mais baixa.

— A roda gigante, o carrossel, um segundo em que Jaden soltou sua mão, o tiroteio.

Um suspiro desalentado e sincero escapou do peito do meu amigo.

— Foi um dos piores dias da minha vida. Me culpei por muito tempo, por mais que os Lancaster não me culpassem.

— Por isso, percebi que não sou eu quem precisa dizer aos Lancaster que Jaden está vivo e aqui em Vancouver. — Tirei meus desenhos da bolsa, um por um: as conversas de David com Angel logo após o desaparecimento do filho, a traição de Angel, a discussão deles, a conversa entre David e Donald sobre o meu amigo. — O desaparecimento de Jaden causou um ciclo de sofrimento e de dor que eu vi e senti profundamente, que criou situações inesperadas e que precisa ser fechado. Achei que eu teria que fazer isso por sonhar com eles e conviver com Jaden, mas não. Eu só posso ajudar a fechá-lo. Tommy, você precisa convencer David Lancaster de que o filho dele está vivo.

As linhas do rosto do homem se acentuaram, quase revelando sua real idade. Ele aparentava ter uns sessenta, mas porque eu tinha a impressão de que ele era mais velho? Tommy suspirou, como que consciente da responsabilidade que tinha.

— Queria uma missão menos impossível. Ao mesmo tempo, não queria nenhuma outra.

— Tenho algo que vai te ajudar. — Peguei o potinho onde estavam os fios e coloquei em suas mãos. — Jaden dormiu lá em casa antes de ontem e eu peguei alguns fios de cabelo da escova dele. Se David Lancaster não se convencer com um exame de DNA, não sei mais o que fazer.

Tommy guardou aquela caixinha em um bolso oculto do terno como se fosse um tesouro inestimável. Depois, me abraçou.

— Muito obrigado.

— Me dê notícias, por favor.

Tommy estava prestes a falar mais alguma coisa, mas o telefone tocou:

— Mr. Lancaster? Sim, foi um problema com o carro, mas foi resolvido. Irei sim, o mais rápido que puder. Ok, até daqui a pouco. — ele voltou-se para mim: — Tenho muito a retribuir e a dizer, mas não tenho tempo. Mais uma vez, jovem coruja, muito obrigado e desculpa por não poder te deixar em casa. Isso que você fez foi muito importante.

Corei e sorri, sem graça:

— Sem problema, Tommy. Nos falamos depois.

Ele me abraçou novamente e nos despedimos. Senti o coração mais leve: finalmente as coisas estavam se resolvendo. Jaden teria mais apoio, uma família, por mais complicada que ela fosse. Tinha o risco do pesadelo com Eleanor acontecer? Sim. Contudo, Elizabeth dissera que Jaden se encontrar com os Lancaster era uma constante. Antes ele fizesse isso por conta própria do que as pessoas por trás do tiroteio descobrissem. Por que eu tinha a impressão de que as pessoas do tiroteio estavam diretamente ligadas com as do possível sequestro da caçula dos Lancaster? Saí do Stanley sentindo que havia feito a coisa certa, apesar das minhas desconfianças. Quando pensei em falar com Elizabeth, meu celular tocou:

— Alô?

Shelly, cadê você? — ouvi a voz da minha mãe do outro lado da linha.

— Vou pegar o ônibus agora. O que houve?

Jaden apareceu por aqui. Falei que você tinha ido em Mel e ele disse que ia para a casa dos pais dele. Venha logo, ele me pareceu bastante perturbado.

— Ok, mãe, eu estou indo.

Desliguei, peguei o ônibus.

Elizabeth, o que está acontecendo com Jaden?

Você vai ver”.

Como eu posso ajuda-lo?

Você vai saber”.

Ela estava simplesmente indecifrável. Assim que o ônibus chegou no ponto que eu tinha que descer, saltei do veículo e andei o mais rápido que pude até a casa dos Pendlebury. Entrei devagar, tentando ouvir algum som, mas nada. O inquietante silêncio tenso pairava na casa e o vazio dela me incomodou. A falta dos Pendlebury doeu e quase senti culpa de novo, mas procurei me conter, por mais difícil que fosse. Caminhei pela sala quase vazia, alguns lençóis cobrindo fantasmagoricamente os móveis que ainda restavam.

— Jaden? — chamei baixinho.

Nada. Nem um único resquício de ruído ou de música.

Caminhei lentamente por entre os cômodos vazios da casa, debalde. Foi inevitável não lembrar dos momentos com Adele e com Robert. Como memórias doces se tornam amargas? Talvez com um fim doloroso ou inesperado. Subi a escada e entrei no quarto de Jaden: nada. O local que antes era o retrato de sua alma não tinha nada além de poeira. Ele havia levado a cama e o guarda-roupa para o apartamento em Chinatown. Quanta coisa mudara em tão pouco tempo.

Saí do quarto antes de deixar a poeira entrar no meu nariz e voltei ao corredor, procurando meu amigo. Parei diante do antigo quarto dos Pendlebury e a porta estava entreaberta. Primeira impressão: escuro e vazio. A cortina estava fechada, a luz apagada. Quando meus olhos se adaptaram à escuridão, vi Jaden sentado no chão, as pernas recolhidas, uma garrafa de vodca na mão, a case do violino intocada e recostada na parede. Me aproximei devagar, ouvindo meus passos ecoarem no assoalho, e me ajoelhei diante dele, pondo minhas mãos nos seus joelhos e minha cabeça sobre as minhas mãos.

Fiz menção de falar, mas ele pôs o polegar em meus lábios e deixou a mão fria em meu rosto, como se quisesse fazer uma carícia. Seu rosto estava banhado em lágrimas, seus olhos de gelo molhado eram a única coisa que reluziam no escuro, seus lábios tremiam de quando em quando. Tirei a garrafa da mão dele lentamente, dedo por dedo. Minhas mãos percorreram seu rosto, secando as suas lágrimas quentes. Beijei sua testa morna com suavidade e o abracei com força, com carinho, o abracei como se a minha vida dependesse disso. Ele correspondeu da mesma forma. Acariciei seus cabelos e senti sua respiração trêmula.

— Ssshhh. Está tudo bem. — sussurrei junto ao seu ouvido.

Ele foi se acalmando aos poucos, mergulhado em meu abraço e em suas dores indizíveis. Então ele se desvencilhou do meu abraço, esfregando duramente os olhos e o nariz.

— Desculpe. — sua voz ecoou no ambiente e ele apertou os olhos, como se o ruído o incomodasse.

— Vamos lá para casa. — sugeri sem vocalizar. — Vai doer menos.

Ajudei-o a se levantar e ele fez menção de pegar a garrafa de vodca, mas eu fui mais rápida; peguei, fui ao banheiro do corredor e a quebrei.

— Você tem noção do quanto isso é caro? — Jaden gritou e aquele som me machucou. Olhei para ele com mágoa:

— Isso não vai te fazer bem e não vai fazer você se sentir melhor.

Ele esfregou o rosto e desceu a escada. Limitei-me a recolher os pedaços de vidro em um canto e descer em seguida, magoada. Fui surpreendida com um abraço de Jaden:

— Me desculpe. — ele murmurou. — Não sou eu falando. Estou em crise.

Olhei sem entender:

— Como assim? — ele passou o indicador e o polegar pelo nariz discretamente. — Ah.

Mordi o lábio inferior, um pouco tensa e desconfiada.

— Ainda posso dormir na sua casa?

— Claro. Vem, vamos.

Fomos em silêncio até a minha casa. Chegando lá, minha mãe nos recebeu:

— Estava preocupada! Vamos jantar, está muito bom. — Minha mãe olhou atentamente para Jaden: — Isso é um corte, querido?

Olhei para Jaden e vi que o canto da sua boca estava meio inchado e vermelho. Como eu não tinha notado isso antes?! A casa estava escura, eu nem havia notado. Ele sorriu fracamente e desviou o olhar:

— Sim, foi um acidente de trabalho.

— Ponha um pouco de gelo depois.

Ele assentiu. Fiquei preocupada e desconfiada. Não parecia verdade. Comemos e depois subimos a escada. Jaden fez menção de ir ao seu quarto, mas segurei sua mão:

— Vamos assistir a algum filme.

Ele concordou, estranhamente apático. Entramos no meu quarto e ele sentou-se na cama, encostando-se na cabeceira. Indaguei:

— Alguma preferência?

Ele meneou a cabeça, de olhos fechados. Aproximei-me dele e coloquei a mão em sua testa, acariciando seus cabelos:

— O que você está sentindo?

— Estou cansado, mas não consigo dormir. Um pouco de dor de cabeça, também.

Observei seu rosto mais atentamente: seu lábio inferior estava um tanto inchado.

— O que houve?

— Como assim? — Encostei no machucado e ele se retraiu: — Nada, nada. Tá tudo bem.

— Certeza?

— Sim, foi só um idiota querendo comprar briga. — Jaden cerrou os olhos de novo, suspirou e os abriu, pedindo com voz plangente: — Eu só quero ficar um pouco quieto hoje, tudo bem?

Tive que me conter para não beijar sua testa. Ao invés disso, apenas a acariciei brevemente com o polegar.

— Tudo bem.

Peguei um filme de ação qualquer e assistimos. Quando acabou, vi que Jaden estava com o olhar distante, nem notando que o filme tinha acabado.

— Jaden? — chamei sua atenção. Ele olhou para mim e não notar o seu machucado se tornou impossível. — Vou pegar uma compressa de gelo.

Desci a escada rapidamente, fiz a compressa e subi de novo. Ele estava na mesma posição, segurando-se na cama.

— Você está tenso.

— Autocontrole é essencial. — ele respondeu, procurando ficar com a respiração firme.

Sentei-me perto dele e coloquei a compressa no local ferido:

— Foi um soco?

— É, deixei escapar.

— Por que o cara quis brigar com você?

Ele suspirou:

— Não é o melhor momento. Amanhã, ok?

Concordei com a cabeça. Ele manteve os olhos fechados.

— Jaden?

— Sim?

— Como você está se sentindo agora?

— Meio cansado, meio deprimido. É um dos efeitos da abstinência. Vai passar. — ele abriu os olhos, parecendo mais lúcido: — Sei de todos os efeitos negativos no corpo. Meus pensamentos provavelmente eram mais complexos que agora e tem áreas no meu cérebro que não vão se recuperar, mas a vontade de continuar é a mesma. A sensação trazida pela droga...

— Pode ser encontrada de outras formas — cortei. — Vai dar certo, ok?

Ele suspirou novamente e concordou com a cabeça.

Dividimos o espaço mínimo da cama. Abracei-o e ele me abraçou de volta. Nossos corpos aquecendo um ao outro me deu uma sensação agradável. Acariciei sua testa na tentativa de acalmá-lo. Ficamos assim por algum tempo até que Jaden se levantou:

— Vou ao banheiro.

Pouco tempo depois, voltou e continuei o carinho com toda a paciência que pude. Ele demorou a dormir; estava cansado, mas inquieto. Quando Jaden finalmente dormiu, conversei com Elizabeth:

— Era você, não era?

— Eu o que, Shelly? — ela perguntou com toda a paciência e simpatia.

— Era você a menininha que apareceu para Jaden. — Tinha notado depois de refletir um pouco.

— Preferi evitar uma tragédia maior, especialmente para Tommy. — ela pareceu escolher bem as palavras. — Você viu o homem se aproximando da mesa, não viu?

— Foi mais uma sensação do que uma visão, mas sei do que você está falando. — Perdão, não conto tudo o que vejo. Às vezes me escapa. — Ele iria mata-lo, não?

— Sim.

— Por quê? ― questionei.

― Rivalidade entre famílias.

Certo, aquilo era uma novidade.

― Como assim?

― Os Lancaster e os Stuart não se dão bem, têm uma rivalidade de além-séculos. — Algumas vezes, ela fala com os termos de poetas ingleses, o que é engraçado.

― Por quê? — Muitas perguntas, poucas respostas.

— Eu poderia explicar, mas David Lancaster pode fazer melhor.

— No momento, prefiro nem pensar nele.

— Ah, não o julgue. — Elizabeth estava bem-humorada, até. Seu tom de voz estava animado e compreensivo. — Ele é uma alma podada pelo mundo.

― Todos somos, mas isso é motivo de grosseria?

― É, mas só quando não se lida bem com isso.

Suspirei.

— Como ajudo Jaden?

— Você já o fez, não sei porque me perguntas isso.

— Por que você está falando assim, Elizabeth?

— Bem, não vivo nessa sociedade, então não me sinto impelida a falar como vós.

Quis rir, mas me perguntei se seria ofensivo. Acabei sorrindo.

— Elizabeth, você é a melhor pessoa que conheço.

Quase pude visualizar seu sorriso:

— Eu sei.

Era perto das 4:00 a.m. quando consegui dormir.

Me vi em uma copa vazia e vi minha mãe beijando e abraçando um homem. Ela parecia tão livre, os cabelos curtos, o talhe mais fino. O homem parou de beija-la e vi que ele era... David Lancaster?! Ele estava incrivelmente charmoso e mais jovem, parecia mais vivo. Ele sorriu, o sorriso de Jaden:

— Ann, temos que parar por aqui.

Ela respirou fundo, sorrindo também:

— Será que o horário de almoço acabou?

Ele olhou o relógio:

— Faltam dez minutos.

— Deveríamos aproveitar — ela sugeriu em um sorriso convidativo, deslizando a mão pelo peitoral dele, pondo suas mãos por debaixo do terno.

David desvencilhou-se com suavidade, pegando as mãos da minha mãe e beijando-as.

— Meu pai chega daqui a pouco, Ann. Sem falar que não podemos levantar suspeitas.

Ela suspirou:

— Você tem razão. Nos vemos depois?

Ele a beijou na nuca e minha mãe pareceu se arrepiar por inteiro.

— Sem dúvida — David sussurrou.

Minha mãe... ok, vou chama-la de Ann, porque ela está absurdamente diferente aqui. Ann saiu da copa e foi para uma ala que havia mesas, papéis... um escritório, aparentemente. Pouco tempo depois, um homem de idade entra na recepção. Tinha cabelos e barba branca, era forte, o olhar confiante. Ela cumprimentou o homem:

— Boa tarde, Mr Lancaster.

Bem, então aquele homem era o pai de David, talvez?

— Boa tarde, Ann. — O homem tinha uma voz de general. — Meu filho está na sala dele?

— Sim, senhor, ele acabou de chegar do almoço.

— Ah, sim, o cheiro dele está por aqui. — Ann desviou rapidamente o olhar para baixo, como se quisesse saber se o perfume de David estava na sua roupa. — Muito serviço?

— Bastante. — ela suspirou, passando a mão pelos cabelos. — Mal tive tempo de fazer um lanche.

— Por favor, peça a ele para ir à minha sala, precisamos conversar alguns tópicos importantes.

— Sim, senhor.

— Onde estão os trabalhadores daqui?

— Ainda está em horário de almoço, senhor. O pessoal foi comemorar o aniversário de Jerry no restaurante da esquina. Optei por ficar por aqui e esperar alguém me substituir para eu participar também, mas acho que eles se distraíram com a hora... de qualquer forma, chamarei seu filho para o senhor, Mr. Lancaster.

— Obrigado, Ann. Pode me chamar de Mr. James, se quiser.

James Lancaster tinha os olhos observadores, divertidos e argutos voltados para Ann, como se eles compartilhassem um segredo. Ela pensou um pouco, desconfiada, e respondeu:

— Acho que ficarei com o Mr. Lancaster mesmo.

O homem sorriu amigavelmente e se dirigiu à sua sala. Ann pegou o telefone e ligou para David:

— Dave?

— Já está com saudades?

— Também. Seu pai quer que você vá à sala dele, quer conversar com você.

— Ele falou o assunto?

— Não, só disse que eram tópicos importantes.

— Estranho. Bem, obrigado, Ann.

— Não por isso.

Ela pôs o telefone no gancho e começou a fazer o seu trabalho. David piscou ao passar por ela, que sorriu, e entrou na sala de James Lancaster, que encarava o horizonte de Boston com um porte de firme liderança. David parecia mais... alegre, vivo.

— Oi, pai, gostaria de falar comigo? — indagou ao fechar a porta.

O mais velho voltou-se:

— Sim, Davie.

David rolou os olhos, sorrindo:

— Porra, pai, esse apelido não.

— Olha a boca ao falar com o seu pai. — A frase foi repreensiva, mas o tom de voz foi divertido. Eles se abraçaram, aquele abraço estranho e masculino de tapas nas costas.

— Algum problema com a empresa?

— Ah, não, de forma alguma, ela não poderia estar melhor. O assunto aqui é você.

O jovem adulto estranhou:

— Eu?

— Claro, por que não? Dave, você já tem quase vinte e sete anos e, embora tenha dado muito trabalho na adolescência, você tornou-se o meu orgulho.

— Tive um bom pai, creio eu.

James Lancaster sorriu com orgulho.

— Você já é um homem formado, filho. Gostaria de saber de suas pretensões para o futuro.

— Bem, pretendo viajar sempre que for possível, lhe honrar quando eu tiver que lhe substituir, seguir a tradição da família.

— Excelente! — o mais velho quase pulou de entusiasmo. — Uma das tradições dos Lancaster é constituir família. Sente vontade de fazer isso?

— Penso em ter dois ou três filhos — David estreitou os olhos, como se desconfiasse do que estava por vir. — O que exatamente o senhor quer conversar comigo?

— Já lhe falei dos Channing, certo?

— Ah, claro, os Channing. A corrida do petróleo, o sucesso.

— Conhece a filha deles?

— Claro, estudamos juntos na Universidade de Boston, o senhor sabe bem disso. — o tom de voz de David ganhou um quê de agressividade.

— Falei com o pai dela e achamos que teríamos uma ótima aliança entre as famílias caso vocês se casassem. Acho que ela daria uma ótima esposa para você.

David olhou para o pai com repulsa:

— Casar?!

— Angel seria uma esposa ótima para você. — Mr. Lancaster repetiu, enfatizando o seu argumento. — Vocês se conhecem, são amigos...

David bateu na mesa de mogno.

— Angel e eu somos bons amigos, mas nunca pensei sequer em cortejá-la, quanto mais em casar com ela! — ele respirou fundo e apresentou seu ponto: — Pai, somos ótimos amigos e eu faria qualquer coisa por você, mas casar forçado não é uma delas.

James soou bastante aborrecido:

— E você acha que eu vou deixar que você leve a vida que você tem levado? Namorando e beijando uma garota diferente por dia?

— Eu estou pensando em alguém, pai, acho que é sério.

— Não vá me dizer que você está pensando em algo sério com Mary Ann Revenry. — David olhou para o pai, surpreendido. — Sim, eu sei que vocês têm um caso, quem não sabe, o seu cheiro vive impregnado nela. Ela é jovem, bonita, mas não é para você. Você precisa de alguém do seu nível social...

— Que proporcione dinheiro e alianças favoráveis, não? — David cruzou os braços, irônico.

— Ela não tem uma família, David! Não como a nossa! Olha, Dave, ela é uma boa pessoa, mas não. Você não vai casar com uma secretária genérica e ordinária.

— Não fale assim dela.

— De qualquer forma, você vai terminar com Ann o que vocês tiverem, independente de se casar com Angel ou não.

— Mas pai...

— David Henry Lancaster, essa situação já foi longe demais. — A firmeza de suas palavras empregava um ar de incontestabilidade a ele. — Um deslize que você fizer deixará o nosso nome na lama. Isso não é um pedido.

— Tem realmente alguma parte de você que pensa em mim, pai? — David encarou duramente seu pai. Uns instantes de silêncio e ele complementou: — Acho que não.

Ele bufou e saiu da sala, pensando no que faria, mas ele não viu que Ann havia ouvido tudo por estar atrás de um dos vasos que ficavam à porta da sala de James Lancaster, à espera da conversa acabar para entregar alguns papéis. Ela se ajoelhou e lágrimas escorregaram dos seus olhos.


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Notas finais do capítulo

REVELAÇÕES BOMBÁÁÁSTICAS!!!!
Ah, estou de férias, entãããão o esqueleto do próximo capítulo está pronto, falta só desenvolver melhor. E olha... recomendo que os fãs de Jelly preparem seus corações, porque vai estar uma dlç.
Críticas, comentários, sugestões, teorias, questionamentos e desabafos abaixo vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv
Até o próximo e não vai demorar muito, prometo o/



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