Apenas uma garota... escrita por Luana Nascimento


Capítulo 41
Capítulo 40 - Reunião importante


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Suponho que vocês não queiram me matar ainda, isso porque sou muito otimista. Por ora, fiquem com o capítulo, porque nos veremos nas notas finais.
Espero que gostem :D



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 Acordei sentindo-me descansada, como há tempos não me sentia. Olhei o despertador: 5:30 a.m. Não, não queria dormir mais.

— Bom dia —, Elizabeth cumprimentou em minha cabeça, como há tempos ela não fazia.

— Bom dia —, respondi, inexplicavelmente contente em poder ouvi-la.

— Se eu soubesse que era só falar com Jaden para a sua culpa desaparecer, tinha me esforçado mais. — Tão irônica...

― Não é porque eu falei com Jaden ―, retruquei ―, é porque ele foi a pessoa mais atingida pelo meu erro. E ele me perdoou.

― Bem, ao menos a nuvem espessa de culpa está sumindo de você. Pretende fazer algo?

— Ir à escola, voltar, ver o mundo que me cerca. Tudo me pareceu tão distante por tantos dias...

— Percebi.

Não aguentei esperar o despertador tocar: pulei da cama e fui tomar banho, sentindo um pouco de esperança em dias melhores. Saí bem a tempo de desligar o despertador e me vesti com o básico: jeans, tênis que eram maiores que os meus pés, moletom de listras brancas e pretas, casaco. Saí do meu quarto e me dirigi ao vizinho, onde Jaden dormira na noite anterior. Bati na porta e o chamei:

— Jaden?

— Estou indo! — ele respondeu. Abriu a porta uns cinco segundos depois e lembrou em um sorriso que eu não via fazia um tempo: — Estou sem nenhum material para essa aula.

Sorri também:

— Não vai ser tão impossível, não se preocupe. Vamos descer, aposto que a minha mãe fez um ótimo café da manhã.

Não duvide”, Elizabeth afirmou.

Descemos a escada e minha mãe nos presenteou com um ótimo sorriso e com panquecas.

— Eu vivi para comer uma panqueca tão gostosa — Jaden comentou, animado. Até mesmo o inverno tinha seus momentos de sol ocasionais.

Tomamos café enquanto conversávamos com a minha mãe, acabamos o café, peguei meu material e saímos.

— Os snakes sabem que você... — ele iniciou a pergunta, mas não a concluiu.

— Que eu tenho esses sonhos? Não. Apenas Mel. Dave desconfia de algo e até perguntou, mas... não achei que fosse o melhor momento.

— Isso foi quando? — ele perguntou.

— Antes de ontem.

— Talvez você devesse tentar contar para eles, mostrar os desenhos.

Acabei mostrando alguns dos desenhos sobre os snakes para Jaden. Óbvio que ocultei os desenhos sobre os Lancaster e, principalmente, sobre Eleanor, mas não deixei de mostrar alguns sobre a adoção e infância dele. Ele pareceu no limiar da dúvida e ainda havia bastante relutância, mas uma coisa era clara: ele queria uma opinião externa. Todavia, não qualquer opinião externa: ele precisava da opinião dos seus amigos.

— Não sei se eles os convenceriam. — hesitei. — Você mesmo parece bem relutante ainda.

— É bem... difícil de acreditar. Estou procurando tirar minhas próprias conclusões.

— Então por que você quer que eu conte a eles?

Jaden me olhou, parecendo intrigado:

— Você acha que estou pedindo por mim?

— Ah, sei lá, é natural querer a opinião dos amigos em uma situação dessas. — comentei.

— Eu poderia falar com Mel, não acha? — olhei-o atentamente, desconfiada. — Shelly, estou sugerindo isso por você. Esse segredo parece lhe destruir. — ele olhou para mim com mais intensidade e sinceridade e se aproximou: — Nunca tinha notado de forma mais atenta, mas é impossível olhar para você e não ver fios sob tensão prestes a se romperem, cacos de uma pessoa que tem potencial para ser mais do que é, a dor de uma solidão tão intensa que, sinceramente, não sei como você consegue suportar.

Desviei o olhar para a rua antes que eu me sentisse mais nua do que me senti naquele momento.

O pior? Ele tem razão”, Elizabeth confirmou algo que eu já sabia.

Oh, obrigada, você acaba de aumentar a minha vontade de correr e chorar.”, fui irônica, tentando me conter.

— O ônibus está vindo. — avisei ao vê-lo surgir na esquina. Sentamo-nos juntos no ônibus, como nos tempos em que ele era meu vizinho. Procurei rebater de forma tardia: — Você vem me falar de dor, Jaden? A sua deve ser... indescritível.

Ele meneou a cabeça, meio perdido.

— Você tem carregado a sua por mais tempo. Estou tentando lidar com a minha também.

Deslizei minha mão sobre a dele em forma de apoio e ele ensaiou um sorriso fraco. Chegamos à escola e assistimos aula. Na hora do intervalo, fui ao banheiro e a minha acompanhante fantasma não perdeu tempo:

Você realmente deveria falar com os snakes”.

Elizabeth...”

Eu até poderia ajudar tentando diminuir a resistência deles”.

Você apareceria para todo mundo?”, perguntei com uma ponta de sarcasmo.

Eu disse ‘diminuir a resistência’, não ‘fazer um novo Halloween’. Sem falar que materialização é exaustivo e considero que é algo muito desnecessário”.

Desculpe, mademoiselle”.

Saí do banheiro e vi os snakes conversando.

— Olá — cumprimentei num meio sorriso.

— Olha quem está aqui — Dave comentou, os braços cruzados. Clint me deu um abraço de lado convidativo, o que era no mínimo peculiar:

— Você mal tem falado com a gente.

— Isso é verdade — Ben reconheceu. — Mas, voltando a discussão, o que vocês acham? Pinguins têm joelho ou não?

— Cara, já lhe disse, não sei. — Jaden respondeu, em um sorriso bem-humorado. A pergunta era, no mínimo, inteligente, mas era também inusitada.

— Eu nunca me perguntei isso. — admiti. — Já me perguntei o sentido da existência e se a matéria é onda ou partícula, mas isso é novo.

— Sai daqui — Ben fez cara de nojo ao ouvir o conceito de física. Sorri, quase rindo.

— Mas a pergunta é bem válida, se formos parar para pensar — Mel considerou. — Os pinguins têm pernas tão curtas e não dá para ver joelhos... talvez eles não tenham.

— Não sou capaz de opinar — Clint se absteve de dar algum veredito.

— Não olhem para mim. — Dave pediu com um sorriso irônico. — Se me perguntarem sobre a etimologia, vou saber.

— Ah, é, espertinho? — Mel ergueu uma sobrancelha. — E qual é a origem da palavra?

— Pelo que eu saiba, vem do holandês, mas dizer a palavra exata...

E todo mundo zoou Dave por ele não saber a palavra exata. Observei as brincadeiras daquele grupo que eu fazia parte. Era injusto com ele e comigo o que eu fazia. Como eu conseguia esconder aquele segredo? O sinal tocou, então entramos na sala e assistimos às aulas. Na hora da saída, nos despedimos, mas Jaden quis vir comigo.

— Não ficará longe para você ir para Downtown não? — questionei.

— Tenho que pegar a chave do meu apartamento, esqueci na sua casa.

— Ah, ok.

Entramos no ônibus da escola e fiquei na janela, como de costume. Olhei para a paisagem: um raro dia com mais sol que os outros. As árvores continuavam a dançar com o vento forte trazido do Pacífico devido ao inverno, as pessoas continuavam agasalhadas, afinal, o sol não era forte e a temperatura não estava nem nos 12ºC, o que era quase improvável naquela época. Ah, aquele inverno...

— Os pinguins têm joelhos.

Olhei para Jaden:

— O quê?

— Como eu me esqueci disso, é claro que os pinguins têm joelhos, eles só ficam escondidos com toda aquela plumagem. Deus!

E ele riu, como quem se diverte com a sua própria estupidez. Tinha esquecido da sua capacidade de fazer aquilo. Acabei por sorrir com ele:

— Você deixou os seus amigos nas trevas da ignorância, anjo xingador? Que decepção.

— Eu esqueci, como diabos eu esqueci disso?!

Rimos mais um pouco e quando parei para pensar, questionei:

— Mas a chave do seu apartamento não fica debaixo do extintor de incêndio do primeiro andar?

— Sim, uma delas, mas sempre gosto de andar com uma e deixar a reserva lá. — Então, ele simplesmente enfiou a mão no bolso e tirou de lá uma chave. Olhei para ele, sem entender. — Queria conversar com você.

Com naturalidade, devolveu a chave ao bolso do jeans. Sua camisa polo vermelha e sua jaqueta jeans aumentou o seu ar de divertimento.

— Isso não se faz, Jaden! — reclamei e ele sorriu, o que me fez sorrir também. — Sobre o que você quer falar?

— Sobre você, mas não é o melhor lugar, eu acho.

Ainda estávamos no ônibus da escola.

— Você não chegará atrasado no Mr. Wang não?

— Eu falo que ocorreu alguma emergência.

Quando descemos do ônibus, ele começou:

— Conversei com Mel e ela disse que poderia reunir todo mundo lá, caso você queira falar sobre sua habilidade.

— Ela falou algo a mais?

— Ela acha que é um bom momento.

Suspirei e fiquei um tempo em silêncio.

O que você acha, Elizabeth?”, indaguei.

Ocasionalmente, você vai falar para eles, não importa como. Mel está certa em achar que é um bom momento, a vida pode ficar mais complicada daqui a um tempo”.

— Acho que pode te ajudar. — ele argumentou. — Sei lá, o tempo todo escondendo segredos e dores... isso não dói não? Não machuca?

— Acho que foi por isso que falei para Mel, para minha mãe, para Tommy e para você. — concordei. — Chegou em um ponto tão insustentável que tive medo de enlouquecer. Para ser franca, ainda tenho. Acho que é um medo que nunca vou perder.

Ele afagou meu cabelo e me deu um sorriso de apoio, mas eu precisava de mais que aquilo. Parei no meu da rua, o abracei e ele correspondeu me dando, além do apoio, carinho.

— Vai dar certo. — ele sussurrou. Quis desesperadamente acreditar naquilo. — Eles são seus amigos tanto quanto eu.

— Eu sei. — Depois de ficar abraçada a ele por algum tempo, me forcei a me afastar de seu abraço quente. — Vou pensar, prometo.

****************************************************

Entrei na casa de Mel, sentindo-me nervosa ao ver todos na minha frente. Acabei sendo convencida a falar, mas não exatamente convencida. Era algo que eu queria fazer. Aquela era a noite do mesmo dia. A pressa pode parecer absurda, porém mais um minuto, mais um dia perdido em guardar um segredo era mais uma morte para mim. Pude ouvir os passos de Jaden atrás de mim. “Quando quiser falar, ligue para Mel e ela nos avisa”, ele falara ao nos despedirmos. Liguei para ela pela tarde e ela organizou tudo. O que falei para ele era verdade: carregar dores e segredos por muito tempo lhe destrói. E eu não queria mais me sentir rasgada o tempo inteiro.

Fomos para a cozinha e cada um ocupou um lugar: fiquei em uma das cabeceiras da mesa, Dave ficou na outra, Ben e Mel ficaram de um lado, Jaden e Clint de outro, com a ameríndia e o loiro próximos a mim.

— Vamos lá, Shelly. — Dave quebrou o silêncio que havia se instaurado desde a fachada da sua casa. — O que você tem a nos dizer?

Respirei fundo, sentindo-me nervosa. Afinal, tinha chegado o dia da inevitável verdade. Pensei tanto em quando esse dia chegaria e, quando chegou, não vinha uma única palavra em meus lábios. Por um instante, meu corpo pareceu insuficiente para mim, pois tinha tanto a dizer e a fazer... me senti horrivelmente presa, limitada. Estralei meus dedos, passei a mão pelo rosto para afastar aquela sensação e comecei:

— Antes de tudo, quero avisar que não é algo de fácil compreensão e talvez vocês me achem louca depois, mas é algo sobre mim que acho importante vocês saberem, afinal, vocês são meus amigos e não tem muito sentido continuar escondendo algo que eu já deveria ter dito, porque, embora vocês possam não acreditar e...

— Shelly, respire. — Mel pediu em um sorriso encorajador. Eu estava falando rápido?

Você é humana, não uma metralhadora. Com calma, Shelly”, Elizabeth pediu.

— Enfim... vocês provavelmente não vão acreditar, mas preciso fazer isso. — Será que minha fala estava muito sem sentido?

— Ok, vá em frente — Ben pediu. — Pode falar, Shelly.

— Não vamos te julgar, não se preocupe. — Clint, como sempre, amistoso.

— Eu... — hesitei ao ver todos os olhares voltados para mim, mas respirei fundo, tentando recolher um pouco de coragem, e revelei: — Eu sou uma vidente. Eu sonho com o passado e com o futuro. Sonhei com o passado de alguns de vocês e é bizarro, mas acontece. Não sei como e nem o porquê, mas tenho essas visões desde que eu era uma criança.

Um instante de silêncio de fez enquanto o grupo todo se entreolhava. Poucas vezes na minha vida me senti tão tensa e com a respiração tão presa. Ben olhou para Mel como se perguntasse “isso é real?”, Clint olhou para Dave, Jaden se absteve de olhar para alguém e a dúvida, a confusão e a descrença se espalhou pela fisionomia de todos os que não sabiam.

— Isso é alguma pegadinha? — Clint perguntou, como se esperasse que fosse brincadeira.

— Queria que fosse, mas não é. — respondi.

— Shelly, você está se ouvindo? — Ben por fim indagou, a expressão completamente confusa. Concordei com a cabeça, procurando não transparecer minha tensão, mas acho que falhei miseravelmente.

— Tudo bem, ok. Você realmente quer nos convencer de que é uma vidente? — Dave questionou de sobrancelhas erguidas.

Olhei para os dois responsáveis e principais incentivadores:

— Falei: eles não acreditariam em mim.

Melinda se levantou:

— E é por isso que temos seus desenhos.

Ela distribuiu cada conjunto de desenhos a seu correspondente. Os desenhos de Clint envolviam sua atitude de quebrar as garrafas cheias de cerveja do seu pai, ver sua mãe no hospital e chorar por uma desilusão amorosa. Os de Ben eram sobre sua claustrofobia e a sala vermelha, onde ele tentava se ater a uma fotografia, sobre a quase morte de Eve McCarthy no meu ponto de vista, e sobre sua convivência com alguns amigos em Armstrong. Dave, nos meus rabiscos, ensinava algumas crianças a ler, enfrentava seu pai e discutia com seu avô.

— Madison, Jules, Katrina... Cacete. — Ben sussurrou.

— Chovia naquele dia e minhas botas estavam ensopadas. — Clint relembrou. — Você desenhou até o cachorro se protegendo da chuva...

— Eu mencionei isso, mas como você os representou tão bem? — Dave perguntou. — Aisha, Tyler, Jimmy, Meg...

— Ok, Shelly, você nos deve muitas explicações. — Ben me olhou sério, o que era inédito.

Suspirei.

— Eu sonhei com tudo isso. Não quis invadir a privacidade de vocês, os sonhos simplesmente aparecem.

Clint olhou para Mel e Jaden:

— Pelo visto, vocês já sabiam. O que acham disso?

Olhei para Jaden, que não se manifestara até então. Ele parecia taciturno, talvez pensando em parte dos meus desenhos relacionados a ele.

— Parece loucura, mas parece real também. — ele comentou, por fim.

— Eu aceito. — Melinda respondeu. — O que mais eu posso fazer? Esses desenhos e toda a situação de fim de ano me fizeram aceitar como verídica a habilidade dela.

— Como assim “situação de fim de ano”? — Dave indagou fazendo aspas com os dedos.

Narrei para eles o meu sonho e o acidente dos Pendlebury, procurando me conter. Eu estava me tremendo muito. A sombra do peso das mortes passou pelo rosto de todos, especialmente em Jaden. Ele baixou a cabeça e pareceu pensativo. Mel me ajudou na narrativa, o que vi como uma enorme ajuda.

— Wow. — Clint pareceu impressionado.

— Espera aí: Shelly, você é o atirador fantasma? — Ben, com seu jeito energético, indagou quando viu o outro desenho.

— Sim. Passei pelos dutos de ar e impedi que sua mãe fosse morta. Sonhei com aquilo.

— Mas aqueles dardos não eram flechas — ele lembrou.

— Eu tinha uma balestra. Tive que me livrar dela antes que a polícia de Vancouver me descobrisse.

— Caramba. — Ben olhou para o desenho novamente e para mim. — Como isso aconteceu?

Contei, em detalhes, tudo o que fiz, contei os fatos sob a minha perspectiva. O silêncio deles e a minha voz estavam me espremendo contra as minhas próprias paredes. Procurei concluir minha fala:

— Não sei o que vocês vão fazer, não estou pedindo que vocês acreditem em mim, só acho que a revelação era necessária, tanto para mim quanto para vocês. Não queria deixar vocês no escuro. Se não se importam, vou ao banheiro.

Levantei e me tranquei no banheiro dos Callahan.

Isso foi ousado”, Elizabeth comentou.

Foi. E muito nervoso também”.

— E então, Clint, você também tem algum superpoder louco? — ouvi a voz de Ben tentando quebrar o gelo.

— Se você considerar minha bissexualidade um superpoder, então sim. — Após cinco segundos de silêncio, ele comentou: — Devo dizer que não sei o que dizer.

— Isso parece loucura — Dave foi sincero e duro como um legítimo empirista. — Como diabos alguém sonha com o passado de outra?

— Nem tudo se explica de forma racional, Dave. — Clint argumentou.

— Ok, é louco, mas pelo que tudo indica, aquela baixinha salvou minha mãe, mesmo que na época, ela não merecesse. — Ben pareceu decidido. — Se não fosse por Shelly, Eve McCarthy nunca pareceria uma boa pessoa para mim e ela morreria com eu acreditando nisso. Não sei se acredito, mas sou grato a ela. Pensando bem, não duvido. O mundo tem coisas inacreditáveis como uma bomba que destrói cidades e pessoas que matam umas às outras, então...

— Shelly viu detalhes muito íntimos da minha vida que nunca falei em detalhes para ninguém. — Clint observou.

— Vocês realmente estão levando isso a sério? — a voz de Dave estava marcada com incredulidade.

— Que vontade de lhe bater, Dave! Pelo amor de Deus, você realmente está ignorando esses desenhos como se fosse lixo? — Mel me pareceu irritada. — Como ela poderia saber a fisionomia das crianças do nosso bairro? Como ela poderia saber o monstro que nosso pai era?

— Melinda, uma pessoa sonhar com o meu passado, com a minha vida, é inconcebível! Você não enxerga isso? Uma pessoa não nasce com uma habilidade, ela as desenvolve, não simplesmente tem uma. Não faz sentido!

— Não, não faz. — a voz de Jaden estava grave e forte, de forma que me sobressaltei ao ouvi-la. — E mesmo assim aconteceu. Como você mesmo disse, não tinha como ela saber a fisionomia de algumas pessoas e de algumas situações, mas ela soube através dos seus sonhos. Impossível? Claro, improvável, mas o que diabos podemos fazer? Deixarmos de ser amigos dela? Queimá-la na fogueira por bruxaria? 

— Não é esse o ponto, anjo xingador. — Dave rebateu. — O ponto é que há duas possibilidades: ou vocês estão nos pregando uma peça ou é tudo ilusão da cabeça dela.

Ouvi uma batida forte na mesa.

— Você acha que isso aqui é ilusão, Dave? — Melinda questionou, irritada. — Vocês acham que isso é ilusão? Como ela poderia saber tanto e com tantos detalhes?

— Calma, meu amor. — ouvi a voz de Benners, conciliadora como poucas vezes. — O incrédulo é ele, não eu.

— Por que ela não nos disse antes? — Clint indagou.

— Talvez pela mesma razão de você ter escondido seu segredo também — Jaden sugeriu.

— Tenham um pouco de empatia. Deve ser estranho ter esses sonhos com todo mundo, ela deveria ter medo, deveria sofrer por ver as pessoas sofrerem. Pelo que sei, ela não tem sonhos só com a gente, ela tem sonhos com Deus e o mundo, em situações boas e péssimas. Ela vê a bondade e a maldade em todas as suas formas. Deve ser difícil para ela ter visto tudo isso sem apoio algum, porque nem a mãe dela sabia até pouco tempo. Não deve ser fácil e ela segura essa barra sozinha. Por mais que não acreditemos, podemos dar apoio a ela. É tudo o que ela quer.

— E é tudo o que podemos fazer — Jaden complementou.

Criei coragem e saí do banheiro, tentando não demonstrar meu nervosismo. Todos olharam para mim e Ben se levantou e me abraçou de súbito. Foi tão inusitado que mal tive reação, mas acabei por abraça-lo.

— Obrigado, baixinha. — ele murmurou.

Senti meus olhos se encherem de lágrimas. Algo que eu tinha feito tinha realmente ajudado alguém. Clint juntou-se a Ben, assim como Mel e Jaden. Dave hesitou, mas se aproximou com alguma desconfiança, transformando o que era uma onda de incompreensão em um abraço coletivo.

Claro que teriam momentos de descrença, de preterimento e de não entendimento por parte deles, especialmente por parte de Dave, mas eles eram meus amigos. Eles tentariam me apoiar, por mais louca que fosse a situação ou a minha ideia. Eles estariam lá, mesmo quando eu fosse teimosa, mesmo que tudo parecesse impossível; eles me abraçariam quando tudo ficasse difícil, insustentável e doloroso. Eu não precisava ser uma vidente para saber daquilo: eu sabia daquilo porque faria a mesma coisa por eles.


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Notas finais do capítulo

Olááááááá :D
Acho que alguns de vocês sentiram a minha falta...
Vocês acreditam que terminei esse capítulo de ontem para hoje em um surto de inspiração?
Quem nunca.
Peço desculpas pela demora na postagem, mas passei por algumas coisas difíceis na minha vida, tipo algumas crises de baixa autoconfiançae, por que não, existenciais, mas estou melhor agora.
De qualquer forma, senti falta de vocês, queridos ♥
Críticas, comentários, sugestões, encomendas e mensagens de apoio abaixo vvvvvvvvvvvv
Até logo o/



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