Apenas uma garota... escrita por Luana Nascimento


Capítulo 16
Capítulo 16 - Festival de fatos estranhos


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente o/
Ok, é oficial: o dia das postagens serão no sábado mesmo.
Espero que gostem do capítulo e nos vemos nas notas finais.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/626534/chapter/16

Sonhei com alguém encapuzado saindo na calada da noite da enorme mansão Lancaster. A pessoa caminhou até a saída da grande propriedade pelo jardim com passos incertos e silenciosos. Depois, abriu o portão e saiu andando pela rua deserta. Segui seu percurso por umas três quadras até que a pessoa parou de frente a um carro preto e misterioso. O que estava acontecendo?

Como vai, Angel? – ouvi a voz do raptor. Estremeci. Não. Ela não pode fazer isso. Angel tirou seu capuz e entrou no carro.

Vou bem. – ela respondeu, mas sua aparência mostrava que ela não estava tão bem. Identifiquei o tempo: um ano e meio depois do desaparecimento de Jaden, mais ou menos. – Para onde vamos?

O homem beijou a mulher e eu senti vontade de vomitar.

Para um lugar... mais reservado.

Acordei e corri para o banheiro, com ânsia de vômito, mesmo sem conseguir vomitar. Angel traiu David Lancaster. Que raios de família era aquela?! Não valia a pena ajudar Jaden a acha-los. Não para ter uma mãe podre daquele jeito. Por mais que Adele e Robert tenham ocultado Jaden, eles procuravam ser bons, ensinaram lealdade, deram uma boa educação a ele, embora eu ainda não concordasse com a mentira.

Eu posso ser uma pessoa muito moralista de vez em quando. Traição é algo inadmissível para mim por ser uma escolha. São raros os casos em que traição é algo forçado.

― Sabe, Shelly, julgar é muito fácil às vezesElizabeth comentou.

― Que tipo de mulher trai um marido bom daquele? ― questionei, indignada. ― Elizabeth, a pessoa se casa com uma pessoa na vida, abraça o compromisso de construir uma família, faz votos de fidelidade para fazer algo assim?

― Todas as pessoas fazem merda em algum momento da vida, portanto, abstenho-me de julgamentos ― foi sua resposta.

― Cometer um erro por acidente é uma coisa; saber que ela é errada e fazer mesmo assim é uma escolha pensada e calculada ― rebati.

― Você fala isso por se sentir preterida por seu pai. Acha que ele lhe traiu e traiu sua mãe quando quis seguir a vida e arrumou outra mulher no Brasil e com o fato dele não lhe ligar...

― Elizabeth ― rosnei entre dentes, baixando a minha cabeça ― só fique quieta.

E ela ficou. Sim, o que ela disse era verdade, mas eu preferia esquecer. A convivência ficava mais fácil e as lembranças, menos doídas. Algo inversamente proporcional.

Saí do banheiro, irritada, e olhei as horas: 02:05 a.m. Decidi atirar. Coloquei apenas um casaco, botas, as luvas, umas tags que diziam meu nome, meu tipo sanguíneo e minha idade, prendi meu cabelo, peguei a balestra e os dardos e saí pela janela.

Uma coisa sobre as tags: eu achava legal, mas era um pouco difícil lembrar de usá-las e querer fazer isso. Meu pai me trouxe elas do Brasil na penúltima visita. Ele disse que tinha achado um canto que as vendia por um preço bem razoável. Essas informações podem salvar sua vida algum dia. Quem sabe. Mas até aquele dia, elas só serviram para me lembrar do meu pai. Não era algo bom. Especialmente depois da fala de Elizabeth.

― Por que você não sai pela porta como uma pessoa normal? ― Elizabeth questionou. Quase perdi minha concentração.

― Porque é mais legal descer pela árvore ― respondi em tom óbvio enquanto me esgueirava pelos galhos frágeis segurando nos mais fortes. ― Por que você flutua se o normal é andar?

Senti medo de estar errada e Elizabeth me zoar pelo resto da vida, mas ela respondeu:

― Faz sentido.

Toquei meus pés no chão e me movi silenciosamente para o bosque. Lá, atirei bastante. Gastei todos os dardos que levei, uns trinta. No último atirado, eu estava em cima de uma árvore e acho que o dardo bateu em outro que o fez cair entre duas raízes de uma árvore, em um movimento estranho. Quando eu descesse da árvore, eu pegaria. Esse foi um erro e vocês entenderão o porquê.

Saltei de árvore em árvore, pegando os dardos. Quando chegou na árvore do dardo entre duas raízes, tudo deu errado. Algo bateu com violência nas minhas costas e perdi o equilíbrio. Caí nas raízes e o dardo passou raspando na minha perna direita. Gritei. Gritei alto e as lágrimas surgiram nos meus olhos.

― O que foi isso?! – berrei em voz alta a Elizabeth.

― Uma coruja muito, muito perdida. Bem velhinha. Acho que ela morreu em pleno voo. Está ali, no chão.

― Eu. Não. Estou vendo. Para onde. Você. Está apontando. – falei com alguma dificuldade.

― Ah. Força do hábito.

Minha respiração estava um pouco agitada. Levantei-me devagar. Hostie. O dardo estava cheio de sangue e a minha perna começou a sangrar. Um detalhe sobre os dardos que acho que não comentei: ele tinha 1,5cm de diâmetro e 16cm de comprimento. E sim, eram afiados na ponta.

― Pegou em uma artéria. – Elizabeth me alertou. Peguei o casaco e procurei fazer uma espécie de curativo não muito apertado.

― Sugestão? ― indaguei a minha companheira fantasma.

― Peça ajuda. – ela sugeriu, o tom de voz preocupado. – A sua mãe, talvez ela...

― Sem chance. Ela vai me levar para o hospital e já passei tempo demais lá. – respondi rápida. Alguém. Qualquer um. Então, veio uma ideia insana: – Jaden.

― O quê?! – caminhei na direção da casa dele. – Você tem certeza de que ele pode te ajudar?

― Eu preciso de ajuda, certo?

Nisso, coloquei a balestra no meu cinto e peguei um galho para me apoiar. Nunca uma caminhada havia sido tão difícil para mim.

― Você é boa em quase morrer, hein? – Elizabeth comentou.

― Cala a boca.

― Tão gentil...

― A minha perna está parecendo uma mangueira de sangue. – resmunguei enquanto andava devagar, o sangue começando a manchar minha calça. – Não dá para ser gentil.

Depois de algum tempo, cheguei à cerca da casa de Jaden nos fundos, trêmula e o sangue começando a ensopar o meu casaco. Droga. Tentei abrir a porta, mas estava trancada. Sério que eu tentei isso?

Fiz uma careta e me dirigi a lateral, procurando me lembrar da localização do quarto de Jaden quando o ajudei a arrumar a casa. Achei a janela. A pergunta: como chamar a atenção dele? Peguei um dardo e atirei embaixo da parte de abrir dela. Fez um barulho, mas não chamativo o suficiente. Então, vi pedras de fogo do jardim. Peguei algumas, coloquei na parte de atirar da balestra e atirei nas partes de madeira da janela. Atirar pedras ao invés de dardos. A ideia me fez rir, mas depois sacudi a cabeça ao ver a estranheza da situação. Acho que isso não é um bom sinal.

Depois de 4 ou 5 pedrinhas e depois de quase quebrar a janela dele, Jaden apareceu na janela. Pareceu surpreso ao me ver. Fiz sinal para ele descer e abrir a porta dos fundos. Ele concordou com a cabeça e saiu da janela. Fui a porta dos fundos tão rápida quanto pude. Quando ele viu a minha situação, deu um passo para trás e sussurrou, assombrado:

― Mas que porra...?!

Ok, eu ainda me incomodo com essa boca suja.

― Sem tempo. – murmurei, meio fraca. – Estou perdendo sangue. Você tem que me ajudar. Sabe estancar um sangramento?

― Acho que sim. – ele respondeu em dúvida.

― Poderia me ajudar? Sabe, sem seus pais, de preferência. E sem hospitais de preferência. Eu estou com uma balestra aqui, sabe?

Jaden olhou para a minha perna e para mim. Depois, trancou a porta dos fundos, me pegou pelo lado esquerdo, erguendo-me do chão com cuidado, e subindo a escada, respondeu:

― Ok, você é uma pessoa complicada. – Chegamos ao quarto dele e ele me fez sentar em uma cadeira. – Fique aqui e não faça nada até eu voltar.

Jaden saiu do quarto, silencioso. Observei um pouco do quarto dele: uma case de violino aos pés da cama, chinelos em um canto do quarto, um guarda-roupa negro ocupando uma parede, uma cama desarrumada, mas isso eu poderia entender. O lugar inteiro já tinha o cheiro dele. O garoto voltou do mesmo jeito com uma maleta enorme. Olhei em dúvida.

— Kit de primeiros socorros? – indaguei.

— Na mosca. Vamos ao banheiro.

Fui devagar e com a ajuda dele à suíte, na parte do chuveiro, mais especificamente. Sentei-me, tirei o casaco da minha perna e ele fez uma careta ao ver o corte profundo e feio.

― Puta merda. ― sussurrou.

― É, acho que está feio, não é?

― Sim, está. ― E então, calçou um par de luvas de borracha, fez com que eu me deitasse, colocou meu pé no vaso sanitário e começou a desenrolar umas gazes. Ok, cena estranha. ― Afinal, o que houve?

― Um dardo caiu em uma posição nada boa e eu quase caí em cima dele de uma árvore. Quase rasgou minha perna.

— Bem, não leve essa frase a mal, mas precisarei tirar sua calça.

Acho que se eu tivesse mais sangue circulando, ficaria mais vermelha.

— Ok.

Depois de tirar minha calça com cuidado (e eu ter jogado a minha calça em cima da minha calcinha e cobrindo minhas partes íntimas), Jaden começou a enrolar a gaze na minha perna, um pouco acima do corte.

— Como você sabe fazer isso? — minha voz soou baixa.

— Minha mãe me ensinou a fazer torniquete. É bem primitivo, mas efetivo. — ele soava preocupado e nervoso. — Você está branca.

— Eu sou branca. — Meu sorriso foi tão fraco quanto a minha voz.

— Mais branca que o comum.

Olhei para o quarto de Jaden, sentindo-me trêmula e zonza, e vi novamente Ms. Zhou parada no centro do quarto. Ótimo, festival de fantasma na minha vida.

Shelly”, ouvi sua voz em minha cabeça.

Ok, por que raios eu estou conseguindo escutá-la?

Talvez eu lhe explique depois”, Elizabeth respondeu em minha cabeça. “Talvez”.

Ms. Zhou?!” procurei respondeu mentalmente. A última coisa que eu queria era que Jaden me visse falando com o fantasma da mulher que cometera suicídio. Ela estava diferente. Sua expressão geralmente era fria e sem sorrisos verdadeiros quando ela era viva, contrastando completamente com suas lágrimas naquele momento.

Sinto muito”. Ela continuava a chorar, como se estivesse sofrendo com algo.

Pelo quê?”, indaguei, preocupada.

Não posso lhe contar, mas sinto muito pelo que fiz”. Sua voz era suave como a que eu escutava quando era criança, mas naquele momento tinha um travo de tristeza que parecia infinita. “Espero que você me perdoe”.

Tudo parecia lento e estranho.

Mas eu não tenho nada o que perdoar”, respondi, confusa.

— Shelly — Jaden estalou os dedos na frente dos meus olhos, tentando conseguir minha atenção. — Preciso de você acordada.

— Está frio. — foi o que consegui murmurar. Seus olhos azuis pareciam dois blocos de gelo no escuro.

— Puta merda, sabia que estava esquecendo algo.

Está frio, tão frio, tão frio... Aquele incêndio não seria capaz de me esquentar” Ms. Zhou sussurrou em minha cabeça, olhando para mim com seus olhos negros e molhados, o rosto tão pálido como o meu provavelmente estava.

Que incêndio?!

Jaden jogou um lençol por cima de mim e colocou as sobras do lençol nas minhas costas. Ele falou algo, mas sua voz soou distante. Tentei extrair alguma informação:

Ms. Zhou, por que ainda está aqui?”. Senti uma preocupação crescente em mim. Ms. Zhou era uma boa mulher, não entendia o porquê dela ter cometido suicídio. Ela sempre foi gentil com a minha mãe e comigo.

Meu erro foi grande. Eu sinto muito. Não tive escolha".

O que você fez?”, indaguei. “Por que você cometeu suicídio?

Achei que acabaria com a minha culpa, mas não adiantou”, ela começou a soluçar. “Desculpa, desculpa...

Eu te perdoo”, respondi, procurando acalmá-la, todavia, senti que era verdadeiro. O que quer que ela tenha feito, não fez por mal. “Esteja em paz. Não se martirize dessa forma. Está tudo bem”.

Ela chorou um pouco mais, porém, depois de um tempo, sorriu. Acho que foi o primeiro sorriso verdadeiro que a vi fazer. Nem quando ela era viva seus lábios se abriram com tanta alegria e sinceridade. Nenhuma lembrança daquele gesto simples me veio à mente ao recordar-me dela convivendo comigo. Elizabeth aproximou-se de Ms. Zhou.

"Obrigada, Shelly. Elizabeth também é muito generosa. Arrependo-me do que fiz. Ela quer me levar para outro lugar".

"Você pode confiar nela. Fique bem". ― pedi, sorrindo também.

"Adeus". ― ela disse num sopro doce.

Ela desapareceu junto com Elizabeth. Ok, isso foi estranho.

Quando dei por mim, senti uma dor fina no meu braço... uma agulha e algo sendo injetado em mim. Senti-me mais alerta. Tiraram a agulha de mim. Movimentei-me suavemente e vi Jaden. Ele sorriu, o alívio claro em seu rosto. Depois, começou a rir. Ok, foi estranho.

— Não faz mais isso. – ele pediu, mas o sorriso no seu rosto era estranho com a frase. – Pelo amor de Deus, não faça mais isso comigo. Você não imagina a gambiarra que tive que fazer.

Senti meu braço dolorido, como se eu tivesse feito 30 exames de sangue em um dia. Sentei-me na cama. Eu não estava em uma cama antes.

— Jaden, o que você... – então vi o braço esquerdo dele cheio de marcas de agulha. Olhei meu braço direito e estava do mesmo jeito. Arregalei os olhos enquanto ele tirava as luvas. – Você... doou sangue para mim?!

— Com uma agulha de 20ml. 54 furos em nossos braços ao total. – ele murmurou, a cabeça baixa. – 27 para cada. 540ml.

— Jaden?

Ele sacudiu a cabeça.

— Falta de glicose.

Tentei levantar rápido e minha perna reclamou. Tabarnak. A situação merecia o pior insulto francês. Gemi de leve e olhei ao redor. Qualquer fonte de glicose. Qualquer uma.

A sua esquerda”.

Obrigada, Elizabeth. Tinha uma cômoda com balinhas de caramelo. Peguei 5 e voltei a Jaden. Sentei-me na cama e fui enfiando as balas na boca dele, uma a uma. Ele pegou a última e enfiou na minha boca. Depois, respirou fundo e sentou-se ao meu lado na cama dele.

— Jaden, você... você salvou a minha vida. – gaguejei, surpresa.

— O que salvou sua vida foi a sua tag. – ele respondeu, a boca cheia de balinhas de caramelo. Olhei para baixo e vi que as tags estavam penduradas. Ele pegou, olhou a plaquinha e murmurou: – AB+. O receptor universal. Você tem sorte.

— Nunca achei que poder doar só a um tipo de sangue fosse me ajudar. – respondi, meneando a cabeça. – E sorte? Eu quase morri duas vezes esse mês! – Jaden sorriu. – Qual o seu tipo sanguíneo?

— B+. Compatível em antígenos e fator Rh. Um pouco sem açúcar, mas dá para o gasto.

— Precisamos organizar essa bagunça. – constatei. – E comer algo.

— Verdade.

Jaden levantou-se e eu segurei seu punho, me levantando também. Olhei em seus olhos, profundamente agradecida.

— Você salvou minha vida. Muito obrigada. Você é uma pessoa boa. – ficamos um tempo em silêncio. Jaden me olhava com expressão indefinível. – Se precisar, retribuirei o favor.

Ele sorriu de leve, desviou o olhar.

— Espero nunca precisar.

Ah, mas você vai precisar”.

Deixe de rogar praga”, respondi a Elizabeth. Tentei ajudar Jaden, mas ele fez com que eu me sentasse.

— Fique aí, não faça muito esforço. Não tive tanto trabalho para estancar sua ferida para você abrir esse rasgo de novo.

— Eu preciso lhe ajudar! – protestei em resposta. Jaden colocou a maleta enorme na cama.

— É só me ajudar organizando isso aqui.

Enquanto organizava a maleta, lembrei-me de Ms. Zhou e tentei associá-la de alguma forma com o sonho que tive. Será que a japonesa havia traído alguém também?

Olhei para Jaden, que limpava o chão. Ele tinha o mesmo cabelo loiro e os mesmos olhos da mãe, mas tinha o nariz e o queixo do pai. E o caráter completamente diferente do de Angel. Ele salvou minha vida. Não saberia dizer o que a dama Lancaster faria. Perguntei-me como Ms. Zhou agiria em uma situação dessas, mas logo minha mente viajou para tentar imaginar o que ela havia feito de tão grave.

Tenho que admitir: os acontecimentos daquela noite me fizeram olhar para o mundo ao redor de maneira mais... positiva, talvez. Amigos salvando outros, pessoas se arrependendo dos seus erros. O mundo podia não ser perfeito, mas algumas pessoas eram, cada uma a sua maneira.

— Obrigada. – sussurrei. O loiro ergueu as sobrancelhas e sorriu.

— Já entendi, Miss Revenry. Já terminou de organizar a maleta?

— Sim. – respondi. Olhei para minhas pernas e ri baixinho.

— O que foi?

— Como farei para ir para casa?

Aparentemente, Jaden se deu conta de que estava diante de uma garota cuja roupa de baixo era uma toalha azul marinho e cuja parte de cima estava coberta por um lençol. Ele ficou um pouco vermelho e riu.

— Vai assim, ué!

— Eu sou uma dama! Não posso ir com uma toalha de banho para casa!

— Ok, ok. Vou emprestar alguma calça minha. – olhei feio para ele. – Prefere ir com uma toalha de banho?

— Estou sem muitas opções.

— Nenhuma, para falar a verdade.

Depois de uns cinco minutos, eu estava com uma calça bem mais folgada do que a que eu estava usando quando saí para atirar.

— Você está sexy, Marie. – Jaden comentou irônico. Fiz uma expressão de repreensão.

— Seu chato. E não me chame de Marie.

— Desculpe. — Ele sorriu e convidou: — Vamos comer algo. Antes, vou guardar a maleta de primeiros socorros. Tente descer a escada, ok?

— Ok.

Fui andando devagar. Por que pisar doía? Vai entender. Antes que eu saísse do quarto, lembrei-me do dardo cravado na janela. Tratei de retirá-lo e de me adiantar. Jaden me alcançou na metade da escada.

— Está sendo meio doloroso pisar no chão. – expliquei minha lentidão.

— Tem dessas.

Desci a escadaria e Jaden estava me esperando. Dirigimo-nos à cozinha, onde comemos sanduíches e tomamos um resto de suco que havia na geladeira. Enquanto comíamos, perguntei:

— Como você soube o que fazer?

— Minha mãe me mostrou algumas coisinhas que ela faz em sua profissão. – ele respondeu com simplicidade.

— Ah. Tive sorte.

— Verdade.

Fiquei um pouco pensativa. “Obrigada” parecia tão pouco, mas tive que dizer novamente:

— Obrigada, Jaden.

— Pela terceira vez: já entendi, Shelly. – havia um sorriso sem graça em seu rosto. — Fico feliz por você estar bem. Mas vê se não faz mais isso, ok, sua doida?

— O que, quase morrer? Não tenho como saber. Mas vou evitar aparecer no meio da noite com a minha perna cortada e quase quebrar sua janela atirando pedrinhas com a minha balestra. Enfim, tenho que ir.

— Ah, claro. — ele sorriu, um pouco tímido. — Quer ajuda?

— Acho que você já fez o suficiente. Tente dormir mais um pouco. Prometo evitar situações assim, sério.

— Se você diz. — ele limitou-se a sorrir ironicamente, mas depois seu sorriso murchou. — Certeza de que está tudo bem?

— Não se preocupe. Se as coisas piorarem, chamo minha mãe. Vemo-nos na escola?

— Claro.

Não soube direito como me despedir dele. Sorri, um sorriso não tão amplo e tirei o cabelo do meu rosto. Ele colocou a mão na nuca, retribuindo o sorriso com um tímido. Acabei por estender a minha mão para que ele apertasse:

— Até logo.

— Tchau. — ele apertou a minha mão. Nem tão forte, nem tão fraco.

Saí pela porta dos fundos. E só quero dizer isso, que saí pela porta dos fundos, pois fiquei sem palavras. Elas me foram insuficientes para descrever aquela madrugada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, tenho boas notícias: estou com os capítulos 17 e o 18 prontos. O 18 muito provavelmente eu deixarei agendado, pois o Enem está aí. Ficarei a semana anterior a essa coisa que não é de Jesus sem usar o celular e evitando eletrônicos. O uso do cel deixa minha mente cansada porque escrevo nele na maioria das vezes.
Aí vem a pergunta: por que você não posta logo os dois capítulos?
Porque sou do mal, ué u.u
Mentira, só quero fazer suspense :3
Críticas, comentários e sugestões são bem-vindos aqui em baixo:
vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv
Beijos :*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Apenas uma garota..." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.