Apenas uma garota... escrita por Luana Nascimento


Capítulo 14
Capítulo 14 - Aviões ou tanques?


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente :)
Postando em dia ainda u.u
Ficou um pouco grande e eu até pensei em dividi-lo, contudo, resolvi deixá-lo assim. Talvez algumas partes tenham ficado simples demais, mas espero que gostem.



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No dia seguinte, ao final da tarde, pude sair do hospital, com a promessa (e praticamente exigência) de que eu iria tomar todos os medicamentos necessários. Jaden estava lá, na frente à minha casa, com seu sorriso habitual.

"Que interessante ele lhe procurar", Elizabeth comentou em minha mente.

Sério, era estranho e eu não havia me acostumado.

"Nem comece", procurei cortar logo a malícia dela.

— Boas férias, Revenry? — seu tom de voz grave preencheu meus ouvidos. Era bom falar com ele.

— Sem dúvida. – respondi irônica.

O pior? Era verdade. De certa forma, me sentia mais equilibrada depois do meu desmoronamento interno, como se eu finalmente pudesse me entender.

― Avisarei aos meus pais que você chegou. A menos que você não queira receber visitas.

― Estou bem. Pode chamá-los. ― pedi.

Minha mãe e eu entramos na minha casa.

― Certeza de que não está cansada, meu amor?

― Eu estou cansada de não ver pessoas, mãe. ― respondi, sincera. Ela sorriu.

Voltar ao meu quarto foi bom. Rever meu computador, a minha cama, meus livros e minhas fotos foi agradável, até. Sentei na minha cama, tentando imaginar se os desenhos estavam no mesmo canto.

― Acabou que não falamos direito como você foi socorrida.

― Verdade, mãe.

Ela sentou-se na beirada da cama, ao meu lado.

― Os Pendlebury lhe levaram ao hospital e o motorista do carro foi junto também.

― E o tenente?

Sua face ficou escura.

― Eu briguei com ele. Ele a deixou sozinha quando você precisou. Até tentou lhe visitar, mas eu não deixei. Nem que me pagassem eu deixaria.

― A senhora ficou comigo esse tempo todo?

― Mrs. Pendlebury ficou com você em duas noites. — Ficamos em silêncio por algum tempo até que ela levantou-se: — Bem, daqui a pouco, eles estarão aqui. Melhor eu descer.

Pouco tempo depois, eles chegaram. Adele pareceu preocupada comigo, assim como Robert.

― Querida! Que susto você nos deu!

Limite-me a sorrir e a aceitar o abraço de Adele.

― Ficamos felizes por você estar melhor. ― Robert apenas apertou a minha mão. Ok, ele pode ter feito o ato mais simples, mas foi o que me deixou mais confortável. É um pouco incomum para mim abraçar pessoas.

― E então, Shelly, tudo bem? ― Jaden indagou amistosamente, também apertando minha mão. Oh, obrigada.

― Sim, tudo bem.

― Como se sente? ― Adele perguntou, sentando-se na beirada da cama.

― Um pouco estranha ainda, mas estou melhor que antes. Obrigada por virem e por me socorrerem.

― Não foi nada. Apenas fizemos o que podíamos. ― Robert sorriu ao dizer essa frase.

"Eles são pessoas boas" e Elizabeth ataca novamente.

"Verdade", respondi.

― Vamos conversar com sua mãe, tudo bem? Jaden pode ficar lhe fazendo companhia. ― Adele sugeriu e eu respondi:

― Ah, sim, vou precisar saber o que os professores passaram. Tudo bem, Jaden?

― Claro. ― ele sorriu ao responder.

― Não sei se subiremos novamente, mas caso não, melhoras, Shelly. ― Robert foi gentil.

― Tchau! ― Adele despediu-se com um beijo na minha bochecha. Ok, acho que eu tenho que me acostumar com isso.

Adele e Robert saíram e Jaden procurou fazer um resumo do que acontecera naquela semana, inclusive das matérias dadas. Minha mãe aparecia de 5 em 5 minutos para ver se eu estava bem. Jaden transcorria normalmente a conversa até que disse algo que me chamou atenção:

— Chegou um grupo novo na escola.

— Um grupo novo?

— É, eles foram transferidos de uma escola lá no extremo de Armstrong. Clint, Melinda, Dave e Benners. Eles são muito bacanas. A mãe de Ben queria transferi-lo e os amigos não queriam deixa-lo. Deu no que deu.

Sorri.

— Parecem ser muito amigos.

— E são. Eles fazem discussões fodas e com algum ou nenhum sentido e vivem jogando cartas no telhado, depois que eu o mostrei a eles. É uma loucura quando venta demais e eles vão para o fundo da sala quando está chovendo. Acho que você vai gostar deles.

— Uh-huh. – limitei-me a dizer isso. Um grupinho? Bem, tomara que sejam legais.

— Bem, acho que é só. Deixarei você a sós com o seu quarto. – ele disse levantando-se da cadeira do computador.

— Mande um abraço aos seus pais. – pedi.

— Acho que minha mãe já lhe abraçou demais.

Eu ri com a afirmação.

— Até amanhã, Jaden.

― Tchau.

Jaden foi embora.

Ele é um doce”. Elizabeth comentou.

É um cara legal”, respondi.

E então? Pronta para conversar mais comigo, Marie?”, ela indagou.

Um travo antigo na minha mente voltou.

Pode ser. Só não me chame de Marie de novo.

Subitamente, estávamos de volta à sala verde.

— Por que aqui?

— Explicarei depois. Confie em mim.

— Ok, nada explicativa, como sempre. ― comentei, entediada. ― Posso fazer algumas perguntas?

— Responderei as que eu puder.

— Como eu pude salvar Bradley naquele dia?

— Aquela era uma possibilidade. Bem plausível, aliás, se você não houvesse evitado.

— Então...

— Não, você não é uma bruxa. É apenas diferente da maioria. As pessoas geralmente imaginam possibilidades de acordo com suas crenças. Você as vê: algo independente do que você é.

— Por quê?

— Explicarei futuramente. Calma, garota.

— Por que eu vi a Ms. Zhou?

— A alma dela não tem sossego. – até Elizabeth pareceu confusa. – Você é uma vidente premonitória, não uma vidente espiritual. Talvez ela queira a sua ajuda.

— Mas... como eu poderia ajuda-la? Como você mesma disse, eu não deveria tê-la visto.

— Um passo de cada vez.

— Por que você só apareceu agora?

— Na verdade, sempre estive aqui, mas só conseguir me aproximar mais de você agora.

Suspirei, pensando nas pessoas da minha visão do colapso.

— Eu queria tê-las ajudado.

— Você não pode abraçar o mundo com apenas dois braços.

— E se eu fizer mutação para ser metade aranha?

— Você entendeu.

Sorri.

— Hora de enxergar possibilidades. – ela falou, esvanecendo-se.

Num flash de luz vindo da janela de vidro, olhei para lá e meio que atravessei o vidro. E, para ser feliz, sonhei sendo jogada de um prédio, cacos de vidro flutuando ao redor. Senti um desespero que não era meu invadindo-me e fazendo-me tentar agarrar algo. Um homem de terno olhava para mim, mas eu não me sentia exatamente eu. Era como se eu fosse outra pessoa.

Recomeçou bem.

O sonho mudou para a faixada de uma espécie de hospital, mas rapidamente sumiu e fiquei em paz.

Acordei no dia seguinte bem disposta, até. Não foi um começo tão ruim. Levantei-me, peguei minha toalha, entrei no banheiro, olhei meu reflexo no espelho. Eu parecia mais saudável que nos dias comuns. Sem olheiras, o cabelo não tão bagunçado. Só estava menos corada que o comum. Tomei banho, me vesti e até tentei dar um jeito no volume do meu cabelo.

Desci a escadaria e encontrei um café da manhã reforçado me esperando.

— Uh... Mãe, precisa mesmo de tudo isso? – questionei olhando cética para o banquete que consistia em bolo, torradas, pães de queijo, uma maçã e suco de uva.

— Claro.

— Talvez eu não coma tudo.

— Não faz mal.

— E talvez eu me atrase.

— Então adiante! – minha mãe mandou. Comi quase toda a comida e enchi rápido. Abracei minha mãe, me despedindo, e saí. Encontrei Jaden no ponto.

— Oi! – ele cumprimentou num sorriso. – Sente-se bem?

— Oh, sim, obrigada por perguntar. – agradeci.

— Acho que você vai gostar dos Snakes.

— Snakes?

— É como o grupo novo se denomina.

— Ok, eu acho... ― não era um nome muito legal para um grupo. Geralmente, pessoas “Snakes” eram egoístas. ― Jaden...

— Diga.

— Você acreditaria em mim se... – ia falar sobre minhas visões enquanto estava inconsciente, mas hesitei. Jaden tentou:

— Se...

Refleti se diria ou não.

— Se eu dissesse que tive uma daquelas experiências que as pessoas têm ao ficarem em coma?

— Experiências de quase-morte?

— Tipo isso. Foi muito marcante.

— Entendo. Quer compartilhar?

— Foi um pouco marcante demais.

— Entendo. — ele repetiu, concordando com a cabeça.

Entramos no ônibus e Jaden e eu conversamos sobre Mozart e Beethoven e as preferências sobre os compositores. Sim, eu queria convencê-lo de que Beethoven era melhor que Mozart. Quando chegamos na porta da escola, estava nublado. Dizem que as melhores coisas acontecem em dias ensolarados e isso é uma falácia. Conheci os Snakes em um dia nublado. Um garoto com cabelos pretos e lisos que desciam um pouco a mandíbula olhou para a nossa direção e veio até nós.

— Jaden! Ah, você deve ser Shelly. – Seus olhos marrons me olharam em desafio. – Vamos ver se você é boa.

— Ben... – Jaden tentou falar algo, mas ele saiu me puxando. E correndo. Sim, bem súbito.

Que cara insano.

Chegamos a um trio constituído por uma garota e dois caras.

— Uh... você deve ser Melinda. — Foi um bom começo. Só que não.

Ela era morena e tinha todo o rosto de uma índia estadunidense, mas seus cabelos eram crespos, volumosos e tingidos de vermelho até pouco depois dos ombros. Miscigenação faz coisas incríveis.

— Sim. Esses são Dave – ela falou apontando para um cara negro de cabeça raspada – e Clint. – ela mudou a direção da mão para o outro cara, um de cabelos castanhos e olhos de âmbar.

— Ah, essa é Shelly, gente. – Ben me apresentou ao pessoal.

— Vamos lá: aviões ou tanques? – Dave perguntou. Ele tinha uma voz não exatamente grave, mas era forte.

— Hã? – Não entendi a pergunta. Para ser franca, não estava entendendo nada. Jaden havia entrado tranquilamente na sala e me olhou com um sorriso divertido enquanto colocava suas coisas em uma carteira.

— Aviões ou tanques? – Clint dessa vez perguntou. – Estávamos discutindo sobre isso antes de você chegar.

Pensei um pouco. Ok, isso é um teste?

— Pertencem a classes diferentes. Um avião é discreto e é aéreo, um tanque chama muita atenção e é terrestre. – refleti.

— Mas aviões são melhores, você pode jogar uma bomba em cima do tanque e adeus tanque. – Ben argumentou.

— Um tanque pode causar mais destruição sem depender de uma bomba. – Clint rebateu.

— Um avião é mais estilo!

— Mas o tanque é mais moral e existem os que podem andar dentro d’água!

E o caos foi instaurado. Ben e Clint argumentavam calorosamente enquanto Dave e Melinda tentavam demover todo e qualquer argumento. Jaden riu e olhei para ele, confusa.

— Ei, ei, EEEI!! – chamei a atenção deles. – No que exatamente isso é importante?

Eles olharam para mim, se entreolharam e riram alto.

— Em nada, só achamos que discussões como essa tornam a vida mais interessante. – Melinda esclareceu.

Mr. Stillwell chegou na sala.

— Bom dia, alunos. Bem-vinda de volta, Shelly. Soube que você estava doente...

— Mas estou melhor, muito obrigada pela preocupação.

— Disponha.

E o professor começou sua aula de gramática. Para um banco de hiperativos, até que os Snakes prestavam atenção na aula. Mais ou menos. Ben embaralhava distraidamente um baralho, Clint escrevia qualquer coisa no caderno, Jaden trocava uma palavra aqui ou ali com Dave. Resolvi desenhar aquela cena. Parecia algo bom para se gravar. Melhor que pesadelos estranhos.

Eles parecem legais”, comentei com Elizabeth.

E eles são”, ela respondeu. “Você devia prestar atenção na aula”.

É. Deveria. Mas não é porque eu devo fazer alguma coisa que eu vou necessariamente fazê-la”.

Boa reflexão”, ela ironizou.

Ao fim da aula, tinha feito o esboço do que tinha potencial para um bom desenho. O professor fez a chamada e percebi que Melinda e Dave eram parentes. Fechei o caderno, me levantei e saí para beber água. Quando voltei, os Snakes pareciam empenhados em uma discussão nova:

— Acho que Jean Grey foi a personagem dos X-Men que mais morreu. – Clint começou.

Uma curiosidade: Clint era o mais alto da turma, talvez 1,85m. Dave talvez tivesse 1,80m, Jaden talvez medisse uns 1,78m, Ben com 1,75m. Melinda era mais alta que eu uns 5cm.

— Vamos a uma discussão útil: qual é o tamanho do cabelo de Shelly? – Melinda indagou.

Peguei meu cabelo rapidamente.

— Oi? ― Não é todo dia que um grupo de pessoas resolvem discutir sobre o meu cabelo.

— Hm... está perto da bunda dela. – Ben avaliou. Senti minhas bochechas quentes.

― Qual foi a última vez que você cortou o cabelo, Shelly? – Melinda perguntou curiosa.

― Acho que tem um ano, mas sempre o deixei mais ou menos desse tamanho.

― Vamos com calma, Melinda. ― Dave interrompeu. ― Se vamos falar de cabelo, nos diga: qual foi a última vez que você lavou o cabelo?

― Ontem, ué. – ela respondeu como se fosse óbvio. Ben passou a mão pelo rosto, sorridente, como se previsse o que estava por vir.

― Com xampu. – o cara da voz grossa definiu mais a pergunta.

Melinda entortou os lábios, como se presumisse uma contrariedade.

― Há dois anos.

Olhei para ela, surpreendida.

― Você não lava o cabelo com xampu? – Jaden questionou, igualmente surpreso. – Isso é tão foda-se a sociedade.

― Eu só faço isso para não ressecar meu cabelo. – ela procurou se justificar.

― E lava o cabelo com bicarbonato de sódio. – Dave falou novamente, andando com um sorriso moleque nos lábios. Bicarbonato?!

― De quinze em quinze dias. – ela argumentou novamente.

― E com condicionador também.

― Dave... – a voz de Melinda pareceu um prenúncio de tempestade.

― Não vamos esquecer dos chás...

― David Callahan, você me paga! – Melinda saiu correndo atrás de Dave, que estava rindo incontrolavelmente.

― Isso confere? – indaguei a Ben e a Clint enquanto Melinda se jogava em Dave, fazendo-o cair.

― A Mel é um pouco... antiquada, mas é uma pessoa legal. – Ben procurou esclarecer num sorriso amistoso. – Ela não gosta da ideia de usar muitos componentes químicos. Como Dave acha isso estranhíssimo, ele perturba um pouco o juízo dela, mas eles se dão bem na maioria do tempo. E ela é uma pessoa bem limpa, não se preocupem.

― Qual o grau de parentesco eles dois? – perguntei.

― Eles são irmãos. – Clint respondeu.

Fazia sentido. Melinda estava fazendo um mata leão em Dave.

― E da próxima vez que você me fizer parecer uma porca louca, eu lhe enforco, maldito!

A situação era bem preocupante, mas Dave estava rindo.

― Não sei para que esse drama, maninha, Ben sempre limpa sua barra.

― Mel, para que tudo isso, garota?! – Jaden procurou separar Mel do pescoço de Dave.

― Ok, Mel, já entendemos que você é diferente, mas calma, não vamos lhe odiar por causa disso. – falei como quem fala a um cavalo agitado. – Fiquei curiosa com o fato.

― Eu usei seu condicionador. Ele é bom – Dave continuou a provoca-la. Ao invés da reação que eu esperava, Melinda sorriu.

― Logo, logo, eu lhe arrasto para as lavagens com chás de morango.

― Nem invente! Nunca mais uso aquele condicionador.

Dave saiu para beber água, tossindo um pouco. Ok...

― Desculpem. Geralmente não sou tão explosiva, mas Dave às vezes consegue. Eu só não gosto da forma como ele apresenta minha técnica pessoal. Fica parecendo que eu sou uma louca que lava o cabelo com qualquer porcaria. Só gosto das receitas cherokees para lavagem de cabelo. Enfim, não entrarei nesse mérito agora.

O professor de Física entrou na sala.

― Bom dia, alunos. Vamos continuar com a física mecânica, sim?

Resolvi prestar atenção na aula dessa vez, nas duas de física e nas duas últimas e geografia. No final, das aulas, me despedi dos Snakes, despedi-me de Jaden de frente a casa dele e o resto do dia foi normal, tirando a anormal preocupação da minha mãe e as eventuais frases aleatórias de Elizabeth. Na hora de dormir, decidi atirar antes. Com um sobretudo, as botas e o cabelo amarrado, saí da minha casa pela janela, desci pela árvore cheia de galhos secos e fui ao bosque.

Foi bom atirar, mas, como refletido antes por mim, eu não me sentia mais uma arqueira com a balestra. Recolhi alguns papéis estragados pela chuva que tinha deixado da última vez, alguns restos de projéteis, uns até com possibilidade de reaproveitamento. Tudo tranquilo, a não ser por um barulho diferente.

Sobressaltei-me e olhei na direção do ruído, mas não consegui ver muita coisa. Nada, para ser franca. Tirei um projétil lentamente do cinto e dispus na balestra. Esperei. Nenhum outro ruído. Saí do modo de alerta. Provavelmente foi o vento.

Elizabeth?” chamei.

Oi”, ela respondeu em tom simpático.

Foi mesmo o vento?”, indaguei cautelosa.

Hã?

Revirei os olhos.

Foi o vento que fez esse ruído?

“Não vejo nada”, ela respondeu.

Suspirei, um pouco mais aliviada. Logo depois, me arrependi. Não sou medrosa. Comparado aos pesadelos... vou nem comentar. Voltei para casa e quando eu estava subindo a árvore, apercebi-me de algo.

Elizabeth?” chamei novamente.

Diga”, ela respondeu, um pouco mais séria.

Você disse que não viu nada, mas acho que você quis dizer que não via nada no instante em que perguntei.”

Certo”.

Tinha alguma coisa lá?

Nada que mereça sua atenção. Uma coruja muito fofa, para ser mais exata”, ela respondeu casual.

Ah, ok. Obrigada”.

Disponha”.

Tirei o sobretudo, escondi a balestra e os dardos, me deitei. Demorei um pouco a dormir e fiquei olhando para o teto.

Minha mãe está dormindo?”, indaguei, querendo conversar com minha companhia invisível.

Sim”, ela respondeu depois de uns 10 segundos.

― Como é estar morta, Elizabeth? – indaguei baixinho. Ela respondeu mentalmente.

― Um pouco solitário, um pouco triste, divertido vez ou outra. Sem falar na facilidade de atravessar paredes e saber das coisas de alguém quando você quiser. Tem algumas regras também.

― Regras?

― Sim. Uma hora ou outra, vem alguém mais iluminado explicá-las para você.

― Alguém mais iluminado?

― Com mais experiência, melhor dizendo. Eles me levaram para um lugar tranquilo depois da minha morte. Vamos às regras. Não posso interferir diretamente e não pude lhe ajudar ou lhe orientar sobre o seu dom por um bom tempo para poder aprender essa regra. Tecnicamente, não posso conversar tanto com você também. Existe uma espécie de censura. Se eu começar a contar possibilidades do seu futuro, você não escutará nada.

― Você pode ver meu futuro? – quase me sentei na cama diante da surpresa.

― As possibilidades dele. ― ela repetiu, mas ainda sim, era algo incrível.

― Algo bacana? – quis saber, curiosa.

― Não posso falar. – ela lembrou parecendo sorrir, mas seu tom era triste, como se lamentasse a realidade.

― Ah, verdade. – concordei, um pouco chateada.

― Só posso falar algo do futuro quando todas as possibilidades levam ao mesmo resultado.

Refleti no modo que ela falava.

― Espera: você é vidente também?

― Sim. E eu filtro a maioria das suas visões. Fico com a pior parte.

― Gentil de sua parte.

― Obrigada, eu acho. – ela agradeceu num tom meio duvidoso.

― Você pode ver todas as possibilidades?

― A maioria. Não todas de uma vez ou meu cérebro iria se desfazer como já se desfez, mas é como se fosse uma biblioteca.

― Se desfez? Tem algo a ver com a sua morte? – perguntei, curiosa. Silêncio. – Desculpe, não deveria ter perguntado.

― É natural a curiosidade, mas você saberá sobre a minha morte no momento certo. Quando eu estiver forte o suficiente para lhe contar, quando o Universo permitir.

Olhei o relógio: 1:01 p.m.

― Eu deveria estar dormindo, não é?

― Sim. — Elizabeth respondeu, risonha. Sorri, os olhos começando a ficar pesados. – Vá dormir, Revenry. Amanhã há a possibilidade de o dia ser interessante.

Dormi e acho que Elizabeth foi gentil em não deixar nenhuma visão perturbar o meu sono.


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Notas finais do capítulo

Bem, esse capítulo foi bem de boas. E então, de quem vocês gostaram? Mds, Melinda é um pouquinho bruta '-'
Enfim, correções, sugestões, críticas e comentários são bem vindos.
Até a próxima o/



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