Apenas uma garota... escrita por Luana Nascimento


Capítulo 1
Parte I - Quase normal


Notas iniciais do capítulo

Eis o começo da história, onde iremos conhecer a protagonista. Espero que gostem.



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Capítulo 1 — Introdução à minha vida

O cenário é uma serraria abandonada, pouco iluminada, cheia de teias de aranha e materiais enferrujados. Uma garotinha de, no máximo, seis anos, loira, pálida, de olhos azuis quase cinzas estava amarrada e amordaçada em um tronco em cima de uma esteira de corte. Seus olhos reluziam desespero, lágrimas. Um homem sorria, louco. Ele ligou a máquina. O tronco começou a andar na esteira, com a serra ligada e a menininha, desesperada, tentava soltar-se, gritar, debalde. Então, a serra começou a cortar seu cabelo dourado e reluzente. Quando a serra estava chegando perto da cabeça da menininha...

Acordei arfante, o suor fazendo meu cabelo grudar na minha testa. Havia um mês que eu tinha o mesmo pesadelo, todos os dias. Ou melhor: todas as noites. Antes que vocês me perguntem: não, não conheço essa garotinha. Eu não gosto de sonhar com isso. Tenho medo de que isso aconteça, tanto é que, por isso, não falei esse sonho a ninguém. Sei lá, também tenho medo de dizerem que sou louca.

Ah, preciso me apresentar: meu nome é Shelly Revenry, tenho 16 anos, moro em Vancouver, Canadá, no distrito de Vancouver South, bairro de Kerrisdale. Minha mãe, Mary Ann, é canadense; meu pai, Marcos, é um brasileiro descendente de franceses. É um pouco estranho. Ele mal dá notícias e, francamente, eu não sinto tanta falta. Minha mãe me cria sozinha e é uma delícia. Não falo os meus sonhos para ela porque não quero assusta-la e acho que posso lidar com isso sozinha.

Parei de pensar, passei a mão pelo rosto e respirei fundo. Olhei a hora no meu despertador: 05:00 a.m. Estava muito cedo. Eu sabia que não iria mais conseguir dormir. Levantei-me, fui ao banheiro e me olhei no espelho. Meus olhos verdes estavam fundos, o rosto meio pálido, os cabelos negros bagunçados. Um dos meus muitos dias ruins. Tentei lembrar o dia da semana: era quinta-feira. Provavelmente eu ia dormir na aula de Sociologia.

Vou explicar algo para vocês: por via das dúvidas, sou a garota que não pertence a nenhum grupo, mas isso não significa que eu não fale com ninguém. Os populares falam comigo normalmente e até com certa intimidade, mas não sou uma. Eu jogo videogame com os nerds, mas não me incluo nessa turma. Convivo com as piadinhas dos garotos considerados gatos [não tem nenhum do meu interesse], mas nunca fiquei com nenhum deles. Eu só fico com garotos que não são da minha escola, é menos tenso. Ouço algumas músicas com os headbangers, mas não escuto direto. Sou uma espécie de popular não popular. Sim, é diferente.

Saí do banheiro, do quarto e fui para a cozinha, onde fui fazer um café para mim na cafeteira. Quando o café ficou pronto, tirei a jarra, coloquei na minha caneca preferida e me sentei no batente da porta dos fundos, observando o quintal. Os galhos da árvore estavam secos, o dia nublado. Típico dia de outono.

— Acordou cedo — ouvi uma voz comentar logo atrás de mim.

— Não consigo dormir. — retruquei no mesmo tom ocasional.

Ela sentou-se ao meu lado.

— Sua insônia me preocupa — minha mãe inquiriu colocando a mão no meu ombro.

— Está tudo bem, mãe. É só que o sono me abandona às vezes.

Eu realmente não queria preocupa-la.

— Às vezes? Você tem feito a mesma coisa nesse último mês. Foi por causa daquele pesadelo?

Ok, exceção: contei a ela que tive um pesadelo graças a um filme de terror que assisti, mais nada. Afinal, acordei gritando da primeira vez que tive esse sonho. Não só da primeira, como da segunda, terceira... Ok, na terceira, eu parei.

— Não, mãe, não foi aquele pesadelo. Eu nem me lembrava mais dele.

Mentirosa...

— Fico mais aliviada ao saber disso. Mesmo assim, acho que devemos ir ao médico para...

— Não, mãe. Isso não. — cortei. Eu nunca iria a um médico. Não mais. Eu não era uma louca.

— Tudo bem. Mas pelo menos tenta dormir, certo?

— Vou tentar, mãe.

Se os sonhos me deixarem...

Vocês juram que esse é o meu primeiro sonho, né? Na verdade, não é. Já tive tantos sonhos esquisitos que temo que tudo o que eu sonhe seja real. A parte ruim? Grande parte dos meus sonhos é real. Eles são uma espécie de aviso, de premonição. Isso é um pesadelo.

Alguns sonhos que tenho são com pessoas que conheço, mas esses são mais raros. Alguns são apenas histórias, trechos de vidas. Outros são coisas boas, contudo são ainda mais raros. Os mais comuns, tenho com pessoas com quem tenho um contato emocional temporário ou duradouro ou marcante. Eu gravo grande parte na forma de desenho; acho que desenho bem, modéstia à parte.

— Acho bom mesmo. Agora me deixe lavar essa caneca e volte a dormir.

— Certo, general. — brinquei, fazendo leve continência.

Entreguei a caneca a ela e fui para o meu quarto. Ao chegar lá, acendi uma lanterna, afastei uma parte do piso e logo encontrei a pasta. "A pasta", como costumo chamar, nada mais é do que uma pasta de couro marrom onde guardo os desenhos que faço, são basicamente os meus sonhos. Eu os olhei. Havia de tudo ali, mas falarei apenas alguns desenhos (os mais marcantes).

Um homem sendo atropelado, um soldado americano levando um tiro de uma sniper, uma mulher sendo pedida em casamento, um taxista levando um homem a um cemitério, um homem cuidando dos filhos sozinho, meninos negros e desnutridos sendo maltratados, um assassino quebrando pescoços e sendo morto, uma mulher em cima da Golden Gate, prestes a cometer suicídio... E, por último, a menininha amarrada na tora de madeira, sendo assassinada covardemente por um psicopata.

Acrescentei alguns detalhes a lápis: afilei o nariz da garotinha e até tentei desenhar o rosto do homem, mas sempre parecia ser algo que eu sempre me esquecia quando acordava, exceto uma coisa: o sorriso louco. Respirei fundo novamente.

Geralmente não sonho com uma coisa tantas vezes. Meus sonhos sempre têm detalhes e sempre os gravo, mas esse sonho com a menininha...

Ouvi minha mãe subindo as escadas. Guardei tudo cautelosamente, pulei na cama e fechei os olhos justamente quando minha mãe abriu a porta do quarto. Ela aproximou-se, passou o polegar pela minha testa e depositou um beijinho lá. Depois, me cobriu melhor e saiu do quarto.

Entreabri os olhos. Ótimo. Agora dava para dar alguns detalhes a mais ao meu desenho. Tranquei a porta do quarto, me deitei no chão e comecei a adicionar mais detalhes ao meu desenho louco. Aos poucos, o sono foi me invadindo e não me lembro do momento em que dormi.


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Notas finais do capítulo

Ok, não sei se o começo está promissor, mas espero que deem uma chance :)
"Gostou? Sim? Não?
Gostou do que?
Não gostou do que?
E os personagens? São legais? Ou não? Qual você gostou mais?
A escrita? Legal? Tem erros? Se tiver, avise e.e
O enredo? Como você se sentiu ao ler o capítulo?
Pronto e.e um comentário.
Saíam das sombras, leitores fantasmas."
By Lua Reyna via face, adaptado ;)