O Amor É Mesmo Cego escrita por Dorothy Bass


Capítulo 2
Um café da manhã recheado de surpresa.


Notas iniciais do capítulo

ÊÊÊ, tem capítulo novoooooo! Queria agradecer a todo mundo que mandou review e encheu meu coração de estrelinhas haha vocês são demais! Espero que gostem!



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"Agradável" não é a palavra mais correta pra definir como foi minha primeira viagem de avião. Dormir em viagens nunca foi meu forte. Nunca consigo achar uma posição confortável, minha cabeça sempre bate na janela quando estou próxima de adormecer, e nem uma musiquinha boa me ajuda. Agora, some meu problema com viagens a 15 longas horas de voo sentada ao lado de uma mãe nervosa segurando um bebê mais nervoso ainda e a um homem velho roncando bem atrás de mim. Legal, não?! E mais legal ainda foi a dor na bunda que eu senti quando levantei da poltrona desconfortável.

Saí do avião andando torto por conta da dor no corpo e fui direto pegar minhas malas. Quando cheguei no saguão, vi uma placa com meu nome escrito em giz de cera, rodeado de muitos corações e estrelas. Sorri na mesma hora e fui em direção aos meus novos... pais? Meio-pais? Nunca sei como posso chama-los... O homem que segurava a placa era baixinho, quase careca, usava uma camisa com estampa havaiana, um shorts de surfista e chinelos. Ele sorria abertamente para mim e balançava a placa. A mulher ao seu lado era alta e ruiva, e estava toda arrumada. Era um casal engraçado... Os dois pareciam ser muito diferentes. Quando os alcancei, o homem me deu um abraço apertado seguido de alguns tapinhas nas costas, e já começou a falar.

– Mas como é bonita! Olha pra ela, Hannah! – disse, animado, enquanto tocava meu rosto. A moça ao seu lado, Hannah, olhava para mim e para ele com um sorriso divertido, balançando a cabeça negativamente.

– Ela mal chegou e você já vai assustá-la? – perguntou, e veio me abraçar. – não se assuste, Thainá. James é filho de italianos bem... calorosos.

– E ela sempre fala como se fosse algo ruim. – Ele sussurrou para mim e pegou duas das minhas malas. No caminho todo até o carro, James e Hannah entraram em uma discussão engraçada sobre sogros e sogras. Os pais dos dois eram muito diferentes, pelo que eu ouvi. Os de Hannah eram conservadores e os de James eram “abrasileirados”, como ele disse. O que eu achei mais legal sobre eles é que, mesmo discutindo, os dois riam e sorriam.

– Então... vocês tem uma filha pequena? – perguntei quando o carro passou pelo portão de uma casa branca de dois andares, quando lembrei do cartaz que eles seguravam na hora em que cheguei.

– Temos! A Joline. Ela colocou até maquiagem para te ver, mas acabou dormindo no sofá enquanto esperava a hora de sairmos de casa. Não tive coragem de acordá-la. – Hannah respondeu, e James estacionou o carro.

Encarei minha nova casa pela janela do carro. Era linda. Grande. Entrei em pânico por alguns segundos e senti meu coração acelerar.

“Estou a quinze horas da minha casa, ai meu Deus! Eu sinto saudades da minha família até quando viajo por um final de semana! O que eu to fazendo aqui?”, pensei, encostando a cabeça na janela. James e Hannah já haviam saído do carro, e me observaram ali dentro por alguns segundos. Pareciam ter notado que eu estava tentando assimilar a situação, e por isso me deixaram ter um tempo ali, sozinha. Quando meu coração parou de palpitar e minha mente se aquietou, saí do carro e entrei na casa.

“É, Thainá... chegou o seu momento. Não entre em pânico. Vai dar tudo certo.”

**

Fiquei observando meu novo quarto e sorrindo como uma boba. Ele era lindo. Tinha uma sacada, meu próprio banheiro, uma cama king size, uma escrivaninha e o armário. Já estava de manhã, e eu tinha colocado um despertador pra não pagar o mico de acordar depois da hora do almoço no meu primeiro dia em San Diego. Acontece que eu durmo... durmo muito. Tipo os ursos no período de hibernação. Desci as escadas e já estava na sala de estar, que ficava junto à de jantar. A mesa estava posta, e James estava sentado em um dos cinco lugares...

Espera... cinco? Bom... tinha eu, James, Hannah e Joline. E quem era a quinta pessoa? Ignorei a minha dúvida e fui me sentar, afinal, quem era eu pra questionar o dono da casa sobre quantos lugares estão postos na mesa, certo?! Quer dizer, vai que eles tem uma secretária do lar e ela come com eles na mesa, assim como acontece lá em casa...

– Bom dia, Thai! – ele disse, desviando o olhar do jornal e eu sorri em resposta. – Pode pegar o que quiser, viu? Não precisa ficar tímida.

– Não mesmo, viu... Esse aqui come um boi toda refeição. Não sei como cabe dentro da barriga dele. – Hannah falou assim que entrou no cômodo, sorrindo. Ela estava arrumada e toda maquiada.

“Que disposição hein, Hannah...”, pensei. Eu tenho preguiça de me maquiar até quando vou a alguma festa!

– Bom dia, pessoal. – falei com bom humor, e comecei a pegar o que eu precisava pra fazer um misto-quente. Adorei esses dois, sério. Vou levar eles pro Brasil quando eu voltar.

Comecei a comer. Que delícia, meu Deus. Eu adoro comer, a propósito. Sem contar que amo jogar basquete, então tudo que eu como, queimo jogando.

“Espero que o colégio tenha um time de basquete feminino.”, pensei.

Escutei passos vindos da escada da escada, mas só olhei quando um barulho constante de algo batendo no piso me chamou a atenção. Devo ter paralisado alguns instantes quando me virei em direção à escada. Joline estava lá, sorrindo eufórica, e logo atrás dela, com uma mão em seu ombro, estava um garoto de... 18 anos? Tudo bem, até agora nenhum motivo para surtar; mas não era um garoto como outro qualquer. Ele usava um óculos escuro, e em sua mão direita segurava uma bengala... Sim, era uma bengala. E ele a mexia de um lado pro outro em um movimento que não deveria fazer barulho, mas fazia porque ele provavelmente ainda não tinha prática.

– B-bom dia Joline, e... - comecei, e James continuou minha fala.

– Mattew. Esse é nosso filho mais velho.

– Prazer, Mattew. Eu sou a Thainá. – falei, colocando um pedaço grande de pão na boca pra não falar mais nada. Por que eu tinha começado, a propósito?

– Tanto faz - ele disse, se soltando do ombro da irmã, que o olhou triste, e saiu andando e batendo a bengala em todos os cantos até achar a cadeira e se sentar.

– Perdoe o Matt, querida. Ele está passando por uma fase não tão boa.

– Eu entendo – falei, com a boca cheia. “Porra, Thainá! Para de falar!”, me castiguei em pensamento,

– Você também é cega? – Mattew perguntou, ironicamente.

– Não! – falei, impressionada com a grosseria que ele soltou para uma pessoa que ele nem sequer conhecia.

– Mattew, chega. – foi a vez de James se manifestar.

– Tudo bem James, não tem problema algum.

– Então... o que planeja pra hoje, Thainá? – Hannah perguntou.

– Pensei em andar pelo quarteirão. É o máximo que eu posso fazer por enquanto, né! – falei, sorrindo – não posso me perder pelas ruas de San Diego no primeiro dia.

– Mattew adoraria ir com você! – James disse, pigarreando.

– Mattew? Eu? – ele perguntou, tocando em tudo pela mesa para localizar o que ele queria comer.

– Você está vendo outro Mattew por aqui, meu amor? - Hannah perguntou e... Ai meu Deus. Ela tinha acabado de perguntar se ele estava vendo.

“Não Hannah, ele não está.”, pensei, desesperada. Na hora em que se deu conta do que havia falado, Hannah colocou as mãos sobre a boca. Quando olhei pro garoto ao meu lado, ele estava vermelho, provavelmente de raiva. Levantou-se da mesa e saiu andando, mas acho que por um instante ele se esqueceu que não conseguia ver, e trombou no móvel que ficava à esquerda da mesa. Voltou pelo mesmo caminho, pegou sua bengala e subiu as escadas.

– James... O que eu faço? Sou uma péssima mãe. – pude ver uma lágrima cair no rosto de Hannah. James a abraçou e disse:

– Está tudo bem, meu amor. Assim como ele, ainda não nos acostumamos. Ele vai te perdoar. Nos perdoe por isso, Thai. Você pode ficar à vontade.Você pode fazer um tour pela casa com Joline. – e nessa hora, ela abriu um sorriso com a boca cheia de cereal e leite – E quando quiser sair de casa é só nos avisar!

– Tudo bem! Obrigada, James – falei, pedi licença e saí da mesa ainda um pouco atordoada.

O que foi aquilo?! Um dos meus "irmãos" é cego?! E se eles não se acostumaram ainda, era porque ele tinha ficado cego recentemente. Será que foi depois que aceitaram me receber? Será que eles não queriam, realmente, que eu estivesse ali? Que não tiveram tempo de me recusar?

Essa pergunta ficou martelando na minha cabeça, então resolvi, finalmente, pegar aquela foto que a agência de viagens havia mandado. Segundo eles, aquela era a foto mais recente da família na época em que eles mandaram o correio. Abri o envelope. Era uma foto normal de família. Eles todos na frente da casa em que eu estou agora, sorrindo... Sorrindo pra mim. À esquerda, Hannah. Ela sorria abertamente, e estava tão arrumada quanto ontem, quando foi me buscar no aeroporto. Ao seu lado vinha Mattew. Eu já contei que ele é ruivo? Pois é... Ele é ruivo. E muito branco, devo dizer. Seu corpo tinha curvas de alguém que provavelmente fazia esportes frequentemente. Não pude ver seus olhos porque na foto ele estava muito distante, mas, bom... ele não usava óculos escuros. Ao lado de Mattew estava James, com o mesmo sorriso com o qual me recepcionou quando eu cheguei. Só estava um pouco mais arrumadinho. E na frente dos três, fazendo uma careta, estava Joline, de vestidinho e tudo. Fiquei deitada na cama observando a foto. Mattew devia ter perdido a visão há pouco tempo...

Não conseguia imaginar o quão difícil devia ser. Um filho, um irmão, um adolescente com uma vida inteira pela frente... cego. E eu estava ali, na casa dessa família com tantos problemas para resolver, só querendo que todo mundo fosse feliz. Esse intercâmbio vai ser bem movimentado.


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Notas finais do capítulo

E aí? Deixem suas opiniões nos reviews! Quero ver esses leitores fantasmas aparecendo!



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