Sentada em sua cama Becky tentava se concentrar em seus estudos, mas só de pensar em Britt chateada com ela perdia completamente o foco. Precisava conversar com a loira e resolver as coisas - não importava em que sentido - de uma vez por todas se quisesse parar de pensar naquilo, então pegou seu celular e enviou uma mensagem.

"Hey. Será que podemos conversar?" - R

Não demorou muito para receber uma resposta.

"Depende. Sobre o que quer conversar?" - B

"Sobre nós." - R

"Obs: não no sentido de sermos um casal." - R

"Eu entendi." - B

"E tudo bem. Podemos conversar." - B

"Posso passar aí?" - R

"Agora?" - B

"Sim. Por quê?" - R

"Claire está aqui." - B

"É claro que ela está..." O pensamento a fez revirar os olhos.

"Não tem problema." - R

"Você que sabe." - B

"Pode vir então." - B

"Obrigada." - R

(...)

Sebastian jogava uma partida de Mortal Kombat X, irritado. Por que diabos Gwen não tentava falar com ele? Pelo amor de Deus! Se era ele quem estava na friendzone, por que era ela que evitava manter contato?
Como se isso já não fosse o suficiente, seus amigos insistiam naquela história ridícula de que a baixinha acabaria ficando com Liz.

– Droga! - Resmungou, quando errou os comandos e não conseguiu realizar o Fatallity.

– Está tudo bem, Sebastian? - Sua mãe berrou da cozinha.

– Sim, eu estou bem! - Berrou de volta, reiniciando a luta enquanto pensava no que Frannie, Matt, Rony e Josh haviam dito.

Qual a probabilidade de existir algo entre Gwen e Liz, afinal? As duas podiam ter sido "inimigas" por um tempo, mas pelo que tinha visto nos últimos meses, estavam ficando mais próximas. E bem, se a líder de torcida tivesse algum interesse em garotas ele certamente estaria perdido. Afinal, qualquer ser humano pensante era obrigado a admitir o quão atraente Liz Harrison conseguia ser sem nem tentar, enquanto as suas vantagens eram basicamente apenas seu conhecimento de cinema e quadrinhos.

– Mãe! - Chamou. - Vou dar uma saída!

Precisava urgentemente ir na casa da morena e conversar. Faria ela gostar dele, antes que fosse tarde demais.

(...)

Isaac não conseguia acreditar naquilo. Era, oficialmente, o namorado de Terry! Estava tão contente que se sentia a ponto de explodir...

– Você é a melhor irmã do mundo, sabia? - Elogiou, enquanto se sentava ao lado de Frannie no sofá. - Sério Fran, você é demais!

– Posso saber o que eu fiz? - A garota arqueou uma sobrancelha, estranhando.

– O que foi? Agora eu não posso mais ser grato a minha irmã gêmea incrível que sabe muito bem escolher suas amizades?

– Ah, então é isso... - Riu. - Como foi o encontro ontem?

– Estamos namorando! - Exclamou, empolgado.

– Jura? - Se surpreendeu, mas ao mesmo tempo ficou extremamente feliz com a notícia. Se Terry estava mesmo disposta a dar uma chance ao seu irmão, significava que falava mesmo sério quando prometia seguir em frente e superar seus sentimentos por Matt. Ou seja, em breve as coisas entre elas voltariam a ser como antes.

(...)

– Você tem certeza que seus pais não vão chegar antes das oito? - Perguntou Liz, receosa.

– Tenho sim. - Assegurou Gwen. - E você não precisa ter medo deles.

– Eu não tenho medo, só que depois daquele dia não sei como eu reagiria na frente de seu pai. - Explicou, dando de ombros.

– Ah, é... Se ele te vir aqui vai querer ter uma "conversinha". - Recordou-se.

– Sabe que não está ajudando, certo? - Seu nervosismo cresceu ainda mais.

– Foi mal... - Segurou o riso. - Mas não se preocupe com isso, ele e a minha mãe só chegam depois das oito.

– Certo...

– Não estou com muita vontade de ver nenhuma série hoje. - Comentou, pausando o episódio.

– O que está com vontade de fazer então? - Perguntou e Gwen colocou seus lábios nos dela como resposta.

(...)

– Eu não menti, sabe? - Disse Becky, sentando-se ao lado da ex namorada na cama. - Quando falei que nunca quis ser só sua amiga...

– Becky... - A voz de Britt soou suplicante.

– Não, você não entendeu. Eu não vou insistir nisso. - Afirmou. - Eu nunca quis ser apenas uma amiga, mas percebi que essa é agora a minha única opção se quiser ter você por perto. - Explicou-se. - Por mais que eu ainda me sinta da mesma forma, sinto falta da sua amizade também. Sinto falta de quando íamos nós duas dormir na casa da Lizzie e essas coisas.

– Eu também. - Admitiu, sentindo-se feliz. - Mas da última vez que falamos sobre isso você...

– Fiz besteira, eu sei. - Interrompeu. - Prometo que estou sendo sincera dessa vez.

– Tudo bem. - Britt concordou, fazendo-a abrir um enorme sorriso. - Eu também sinto sua falta, mas acho que sabe disso.

– Eu vou te abraçar agora. - Avisou, se aproximando meio desajeitada.

Então a loira riu do nervosismo da amiga e a puxou para um abraço apertado.

(...)

– Vocês estão namorando?! - Josh se surpreendeu.

– Sim... - Respondeu Terry, contente. - Eu acho que estou mesmo gostando dele.

– Isso é ótimo, Terr... - Matt sorriu largamente, feliz pela amiga.

– Como foi o pedido? - Quis saber Rony, lançando-lhe um olhar curioso.

– Bom, não foi o pedido mais romântico do mundo. - Riu ao se lembrar. - Ele estava muito nervoso, eu consegui perceber pela voz. E a escolha de palavras não foi das melhores. Mas o que importa é que ele pediu.

– A escolha de palavras não foi das melhores? - Repetiu Rony, em tom interrogativo.

– "Eu sei que é nosso primeiro encontro, mas se você quiser podemos ser, sabe, namorado e namorada". - Usou as mesmas palavras do garoto.

– Ah, pelo menos ele pediu. - Disse Josh, olhando para o namorado. - Com a gente foi praticamente: "Ah, então nós estamos namorando. Legal..." - Rony riu envergonhado, enquanto murmurava um "não com essas palavras". - Foram quase essas, sim.

(...)

– Será que são os seus pais? - Questionou Liz, afastando-se abruptamente ao ouvir a campainha.

– Não, eles só chegam depois das oito. - Afirmou novamente, suspirando irritada pela interrupção. - E eles não precisariam tocar a campainha, já que têm a chave. - Acrescentou. - Mas eu tenho que atender, de qualquer forma. - Se levantou.

Saiu do quarto, desceu as escadas e foi até porta, abrindo-a logo em seguida e se deparando com Sebastian.

– Oi, Gwendy! - Ele cumprimentou, com um enorme sorriso no rosto.

– Hey, Sebastian... - Se esforçou para parecer simpática. Não que estivese com raiva do garoto, ou algo do tipo, mas ele havia acabado de interromper seu "momento" com Liz. - O que está fazendo aqui?

– Vim conversar. - Respondeu. - Será que eu posso entrar?

– Hã... Claro... - Disse, abrindo passagem. - Sobre o que quer conversar?

– Sobre a gente. - Abriu um pequeno sorriso, que murchou ao ver Gwen suspirar em frustração. - É só me ouvir, eu juro que não vou ocupar muito do seu tempo.

– Tudo bem... - Concordou, mesmo que já soubesse exatamente qual seria o desfecho daquela conversa.

– Acho que você sabe que até pouco tempo atrás a Terry não sentia absolutamente nada pelo Isaac, até porque estava completamente apaixonada pelo Matt. Mas então, ele se declarou e ela decidiu dar a ele uma chance. E pelo que estou sabendo, eles começaram a namorar ontem. - Começou. - Eu entendo que não esteja interessada em ter um relacionamento comigo, entendo de verdade. Não posso exigir que sinta algo por mim além de amizade, não é mesmo? Mas você poderia me dar uma chance, sabe? - Deu um passo para frente. - Já não é mais nenhuma novidade que estou apaixonado por você, mas acho que seria bom ressaltar isso mais uma vez. Se me der uma chance, eu prometo ser o melhor cara do universo!

Gwen suspirou novamente, após ouvir atentamente o discurso do amigo. Vendo aquele olhar esperançoso e sorriso bobo até se sentiu meio mal por não conseguir retribuir os sentimentos do rapaz, mas não era o suficiente para fazê-la mudar de ideia. Não sentia absolutamente nada além de amizade por ele e no momento a única pessoa com a qual realmente queria tentar alguma coisa era Liz.

– Sebastian eu... - O sorriso do rapaz foi substituído por uma expressão ansiosa. - Eu sinto muito mesmo, mas não sinto nada por você. E a situação da Terry e do Isaac é diferente. Os sentimentos dela por Matt não eram correspondidos e ela queria seguir em frente, então ele se declarou e ela viu a oportunidade de conseguir fazer isso. - Decidiu que explicar tudo seria a melhor forma de fazê-lo entender de uma vez por todas. - E eu acredito que ela já gostava um pouco dele antes disso.

– Como você pode ter tanta certeza que não sente nada? - Perguntou, triste. - Você nem mesmo me deu uma chance...

– Somos apenas amigos. Isso não vai mudar. - Afirmou.

– Por favor! - Insistiu. - Eu juro que você não vai se arrepender...

– Sebastian sério, eu não quero me irritar com você, então por favor desiste disso. - Pediu, fechando os olhos com força e massageando as têmporas, em um esforço inútil para se manter calma e paciente.

Percebendo que estava sem opções e meio desesperado por não ter conseguido convencê-la, o garoto teve uma ideia, que fazia total sentido em sua cabeça. Funcionava nos filmes, então por que não tentar por em prática na vida real? Se aproximou e a beijou-lhe os lábios. Ao contrário do que ele pensava que aconteceria, a garota o empurrou, olhando para ele com incredulidade e desaprovação.

– Chega, eu desisto de tentar de explicar isso! - Cruzou os braços e bufou, irritada. - Eu. Não. Gosto. De. Você. - Falou pausadamente. - É difícil entender isso? Eu acho que não!

– Sinto muito... - Disse ele, e Gwen pôde ver que não estava sendo 100% sincero. - Não vou mais insistir nisso. - Asseverou, agora sim falando a verdade. - Espero que continue sendo minha amiga. - Sorriu triste.

– Depois conversamos sobre isso. - Exprimiu, totalmente séria.

Sebastian então se virou e saiu, sem dizer mais nada. Mais uma vez, Gwen suspirou. Aquela havia sido uma conversa muito estressante.

Subiu as escadas desanimada, mas sorriu ao ver Liz em pé perto da cama, rindo de alguma coisa que lia em seu celular.

– Oi... - Parou de andar quando chegou ao lado da... Amiga? É, ainda não tinham tido "a" conversa, então talvez aquela fosse a denominação que melhor se encaixava. - Do que está rindo?

– Uma piada no Facebook. - Disse, mostrando-lhe o aparelho. - É bem idiota, mas para fãs dos livros de Harry Potter acaba sendo engraçada.

– Isso é bem a cara do Dumbledore. - Riu.

– Você demorou um pouco. - Comentou. - Quem era?

– Sebastian. - Respondeu, revirando os olhos.

– É? E o que ele queria? - Quis saber, começando a se sentir desconfortável.

– Veio me pedir uma chance. - Foi sincera. - Obviamente, eu neguei. - Viu a expressão preocupada de Liz suavizar um pouco. - E como deve imaginar, ele insistiu. - Continuou. - Então... - Fez uma pausa, incerta se deveria contar, mas concluiu que não tinha porque omitir a informação. - Ele me beijou e...

– Ele te beijou?! - A loira praticamente berrou, irritando-se.

– ... e eu o afastei. - Gwen continuou, ignorando seu início de "surto".

– Mesmo? - Precisou ter certeza.

– Mesmo. - Sorriu, dando-lhe um rápido selinho.

Liz devolveu o sorriso, antes de derrubá-la na cama, ficando por cima e a beijando com vontade. Obviamente, a baixinha correspondeu sem precisar pensar duas vezes. Por um segundo, se peguntou onde ela havia aprendido a beijar tão bem, sendo que pelo que sabia, só tinha tido dois namorados. Bom, acabou optando por não descobrir, já que pensar nos ex namorados da garota que beijava não era algo muito agradável.

Gwen precisou se esforçar muito para manter suas mãos quietas na nuca da garota e não avançar um pouco as coisas. Por mais vontade que tivesse de ir além de alguns beijos, sabia que não estavam namorando e a última coisa que queria era assustar Liz ou fazê-la se sentir desconfortável.

(...)

– Você está feliz. - Comentou Claire, com um sorriso brincando em seus lábios.

– Gosto de te ver assim... - Beijou o rosto da namorada carinhosamente.

– Becky e eu somos amigas outra vez e ela me prometeu não implicar mais com você. - Contou alegre, enquanto se acomodava melhor nos braços da ruiva. - Infelizmente, ela ainda vai insistir nessa ideia de sair com o James, mas acho que não posso mudar o fato de que ela valoriza demais a reputação no colégio.

– Vai aparecer alguém na vida dela... - Afirmou.

– Eu espero que sim. - Sorriu.

– Promete não ficar chateada com a pergunta que vou fazer agora? - Pediu, com certa insegurança em seu tom de voz.

– Prometo.

– Em algum momento, você já pensou em voltar atrás? Escolher ela e não eu? Eu sei que disse que não me importo que ainda tenha sentimentos por ela, e eu estava sendo sincera, mas preciso mesmo saber disso.

– Não. - Disse a verdade. - Eu ainda gosto dela, talvez ainda ame, mas percebi algo esses dias... - Parou por um instante, sem saber se era cedo demais. - Promete não surtar com o que vou dizer agora? - A ruiva assentiu. - Eu acho que eu também amo você. - Confessou, olhando para o outro lado e corando levemente.

Se antes a expressão de Claire era feliz, naquele momento passou a ser de completa euforia. Seu sorriso discreto cresceu e imediatamente ela disse:

– Eu amo você. E eu tenho certeza.

Então se aproximou e beijou-lhe os lábios, sem conseguir conter a própria felicidade.