Sebastian estava sentado em frente ao computador, jogando Final Fantasy. Aquele era, definitivamente, o dia mais entediante das suas férias. Nenhum compromisso, nenhum filme novo para assistir... Como se isso não fosse suficientemente chato, todos os amigos estavam ocupados com coisas "mais importantes". Josh saía com Wally que havia chegado na cidade há mais ou menos dois dias, Gwen obrigava Terry, Noah e Frannie a ajudá-la a "fugir" de Jane e Matt tinha um jogo para assistir, ou algo assim.

Seu tédio chegava ao ponto de fazê-lo cogitar a hipótese de visitar Susan, ou ir com Rebecca e Brittney ao aniversário de Charles Samson. Logo descartou ambas as ideias. A ex namorada o detestava e o "casal" de garotas provavelmente levaria Liz, que parecia querer matá-lo toda vez que o via. Sem falar, é claro, que Charles fazia parte do "grupinho" que atormentava Josh.

Não demorou para que se cansasse do jogo. Diferente de Isaac, não era um gamer. Quando foi desligar o computador, parou por alguns instantes para "admirar" a foto que era sua proteção de tela. Estava mesmo apaixonado por Gwen, mesmo que ela obviamente não sentisse o mesmo. Nada mudava o fato de que a considerava a garota mais bonita, divertida e incrível do mundo. Bom, precisava tirar aquilo dali, antes que Matt ou Josh vissem. A última coisa que precisava era os amigos rindo dele.

(...)

– Você tem certeza que não sabe onde ela está? - Inquiriu Jane, tentando ser discreta ao olhar para dentro da casa.

– Absoluta. - Noah forçou um sorriso e tentou ser o convincente possível. - Talvez Frannie saiba...

– Não, eu já passei na casa dela e ela me disse para vir aqui. - Expirou profundamente, frustrada. - Bom, obrigada mesmo assim. Até mais!

Esperou que a garota se afastasse um pouco para fechar a porta. Seguiu até o quarto, onde estava Gwen, mexendo em seu celular.

– Ela já foi? - A baixinha questionou, sem desviar os olhos do aparelho.

– Sim, sim... - Sentou-se ao lado da amiga na cama. - Você vai mesmo passar as férias fugindo da ex namorada?

– Esse é o plano. - Respondeu Gwen, enquanto colocava o telefone no criado mudo.

"Depois eu sou imaturo..." O pensamento fez o rapaz revirar os olhos. Mas ao invés de fazer algum comentário irônico sobre isso, decidiu ir direto ao que lhe interessava:

– Sabe que está me devendo um favor, certo?

– Eu sei o que vai pedir e a resposta continua sendo a mesma. - Foi a vez de Gwen de revirar os olhos. - Aliás, nem teria como eu te ajudar já que não tenho o número dela.

– Não precisa ter, eu a convidei para a minha festa. - Lembrou. - Tudo que você precisa fazer é convencê-la a sair comigo.

– Oh, claro. Porque eu listar suas qualidades inexistentes como namorado vai fazer ela magicamente se interessar por você. - Bufou. - "Hey Liz! Sabe o Noah? Então, eu realmente acho que vocês deviam sair juntos." Isso pode ter funcionado com aquela asiática que namorou antes da Fran, mas a sunshine não é assim tão inocente. Ela vai perceber que estou te fazendo um favor. Sem falar que nós nem mesmo somos amigas... Qualquer coisa que eu diga sobre você será completamente ignorada.

– Qualidades inexistentes? - Acabou sendo a única parte do "discurso" que ele realmente prestou atenção. - Eu sou um ótimo namorado!

– Ah, com certeza... - Debochou Gwen. - Preciso lembrar que todos os seus relacionamentos deram errado?

– Os seus também! - Redarguiu, ofendido.

– A diferença é que no seu caso, foram todos por sua culpa, Armand Duval. - Uma expressão confusa surgiu no rosto do garoto. - É um personagem do livro "A Dama das Camélias". Duval vivia em função da cortesã Marguerite, mas as crises de ciúme atrapalharam tudo. - Explicou. - Nós tivemos que ler esse livro ano passado, Noah. Como sua memória pode ser tão ruim?

– Acha mesmo que eu faço algum trabalho nas aulas de Literatura? - Arqueou a sobrancelha. - É para isso que serve o Espantalho.

– Ainda não consigo acreditar que obriga o Rick a fazer os trabalhos para você. - Suspirou pesadamente. - E por que diabos chamam ele de Espantalho?

– Sei lá, não fui eu quem inventou o apelido. - Deu de ombros. - Acho que foi o Kraig, antes de ser expulso...

(...)

– Uh, você não vai querer saber. - Garantiu Wally. - Minha vida amorosa tem sido um tédio desde que terminei com o Chad. Maior erro da vida, diga-se de passagem. Acredita que ele está noivo daquele cara que trabalha com ele no Jornal?

– Você está melhor sem ele. - Afirmou Josh. - Pelo que me disse, tudo o que vocês faziam era brigar...

– Bom, mas e você? - O mais velho quis saber. - Saindo com alguém?

– Ainda não, mas acho que tenho chance com o Rony. - Sorriu.

– O garoto novo? Eu pensei que ele fosse hétero... - Crispou os lábios, como tinha a mania de fazer sempre que estava confuso.

– Bom, eu achava isso, mas... - Colocou a mão no bolso, pegando o celular. - Olha só!

Wally olhou para a tela do smartphone e leu as mensagens que o amigo havia aberto:

"Nada especial, para ser sincero. Tenho saído com alguns amigos da antiga escola e tentado fugir de um ex maluco." - R

"Você é gay? :O " - J

"Eu não tinha deixado claro?" - R

O universitário sorriu. Realmente, Rony era bem direto.

– Querem fazer seus pedidos? - Perguntou uma garota jovem, que se aproximou da mesa em que estavam sentados com uma expressão levemente entediada.

– Dois cappuccinos com canela extra e chantilly. - Informou Josh. Aquela era uma das pouquíssimas coisas que ele e o ex namorado tinham realmente em comum em relação à bebidas.

(...)

Caleb batia na porta do quarto de Susan repetidas vezes. "Ela está fazendo isso de propósito, não é possível! Ninguém leva tanto tempo para trocar de roupa."

– Sue, tem como se apressar? - Perguntou, tentando se manter calmo, apesar de impaciente. - Vamos perder a consulta!

– O Dr. Hudson pode esperar alguns minutos... - Respondeu a ruiva, do outro lado.

– Ele já está esperando mais de meia hora! - O ex quarterback revirou os olhos, agradecendo mentalmente por não poder ser visto naquele momento. Amava Sue, mas às vezes ela conseguia o tirar do sério.

– Já estou saindo. - Asseverou, enquanto lia um artigo sobre possíveis perigos de uma gravidez na adolescência em uma revista. - Estou me vestindo. - Mentiu.

Queria se preparar mentalmente para aquela consulta. Tinha lido bastante sobre o assunto naquela semana e as informações a assustavam um pouco. Não sabia que os riscos eram tão altos...

Quando finalmente finalizou a matéria, seguiu até a porta e preparou seu melhor sorriso. Sabia muito bem o quão preocupado Caleb ficaria se visse qualquer sinal de desconforto. Do jeito que o rapaz era, não desistiria até ela explicar detalhe por detalhe suas preocupações. E bem, ela não queria "compartilhar" o seu estresse.

(...)

– Frannie, você viu o meu PSP? - Isaac revirava os bolsos de sua calça mais uma vez, frustrado por não encontrar seu portátil.

– Eu escondi. - Afirmou.

O semblante do rapaz se tornou irritado.

– Você não pode pegar as minhas coisas e esconder desse jeito! - Exclamou. - Devolve agora!

– Não vou devolver. Você está jogando demais. - Revirou os olhos.

– Não estou. E mesmo se estivesse, não tenho nada melhor para fazer. - Suspirou. - Anda logo, me devolve...

Frannie havia feito aquilo para fazer Isaac aceitar o convite de Matt para assistir ao jogo de basebol dos Yankees. O irmão nunca saía de casa e isso começava a preocupá-la.

– Ela colocou dentro da gaveta de meias do pai de vocês. - Terry se intrometeu, antes que o moreno ficasse ainda mais irritado. Não queria que aquele dia terminasse em uma briga. Já bastava o "barraco" feito por Jane, que acreditava realmente que Gwen estava "escondida" no apartamento dos dois.

Isaac praticamente correu para o quarto do pai, abrindo a gaveta de forma levemente desesperada. Torcia para que Frannie não tivesse desligado o console quando o guardou, já que havia se esquecido de salvar o jogo antes de ir ao banheiro.

Matt observava tudo em silêncio, não queria se meter nas "brigas" dos irmãos. Esperava por uma resposta, embora já suspeitasse que nenhum dos três aceitaria acompanhá-lo ao estádio, o que tornaria tudo extremamente cansativo. Por mais fã dos Yankees que fosse, odiava ir sozinho a um jogo. Seu plano inicial era chamar Noah, mas ele estava ocupado "escondendo" Gwen em sua casa.

– E então... Vocês vem? - Decidiu perguntar.

– Claro! - Terry respondeu de imediato, com um sorriso enorme no rosto.

"Parece que não vou ter que ir sozinho, afinal..." Sorriu igualmente para a melhor amiga.

– Nem pensar! Tenho que terminar esse jogo hoje... - Disse Isaac, fazendo Frannie bufar e revirar os olhos.

– Bom, então vou ter que ficar aqui também... - Constatou Frannie, em tom de desânimo.

Ela odiava ter que bancar a babá do irmão, mas sempre que seu pai viajava ele deixava para ela apenas duas regras:

1. Nada de namorados em casa.

2. Garantir que Isaac não passe o dia todo jogando videogame.

(...)

Liz estava deitada em sua cama, sem nada para fazer, apenas pensando sobre coisas aleatórias. Ela gostava daquilo. Ficar um pouco sozinha, sem ninguém a incomodando e nada para se preocupar. Claro que às vezes - só às vezes - sentia falta de alguma companhia, que não fosse Rebecca ou Brittney, para assistir alguma coisa ou comentar coisas do cotidiano como "o Sebastian é muito imbecil e a Collins é uma idiota por gostar dele", mas até isso passava.

A melhor parte de estar de férias era não ter que se preocupar com a sua reputação, seus treinos da torcida e suas notas, já a pior era ter que lidar com seu pai por mais horas por dia.

"O que a Gwen pode estar fazendo agora?" O pensamento simplesmente surgiu em sua mente. Seria estranho dizer que sentia falta da baixinha? Provavelmente. Mas de certo modo acabava sendo verdade. "Saindo com o namoradinho inútil, provavelmente." Deduziu. No mesmo instante, aquela sensação de desconforto e irritação voltou. Por que parecia tão terrível a ideia dos dois juntos? "Pelo amor de Deus! Que diferença faz se ela está ou não saindo com o Godzilla?"

Devia estar mesmo muito entediada para estar se preocupando com algo assim...

– Lizzie! - Ouviu a voz de sua mãe a chamar.

Se levantou - a contragosto, diga-se de passagem - e caminhou até as escadas, onde sua versão vinte anos mais velha a esperava, ao lado de seu pai.

– Temos um compromisso agora. - Anunciou Jonathan Harrison, em seu habitual tom de seriedade. - Voltaremos tarde, mas lembre-se: nada de festas.

– Tudo bem. - Balançou a cabeça em concordância. "Se eu gostasse de festas, estaria na casa da Becky, me arrumando para a festa do Charles." Completou mentalmente.

Seria uma longa noite, mas pelo menos teria a casa inteira para ela. Talvez fizesse uma maratona de F.R.I.E.N.D.S, ou ligasse para as amigas mais tarde, quando elas já tivessem percebido que o aniversário de Samson seria um completo tédio.