O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 8
Sétimo Capítulo


Notas iniciais do capítulo

DIAS DE POSTAGEM: Segunda e Sexta. Tudo bem para vocês?



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–Blakely – escutei um sussurro, mas no corredor silencioso de Dallington parecia mais com um grito.

Me virei cautelosamente, sabia de quem era a voz e sabia também que, felizmente, a primeira parte do plano dera certo. Era algo bem idiota para chamar de “plano”. Eu só tentaria fazer uma troca com Christopher, nada mais do que isso. Só que eu também queria agradecê-lo.

–Zeke disse que você queria falar comigo.

Sorri timidamente. Na sexta havia aulas da Senhorita Sophia e ela mal percebia se você iria demorar de dois minutos a meia hora no “banheiro” ou se sairiam três ou quatro alunos da aula dela ao mesmo tempo. Ela não ligava para nós e nós não ligávamos para ela. Relação perfeita.

–Que bom que ele disse – falei, analisando o garoto a minha frente.

Me assustei ao me deparar com mais um roxo no olho de Christopher, mas tentei não me abalar. Deveria só ser resultado de mais uma briga em que ele se metera por aí, era algo que aparentava ser de seu feitio.

–Olha, se for por causa do diário...

–Não é só isso! – o cortei.

Eu estava atrás do meu armário propositalmente, então me virei e o abri, pegando o meu caderninho preto de poesia e um potinho branco.

–É para você – estiquei os dois objetos na direção dele.

O nervosismo começara a me atingir. E então o pânico explodiu quando vi que suas mãos foram de encontro ao pequeno pote e ao caderno preto.

–O que é isso? – ele perguntou, enquanto abria o potinho, vendo os cookies que eu ainda guardara para ele.

–É... bem...

Não agora! Força. Você consegue, Blakely Jones!

–Eu sempre faço alguns poemas e rimas bobas nas horas em que me vem inspiração – falei, tentando não ir rápido demais e nem devagar demais para não gaguejar. – É como um diário. Eu nunca mostrei para ninguém.

Christopher pareceu meio que engasgar com o ar ao escutar a palavra “diário” sair dos meus lábios e no mesmo instante me olhou perplexo.

–Não! – exclamou. – Tome. Pegue de volta – ele estendeu o caderno na minha direção.

Fechei os olhos, respirando fundo. Eu tinha medo de que, talvez por raiva, ele lesse tudo, todas as minhas ideias e poemas. Mas o medo passara.

Abri os olhos e peguei o caderno, o colocando de novo no meu armário e trancando. Pronto! Agora todos os meus segredos estavam a salvo.

–Eu acredito em você – disse Christopher, com o olhar cabisbaixo. – É que às vezes... perco o controle. Me desculpe. Fui um idiota. Mas para quê os cookies?

Sorri, ainda timidamente.

–Eu nunca te agradeci por ter me ajudado aquele dia com Harrison – falei, sentindo minhas bochechas corarem.

Ele sorriu também, olhando o potinho branco em sua mão.

–Obrigado – disse, estendendo a mão enluvada. Eu ainda não entendia qual era a das luvas e do gorro preto.

–Estamos quites – estendi minha mão também.

Quando nossos dedos se tocaram, devido a parte aberta da luva, senti ondas elétricas na pele. Foi como um choque. Fiquei nervosa e me afastei rapidamente.

–Sim, estamos.

***

Assim que o sinal do lanche tocou, senti o enorme alívio dentro de mim.

–Finalmente! – alguém do fundão gritou.

As coisas pareciam mais calmas sem Harrison, embora uma parte de mim estivesse meio que preocupada com o que aconteceu com aquele idiota.

Em menos de um minuto, a sala já estava quase vazia. Me perguntei onde iria lanchar hoje. Atrás da arquibancada, na sala mesmo ou então em uma mesa excluída na cantina.

A segunda opção era a mais convidativa. Tanto por preguiça quanto solidão. Ninguém comia na sala, então o silêncio prevaleceria caso eu ficasse por ali mesmo.

Resolvi ficar. Não estava com tanta fome, então retirei os materiais da minha mesa e deitei a cabeça ali, com meus braços fazendo papel de almofada.

–Você vai ficar aí? – escutei uma voz.

Levantei a cabeça rapidamente, dando de cara com Christopher. Ele estava com o potinho branco nas mãos, sorrindo superficialmente.

Arregalei os olhos. O que diria?

–Hãm... Eu...

Ele ignorou meu gaguejo e deu alguns passos em minha direção.

–Você trouxe ao menos alguma coisa para comer? – Christopher perguntou, abrindo o potinho em suas mãos e estendendo os cookies em minha direção.

–Não se preocupe – falei, mordendo a parte interna da bochecha. – Só comi muito no café da manhã.

Ele se sentou na cadeira a minha frente. Pegou um dos cookies e o comeu.

–Meu Deus! – exclamou, ainda de boca cheia. – Isso é um pedaço do céu, Blakely.

Não me contive e gargalhei. Os cookies da Dona Sarah eram realmente muito gostosos e praticamente ninguém resistia a eles.

Naquele momento, tive dó de pessoas diabéticas.

–Eu sei – falei, enquanto Christopher enchia a boca com mais cookies. – São muito gostosos.

–Gos...to..sos? – ele disse, com as bochechas literalmente redondas de tantos cookies que enfiara dentro da boca. – Isso... é... muito bom!

Algumas migalhas voaram em minha direção e então Christopher pediu desculpas, o que fez mais migalhas caírem sobre meu cabelo e rosto. As limpei enquanto ria.

–Sério, muito obrigado – ele disse, estendendo o potinho branco vazio. – Quem os fez? Sua mãe?

–Não – respondi. – Foi a Dona Sarah, ela ás vezes fica comigo quando meus pais trabalham no mesmo horário.

Ele arqueou uma sobrancelha.

–E eles trabalham no que?

–Meu pai é advogado, mas também cursou psicologia, e minha mãe é arquiteta – falei, olhando para minhas mãos nervosas e me perguntando se deveria continuar a puxar assunto. – E os seus pais? Trabalham no que?

Christopher pareceu ter sido pego de surpresa e suspirou profundamente antes de responder.

–Meu pai morreu há três anos – disse, desviando o olhar.

–Sinto muito – falei imediatamente, me arrependendo de ter perguntado aquilo. – Eu não fazia ideia.

–Tudo bem – ele sorriu, mas percebi que foi forçadamente, pois em seus olhos azuis eu podia identificar a dor e angústia da morte do pai. – Minha mãe é secretária.

“...ele tem alguns probleminhas em casa...”, lembrei do que Ezequiel dissera.

Talvez os “probleminhas em casa” de Christopher fossem a morte do pai e o fato da mãe ser secretária. Como ela conseguia pagar a mensalidade de Dallington? Será que ele conseguiu uma bolsa 100%? Mas Christopher não parecia inteligente a ponto de ganhar algum desconto, ele mesmo dissera a Roy que repetira o oitavo ano.

Olhei para o garoto loiro a minha frente. A touca preta cobria boa parte do cabelo e em seus braços havia tantos hematomas que me perguntei como era possível uma pessoa se meter em tantas brigas. Eu o via como um ser desprezível até alguns dias atrás, mas então chegara a minha conclusão:

Christopher Robinson era um mistério.

E eu iria desvendá-lo.

Poucos minutos depois, o sinal bateu. E então os outros começaram a entrar na sala novamente, estragando todo o silêncio que fora palco de um dos melhores momentos da minha vida.


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Notas finais do capítulo

Bem, hoje está sendo um dia difícil. Eu estou tendo a amostra grátis de um parto.... Ah, quero dizer, tendo cólica.... Ah, não, errei de novo! Espera. O que eu ia falar mesmo? Ah, é! Para dizer se gostaram do capítulo.
Então, digam se gostaram nos comentários :)