O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 44
Quadragésimo Terceiro Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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Meus pés tocavam no chão, mas eu mal o sentia. Apenas corria, o mais rápido que podia. Entre tantas paredes brancas, médicos e enfermeiras, eu só seguia os corredores sem dar ouvidos a ninguém.

O trajeto era simples (pelo que eu escutara de um dos informantes do meu pai): primeira à esquerda, depois terceira à direita, subir até o segundo andar e achar o quarto 65. 

Ao chegar ao elevador, havia um paciente cadeirante congestionando tudo por ali. Então optei logo pelas escadas e subi, continuando com meu ritmo acelerado. Assim que vi a porta indicando o segundo andar, abri com toda a pressa que alguém poderia ter dentro de um hospital. Só que me deparei com tantos corredores brancos e com tantas portas, igualmente brancas, que minha visão até embaçou.

O que eu faria agora? Precisava achar o quarto 65...

De repente, toda aquela adrenalina, que me consumia há poucos segundos, sumiu. Andei calmamente, seguindo o primeiro corredor. Olhei os números nas portas. 45, 47, 50...

Andei por mais alguns corredores, os números cresciam e decresciam sem avisar e sem ordem alguma, sendo que nunca chegavam até o 65. Em um determinado momento, me sentei em um dos bancos que havia no corredor ao qual eu estava.

Parei. Respirei. Olhei minhas mãos. Senti uma lágrima. Cobri meu rosto.

Permaneci daquela forma por alguns segundos, até escutar vozes altas vindas de algum lugar próximo. Era uma discussão, eu tinha certeza. Não consegui entender o que diziam, mesmo que a sonoridade parecesse alta. Criei coragem e tentei seguir as vozes.

Virei à próxima direita, e a cena que vi foi estranha. Rebecca Robinson era a dona de uma das vozes, brigava com um homem velho que, automaticamente quando vi, soube que era o avô russo babaca de Christopher. A semelhança era tão grande e tão diferente ao mesmo tempo por ele ser mais velho, era assustador. Mais assustador ainda, era sua posição dura e séria, gritando com Rebecca e apontando um dedo em sua cara. Ele vestia uma farda militar russa de general, tão respeitosa quanto sua figura. Exalava ordem e autoridade, mesmo gritando.

Só que então, não demorou muito para eu ser notada, e os olhos azuis do general russo foram em direção a mim. Ele se calou por alguns segundos, o que fez Rebecca se virar e me ver também.

—Blakely! – disse a mulher, suavemente, mesmo parecendo cansada e esgotada. – Querida, o que está fazendo aqui? Eu pensei que...

Hans Zarov a interrompeu, dizendo algo em voz baixa em russo para Rebecca. Tudo o que ela fez foi assentir com a cabeça.

O general andou calmamente em minha direção, com os olhos vidrados em mim. Permaneci quieta, sem demonstrar emoção facial perto daquele sujeito. À medida que Hans ia chegando, eu ia notando cada vez mais seus traços faciais, cujos seu neto herdará perfeitamente.

—É um prazer conhecê-la, Blakely Jones – disse, em inglês. Esticando sua mão amigavelmente, mas sem demonstrar qualquer tipo de emoção no rosto.

Peguei em sua mão, sentindo seu calor e frieza ao mesmo tempo. Aquele homem era ilegível, totalmente calculista em suas posturas.

—O prazer é meu, Hans Zarov – não ousei chama-lo de “senhor” ou qualquer coisa que demonstrasse tanto respeito assim por sua figura, apenas devolvera o que ele me dera.

Pareceu que houve um leve espanto da parte do tão renomado general, que virou o rosto levemente e sorriu para Rebecca, dizendo uma frase em russo que logicamente não entendi. Ela veio até nós e me encarou com carinho.

—Seus pais sabem que está aqui, querida? – disse, sem perder sua graciosidade.

—Não. Eu saí do escritório do meu pai sem dizer nada. Só peço que antes de ligar para ele, deixe que eu veja Christopher – eu disse, olhando diretamente em seus olhos, na chance de ser ouvida. – Também acho que precisamos conversar...

—Você tem razão. As coisas andam só meio confusas para mim, Blakely – colocou as mãos na cabeça, enquanto o general se afastava de nós e se sentava em um banco. – Caleb chega daqui a pouco. Preciso te contar sobre todas as decisões que eu e Hans estamos tomando em relação a Christopher.

Gelei por alguns instantes. Se Hans e Rebecca estavam tomando as decisões que envolviam Christopher, significava que o garoto realmente não estava bem.

—Blakely, peço que seja complacente e trate dos assuntos com seriedade, como sei que vai fazer... – posicionou uma de suas mãos em meu ombro, como se me desse apoio. – Não mentirei para você. Mais do que todos, merece e deve saber como Christopher está – suspirou profundamente, o que não era um bom indício.

Andamos até o banco em que Hans Zarov sentava, com a coluna ereta e ainda com os olhos azuis vidrados em mim. Rebecca sentou-se ao lado do general, porém com um pouco de distância. Eu ficaria em pé, o que não era um problema.

—Meu filho não está bem – disse, enfim, tendo a coragem de me dizer o que eu buscava há dias. – Fraturou uma das vértebras na queda e passou por uma cirurgia há alguns dias. Não sabemos se ele ainda terá o movimento das pernas – parou por alguns segundos, aquilo parecia difícil para uma mãe dizer em relação ao seu filho. Mas ela era uma mulher russa, ela era mais do que forte, então logo endureceu sua expressão e prosseguiu. – Ele proibiu que todos nós entrássemos no quarto depois que ele acordasse, menos você. Christopher só pediu para que não deixássemos você vê-lo agora, enquanto dorme, sedado pela cirurgia.

Desviei meu olhar, analisando o chão e vendo cada detalhe daquele piso bege.

Não, não podia ser... Estávamos falando de Christopher Robinson. Ele não podia ficar paraplégico.

De repente, uma dor no estômago me atingiu, como se um caminhão jogasse areia em minhas entranhas. Era nervosismo. Cobri a boca, não podendo acreditar no que eu escutara.

—Qual a probabilidade de... – minha voz se foi.

—É de 50%, Blakely – respondeu Rebecca, entendendo a pergunta. – Apenas quando ele acordar é que teremos uma resposta.

Tentei me conter, sabendo que ainda viriam mais informações pela frente. O general me deixava ainda mais desconfortável, sempre me encarando sem se conter.

Rebecca fez sinal de que iria continuar a falar. Então tentei me preparar psicologicamente.

—Christopher decidiu retirar a queixa de Hunter, não haverá julgamento. Ele está livre e voltará para a Rússia...

—Blakely Jones, gostaria de ser o mais direto possível – Hans Zarov a interrompeu, com toda a falta de educação que um homem pode ter. – Sei que concordará comigo, visto que demonstrou tamanha ousadia e coragem nos últimos meses, ajudando de forma inimaginável o meu neto e Rebecca – disse o último nome com amargor, não se referindo a ela como “nora”. – Na Rússia, poderei pagar os melhores médicos e hospitais para o meu neto. Ele terá todo o suporte que precisar, independente do preço. Por isso, acredito que concorde comigo quando digo que Christopher deve retornar à Rússia comigo e seu próprio pai, que será internado imediatamente em uma clínica de reabilitação.

Fiquei com raiva, nervosa, e a dor de barriga aumentou. Mas algo no meio de tudo aquilo não parecia fazer sentido...

—Por que vocês estão me dizendo isso? – perguntei, rindo como se tivessem me contando uma piada. Um hábito que adquiri depois de tantas situações nervosas.

Rebecca fechou os olhos, Hans Zarov respirou fundo.

—Ele deixou tudo em suas mãos. Todas as decisões... – disse o general. – Blakely Jones, não sei como se envolveu com Christopher Zarov. Mas meu neto confiou a vida dele à você. Trata-se de alguém com meu sangue, e eu só quero ajudar, em nome de toda a família Zarov.

Descontrolada, talvez pela raiva, Rebecca gritou algo em russo. Pareceu uma ofensa ao general, que ficou corrompido pela raiva também, mas se conteve.

 Escutei alguns passos atrás de mim e imaginei ser Caleb, pois a mulher russa se levantou do banco e deu passos rápidos para encontrar quem quer que estivesse no fim do corredor.

Exalei todo o ar que podia umas seis vezes, só depois me sentei ao lado do tão comentado avô de Christopher.

—Está tudo em suas mãos – ele disse, em um determinado momento. – Espero que não seja fraca e medrosa, virtudes das quais você não me provou ser ainda, Blakely Jones.

Eu ri novamente, tomada pelo calor das minhas aflições.

—Russos dizem muito sobre força e coragem, não acha? – o olhei com certa felicidade no olhar, naquele momento eu já estava longe da razão, só que eu era forte que aguentaria firme. – Christopher deixou as decisões para mim, não foi? Mas ele não fez isso pelo fato de eu ser forte ou corajosa... Na verdade, nem sei se obtive tais virtudes ainda. Ele deixou para mim porque eu o amo e sei que ele me ama. Eu li os pensamentos dele... – lembrei-me vagamente do diário, me perguntando onde aqueles incríveis escritos teriam ido parar. – E sei exatamente o que ele faria nessa situação.

Permaneci em silêncio, sabendo que o general estava corroendo de curiosidade, mas cheio de uma suposta “força” e “coragem” que não o deixavam pedir uma resposta de uma vez por todas. Ele era orgulhoso e estava submetido as minhas ordens, isso acabaria com a moral de qualquer velho ranzinza como Hans Zarov. Mas eu deixei que tudo continuasse daquela forma...

Olhei para o lado e vi uma cena razoavelmente bonita no meio de tanta desgraça. Caleb e Rebecca se abraçavam, exalando amor e paz no meio do holocausto. Eles eram como flores em cemitérios.Em vista daquela cena, eu escolheria o destino de Christopher Robinson.

Deixei que algumas lágrimas corressem pelo meu rosto. Elas significavam minha dor por Ezequiel ter escolhido se afastar de mim, minha lástima ao ser incompreendida pela minha mãe e minha ruína por ter Christopher em um estado tão delicado como aquele.

—Talvez você ache sua verdadeira força engolindo seu orgulho – falei, em alto e bom som. – Christopher permanecerá na Inglaterra, independente de tudo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, meus caros!!! ♥
A historia infelizmente termina hoje :(
Me desculpem por não ter postado antes, eu tive uma viagem incrivel e nao pude postar antes de ir!



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