O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 43
Quadragésimo Segundo Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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—Do que você se lembra? – perguntou Mark, amigavelmente, porém senti um pingo de preocupação.

Ele estava nervoso, obviamente. Havia meio que falhado em seu trabalho de psicólogo comigo, já que não é todo dia que você deixa seu profissionalismo e cai nas mentiras de uma adolescente de pouco mais de quinze anos, sendo que, logo após sua falha, essa adolescente é espancada pelo pai de um amigo e uma gangue quase a estupra.

É... O que aconteceu pode parecer bem pesado se analisarmos com calma. Mas eu não me sentia tão mal quanto todos achavam. Fiz aquilo por um ideal maior.

Suspirei.

Aquela sala toda branca me dava nojo, as flores de mentira me enojavam mais ainda e estar ali era horrível, só que necessário. Estava na hora de dizer toda a verdade, de arcar com todas as consequências de ter guardado tantos segredos nos últimos meses e ter sentido tantos sentimentos loucos e abafá-los.

Eu sabia que meus pais estavam do outro lado da parede daquela sala, também sabia que Rebecca estava em uma consulta simultânea à minha com outro psicólogo (pelo menos foi o que eu concluí depois de olhar sorrateiramente alguns papéis que encontrei na bancada das enfermeiras).

Depois de tudo, acho que não me importa mais o certo ou o errado, só as intenções. Já havia perdido toda a noção do que estava acontecendo mesmo...

—Posso facilitar o trabalho? – perguntei e dei um longo suspiro, Mark pareceu não entender. – Chame meus pais... E eu digo tudo de uma vez. Você só vai mediar o conflito que minha mãe vai causar. Tudo se revelará. Eu não preciso de um psicólogo, tá bem? E nem tente fazer com que eu ache que precise, porque eu não preciso.

Rápida e direta.

O homem ficou pensativo por alguns momentos, talvez analisando quantos protocolos ele quebraria se permitisse aquilo, mas logo se deu por vencido e chamou meus pais. Não demorou mais de cinco minutos para que todos estivessem sentados ao meu redor, me encarando. Olhei para o chão o tempo todo, não queria ver todos aqueles rostos famintos por informações e preocupados, mesmo que fosse necessário. Odiava-me um pouco por ter escondido tudo.

—Blakely tem algo a dizer – Mark avisou meus pais. – Peço que não a interrompam durante sua fala. Iremos conversar de forma tranquila e organizada – senti seu olhar sobre mim. – Quando estiver à vontade, pode começar...

Respirei fundo, tão lentamente que quase senti o oxigênio se transformar em gás carbônico em meus pulmões.

—Eu espero que vocês me perdoem algum dia por ter escondido tanta coisa nos últimos meses – o nervosismo comandava meu corpo, mas de alguma forma eu conseguia me sentir confortável no meio daquilo tudo. – Quando Christopher entrou na escola, a primeira coisa que ele fez foi bater nos garotos que me atormentavam há anos. Eu nunca falei nada, porque não queria chatear vocês e esse pensamento se enraizou em mim desde... desde sempre, acho – eu ainda não havia olhado no rosto de nenhum dos dois, o chão parecia muito mais interessante. – À medida dos dias, Christopher e eu fomos nos tornando mais amigos e...

Eu travei, não porque não queria contar o que vinha depois, mas porque parte de mim sentia que não deveria contar do diário de Christopher. Aquele era o diário secreto de Christopher Robinson, e deveria permanecer assim para todo o sempre.

Meus olhos marejaram àquela altura do campeonato, não pude evitar.

—Eu me apaixonei perdidamente por ele e ele por mim, então fomos trocando nossos segredos... As marcas roxas no rosto dele e nos braços foram explicadas pouco tempo depois. Eu não podia fazer nada para ajudá-lo, isso era o que me matava. Ao mesmo tempo em que eu vivia esse inferno, também tinha que lidar com o fato de Ezequiel estar se apaixonando por mim, descobri os segredos dele graças a algumas coisas que você deixou escapar, papai. E outras que eu xeretei em suas coisas. Desculpe por isso também... – finalmente encarei alguém. Andrew estava controlado, porém triste, independente de seus sentimentos de mágoa, naquele momento ele deu um pequeno sorriso de canto, gesto que fez uma lágrima escapar de meus olhos.

Mesmo depois de tudo, eu sabia que meu pai ainda estava ali para mim. A sensação de conforto foi tão grande que sorri por poucos segundos, enquanto deixava lágrimas rolarem.

Eu deveria ter ficado tão imersa na minha dor, que nunca havia reparado quão amigo meu pai poderia ter sido. Muito pelo contrário, achei que sua posição de advogado só iria estragar tudo, mas talvez se eu tivesse contado, Christopher não estaria em uma cama desconfortável de hospital naquele exato momento.

—Com o tempo, tudo foi piorando. Não contei a vocês porque sabia que tudo pioraria, e também porque Christopher tinha o coração tão grande que ainda queria o seu pai por perto, mesmo que o espancando. Rebecca aguentava tudo pelo filho, mas ela era realista o suficiente para saber que seu marido nunca voltaria a ser o que era antes da bebida. Aliás... Ela gosta muito do senhor Dwayne, o que deixa tudo mais reconfortante para mim, porque sei que Christopher tem uma casa e uma vida próspera pela frente e não precisa de seu avô russo idiota que o abandonou à própria sorte.

“Sobre o que houve a uns dias atrás... Christopher iria voltar para a Rússia. Eu acho que não suportaria perdê-lo à esse ponto, por isso eu cometi a loucura de ir até um dos bairros mais perigosos de Londres em plena noite. Eu quase morri, só que Christopher me salvou novamente e ele cuidou de mim. Ele me salvou dos piores perigos, ele me salvou do próprio pai dele... – eu não conseguia mais controlar minhas lágrimas. – Só tem um motivo para ele estar em uma cama de hospital agora, e esse motivo sou eu. Ele me protegeu e talvez tenha até dado sua vida por isso. Sei que vocês esconderam o estado hospitalar dele de mim porque deve ser muito ruim, mas eu só... – coloquei as mãos no rosto, tentando não imaginar em como Christopher estava.

Não consegui continuar a falar. Tampei meus olhos e respirei fundo, só que o ar não entrava em meus pulmões. Puxei com mais força, como se estivesse no meio de uma crise asmática. De repente, senti braços ao meu redor, tinha certeza que era o meu pai, pois seu corpo me refugiava.

—Está tudo bem, Blakely – ele sussurrou. – Tudo bem...

Deixei que aquilo me preenchesse, e me entreguei, chorando no ombro da única pessoa que eu me arrependia de não ter contado tudo no início.

Definitivamente, eu estava em um refúgio.


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Notas finais do capítulo

Faltam menos de 3 capítulos para a fanfic acabar, pessoal! Fico extremamente contente com os comentários que andei recebendo e, de verdade... espero que não me xinguem pelo final que irão ler daqui alguns dias!



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