O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 42
Quadragésimo Primeiro Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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—Eu... – Christopher tentou dizer, os olhos marejados. – Preciso que você se esconda... Embaixo da cama... – escutamos o barulho de um objeto de vidro se quebrar no chão, o que me fez ter um leve susto. – Rápido, Blakely!

Ele tentou não me encarar.

—O que você vai fazer? – sussurrei, meu peito ardia de dor. Dor emocional que se tornou física. Eu estava preocupada de um jeito que nunca estivera antes.

—Vou fazer algo que eu deveria ter feito há muito tempo – disse, com os olhos fechados. Ele provavelmente também sentia dor no peito, porque coloquei minha mão ali e seus olhos se encontraram com os meus, de forma que percebi a dor em seu olhar.

—Por favor, fique bem – implorei e lhe dei um último beijo.

Christopher se levantou, ao mesmo tempo que escutamos um grito estranho de uma voz grossa e rouca. Provavelmente era Hunter dizendo algo em russo.

Arrastei-me para mais perto da cama e, quando Christopher me mandou um último olhar silencioso antes de sair pela porta, fui para debaixo da cama, me escondendo.

Escutei um grito feminino, logicamente de Rebecca. E então uma discussão em russo se iniciou, entre Christopher e Hunter.  Eu tremia de medo a cada grito agudo de Rebecca. Ela estava sentindo dor, isso era óbvio.

Eu não conseguiria ficar ali. Não conseguiria continuar escutando o caos e não fazer nada. Saí de debaixo da cama e rapidamente fui até a porta, espiando pela fechadura. O buraquinho me possibilitava ver um pedaço do corpo de Christopher, ele gesticulava e dizia coisas em russo, provavelmente ali já era a cozinha e não deveria haver sala. Pelo fato de minha mãe ser arquiteta, eu já ouvira falar um pouco sobre aquele tipo de apartamento. Corri silenciosamente até a janela, constatando que estávamos no primeiro andar de um prédio de, provavelmente, quatro andares.

Como os vizinhos não escutavam? Não chamavam a polícia? Não faziam nada?

Meus olhos marejaram e fui de volta à fechadura, chorando em silêncio. E mesmo com a visão um pouco embaçada, eu o vi pela primeira vez, em carne e osso. Logo ali, do outro lado da porta, estava o pior pesadelo de Christopher. Hunter Zarov, com seus cabelos escuros como petróleo, pele branca como a neve e corpo grande, forte e ameaçador. Ele gritava com Christopher. O garoto loiro parecia tão pequeno ao lado de Hunter. Pai e filho discutiam, Christopher chorava e então Hunter gritou em inglês, a única coisa que eu captara até agora:

—Você não sabe o que é dor – e então, rápido como um relâmpago, deu um soco em seu próprio filho, que cambaleou e caiu no chão. – Está doendo? Saiba que isso não é nada comparado ao que eu senti por culpa da sua mãe. Isso vai te fazer forte, vai fazer... – não consegui entender as próxima palavras, o cérebro de Hunter misturava russo e inglês em algumas frases, isso tudo por conta da bebida.

Minha mente não conseguia entender. O que ele estava fazendo? Batendo em seu filho e em sua esposa para torná-los mais forte? Rebecca o havia feito sentir dor? Eu não entendia. Na verdade, acho que nem Hunter entendia, por isso fazia isso enquanto estava bêbado.

Christopher desaparecera do meu campo de visão depois disso e tudo o que restava era o seu pai. Por um segundo ele suspirou e então olhou em minha direção, seus olhos intensos iguais aos do filho pareceram me enxergar. Saí de perto da porta e me afastei um pouco. Era impossível que ele tivesse conseguido me ver, mas então eu escutei passos rápidos e fortes em minha direção.

Não, não era possível que ele tivesse me visto. Dei passos para trás, até tropeçar e cair em cima de uma das minhas pernas. Depois disso, permaneci estarrecida, independente da pequena dor da queda, não conseguia me mover ou, muito menos, me esconder. Então a porta se abriu em um solavanco e eu o encarei pela primeira vez, Hunter agora não era só o pior pesadelo de Christopher, mas também o meu.

Ele estava bem ali, na minha frente. Alto, grande e forte. Seus olhos fixaram-se em mim de uma forma estranha.

—Pai! Não... – Christopher gritou e tentou agarrar o braço de seu pai, já sabendo que ele o levantaria para me bater.

Entretanto, em um movimento tão simples, Hunter de desvencilhou e jogou seu filho na parede, fazendo-o bater as costas e um barulho alto ecoar pelo pequeno apartamento.

A esse ponto eu já estava chorando. Christopher estava caído a alguns metros de mim, percebi que ele já tinha um olho roxo e o beiço cortado, seu olhar de dor vacilava de mim para seu pai, com medo.

—Quem é você? – a voz grossa e alta de Hunter se dirigiu a mim, mas eu estava tão assustada que não consegui dizer nada. Logicamente ele voltou a gritar comigo, dessa vez em russo. Talvez refazendo a pergunta em sua língua nativa para ver se eu entendia agora. Logicamente não foi o que aconteceu.

Eu estava atordoada demais, era como se tudo estivesse congelado, travado, parado... Não conseguia me mover, tamanho era o estado de choque ao qual eu me encontrava. Só que então tudo isso foi quebrado quando Hunter ameaçou me atacar. Tudo aconteceu rapidamente e em questão de segundos Christopher estava entre mim e seu pai.

—Você não vai machucar a minha namorada, seu mostro – foi tudo o que Christopher disse antes de agarrar seu pai e levá-lo de volta para a sala, onde a briga acontecia antes.

Eu sabia que nada de bom aconteceria, mas em meio a todo aquele caos eu pensei que pelo menos alguma coisa estava certa. E essa alguma coisa era meu amor por Christopher.

“... minha namorada...”

Ele estava lutando por mim, para me proteger, e eu pretendia fazer o mesmo por ele. Consegui me levantar e andar alguns passos até a porta, mais a frente eu via Rebecca caída no chão, chorando, junto a estilhaços de vidro e sangue. Seu rosto estava coberto de pequenos arranhões e alguns caquinhos.

Aproximei-me dela, enquanto sentia a sanidade mental voltar a mim.

—Temos que ligar para a polícia – eu disse, firme e claramente. Não iria mais ficar sentada sem fazer nada enquanto Christopher apanhava de seu próprio pai.

Os olhos de Rebecca se arregalaram ao escutar a palavra “polícia”, a frustração e o medo ficaram mais evidentes em seus olhos do que nunca.

—M-mas...

—Já está mais do que na hora de dar um fim a esta situação! – falei, vendo que ela já procurava algo em seu bolso, talvez um celular.

Minha ideia foi confirmada quando Rebecca olhou para o lado e achou seu celular estatelado no chão, a tela estava quebrada, mas como era um modelo bem antigo, até mesmo tinha teclas, era bem provável que ainda estaria funcionando por ser menos sensível a quedas.

Peguei rapidamente o aparelho nas minhas mãos, mas quando estava prestes a discar o número, um grito de Rebecca me interrompeu.

—Hunter! – ela berrou tão alto que meus tímpanos chegaram a doer. – Não!

A mulher ruiva se levantou, desesperada, correndo por um estreito corredor e dando em uma pequena sacada, onde vi Hunter e Christopher brigando. Porém, quando me toquei o que ia acontecer, eu entrei em choque novamente. Todo aquele discurso sobre ser forte havia ido por água abaixo...

Era uma briga de força ali. Christopher estava exprimido, entre o corpo de Hunter, que o empurrava, e a grade da sacada, se vacilasse um segundo, cairia do primeiro andar. E ele estava realmente prestes a cair quando Rebecca chutou Hunter por trás e o agarrou, dispersando-o por alguns segundos, tempo suficiente para Christopher sair de perto da grade, que era de mais ou menos um metro e meio, porém seu pai conseguiu ser mais forte e colocou um dos pés para fazê-lo tropeçar.

Meu corpo tremia, até que algo vibrou em minhas mãos. Era o celular. Mesmo estando com a tela quebrada, vi que era uma mensagem. Eu precisava ligar para a polícia, para a emergência, para os bombeiros, para quem quer que fosse... Entretanto, em meio ao barulho daquele guerra e o caos interno dos meus sentimentos, não conseguia lembrar de nenhum número de telefone.

Escutei mais um grito agudo de Rebecca e então meus dedos mexeram-se involuntariamente, discando para o primeiro número que veio em minha cabeça. Coloquei o celular perto da orelha, tomando cuidado com os caquinhos que havia na tela trincada.

—Alô? – escutei de repente a voz de meu pai.

Soltei uma pequena exclamação, eu mal percebera que digitara o número dele. Na verdade, mal me lembrei da minha família até aquele momento.

—Blakely? Filha? É você? – um misto de esperança e tristeza tomou conta dele subitamente.

—P-pai – disse, já em meio a lágrimas.

—Querida! Onde você está? Há alguém com você? Está machucada?

Várias perguntas foram feitas, mas eu precisava ir logo. Olhei para a estreita sacada, a ponto de ver Hunter desferir um chute na barriga de Christopher, que estava caído no chão. O garoto gritou alto, o que me assustou.

—De onde vêm esses gritos, filha? Fale comigo!

Finquei as unhas em minha própria carne, buscando concentração.

—Preciso que venha até Beaufoy Road, Tottenham. É um prédio, número 22, primeiro andar. – falei, tentando voltar a demonstrar firmeza, mesmo chorando. – Traga ambulâncias e a polícia.

—Filha, filha... Tem alguém com você? A polícia já está a caminho. Você está machucada? – a afobação era visível em sua voz. Eu sabia que provavelmente ele estava ao lado de uma série de policiais e que talvez até a nossa ligação estivesse sendo grampeada.

—Pai, eu estou bem. Agora venha para cá o mais rápido possível.

E sem mais delongas eu desliguei o celular, voltando minha atenção para a sacada, a tempo de ver Hunter desferir mais um chute em Christopher. Corri para tentar segurar Hunter junto com Rebecca, mas quando olhei para o garoto loiro no chão, sujo de sangue e cuspindo um pouco daquele líquido vermelho no piso... Meu mundo parou por alguns segundos e isso deu tempo a Hunter para me desferir um golpe pelas costas, tão forte que cai ao lado do garoto que amo, vendo de perto aquela cena que tanto me faria ter pesadelos no futuro.

Fechei os olhos por um instante, não querendo continuar a ver tudo aquilo, mas me forcei a levantar e a continuar a luta. Olhei para o homem que se debatia com Rebecca em suas costas tentando segurá-lo para impedir que chegasse perto de seu filho novamente. Tentei me focar apenas em um membro, o braço direito, e foi isso o que fiz. Agarrei seu braço e tentei puxá-lo, assim como Rebecca fazia com o tronco de Hunter.

—Soltem-me! Ele precisa aprender... – gritou em um determinado momento em inglês, a única coisa que captei, já que a maioria dos gritos estava em russo.

No meio de tudo aquilo, eu levei outro golpe. Dessa vez foi um soco forte no rosto, tão forte que caí com força no chão, colocando as mãos na boca e constatando que estava sangrando. Ao meu lado, Rebecca também foi arremessada, o que mostrava que Hunter estava solto.

Não demorou muito para sentir minha pressão cair e a visão começar a escurecer ao ver que aquele homem repugnante estava chegando perto de Christopher. Porém, para minha surpresa ele se agachou e pegou o filho no colo. Eu achei que talvez um milagre estivesse acontecendo e Hunter havia ficado sóbrio do nada e agora iria amar e cuidar de seu filho, mas todos esses pensamentos sumiram assim que vi ele se virar em direção à grade e a vista da sacada.

—Não! – berrei, sentindo todo meu corpo passar por um stress sobre-humano. – Não o jogue!

Rebecca gritou e chorou, levantando-se novamente e tentando proteger mais uma vez o filho. Porém, ela havia chegado tarde demais e o corpo de Christopher já fora jogado do primeiro andar, indo direto ao solo. O barulho da queda foi alto, e eu senti como se uma parte do meu coração também tivesse caído por aquela sacada.

Eu via tudo embaçado e gritava de tanta dor que eu sentia, tanto física quanto emocional.

Lembro-me apenas de ter colocado as mãos no rosto e escutar o forte barulho das sirenes. Só que o socorro havia chegado tarde demais, o meu mundo já havia se perdido.


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Notas finais do capítulo

Enfim, aqui mais um capítulo para voces! Espero que tenham gostado... Obrigada aos que nao me deixaram!



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