O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 36
Trigésimo Quinto Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que passei todo esse tempo sem postar, mas é por um único motivo: ESCOLA!!!
Projetos, provas, viagem de formatura... eu estou cansada! Aos poucos vou continuando a fic, mas relaxem. Eu estou tentando escrever no meu tempo vago e já tenho alguns capítulos em correção com a beta :D



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Quando pisei meu pé naquela sala de aula, soube instantaneamente que tudo seria diferente. Era meu primeiro dia de aula depois de uma semana cheia de lágrimas, surtos e recaídas.

 –Bem vinda, Blakely – o senhor Parrish me disse. – Sente-se!

 Pelo menos eu tivera um bom conselho de Mark naquele dia. Ele fora gentil comigo, até porque estava sendo pago. Entretanto, eu tentava acreditar que em pelo menos um minuto de nossa consulta, ele se esquecera de que era um profissional e se tornara um amigo.

 –Obrigada, senhor Parrish – suspirei e fui para o meu lugar.

 Notei que a carteira atrás da minha estava vazia e a do meu lado também. Aquilo seria um inferno...

—Pessoal, hoje veremos um pouco dos pensamentos de Fritjof Capra a respeito da Teia da Vida...

Senti um cutucão irritante no meu braço esquerdo e pude ver que alguém se aproximava vagarosamente de minha orelha.

 –Seu namoradinho assustador não está mais aqui para te proteger, está? – aquela voz... era de Harrisson!

 Cravei as unhas na pele, apenas para não dar àquele idiota o prazer de me ver nervosa. Não ousei olhar para trás. Fazia tempos que não escutava ou via aquele menino. Ele tinha medo de Christopher e deixara isso transparecer de uma forma tão idiota que só pude pensar que o QI de Harrison era nulo.

 –Algum problema, Harrisson? – perguntou senhor Parrish, direcionando um olhar desaprovador para o garoto.

  Respirei fundo e contei até dez devagar. Não estava conseguindo prestar atenção na aula, mas pelo menos o tempo estava passando.

  Aguente até o sinal bater... Aguente até o sinal bater...

 Meus olhos se focavam no senhor Parrish, que olhava para mim também. Eu via pena e tristeza nele. Não precisava daquilo... Não precisava da pena de ninguém!

Em um determinado momento, fechei meus olhos por alguns segundos e tentei imaginar o futuro que eu queria para a minha vida daqui um tempo. Esse fora um dos conselhos de Mark. Porém, eu não consegui ver nada, apenas escuridão.

Meu peito doía e, quando menos esperava, escutei o sinal do primeiro intervalo bater e a baderna dos alunos para sair logo da sala. A aula de Filosofia acabara, só que ao invés de sair da sala como todos os outros estavam fazendo, o senhor Parrish viera em minha direção.

Senti a dor aumentar.

—Não quero sua pena! – eu disse, olhando em seus olhos, queria que ele visse o que eu estava sentindo. Confiava nele.

—E eu não vim dá-la a você, Blakely – passou a mão levemente em meu cabelo. – Não entre em colapso, criança. Tudo avança e se expande.

Abaixei o olhar. Ele tinha razão de certa forma, eu estava tentando entrar em colapso ao invés de fazer alguma coisa realmente útil para sair logo daquela situação.

—Obrigada, senhor Parrish. É que... – calei-me ao ver que não havia mais ninguém na sala além de mim.

Aquele homem era uma sombra, porém eu sabia que era uma sombra “boa”. Ele sabia a história inteira, mesmo eu não tendo dito nada. Minha aparência, minhas ações... Elas diziam muito mais do que minha boca.

Não peguei meu lanche, na verdade, eu até havia me esquecido que havia trazido comida. Apenas peguei a chave do armário, tinha que pegar os materiais das outras aulas.

Andei pelos corredores calmamente, olhando mais para o chão do que para frente. Quando cheguei até meu armário, pude escutar o som de passos pesados atrás de mim. Havia alguns garotos ali, para ser específica eram quatro. Harrison Wayne, Alan Carpenter, William Blackhood e Miles Gunner.

É claro que isso aconteceria... Eu só não tinha pensado nisso antes!

—Eu estava sentindo falta... – disse Harrison, estralando os dedos e me olhando com um sorrisinho no rosto.

Muita coisa havia acontecido desde que ele tentara me bater pela última vez. Eu poderia resumir tudo em apenas duas palavras: Christopher Robinson. Ele mudara tudo ao qual eu chamava de mundo.

Sorri para Harrison também. A uns meses atrás eu diria que estava sorrindo para a morte, mas naquele momento eu estava sorrindo apenas para um idiota. Aqueles garotos não faziam ideia do que eu me tornara, das coisas pelas quais eu passara.

Harrison foi chegando cada vez mais perto e eu o encarei sem hesitar, não tinha mais medo de algo tão idiota como aquele garoto.

—Cadê seu namorado assustador para te proteger, Blakely? – disse ele, rindo com seu grupinho de valentões covardes.

—Deve estar fazendo coisas de namorado assustador por aí... – zombei, apenas para deixá-lo irritado.

Harrison rangeu os dentes de raiva e levantou sua mão, louco para dar um soco em mim.

—Ah, sua garota idio...

Fui mais rápida e desviei, fazendo com que o garoto batesse no metal duro do armário. Aproveitei o momento de dor de Harrison, no qual ele urrava e segurava a mão, dei-lhe uma cotovelada forte entre as costelas. Sabia que não teria força e nem capacidade de dar um soco, eu era tão fraca e magra, mas pelo menos meu cotovelo era duro e pontiagudo.

—Eu não tenho medo de nenhum de vocês – falei alto, claro e em bom som.

Alan e Miles foram ajudar Harrison, a mão dele parecia estar sangrando. Pensei em sair, mas ainda sobrara William. O garoto estava diante de mim, os olhos azuis denunciavam certo medo.

Nunca achei que aquilo fosse acontecer, alguém estava com medo de mim e eu pude ver os olhos dele vacilando, William mal conseguia sustentar seu olhar, apenas estava ali, parado e sem reação. Talvez estupefato demais para demonstrar qualquer outro sentimento senão o medo.

Mal acreditei na situação.

Coragem. Era o que me consumia.

                                               ***

“–Você sabe o que é amor? – Mark perguntou, olhando de forma divertida para mim. Uma garota de catorze anos logicamente não saberia o que era o amor, me senti imatura e pequena.

Neguei com a cabeça, sentindo o rosado nas bochechas.

—Amar é doar-se, Blakely – explicou o psicólogo. – Quando você ama alguém, você dá seu tempo, seu afeto e até a si mesmo a essa pessoa. Constrói memórias. Partilha outros sentimentos, como felicidade, tristeza e, até mesmo, dor. Essa pessoa meio que... Marca sua vida. Muda você para sempre.”

Lembrei-me vagamente daquele momento entre mim e Mark.

Peguei meu caderninho preto de anotações e poesia, fazia semanas que não escrevia nada nele. Aquela consulta me inspirara, não poderia explicar em palavras o quão esclarecedor tivera sido para minha vida e coração.

Eu não estava mais tão triste, só que ainda estava dolorida.

Christopher deixara-me. Ezequiel estava doente psicologicamente por causa do suicídio de sua irmã. E mais... Eu não tinha mais o Diário ali comigo, e aquele era o objeto que conectava eu a Christopher.

Estava sozinha...

Sentei-me ao lado da cama, no chão mesmo, apenas com meu caderninho no colo e uma caneta em mãos.

Marcar-me”, escrevi.

Christopher marcara-me?

Ezequiel marcara-me?

Soltei um suspiro triste. Eu não sabia o que pensar direito para responder àquelas perguntas.

“Perdendo e apodrecendo a alma”, anotei no caderninho aquela pequena frase que viera à cabeça.

Coloquei minha mão na madeira fria do chão e fiquei olhando por um tempo para o piso, reparando em cada pequeno detalhe, de vez em quando batendo meus dedos como se estivesse tocando piano. Estava absorta em pensamentos bobos e no tédio, até que coloquei minha mão debaixo da cama em um gesto involuntário e talvez idiota, senti uma folha de papel ali debaixo, a peguei para ver o que era.

Eu imaginei que fosse um rima boba que fizera, arrancara a folha e que tinha ido parar ali por culpa do vento. Imaginei também que fosse só uma sulfite branca que deixei cair sem querer. Talvez algum exercício escolar de anos atrás... Mas, para falar a verdade, não era nada disso. Nem era uma folha de papel direito.

Era uma fotografia!

Meus olhos marejaram. Não era uma fotografia comum, ela retratava um dos melhores momentos da minha vida. Perguntava-me como era possível aquilo estar debaixo da minha cama.

Logo eu já me encontrava chorando silenciosamente, passando os dedos sobre a imagem e apreciando.

A fotografia era uma polaroid minha e de Christopher no museu. Nós dois estávamos juntos diante de uma das invenções de Leonardo Da Vince, nos olhávamos e sorríamos. Eu com meu vestido vermelho e ele com o novo corte de cabelo. Parecíamos tão felizes...

Ao virar a imagem, me deparei com a caligrafia maravilhosa de Christopher.

Um fotógrafo veio me dar essa polaroid depois que Blakely foi embora chorando naquela tarde, Diário. Ele disse que éramos um belo casal, eu não o corrigi porque sei que é verdade”.

Aquilo fora como uma bala. Ela estava encravada no meu peito, me impedindo de respirar e aumentando ainda mais minhas lágrimas. Provavelmente Christopher colocara aquela fotografia no Diário e então, em um determinado momento, ela caíra e o vento a jogara para debaixo da minha cama.

Ah, como aquela bala encravada doía!

Aquilo era uma memória que havíamos construído juntos, um momento que me marcara.

Marcara...

No fundo, eu sabia exatamente o que isso significava.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem! Eu tentarei postar o próximo em menos de um mês