O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 32
Trigésimo Primeiro Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, gente! Adorei os comentários que vocês deixaram no capítulo anterior, sério... Fiquei emocionada com todos! ♥ Fiquei tão feliz que deu vontade de postar mais, até porque sei que vocês querem saber também o que vai acontecer, não é?
Pois bem...
Boa leitura!



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Blakely e Ezequiel são minhas anestesias. E eu agradeço profundamente a eles!”.

 Aquele trecho do diário de Christopher resumia tudo. Ele o escrevera dizendo que éramos como uma válvula de escape. Porém, talvez não o sejamos. Ao invés de dizermos de uma vez a ele que seu pai nunca se recuperará, nem damos opinião sobre isso e nosso silêncio está sendo mal-visto, porque no fundo sabemos qual é a realidade.

 Esse era o pior problema: Christopher estava iludido cultivando a ideia de que Hunter voltaria a ser como antes.

 Mais um trecho do diário que comprovava isso, porém um pouco mais antigo:

 "Papai ficou um dia sem beber. Ele acordou e perguntou por que estávamos machucados, se preocupando comigo e minha mãe.

   Ainda há amor nele, eu sei que sim. Temos apenas que acreditar e ter fé, tudo vai melhorar.

   Minha mãe não teve coragem de respondê-lo, apenas chorou em seus braços. Eu o abracei bem forte e disse que o amava.

   ‘Eu também te amo, filho’. Essa foi sua resposta, pelo menos uma vez em meses ele me dissera isso.

  Eu tenho certeza de que tudo vai melhorar, se o vovô nos ajudasse tudo já teria acabado, mas ele deve ter um motivo para não estar mais ligando para nós e nem mantendo contato, talvez seja o trabalho.

  31/04/2014”.

 E logo em seguida, o trecho de uma semana depois, dizia o contrário e estava escrito em uma letra carregada de raiva em garranchos:

 “Eu estava completamente enganado, Diário. Ele não está melhorando, só piorando.

 Bebeu de novo, chegou em casa e bateu novamente em nós. Como se não bastasse, fez a mesma coisa na semana inteira, fazendo-me adquirir uma horrorosa cicatriz no ombro direito.

 Já o vovô? Adivinha, Diário... Ele não quer mais saber de nós.

 Eu desisto do meu pai. Desisto de tentar melhorar as coisas.

Pelo menos minha mãe conseguiu um emprego hoje, ela disse que o chefe dela (um tal de Caleb Dwayne) quem fez a entrevista e disse que mesmo não tendo uma faculdade ou curso técnico, minha mãe era a pessoa perfeita para ajudá-lo como secretária.

É, ainda há pessoas boas no mundo, só que por enquanto elas estão em minoria”.

Respirei fundo, percebendo como a situação de Christopher tinha seus altos e baixos. Ora sóbrio, ora bêbado... Esse era o pai dele.

Coloquei o diário em cima da cama, pronta para descer e ir comer alguma coisa na cozinha. Eu estava passando à tarde com meu pai. Finalmente um dia em que ele não trabalhava e se dedicava a mim.

 ̶ Acho que tem presunto e queijo na geladeira – disse meu pai, quando cheguei à cozinha. – Dá para fazer um ótimo lanche.

Sorri. Parecia que ele e minha mãe haviam conversado sobre eu ser uma garota e não gostar muito de esportes, pois nunca mais praticamos basquete.

Peguei um pão em cima da mesa e comecei a cortá-lo na metade, enquanto meu pai pegava as coisas de que precisaríamos na geladeira. Cortei um para ele também e depois de recheá-los, sentamos um de frente para o outro à mesa.

 ̶ No três, mordemos juntos! – ele disse, como se tivesse voltado a ser uma criança. – Um... Dois... Três!

Mesmo rindo, consegui morder o pão e mastigá-lo sem me engasgar. Parecíamos ter oito anos de idade.

  ̶ Pai! – exclamei, quando todo o queijo ficou para fora de sua boca, com

certeza tentou dar uma mordida grande e não aguentou.

 ̶ Eu... – ele não conseguia dizer nada, apenas tentava mastigar.

Com certeza todo o presunto e queijo que estavam no pão, foram tirados apenas naquela mordida.

Depois de tentar mastigar umas quinhentas vezes, meu pai finalmente conseguiu enfiar toda a comida na boca. Comecei a sorrir, entretida com a cena, mas um barulho alto tomou meus ouvidos, me fazendo ficar séria e encará-lo.

Droga! Droga! Droga!

Era o celular dele. Com certeza era o chato do Martin querendo que meu pai voltasse a trabalhar.

Não... Ele não podia! Era nossa tarde.

Suspirei, vendo que ele mastigava rápido para poder atender logo quem quer que fosse.

 ̶ Boa tarde, Martin! – disse. – O que aconteceu?

Revirei os olhos, já sabendo que daqui a dez minutos estaria sozinha em casa.

 ̶ Tem certeza? Olha... Espere... Espere só um minuto! – meu pai me olhou triste e depois tirou o celular do ouvido. – Eu sinto muito, querida. Tenho realmente que atender!

Assenti, vendo ele se levantar e sair da cozinha para o quintal. Eu sabia que tinha algo a ver com Ezequiel e sua família, mas ficava em dúvida se deveria respeitar a privacidade dele ou não.

Eu estava com medo do que provavelmente iria fazer. Mas... Mas... Ele era meu amigo! Eu só queria o bem para Ezequiel.

Albert Medeiros (familiar da vítima). Caso 44. Estupro em menor de idade”.

Aquele escrito no envelope que achei no escritório do meu pai veio à cabeça.

Desculpe, Ezequiel! Desculpe... Eu sinto muito de verdade!

Encostei-me à porta, que devido à pressa por parte do meu pai, estava entreaberta.

̶ O que disse é verdade? – por um segundo, parei até de respirar para ver se conseguia escutar melhor.– V-vocês conseguiram pegá-lo? – meu pai perguntou, parecia muito nervoso e tenso.

O silêncio se estabeleceu por um curto tempo, fazendo-me pensar que a qualquer momento ele abriria a porta e me pegaria no flagra.

Só que então, escutei uma parte da conversa que para sempre ecoaria em minha mente:

̶ Precisamos fazê-lo pegar a pior das penas, ele estuprou uma garota de quinze anos, Martin. Quinze anos! Essa garota morreu, você sabe. É apenas justiça...

Foi como uma pancada.

Fechei os olhos com força, lutando contra os fatos. Saí de perto da portae como não via nada, tropecei sem querer em uma cadeira e me estatelei no chão. Minhas mãos tocavam a cerâmica fria e a luta dentro de mim não acabava.

A irmã de Ezequiel... Arkansas... Estupro... Morte no parto... Tudo fazia sentido naquele terrível momento!

Coloquei as mãos no rosto, lutando contra as lágrimas. Não conseguia imaginar como seria ser estuprada e ficar grávida. Não conseguia imaginar a dor de um pai ao ver sua filha assim. Ou melhor, não conseguia imaginar como seria morrer em um parto por conta de uma criança que foi gerada pelo seu pior pesadelo.

Chorei internamente, tentando não deixar meus olhos marejarem.

 ̶ Ah, meu Deus, filha! O que aconteceu? – a voz de meu pai me tirou do transe, dando-me também um pequeno susto.

 ̶ Ahn... Eu... Tropecei na cadeira – falei devagar, indicando que eu não estava bem. Pensei na melhor desculpa para aquele momento, mesmo sabendo que não cairia tão bem para um advogado. – É que... Acabo de me lembrar que tenho uma prova amanhã e não estudei nada!

Dei uma risada nervosa e logo em seguida me levantei.

 ̶ Você pode ficar estudando enquanto sua mãe não chega, certo? – ele perguntou, como estava com pressa nem se tocou que era uma desculpa. Sorte. – Eu sinto muito mesmo, querida! Sei que era nossa tarde juntos, mas eu vou ver se consigo uma outra folga.

 ̶ Uma folga de verdade! – falei.

Ele riu e me deu um beijo na testa, já pegando a chave do carro e indo até a garagem. Estava combinado que minha mãe pegaria carona para o trabalho e que eu e meu pai iríamos buscá-la, mas como o destino nunca estava a favor de Blakely Jones, aquela se tornara uma tarde terrível.

Fui até a varanda, vendo que meu pai acenava de dentro do carro e dava uma curta buzinada. Acenei de volta e depois entrei em casa novamente, apenas escutando o barulho dos pneus.

Ao pensar em Ezequiel, uma lágrima traçou um caminho em minha bochecha.

O que eu poderia fazer por ele? Nada!

Sentei-me no sofá, encolhendo os joelhos. Não aguentei, eu estava sozinha, ninguém iria presenciar minha dor, por isso chorei, derramando minhas lágrimas como se fosse ajudar em algo.

Nada.

Nada.

Nada.

Como doía ouvir essa palavra. Gostaria de ser uma psicóloga ou até mesmo uma advogada como meu pai para poder ajudá-lo.

Deixei-me levar por um segundo pensando no que ele estaria fazendo nesse exato momento.

Pelo visto, não era só Christopher que tinha seus segredos.

Ezequiel era também outra caixinha de surpresas.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado! Postarei mais em breve... Não demorarei, não... Até porque estou de férias e disse que ia chover capítulos para vocês kkkkk