O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 26
Vigésimo Quinto Capítulo


Notas iniciais do capítulo

E aí, meus Bocaiúvas!!! Eu peço desculpas pela demora na postagem :) Eu tive provas muito difíceis nessas últimas semanas, mas felizmente consegui me sair bem em todas, inclusive gabaritei algumas. Eu quero agradecer a nova leitora, Lett-chan, que comentou e leu todos os capítulos e ainda me ajudou sinalizando alguns erros ♥
Boa Leitura!



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Quando o despertador tocou, foi um inferno ter que sair da cama e de debaixo do meu cobertor quentinho. Me perguntei como Christopher aguentava andar de madrugada pelas ruas perigosas de Londres e acordar completamente disposto no dia seguinte. Ele era forte até nesse quesito.

 Assim que finalmente consegui me levantar, fui até a escrivaninha e toquei levemente no diário que ali repousava. Eu o leria hoje de tarde, decifraria o mistério que há muito tempo deveria ter sido decifrado.

 Coloquei rapidamente uma calça jeans confortável e uma blusa vinho lisa, peguei uma jaqueta preta e me apressei para colocar o tênis. O cabelo estava desgrenhado e parecido com uma juba, como sempre, mas me preocuparia com ele depois.

 Desci as escadas a passos rápidos e quando cheguei à cozinha, vi meu pai comendo um pão integral. Fiquei um pouco grogue, ele sempre acordava mais tarde.

—Pai? – minha voz saiu rouca e eu quase não o enxerguei direito, meus olhos ardiam de sono.

—Vou te levar para a escola hoje – explicou, empurrando com o pé uma cadeira para eu sentar. – Queria conversar com você no caminho e também precisava trabalhar mais cedo.

Talvez fosse no caminho de casa para o colégio que o interrogatório aconteceria. Continuei um pouco confusa. E minha mãe?

Como se lendo meus pensamentos, meu pai se apressou e disse:

—Sua mãe acabou de sair, te mandou um beijo.

Ela deveria estar chegando ainda mais cedo para repor o horário que perdera ontem comigo. Odiei saber que por culpa minha ela estava se sacrificando.

Suspirei, tentando tirar o sono de mim. Depois me sentei e comi algumas bolachas de maisena com manteiga, além de tomar um achocolatado bem quente.

—Estamos em cima da hora – disse meu pai, assim que eu dei o último gole. – É assim todos os dias com sua mãe?

Soltei uma pequena risada e logo subi correndo as escadas para pegar um prendedor de cabelo e escovar os dentes. Fiz tudo isso em cinco minutos, batendo meu recorde, que antes era dez.

Ao pegar minha bolsa e entrar no carro, vi que estava apenas um minuto atrasada do horário de sempre. Meu pai riu com minha cara de alívio e logo deu partida no carro.

Mas todo o humor acabou ao me lembrar de que seria agora que a nossa conversa se iniciaria.

Ele respirou profundamente. Eu conhecia meu pai, sempre respirava assim quando estava prestes a falar algo importante.

—Filha... – disse, com a voz embargada de algo que eu achava ser lamento. – Sinto muito ter que te dizer isso, mas eu não gostei de Christopher. Não sei o que aquele garoto tem, mas... Não é bom.

—Você mal o conhece! – contestei imediatamente, fazendo meu pai estranhar meu temperamento.

Ele apenas me encarou sério e mudo enquanto esperava alguns pedestres passarem. Percebi que havia acabado de estragar toda a conversa, ou o início dela.

—Você sempre diz que não devemos julgar as pessoas – tentei achar um argumento, mas eu sabia que aquilo não seria o suficiente para consertar a cagada que eu havia feito.

Às vezes eu me perguntava se algum dia poderia falar o que me viesse à cabeça sem me preocupar com o que meus pais achariam, sem me preocupar no que minhas palavras iriam desencadear... Talvez isso nunca fosse acontecer. Ser filho de um advogado/psicólogo era mais difícil do que muitos imaginavam.

Meu pai acelerou com o carro, ainda mudo.

—Eu vou dar uma última chance àquele garoto – disse, depois de vários minutos em silêncio. – Chame Ezequiel, o filho do meu cliente, e ele para jantarem em nossa casa no sábado.

Minhas mãos começaram a suar, como sempre faziam quando eu me via nervosa ou em pânico.

—E como esse jantar vai servir de “chance”? – perguntei, sabendo que meu pai analisaria cada movimento que Christopher desse para então tomar uma conclusão e julgá-lo.

—Ele não me pareceu uma boa influência, por mais educado que seja – explicou. – Mesmo rindo e conversando, parece ser bem distante emocionalmente. Só espero que meu diagnóstico a respeito de Christopher esteja errado, por isso queria conhecê-lo melhor neste jantar.

Irritei-me.

—Ele é meu amigo, não um ratinho de laboratório que você pode ficar analisando! – elevei um pouco o tom de voz, assustando-me comigo mesma. – E que eu saiba, você não queria ser psicólogo, foi o vovô que te obrigou a fazer a faculdade.

Merda!Merda!!Merda!!!

Naquele momento, soube que havia ultrapassado todos os limites que existiam entre nós há anos. Eu sabia, na verdade, sempre soube, que vovô e ele tinham problemas, mas não sabiam que eram tantos...

Meu pai estacionou o carro na frente de Dallington, mudo, mas visivelmente irritado e magoado. Doeu saber que eu havia causado aquilo.

—Boa aula – foi tudo o que disse.

Atordoada e sem saber o que fazer, abri a porta do carro e saí com minha bolsa nas costas. Antes de fechar a porta, tentei amenizar a situação.

—Desculpe, pai – sussurrei, mas ele olhava para frente, sem nem dar bola para mim.

Andei silenciosamente para a entrada do colégio, fui até os armários e amargamente peguei os livros que precisava naquele dia. Quando eu estava prestes a ir para a sala, um garoto loiro me fez parar de andar e encará-lo.

—O que aconteceu? – Christopher perguntou, visivelmente preocupado.

Fiquei muda, sem saber como dizer.

—Blake! – insistiu ele.

No ímpeto, o abracei. Eu estava precisando tanto de um abraço naquele momento. Quero dizer, eu estava precisando de abraços o tempo todo.

—É o meu pai – disse em seu ouvido.

—Já imaginava que ele não fosse gostar de mim – respondeu, me afastando um pouco e sorrindo para me confortar. – O que ele disse para você?

Antes de responder, avistei Ezequiel vindo em nossa direção. Ele sorria, como sempre, mas havia algo de estranho naquele sorriso, não parecia verdadeiro.

Assim que os dois amigos se cumprimentaram e olharam para mim, eu finalmente falei:

—Meu pai chamou vocês dois para jantarem em casa, no sábado.

Por um segundo, ambos ficaram sem reação. Logo depois, Ezequiel soltou um pequeno “uau”.

—Ele falou algo parecido para o meu pai há uns dias, disse que queria conhecer a mim e ao Chris melhor – comentou.

—Então Andrew já não gostava de mim – constatou Christopher, olhando para o chão. – Ele é um advogado e fez psicologia, eu não vou conseguir enganá-lo.

Fiquei cabisbaixa.

—Nós acabamos de brigar – falei. – Ele quer analisá-lo, Christopher. Você tem que fazer alguma coisa, ao menos tentar.

Meus olhos abrigavam um olhar pidão e fiquei remoendo o mesmo pensamento por segundos e mais segundos.

Eu estava realmente implorando a um garoto para tentar enganar meu pai?

Ezequiel tentou confortar Christopher, que estava tão atordoado quanto nós dois.

—Ainda faltam cindo dias até sábado, cara. Vamos pensar em algo.

Eu queria continuar ali, tentando achar uma solução, mas então o sinal tocou e tivemos que ir de qualquer jeito para a sala.

                                                     ***

Ao voltar da escola, não vi meu pai, apenas minha mãe. Ele estava me evitando, era óbvio. Com certeza pensaria na melhor forma de conversar comigo e me entender, mas eu sabia que não daria certo. Ele não conhecia Christopher do modo como eu conhecia.

O único lugar onde pude achar um tipo de refúgio foi no simples e rústico diário. Havia algumas páginas em árabe, respeitei a privacidade de Christopher e nem busquei uma forma louca de traduzi-las. Apenas as pulei.

Lembro muito bem de quando fomos a São Petersburgo visitar o vovô. Na verdade, acho que foi lá que tudo começou. A Rússia é um país frio, as pessoas são frias e o clima também. Bebidas e prostituição, isso define essa grande potência mundial.

A vovó morava no mesmo vilarejo onde eu nasci e criou meu pai lá até os dezesseis anos, que foi quando ela morreu e ele teve que voltar ao seu país de origem, reencontrar o pai e a nova madrasta.

Odeio o vovô por muitas coisas, mas principalmente por ser alcoólatra e passar esse maldito gene para mim e meu pai. O pior é que nós dois somos parecidos fisicamente, ambos loiros de olhos azuis fortes.

Não quero ser igual a ele. Nem de longe.

Hans Zarov Robinson. Hunter Zarov Robinson. Christopher Zarov Robinson.

Eles são H e eu sou um C. Acho que isso já me dá forças o suficiente para tentar mudar meus valores e conceitos.

Minha mãe me contou há uns dias atrás que foi o vovô quem obrigou meu pai a se casar com ela. Ou seja, foi um casamento arranjado, eles não se amavam. Então eu sou fruto de que? De um amor verdadeiro ou não? Às vezes eu penso que em um minuto ou segundo eles realmente se amaram de verdade e isso torna tudo melhor, pelo menos é o que eu acho.

Não odeio meu avô por isso. Minha mãe vem de família ucraniana, mas nasceu em São Petersburgo também, assim como meu pai. Já eu, tenho os direitos de um cidadão russo, porém posso morar tanto no Reino Unido por ter nascido aqui ou na Rússia. Somos todos russos para falar a verdade, mas a minha mãe é diferente. É doce, quieta e simpática. Imploro todos os dias para ter puxado isso dela, talvez deva ser por isso que eu não enlouqueço também.

A Rússia foi uma má influência para o meu pai. O que quer que meu avô tenha feito agrediu o coração dele, é por isso que ele bebe, para esquecer. Talvez seja um dos motivos para eu me sentir tão culpado quando me pego o odiando.

Não sou russo, não sou britânico. Sou Christopher Zarov Robinson.

Zarov. Não gosto desse sobrenome, mas quero tentar honrá-lo, embora eu o esconda a todo custo.

25/03/2014.”


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Notas finais do capítulo

Amores, amores, amores... Chegamos ao final! Mas.... porém, entretanto, todavia,contudo... Postarei o próximo rapidamente, para compensá-los