O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 20
Décimo Nono Capítulo




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Assim que o carro parou na frente de Dallington School, meu corpo gelou. Papai parecia bem calmo, mas eu estava completamente nervosa. Éramos dois extremos na mesma situação e me perguntei o porquê de ele estar assim.

–Vamos lá! – disse, abrindo a porta.

Eu apenas o imitei e saí do carro. Minhas mãos suavam, o que sempre acontecia quando eu estava nervosa.

–Pai, por que você está tão calmo? – perguntei, enquanto entrávamos no grande prédio que era Dallington.

Ele sorriu.

–Já recebi muitas advertências, Blakely – respondeu, rindo baixinho. – E algo me diz que você não bateu nessa menina.

Viramos dois corredores antes de chegar à sala da diretora, um pequeno sorriso autoconfiante se formou em meus lábios. Pelo vidro, vi Jane LaCross junto de seu pai, ele era um grande empresário e o pai de Tiffany Queen era um amigo em comum. O sorriso autoconfiante desapareceu.

–Entre, Senhor Jones – escutei a voz grave de Amelia.

Essa mulher poderia facilmente se demitir do emprego como diretora e entrar em outro como bicho-papão.

Papai abriu a porta e me deixou entrar primeiro. O Senhor LaCross me encarava feio, o que fez minhas mãos soarem mais ainda.

Qual era o meu problema?

Me sentei em uma cadeira que ficava um pouco longe da mesa de Amelia. Meu pai ficou ao meu lado.

–Bem, já que as garotas e os responsáveis estão aqui – disse a diretora. - Acho justo começarmos essa reunião para tentar entender a situação que fez a Senhorita Jones confrontar e machucar a Senhorita LaCross.

O pai de Jane se remexeu na cadeira, carrancudo.

–O que eu acho uma tremenda falta de responsabilidade da parte da escola! – se intrometeu ele. – Como vocês mantém uma garota psicopata aqui? E se ela tivesse matado minha filha?

–Acalme-se, Senhor LaCross – pediu Amelia.

Pelo canto do olho, vi meu pai apertar firme a cadeira, descontando toda a sua raiva ali.

Aquele cara havia mesmo me chamado de psicopata?

–Primeiro gostaria de ouvir a versão de Jane.

A patricinha se levantou, mostrando o hematoma roxo no braço e a bochecha arranhada. Estranhei ao ver o hematoma, ele parecia menos roxo ontem e a bochecha também, estava mais vermelha.

–Bem, eu estava no banheiro, diretora – começou Jane, fingindo que estava prestes a chorar. – Quando a Blakely entrou e... e... – lágrimas falsas rolaram na face dela. – Foi horrível! Ela me arranhou e me bateu.

Jane se sentou ao lado de seu pai, que a abraçou e a deixou chorar em seu ombro. Descontei toda a raiva na cadeira, pensei que minhas veias iam saltar para fora de tanta força que eu fazia. Queria dar uma na cara daquela maldita.

–Senhorita Jones, sua vez.

Então toda a raiva se dissipou. E agora? O que eu faria? O que eu diria? Estava na cara que Jane iria ganhar de qualquer forma, o pai dela era mais rico que o meu e era apenas o dinheiro que interessava a Amelia.

Me levantei da cadeira, com medo. Meu pai segurou minha mão e sorriu para mim, dava para ver em seus olhos que ele confiava e acreditava em mim. Só que eu não sabia o que falar ou como me defender.

–Eu... Eu... Hãm...

Para minha salvação, alguém bateu na porta. Logo depois a maçaneta girou e um homem alto entrou. Não reconheci quem era, mas aparentava ser alguém importante já que usava calça social e blusa de linho branca. A pele era levemente bronzeada e o cabelo era preto, não havia muitas rugas ao redor dos olhos, então chutei que o homem tinha por volta dos trinta anos.

–S-senhorCalebDwayne? – foi a primeira vez que vi a diretora gaguejar e se levantar rapidamente para ir ao encontro de alguém. Amelia parecia estar com... medo. – Que surpresa, não esperava uma visita sua aqui em Dallington.

–Ah, Amelia, eu sinto muito ter vindo assim sem avisar – disse o Senhor Dwayne, foi então que me toquei que Christopher tinha uma ligação com ele e que Caleb era praticamente o dono da escola. – É que fiquei sabendo que houve uma briga aqui. Pensei que Christopher estava alucinando quando me contou isso, já que brigas são algo inaceitável em minha escola.

Por um lado era irônico, já que o próprio Christopher batera em Harrison Wayne e sua turminha. Mas é claro que ele passou ileso, já que estava sob proteção de CalebDwayne.

–Concordo, Senhor Dwayne – disse o pai de Jane, aquele interesseiro idiota. – Por isso voto a favor da expulsão dessa garota psicopata que atacou minha filha.

–E eu voto para que o senhor cale a boca – olhei para o meu pai assustada. Ele dissera mesmo aquilo? Ele me defendera mesmo daquela forma?

Sorri, mas bem pouco para que ninguém percebesse. Estava aprendendo mais sobre o meu pai naquele dia do que na vida inteira. Ele podia até ser alguém controlado, porém abria mão do autocontrole para defender aqueles a quem ama.

–Sem briga, Senhores – advertiu Amelia, por um minuto ela perdera toda a sua autoridade.

–É melhor resolvermos isso de modo civilizado, tudo bem? – disse Caleb, sorrindo para mim e piscando ligeiramente.

Ele estava do meu lado, eu sabia.

–Christopher me disse que estava próximo dos banheiros quando tudo aconteceu. Acho que ele está ali fora esperando por mim, talvez ele possa nos dizer se viu Blakely entrando no banheiro ou até mesmo se chegou a escutar alguma coisa.

Caleb foi até a porta e a abriu. Então Christopher entrou, dessa vez ele estava diferente, com roupas novas, mas sem perder aquele seu jeito ameaçador. Usava uma blusa polo preta, uma calça jeans azul escura e tênis da Nike, preto e branco.

A primeira coisa que ele fez foi arquear a sobrancelha para mim e sorrir, mas seu sorriso era tão indecifrável que apenas eu entendera o que ele queria dizer com aquele gesto. “Vamos ferrar com ela”.

Balancei a cabeça em sinal de positivo de modo bem ligeiro e sutil. “Sim, nós vamos”.

–Christopher, você pode nos dizer se viu alguma coisa ou se escutou algo? – perguntou Caleb.

–Eu me lembro de ter visto Jane entrar no banheiro – ele começou. – Mas não me lembro de ter visto Blakely. Vi também a Tiffany e me falaram que foi ela quem ajudou Jane a ir até a enfermaria, mas quando Tiffany e a Jane saíram do banheiro, elas pareciam totalmente bens. E pelo que o Ezequiel me disse, a Blakely estava na arquibancada quando ele foi avisar que a Amelia estava chamando-a.

–Não escutou nada vindo do banheiro? – Caleb perguntou.

–Risadas – respondeu Christopher. – Muitas risadas. Pareciam ser da própria Jane e da Tiffany.

–É mentira! – interveio Jane, se levantando da cadeira e apontando para mim. – Christopher é amiguinho de Blakely. Ele está mentindo para ela se safar.

O Senhor LaCross não podia falar nada. Caleb era o dono da escola, dez vezes mais rico que ele.

–Você está alegando que Christopher está mentindo? – Caleb disse, olhando incrédulo para Jane.

–Não, Senhor Dwayne – se intrometeu Amelia, que até agora estava calada diante de Caleb. – Ela não está dizendo nada. Tenho certeza de que Christopher nunca mentiria para nós.

Caleb sorriu.

–Assim está melhor! – disse. – Mas, afinal de contas, quem bateu na Senhorita LaCross?

–É verdade – Christopher fez uma cara de confuso e tirou algo do bolso, era um pedaço de papel higiênico. – Só que esse hematoma no seu braço está estranho, Jane. Ele está brilhando na luz.

A garota se apressou e tentou esconder o braço. Mas Christopher o segurou e rapidamente passou o papel higiênico sobre o hematoma roxo.

Fiquei encarando o braço de Jane atentamente. Sabia que iria me safar.

–Maquiagem! – Christopher exclamou, jogando o pedaço de papel em cima da mesa de Amelia.

Então era por isso que eu estranhara o hematoma. Tudo era uma farsa, apenas uma maquiagem realista demais, só que a luz a denunciara.

–Isso é inaceitável! – Caleb ficou boquiaberto, o mesmo aconteceu com a diretora e o Senhor LaCross. Já meu pai, apenas sorriu e deu algumas batidinhas em minhas costas. – Não acredito que um aluno de minha escola fora capaz de armar algo do tipo. É uma vergonha!

Jane e seu pai não diziam nada, apenas escutavam o que Caleb Dwayne tinha a dizer. Mas pelo canto do olho vi que meu pai sorria.

–Eu sinto muitíssimo pelo engano, Senhor Jones – o dono de Dallington se virou para nós. – Espero que nos perdoe. Também sinto muito pelo que sua filha teve que passar. Com certeza, a Senhorita LaCross será punida devidamente – ele olhou feio para a garota, que se encolheu na cadeira.

–Não se preocupe – meu pai respondeu, se levantando da cadeira e apertando a mão de Caleb. Ambos pareceram se dar bem. – Enganos acontecem o tempo inteiro.

–Que bom que entende! – respondeu, sorrindo. – Espero vê-lo mais vezes.

E assim eles soltaram as mãos. Meu pai girou a maçaneta e saímos daquele nicho de tortura.

Christopher veio logo atrás de nós. Vi uma mochila cinza novinha ao lado da porta da diretoria, com certeza era dele.

–Eu tenho que ir, Blake – disse meu pai, ainda sorrindo.

Ele sempre tinha trabalho. Mas advocacia era o que ele amava e eu não podia mudar isso.

–Tudo bem – falei. – Tchau, pai.

Me abraçou rapidamente.

–Tchau, querida.

Logo depois ele virou o corredor. Queria poder ir atrás, mas tinha que ficar e aguentar a escola por mais um dia.

Quando me virei, percebi que Christopher me olhava atentamente. Ele sorria de canto e seus olhos azuis brilhavam.

–O que foi? – perguntei, tímida.

–Seu pai parece ser um cara legal – respondeu. – Ele te ama.

Sorri também. Ter aquele amor era uma das melhores coisas na minha vida e se eu o perdesse, seria como morrer.

Christopher não tinha aquilo. Não tinha alguém que o amasse paternalmente. Não tinha alguém que pudesse ensiná-lo a jogar futebol ou até mesmo algo bobo como jogo da velha. Hunter Robinson estava vivo, mas ao mesmo tempo morto.

–Obrigada – falei, percebendo que ele já começara a ficar com a expressão triste.

–Pelo que? – respondeu, voltando a ser o Christopher forte e determinado que eu conheço.

–Por tudo o que você fez.

Ele apenas sorriu e ajeitou a bolsa nas costas. Passou rapidamente por mim, mas nesses pequenos milésimos, senti sua mão no bolso na minha jaqueta. Olhei para trás, só que Christopher já tinha ido.

Havia um pedaço de papel. Li rapidamente a mensagem.

Às onze. Na sua janela”.


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