O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 2
Primeiro Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Que pessoa bacana, não é? Posta um prólogo e depois viaja, sem nem se importar com os leitores kkkkk Sorry, peoples! Aqui vai o primeiro capítulo oficial.



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–Você nem tocou no prato – comentou minha mãe, com os braços cruzados e o olhar preocupado. Quer dizer, relativamente preocupado, pois não havia motivos para ela estar daquele jeito. Eu só não queria comer, fim da história.

–Não estou com fome, mãe – respondi com um sorrisinho nos lábios, talvez assim ela percebesse que eu estava realmente bem e que nada me fazia ter tanto medo a ponto de perder a fome. Nada. Menos o primeiro dia de aula.

Seria hoje que minha tortura voltaria. Seria hoje que a luta prosseguiria. E de uma coisa eu tinha plena certeza: eu não queria isso!

Suspirei, empurrando levemente o típico prato de waffles com mel para longe de mim. Açúcar logo de manhã não. Tomei o restinho do leite achocolatado de sempre e me apressei para escovar os dentes, pegar a bolsa e entrar no carro antes que eu atrasasse um segundo se quer.

–Blakely, querida, vamos logo! – Chamou mamãe, quando eu já estava a descer o último degrau da escada.

Era um saco ter o banheiro e o quarto no segundo andar, atrasava tudo na correria matinal da manhã. Mas o bom era que meu quarto tinha espaço de sobra, por isso metade dele era usada como sótão. Até eu entrar em uma briga absurda com meus pais, dizendo que era constrangedor dormir olhando para um monte de tralhas, por isso havia uma parede separando meu lindo quarto do quartinho da bagunça. Só que o meu quarto era mais quarto da bagunça do que o próprio quarto da bagunça. Acho que isso também contribui para a minha correria de manhã. Pois passar vinte minutos só procurando seus livros escolares não seria sinônimo de disciplina, não é?

–Blakely! – Reclamou mamãe novamente. – Deixa isso para lá, filha. Arrume o cabelo no carro.

Ela tinha razão.

Peguei o elástico, desistindo do rabo-de-cavalo que eu queria fazer. Arrumei a bolsa e me dirigi para a garagem. Vivíamos em uma casa de classe social média na Stamford Hill, em Haringey, na parte norte de Londres. Mas há alguns anos que meus pais queriam se mudar para outro distrito ou bairro mais longe de Tottenham e Hackney, pois estes eram bairros bem violentos e “rir na cara do perigo” não era o ditado preferido de papai. Pois ele era advogado.

Taquei a bolsa no banco de trás do Chrysler 200 prata e nem me importei com o pequeno sermão que minha mãe me dera por isso, que alegou:

–O primeiro dia de aula não é tão ruim assim.

"Lógico. Você não terá um primeiro dia de aula."

Cruzei os braços, mas tive que desfazer a pose de enfezada para colocar o cinto. Eu estudava em Dallington School, no distrito central Islington, uma escola privada bem cobiçada, onde meus pais davam quase um rim para poder pagar a mensalidade. Eu realmente tinha pena da criatividade do fundador da escola. Primeiro que ficava em Dallington Street, então o cara deve ter pensado: “Por que não o nome da rua?”. E aí depois deve ter pensado novamente: “Verdade! Vai ser o nome da rua. Pois combina com Islington”.

Islington. Dallington. Realmente, combina tanto quanto comer bife e ketchup na mesma garfada.

Mas... Eu não queria ir para Dallington. Não por ser uma escola exigente e que cobrava demais dos alunos. Eu não queria ir por outro motivo.

Estremeci. Talvez esse ano pudesse ser diferente. Talvez esse ano eu pudesse ter amigos. Talvez...

Peguei o elástico preto e me olhei no espelho que o carro tinha internamente no porta-óculos. Eu não era a pessoa mais bonita, mas também não era a mais feia. O negócio é que todo mundo que tem a pele branquinha ou tem o cabelo claro e os olhos igualmente claros, ou o cabelo escuro e o olhos claros.

Mas não. Eu tinha que nascer branquinha, adquirir olheiras fortes ao passar dos anos , ter cabelos castanhos-escuros sem graça e ter olhos igualmente castanhos-escuros sem graça. Palmas à genética!

Amarrei o meu cabelo em um rabo-de-cavalo alto, evitando olhar demais para o meu reflexo no espelho.

A escola não era longe demais de Stamford Hill, mas demorava um bocado para chegar até Islington. Quando mamãe estacionou o carro, comecei a reconhecer a turminha de Tifanny Queen. Um arrepio me percorreu a espinha. Estava com medo e não podia esconder isso.

–Blakely, não tenho o dia inteiro! – fui tirada do pânico por minha mãe, que estava com suas roupas sociais brancas e pretas sem graça, quase me enxotando do carro para poder ir trabalhar em seu escritório. Ela era arquiteta. – Querida, não será tão ruim. Deve entrar crianças novas, você vai gostar. Sei que vai.

Não, você não sabe. Não sabe o que fazem comigo. Não sabe como odeio esse lugar. Não sabe de nada.

–Tudo bem, mãe – falei. Se havia algo que eu odiava era dar trabalho para alguém e isso eu não fazia nem a pau com meus pais, então aguentava. Eu sabia o quanto eles trabalhavam para me manter em uma escola privada e sabia também que deveria me esforçar para ter um futuro bem-sucedido.

–Me dê um beijo então, Blake – disse mamãe, esticando-se através do cinto e virando a bochecha. Eu não tinha mais três anos, mas também não queria desapontá-la, então dei um beijinho bem rápido, com medo que alguém visse e eu começasse o primeiro dia de aula sendo o assunto mais comentado. Era algo bobo, porém implicavam comigo em tudo.

–Tchau – fechei a porta.

Ela acenou sorridente de dentro do carro e logo acelerou. Eu estava sozinha agora.

Fechei os olhos e expirei. Tifanny Queen não me atingiria hoje. Harrison Wayne não acharia motivos para me zoar hoje. Porque hoje era o dia em que eu mudaria o rumo dos anos e anos de gozações constantes que recebi.

Dei passos cheios de confiança em direção à porta de entrada de Dallington. Porém... Uma força gravitacional, totalmente desconhecida por mim, me jogou no chão.

Não. Pode. Ser

Senti minha cabeça e cabelos esparramados no cimento da calçada. E pior, senti a presença de várias pessoas ao meu redor.

Risadas. Muitas delas. Quando vi, já estava cercada.

–Poxa! – Escutei a voz de Harrison Wayne no meio da algazarra. - Blakely Jones ficou bem mais desastrada nas férias. Acho que a cada ano que passa essa menina vai ficando mais lerda.

Por favor. Por favor. Aconteça algo para impedir que esse momento humilhante não prossiga. Por favor. Por favor.

Eu arranhara levemente meu braço, mas fora um arranhão bem superficial. O que piorava tudo, pois em vez de eu me concentrar na ardência, eu me concentrava nas dezenas de rostos que me circundavam.

Tentei cobrir o rosto com as mãos, mas isso não apagava minha vergonha. Eu deveria estar vermelha. Todo aquele papo de hoje ser um dia especial se fora rapidamente.

Janne LaCross se engasgava com a água de sua garrafinha de tanto rir. Ethan Turner parecia estar tendo um ataque epilético. Até que o sinal tocou. E o bando de pessoas que surgiu do nada para rir de mim, sumiu do mesmo modo fugaz.

O sinal foi minha válvula de escape. Mas chegou um pouco atrasado.

As risadas ecoavam em minha cabeça e a vontade de chorar era imensa. Fora apenas uma queda. Uma pequena queda que alguém deve de ter proporcionado ao colocar o pé na minha frente com o intuito de me fazer cair.

Você está bem, Blakely?

Ninguém se importou em perguntar.

Não, eu não estou.

Tenho que aguentar firme.


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Notas finais do capítulo

Digam o que acharam! Digam o que acharam! Vou postar o próximo quando der. Agora sim eu tenho net e um pc bom.