O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 18
Décimo Sétimo Capítulo


Notas iniciais do capítulo

E esse capítulo vai para.... vai para.... sim! Vai para ela! Tatiana Soareeeeeeeeeeeeesssss uhuuuuulll!!!! Foi o aniversário desta menina linda e fofa que vai me dar, um dia, todos os alimentos do supermercado do pai dela ♥ Parabéns, Tati! Ontem foi seu dia e esse capítulo era para ter sido postado ontem tbem kkkkk
"It's time too late to say sorry?"



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Eu estava pegando os livros de Filosofia para a aula do Roy, quando Christopher apareceu perto de mim e sorriu.

—Sabe, deu o maior trabalho abrir a fechadura da sua janela ontem – ele disse, encostando o ombro no armário A08, ao lado do meu.

—Ladrões não avisam quando vão invadir casas, abrir fechaduras faz parte da ação – falei.

Acho que seria engraçado se ele chegasse para mim e dissesse “Ei, no domingo de noite por que não deixa a sua janela aberta? Quero invadir sua casa, Blakely”.

—E eu sou um ladrão? – arqueou uma sobrancelha. – No caso, você está com meu diário.

—Aquele que foi entregue a mim por livre e espontânea vontade do dono? – ironizei. – É, estou com ele sim.

Fechei meu armário e guardei o livro de Filosofia na bolsa. Christopher estava novamente sem suas luvas e a touca.

—Você leu? – perguntou calmamente, com certo quê de esperança e desejo misturados.

Ele queria realmente que eu lesse.

—Apenas a primeira página – respondi, enquanto trancava meu armário. O diário não me trazia bons pensamentos, então tentei mudar o rumo da nossa conversa. – Gostei do visual menos intimidador.

Ele soltou uma curta risada nasal.

—Harrison e os outros idiotas saíram da escola. Agora não há ninguém para intimidar.

A saída daquela “gangue” fora uma das melhores coisas que acontecera naquele ano, por um segundo fiquei feliz por Christopher ter batido nos trogloditas e sorri.

Mas minha felicidade logo sumiu quando passos altos ecoaram no corredor. De repente uma garota loira oxigenada chegou perto de nós.

—Oi, Chris. Tudo bem? – disse Tiffany, com aquela voz aguda horrível. Senti o cheiro da maquiagem dela há cerca de oitenta centímetros de distância, pensei que iria tossir, mas consegui aguentar firme enquanto ela se jogava para cima de Christopher. – Meu aniversário é no domingo e eu vou fazer uma festa muito legal na minha casa, com todos da escola e algumas pessoinhas de fora, sabe? – ela piscou para ele e sorriu, exibindo o batom rosa horrível que usava. Parecia que Tiffany gostava de mostrar e exibir os trinta e dois dentes que tinha na boca, porque para sorrir daquele jeito... – Bem, você está convidado, okay, Chris?

Chris? Essa era nova!

Tiffany entregou um papel rosa para ele e depois olhou para mim, fingiu uma careta de nojo e saiu andando em seu salto alto. Era engraçado como até o salto dela era maior que o cérebro que – podia ou não – estar em sua cabeça.

Assim que aquela idiota virou o corredor, olhei perplexa para Christopher. Ele estava sorrindo e parecia... feliz?

Não consegui segurar as palavras. Meu peito ardia de raiva daquela patricinha.

—Você está mesmo sorrindo, Christopher Robinson?

Ele riu. Sim, isso mesmo, ele riu. Enquanto eu mantinha a pose de durona. É sério que ele dera bola para ela e agora estava rindo sem nexo algum?

—Desculpa – tentou dizer entre as gargalhadas. – É que a ma... – ele riu novamente. – A maquiagem dela... – disse, finalmente. - Ai, meu Deus! Aquilo é horrível.

Fiquei tensa por alguns segundos. Christopher só estava rindo da maquiagem horrenda de Tiffany. Apenas isso. Então não era o que eu estava pensando. Que alívio!

Fiquei um pouco nervosa enquanto ele ria. Até que vi Ezequiel se aproximando de nós com o mesmo convite rosa.

—Vocês também receberam esse pedaço de merda? – ele perguntou, mostrando o convite.

Christopher tentou parar de rir por alguns segundos e então voltou a rir novamente. Ezequiel o olhava interrogativo, confuso.

—Ele está rindo da maquiagem da Tiffany – expliquei.

—Sabe, Blake, tenho dó de pessoas sem moral e que não se tocam – disse Izzy, enquanto rasgava seu convite rosa. – Ela te deu um também?

Apenas neguei com a cabeça. Tiffany sempre me excluía, já estava acostumada.

—Vou dar uma moral para ela depois – Christopher disse, enquanto também rasgava seu convite rosa e sorria para mim.

—O que vai fazer? – perguntei.

Ele sorriu.

—Você verá.

***

No mesmo instante em que o sinal da saída bateu, a Diretora Amelia Forsyth entrou em nossa sala, parecia brava, muito brava. Toda a felicidade por ser a hora da saída se foi e todos olharam assustados para ela.

—Eu estou muito descontente com a ética e o caráter de uma pessoa desta sala – disse Amelia, ela sempre citava nomes e humilhava as pessoas na frente de toda a sala. Era totalmente impiedosa conosco. – Tiffany Queen, a senhorita levará uma advertência por ter dito comentários inapropriados e indevidos sobre um dos professores.

Amelia foi até a mesa da garota, que parecia boquiaberta e surpresa com a acusação. Na verdade, eu também estava daquele jeito. Primeiro porque alguém a delatou, o que ninguém nunca teve coragem de fazer, e segundo porque Tifanny iria acabar com a pessoa que a dedurou, ou seja, era suicídio fazer aquilo. Quero dizer, não para uma certa pessoa.

—Mas diretora Ame...

—Dessa vez será só uma advertência – a diretora a interrompeu. – Todos podem ir, menos a Senhorita Queen. Quero ter uma conversa a sós com ela.

Sorri. Aquilo estava mesmo acontecendo? A idiota oxigenada estava mesmo recebendo uma advertência?

Olhei para Christopher atrás de mim, ele sorria maliciosamente.

—Foi você! – falei baixinho.

Ele apenas fez que sim com a cabeça, confirmando o que eu já tinha certeza. Sorri, sem acreditar que mais uma pessoa que eu odiava estava se dando mal.

Christopher Robinson era demais!

Todos os alunos começaram a sair calmamente pela porta, logicamente que isso era efeito da presença de Amelia Forsyth. Mas quando eu estava prestes a me levantar, a mão de Christopher me impediu. Ele apertou levemente meu ombro e respirou fundo.

—Lembre-se de deixar a janela aberta – sussurrou.

***

Olhei no relógio. Impaciente.

Já eram dez horas e nenhum sinal de Christopher em minha janela, tentei parecer calma e não pensar em nenhuma das mil e uma coisas que poderiam ter acontecido entre o percurso de Tottenham para Stamford Hill.

Tentei pensar apenas em coisas positivas. Até que deu dez e meia. Talvez ele não viesse naquela noite, Christopher fora tão vago em me dizer para deixar a janela aberta.

—Blakely, pare de ler e vá dormir! – escutei o grito da minha mãe, ela deveria estar na escada.

Apaguei a luz. Se eu ligasse o abajur, daria para ver a claridade por baixo da porta, mas até que o quarto não ficara tão escuro assim. A lua estava cheia e clareava bastante já que a janela estava aberta.

Esperei por mais alguns minutos e nada. Quando vi que já eram onze horas, pensei em desistir. Mas escutei um barulho na janela e vi a silhueta de um Christopher Robinson encapuzado.

—Você demorou! – protestei em sussurros, quase o abraçando de alívio. – Pensei que tinha acontecido alguma coisa.

Ele colocou os pés para dentro do meu quarto e sorriu, os lábios eram a única parte do rosto que eu via.

—Eu estou aqui, não estou? – Christopher retirou o capuz, deixando a mostra seus lindos olhos azuis e o maravilhoso cabelo loiro.

Assenti, enquanto ele dava passos na direção da minha cama, onde estava o diário.

—Queria te mostrar uma coisa – disse, enquanto folheava algumas páginas de seu livro. – Acho que na janela tem mais claridade.

A luz da lua cheia era pouca, mas dava para o gasto. Então fomos até a janela. Christopher se sentou e colocou os pés no telhado, enquanto continuava a folhear as páginas.

Quando eu era menor, costumava me sentar ali e observar o céu à noite, infelizmente em dias de lua cheia não se dava para ver estrelas.

—Achei! – Christopher sussurrou e me encarou, eu estava dentro do quarto, apenas encostada na janela. Olhei para a página ao qual ele mencionara que queria me mostrar, havia apenas coisas escritas, nenhuma fotografia ou desenho. - Quando meu pai começou a bater em mim e na minha mãe, ela me colocava para fora de casa e dizia para eu correr para a casa do Ezequiel. Só que nem sempre eu ia para lá, conheci alguns caras em Hackney e...

—Você se metia com gangues? – o interrompi assustada. Todos sabiam que o bairro mais perigoso de Londres era Hackney.

—Não, Blakely – ele respondeu, parecia ofendido com minha pergunta. – Apenas comecei a fazer amigos em bairros perigosos, só isso. – só isso?— Eu sabia que tinha que fazer amigos para sobreviver. Meu pai gasta todo o mísero salário da minha mãe em bebidas, como acha que vivo, como ou até mesmo tenho roupas?

Abaixei a cabeça por um instante. Christopher passava fome, talvez frio e, até mesmo, poderia ter dormido em ruas. Agora eu entendia o porquê de um garoto de quase quinze anos ter veias ressaltadas nos braços e ser extremamente forte e valente. As circunstâncias o ensinaram a ser assim.

—Desculpe – sussurrei. – Não pensei por esse lado.

—Eu fiz o que precisei fazer para sobreviver – ele disse, pegando um papel do bolso. – De qualquer forma eu tenho um mapa de Londres – mostrou o papel dobrado -, sei por onde devo andar e também sei os caminhos pelos quais tenho que evitar. Só demorei hoje por causa das rotas policiais em Tottenham, o policiamento lá está cada vez mais rigoroso.

Desde o ano passado isso vinha acontecendo. O bairro de Tottenham estava sendo alvo de constantes roubos e por isso priorizaram o policiamento no norte de Haringey, nosso distrito.

—O que você queria me mostrar? – tentei mudar o assunto, não gostava muito de falar sobre violência e política.

—Isso – Christopher apontou para a página do diário, tentei ler o que estava escrito, mas não consegui.

Peguei o diário da mão dele e coloquei sobre a luz da lua, ainda não conseguia ler. Eram apenas letras sem sentido, não formavam palavras.

—Eu escrevi em árabe – disse, sorrindo. Christopher parecia orgulhoso de si mesmo.

—Você fala árabe? –perguntei surpresa, ele era a primeira pessoa que eu conhecia que falava uma língua tão distinta quanto o árabe. – Como aprendeu?

Christopher sorriu, ainda orgulhoso, e eu sorria também. Por ver que no fundo ele era inteligente. Mas por que repetira o oitavo ano?

—Viu? Esse é o lado bom de fazer amigos em Hackney. Tem que ver o tanto de livros que a biblioteca britânica dispensa todos os meses por estarem velhos ou um pouco desgastados – eu nunca vira um livro com folhas amareladas naquela biblioteca. Como não percebi aquilo antes? – Conheci um cara chamado Peter Shire, ele queria ser médico e a mãe dele era dona de uma pequena lanchonete em Hackney, então eu oferecia alguns livros em troca de comida.

—Mas por que ele não simplesmente alugou os livros na biblioteca?

Christopher suspirou, um suspiro triste que me fez perguntar o que eu tinha dito de errado para ele ficar daquele jeito.

—Você não sabe como é quando chega a um lugar e diz que é de Hackney ou Tottenham, Blake – respondeu. – As pessoas te olham estranho, com preconceito e nojo. Você não entende por causa dos seus pais.

—O que tem a ver meus pais? – não conseguia entender nada, meu cérebro estava como um grande nó.

De um segundo para o outro, Christopher parecia irritado e com raiva de mim. Eu sabia que ele não me machucaria, mas estava realmente com medo de suas explosões de temperamento.

O que eu falara de errado?

—Seu pai é um advogado penal, sua mãe é uma arquiteta. Acha mesmo que alguém vai te tratar mal ao dizer “Jones” depois de “Blakely”?

Então eu o compreendi

Novamente fiquei cabisbaixa. Eu realmente não entendia o que era ser vítima de preconceito. Em todos os lugares que eu ia me perguntavam se eu era filha de Andrew Jones ou Liza Jones, eu mal me tocara que recebia um tratamento VIP só por ser filha dos meus pais.

Quando olhei para Christopher, ele estava respirando fundo diversas vezes e de olhos fechados. Mantendo o autocontrole, talvez.

—Sinto muito – disse ele, sério, olhando para a lua. – Você não tem culpa por ser quem é.

—Eu quem deveria saber que Londres não é a cidade perfeita – contrapus. – As pessoas pensam que é demais viver aqui, mas na realidade somos apenas uma cidade como qualquer outra. Há partes mais pobres e partes mais ricas. Não acho que deviam nos cobiçar tanto nos jornais e na TV.

Ele sorriu, por um segundo achei que seus olhos brilharam, mas então vi que não havia nada demais em sua íris.

—Você entende – sussurrou.

Ficamos por alguns segundos nos olhando silenciosamente, até que Christopher olhou para o seu diário e voltou ao assunto.

—Quando comecei a escrever, tomava muito cuidado com as coisas que colocava sobre mim. Eu só fiz esse diário porque pensei que algum dia encontraria a pessoa certa para lê-lo, só que também escrevi por necessidade – ele olhou para a lua por alguns instantes e então fixou seus olhos em mim. – Há coisas que vi meu pai fazer que...precisavam ser ditas a alguém, só que eu não queria dizer nada por vergonha. Mas contei ao diário e escrevi em árabe para que ninguém entendesse, só que muitas vezes eu escrevia sem parar sobre como eu me sentia, como eu me sentia de verdade.

“Naquele dia no banheiro, pedi para você não contar a ninguém sobre o que vira e você disse ‘É como um diário, ninguém deve ler’. Eu senti como se você tivesse me visto pelo que eu realmente sou, entende? – ele fez uma breve pausa, me deixando por alguns segundos assimilar as informações antes de continuar. Os olhos azuis estavam fixados em mim e o diário estava entre nós.- Ao entrar em Dallington eu tentei garantir diversas máscaras para me ocultar, usava a touca e a luva para parecer ser um garoto intimidador, mas naquele momento você pareceu ter... me visto através de tudo e todos, Blake.

Perdi o ar.

Então eu o havia desvendado há muito tempo, só que sem saber.

—Não sabia que tinha feito isso – falei, ainda um pouco “tonta” com o tanto de informações que ele dera em poucos minutos.

—Não se preocupe – Christopher sussurrou. – Eu gostei da sensação de poder ser quem eu realmente sou perto de você.


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Notas finais do capítulo

Bem, eu tenho que avisar que agora vou entrar em um processo aqui. Preciso organizar tudo o que vai acontecer na fase 2-2 e na fase 3 da fic :) Então vai demorar mais ou menos uma semana para eu conseguir me arrumar aqui. Lembrem-se: eu vou terminar a fic nem que demore um ano e pretendo terminá-la rápido, porque vou começar uma outra assim que terminá-la.
Um abraço e eu queria mandar um beijo especial para os novos dois leitores que ganhei nesses ultimos dias e tbem para aqueles que comentaram e fizeram meu sorriso aumentar cada vez mais ao longo dos dias. Vcs são tudo de bom, povo!