O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 15
Décimo Quarto Capítulo


Notas iniciais do capítulo

"Então você não está triste pelas vidas que matou?" "Não. Estou triste pelas vidas que não ajudei, mas que poderia ter ajudado"
—Sniper Americano (Chris Kyle)



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Não foi a mesma coisa quando acordei no dia seguinte. Parecia que o som do despertador se tornara menos irritante, o casaco azul que eu estava usando se tornara menos azul e o pedaço de bolo que comi no café da manhã pareceu menos delicioso.

Depois do meu pequeno acesso de choro por causa... daquilo, meu pai veio conversar comigo, respondi que era apenas algo de adolescente. Eu já estava quase com catorze anos, já tinha um pouco dessa tal bipolaridade na adolescência. Mas eu sabia quando minhas emoções estavam “aumentadas” por causa dos hormônios. Era só um caso de frustração.

O que levava um pai a bater no seu filho?

Talvez drogas, álcool...

Me perguntei de qual desses o pai de Christopher era dependente. Eu não conseguia pensar em mais nada além da conclusão ao qual chegara, nunca torci tanto para estar errada. Só que tinha que dizer a alguém, o pior era isso, o sufocamento que eu sentia por dentro.

Nem que para Ezequiel ou Christopher. Eu tinha que dizer que sabia a verdade, que havia descoberto tudo que eles tentavam esconder. Mas o medo era maior.

–Boa aula, querida – balancei a cabeça e me lembrei de que estava no carro, em frente à escola.

Eu arrumei o lanche? Dei o nó no cadarço? Ou melhor, lembrei-me de trazer pelo menos a bolsa?

–Você está bem, Blake?

–Estou – respondi no mesmo instante.

Minha mãe estava um pouco séria, mas tentou dar um sorriso reconfortante.

–Bem, até mais, querida – ela disse, arrumando os óculos.

Abri a porta do carro.

–Oh, espere! – quase levei um susto, mas fechei a porta do carro e vi o vidro do lado do carona baixar. – Dona Sarah não pode ir hoje de tarde, então você ficará sozinha, tudo bem? Espero que não se meta em encrenca. Sexta-feira é o dia em que eu e seu pai temos mais trabalho.

Isso era ótimo. A melhor coisa que escutei na manhã inteira. Ficaria sem Dona Sarah, até porque nenhum adolescente de catorze anos tem uma babá.

–Tudo bem, mãe – concordei. – Até mais.

Ela sorriu mais uma vez e acelerou o carro. Parecia o primeiro dia de aula, porque eu estava prestes a mijar nas calças de nervosismo. Não queria ver Christopher com um novo hematoma e saber o que causou aquilo.

Mesmo assim, fui obrigada a entrar em Dallington assim que o sinal bateu. Peguei alguns livros e fui para a sala, teríamos aula de Educação Física hoje, elas normalmente começavam em março. Fiquei surpresa em ver como o ano passava rápido.

Vi Christopher entrar na sala pouco tempo depois de mim, nada de novos hematomas. Ufa! Já era um alívio, mas só a presença dele me sufocava.

Ele se sentou, como de costume, atrás de mim. Tentei permanecer normal e relaxada.

Como esperado, a treinadora Juliet Parker entrou em nossa sala, fazia tempo que eu não a via, acho que ela engordara um pouco nessas férias. Era estranho ter uma professora de Educação Física que tinha problemas na coluna e no joelho, mas ela era uma boa treinadora.

–Bom dia! – ela disse, alto e claro, como uma líder. Ela sempre cheirava a autoridade. – Espero que estejam animados esse ano, principalmente aqueles que gostam de basquete.

Droga! Basquete? Tinha que ser basquete?

–Bem, parece que temos um novato – os olhos verdes de Juliet pararam atrás de mim, no garoto de mangas compridas, toca assustadora e que em casa era... Meu Deus! Eu ia virar neurótica.– Me disseram que seu nome é Christopher Robinson, certo?

–Sim – respondeu, não olhei para trás para vê-lo.

–Em Dallington School nós ensinamos os fundamentos do basquete, futebol americano, futsal e beisebol. Todos os alunos já sabem o básico para jogarem uma partida de basquete, Christopher. Você conhece os fundamentos desse esporte?

Eu me lembrava de quando aprendemos basquete pela primeira vez, eu logicamente já sabia e me sobressai muito por já ter aprendido com meu pai em casa antes de treinar na escola. Acho que era um dos motivos pelo qual Harrison me zoava, eu era melhor que ele, em todos os esportes, embora não gostasse de me mexer muito.

–Não, eu não sei – Christopher respondeu. – Nunca tive interesse por esse tipo de esporte.

–Não há problema em não saber – tranquilizou Juliet e então seu olhar recaiu sobre mim. Não diga o que estou pensando que vai dizer. Não diga o que estou pensando que vai dizer.–Acho que Blakely pode te ajudar. Teremos duas aulas por semana e enquanto os outros jogam, ela pode te ensinar o básico do basquete. Tudo bem para vocês dois?

–Acho ótimo – respondeu Christopher, como se tivesse ganhado uma estadia em um hotel em Dubai.

–E você, Blakely? – a treinadora me encarou.

–Para mim tudo bem – respondi, um pouco tensa.

Juliet sorriu, ela sempre sorria quando começávamos mais um ano, e então fez o sinal pelo qual todos os meninos esperavam, o de ir para o ginásio. As garotas, principalmente Tiffany Queen, eram líderes de torcida e logicamente era ela a líder principal que fazia todas as coreografias.

Eu sempre ficava de fora do time e da torcida, então era apenas a telespectadora, mas em basquete Juliet dissera que eu tinha um talento natural, coisa que achei ser alucinação da cabeça dela, pois eu era baixinha.

–Você não parece muito feliz em me ensinar basquete – enquanto estava andando em direção ao ginásio, Christopher ficou ao meu lado. Ele parecia um pouco contente, mas se soubesse que eu descobrira sobre seu pior segredo, talvez não estivesse daquele jeito.

–Não gosto muito de basquete – também porque ele me deixava nervosa, ainda mais agora, mas aquilo não era uma total mentira.

–E por que a treinadora te diria para me ensinar basquete se você é ruim?

Tentei não olhar muito nos olhos de Christopher, eram bem azuis e me deixavam um pouco sem fala.

–Não disse que sou ruim – esclareci, enquanto entrava no ginásio. – Só disse que não gosto muito.

Havia duas quadras, com certeza eu e Christopher ficaríamos com a menor, por isso fui até a treinadora, que me entregou uma bola de basquete.

–Sei que vai ser uma boa professora – ela disse e sorriu. – Fique com a quadra menor, Blakely. Ensine também sobre a história do basquete a Christopher, é algo fundamental.

–Tudo bem, treinadora – falei, vendo que Christopher já estava na quadra em que iríamos treinar.

Caminhei devagar até ele, eu queria perder o máximo de tempo possível. Odiava o fato de Christopher Robinson ser um garoto tão problemático e que no fundo mexia comigo.

–Você está estranha, Blakely – ele comentou, assim que eu cheguei um pouco mais perto. – Aconteceu algo?

–Não. Impressão sua – droga! Fui grossa. Agora sim ele teria certeza que aconteceu algo.

–Okay – Christopher fez uma cara um pouco desconfiada. – O que eu tenho que fazer?

–Nada, tenho que te explicar algo antes de te ensinar os fundamentos básicos – eu falei. – Você tem que saber a história do basquete.

–E qual é? – ele questionou, sorrindo. Me perguntei se aquele sorriso era realmente verdadeiro. O roxo em seu olho já estava quase invisível.

Me perdi por alguns segundos antes de começar a explicar.

–O basquete foi criado em 1891, Christopher – comecei. – O inverno em Massachussets estava mais rigoroso do que o normal e não se podia jogar nenhum jogo ao ar livre. Já nos ginásios, só havia a chata e tediosa ginástica. Então o diretor de uma escola, chamado Luther, contratou um cara chamado James e o deu um desafio: criar um esporte que pudesse ser jogado no inverno e no verão sem que houvesse violência. Aí o basquete nasceu, Luther e James formaram a primeira seleção de basquete e depois muitos países começaram a adquirir a modalidade. É basicamente isso, lógico que de maneira bem resumida, mas...

–Como sabe sobre tudo isso? – Christopher perguntou, ele parecia encantado com tudo o que eu acabara de dizer, mas eu simplesmente odiava basquete. – Você é uma garota e tipo...

–Garotas realmente não gostam muito de esportes – eu disse, pela primeira vez no dia, rindo. – Mas meu pai queria um filho.

Ele riu e não pude me segurar. Ri um pouco também, mas baixinho. Então voltei à pose de professora e peguei a bola de basquete do chão.

–Sabe qual a coisa mais importante do basquete? – perguntei sorrindo, naquele minuto eu parecia ter esquecido tudo que me causava dor.

–Fazer a cesta? – Christopher perguntou.

Neguei com a cabeça.

–É se divertir.

***

Amelia Forsyth, a “dócil” diretora, entrou pela sala, trazendo consigo alguns olhares esquisitos. Era a última aula antes da saída e do final de semana, o que ela fazia aqui?Tinha certeza de que ninguém se metera em confusão essa semana e eu não queria ter aulas no sábado.

–Todos sentados – ordenou, com sua rigidez de sempre. – O Professor Tales não está em condições de dar aula hoje, por isso infelizmente teve de faltar por causas de saúde. A treinadora Juliet disse que o nono ano poderia ficar no ginásio treinando a modalidade do basquete, enquanto as líderes de torcida fazem as coreografias.

Tiffany Queen levantou a mão e a velha rabugenta, quero dizer, diretora, olhou para ela, demonstrando que poderia falar.

–Diretora, quando serão os jogos desse ano? – perguntou a loira oxigenada. – Precisamos organizar a torcida.

–Claro, Senhorita Queen. Serão em junho e agosto, o time será escalado pela treinadora assim que possível – disse Amelia. – Vocês estão dispensados!

Um por um, todos saíram organizadamente da sala, tudo por causa da diretora e seu olhar carrancudo.

Assim que cheguei ao ginásio, a treinadora me entregou a bola de basquete como fizera hoje mais cedo. Olhei para a quadra menor, Christopher já estava lá. Fui andando devagar até ele, a sensação de sufocamento por causa daquilo parara, mas só de olhar para a manga comprida que cobria o grande hematoma do garoto, eu já sentia repulsa e medo.

–Você estava me ensinando os tipos de passes – ele disse, assim que cheguei mais perto.

–Ah, sim. Eu sei – falei, coçando a cabeça. – Você ainda se lembra?

Christopher assentiu.

–Então posso te ensinar a quicar a bola? – perguntei. – Parece simples, mas tem regras – fiz um passe quicado para ele, que segurou com maestria na bola, mostrando que já sabia receber. – Tente quicá-la.

E ele tentou. Mas a bola ia acima da cintura e se Christopher estivesse em um jogo de basquete de verdade, talvez perdesse por falta de velocidade e agilidade.

–Você está quicando acima da cintura e pegando de mau jeito na bola, Christopher– falei, chegando perto dele e tirando a bola de suas mãos.

Talvez a culpa fosse das luvas.

Larguei por um instante a bola no chão e peguei em suas mãos, abrindo a luva da mão direita, já que ele era destro.

–O que está fazendo? – perguntou baixinho, mas não relutou.Será que isso significava confiança?

–A luva está te atrapalhando, Christopher – falei, enquanto a retirava de sua mão.

Não havia muitos machucados, as cicatrizes daquele dia no banheiro já eram bem difíceis de ver.

–Por que você as usa?

Ele pensou por alguns segundos. Parece que toda a alegria saiu dele e Christopher já não parecia mais tão animado com a ideia de ficar perto de mim.

–Não gostaria que você soubesse.

Odiava o modo como ele era misterioso. Odiava o modo como ele era vago. Odiava!

Fechei meus olhos. A sensação de sufocamento voltara, mas eu tinha que me controlar.

–Você sabe que pode confiar em mim – usei a técnica da proximidade, chegando mais perto do ouvido de Christopher e segurando em sua mão, na qual eu tirara a luva. Aquele toque quente... Por que sempre tão quente? – Para qualquer coisa, não sabe?

Christopher fez algo que me surpreendeu. Na verdade, Christopher Robinson sempre surpreendia.

–Eu sei – sussurrou de volta. – E confio, Blakely.


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Notas finais do capítulo

Bem, a minha vida anda uma bagunça ultimamente, mas não se preocupem que a fic vai continuar. Estamos quase entrando na parte 2-1.
Eu dividi a história em parte 1, 2-1, 2-2. A parte 3, que é toda a ação, não está planejada ainda. Mas só ainda.