–Oi – eu senti minhas bochechas corarem e por um segundo cheguei a pensar que Ezequiel não escutara meu “oi”, tudo por causa da minha timidez mais que desnecessária.

–Blake? – ele sorriu, se levantando da cadeira da ala de espera, na advocacia, e vindo em minha direção. – Você vem sempre aqui com seu pai?

Eu temia por esse momento. Agora teria que me abrir e dizer a realidade, eu precisava da ajuda dele para desvendar Christopher, mas o negócio era o seguinte: ambos são melhores amigos. Então se eu pedir tal favor para Izzy, seria uma “traição” com Christopher.

Porém, eu já não me aguentava mais de curiosidade. É como Dona Sarah sempre dizia: “a maior decepção para o curioso é quando ele não acha as respostas para suas perguntas”. E quando uma curiosa como eu tem essa chance, ela praticamente surta.

–Hmm... Bem... – mordi a parte interna da bochecha. – Na verdade, eu precisava te contar algo – admiti, mas não podia parar por ali, então tomei fôlego e continue: - Algo praticamente confidencial e que se você não puder me ajudar nisso, vai dizer imediatamente.

O grande sorriso no rosto de Izzy pareceu murchar um pouco e ele se sentiu mais ou menos tenso. Então olhou para o lado e correu.

Eu achei que ele iria fugir de mim naquele momento, mas então vi que só estava indo pegar Arkansas, que quase derrubava o vaso de uma planta. Eu riria se não estivesse tão aliviada.

Aquela garotinha era realmente arteira.

–Espere só um minuto, Blake – Izzy gritou, retirando a menina de perto do vaso e vindo com ela no colo até mim. – Me desculpe por isso – ele relutou contra as mãos de Arkansas, que teimavam em bagunçar o cabelo dele. – Você estava dizendo que eu podia te ajudar, não estava? Com o que seria exatamente?

Hesitei em falar. Só que o desejo de compartilhar meus pensamentos foi maior.

–Com Christopher.

Ezequiel era uma das pessoas que sempre mantinha a calma em horas extremas, mas naquele momento ele realmente ficou sério.

–Ah, desculpa... Bem, eu... – ele colocou Arkansas em uma cadeira, virando de costas para mim. – Não posso te ajudar nisso. Sinto muito, Blakely.

–Então apenas me escute, Izzy. Por favor – pedi, com medo de que aquilo tivesse estragado toda a nossa amizade.

Em um momento involuntário, segurei o braço de Ezequiel.

–Por favor – repeti.

–Izzy, Izzy... – Arkansas pulou da cadeira, sorrindo igual boba e babando um pouquinho. Ela estava muito agitada.

A garotinha colocou as mãos no rosto de Ezequiel e apertou as bochechas dele.

–Bake, Bake... – Arkansas apontou para mim, rindo.

–Acho que Bake é você – retirei minha mão do braço de Izzy assim que ele disse aquilo. Pareceu me despertar.

Dei um pequeno riso.

–É, acho que sim – falei, olhando esperançosa para Ezequiel.

Nossos olhares se encontraram por um segundo mais ou menos, antes de desviarmos simultaneamente.

–Acho que posso te escutar – ele colocou a mão nos bolsos da jaqueta cinza que sempre usava. – Mas apenas te escutar, okay?

Sorri.

–É o suficiente.

Nós nos sentamos nas cadeiras da sala de espera, enquanto Lyndsey ( a secretária chata) ficava atendendo telefonemas sem se importar com a nossa existência. Então eu comecei a falar, estava me sentindo magicamente bem por estar compartilhando algo com um amigo, acho que eu já podia considera-lo um amigo. Ezequiel estava sendo tão bom comigo nos últimos dias que eu chegava até a chorar de felicidade antes de dormir em algumas noites, o que era completamente idiota.

Contei a ele sobre o que achava que eram os tais “problemas de casa” que ele dissera que Christopher sofria, contei sobre o pouco que sabia sobre Caleb Dwayne, contei sobre o acontecido no banheiro e sobre como eu achava que a mãe de Christopher talvez estivesse se relacionando com o tal Caleb e até contei sobre como aquelas marcas roxas nos braços dele me incomodavam. Era realmente preciso se meter em tanta briga daquele jeito?

Mas para minha surpresa, em nenhum segundo vi uma reação ou expressão diferente no rosto de Ezequiel, o que me desapontou, pois significava que eu estava longe de estar certa.

Quando terminei de contar tudo, bebi um pouco de água e o encarei por alguns segundos. Queria que ele dissesse algo como “Parabéns! Você acertou tudo”, mas eu sabia que seria impossível.

Depois de alguns minutos em silêncio, eu perdi o controle.

–Ah, por favor, custa dizer algo?

O garoto continuou com uma expressão entre sério e muito sério. Mas então mexeu os lábios e disse:

–Não se meta com o Robinson.

–Eze...

–É sério – ele me interrompeu com tanta frieza que senti um frio na espinha me arrepiar.

Antes que eu pudesse iniciar uma discussão entre nós. O Senhor Medeiros e o meu pai chegaram, apertando as mãos. Percebi que Ezequiel se afastou de mim e foi pegar Arkansas no colo, o pai dele foi até ele e sorriu de um modo triste. O Senhor Medeiros era outro mistério que eu ainda queria desvendar, mas por enquanto Christopher já estava tomando conta da minha mente com todos esses mistérios e segredos.

–Vamos, querida – escutei meu pai chamar, enquanto arrumava seus papeis em sua maleta preta. – Vá indo para o carro, por favor.

Dessa vez quem pegara carona para o trabalho fora minha mãe, então estávamos com o Chrysler. Saí da advocacia e fui até o carro, que estava parado há poucos metros.

Só que então me abaixei rapidamente, escondendo-me. Ezequiel e o pai esperavam na faixa de pedestres pelo sinal verde para a passagem de pedestres. Agora era o Senhor Medeiros que estava com Arkansas no colo. Eles pareciam conversar.

–... até que está indo não muito mal – disse Ezequiel.

–E como anda em casa? – perguntou Senhor Medeiros. – Christopher anda passando fome? Diga a mãe dele que se quiser pode nos pedir ajuda nesse quesito, filho.

A única coisa que entendi foi que estavam falando de Christopher e algo sobre ele passar fome, o que fez eu me preocupar um pouco com o garoto. Toda a raiva que eu sentira dele hoje de manhã se esvaíra com tanta facilidade que fiquei chocada, mas voltei a me concentrar na conversa, mesmo sendo errado.

–Não, o pai do Christopher pegou leve essa semana e o Senhor Caleb anda ajudando a mãe dele com as contas.

O ar pareceu congelar em meus pulmões.

“... o pai de Christopher...”.