Sempre Em Meu Coração escrita por Carpe Librum


Capítulo 4
Para alguém de Meu Pé De Laranja Lima


Notas iniciais do capítulo

Esta é da jurada Lúcia.



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Campinas, 29 de junho de 2015.

Querido Portuga,

Você também me permite chamá-lo assim?

Sei que pode parecer um tanto quanto démodé ter escolhido você como destinatário de minha carta, mas acredite, sua dose de humanidade mexeu demais comigo, o que me permitiu compartilhar os sentimentos do amigo de Minguinho.

Há tantas pessoas a quem poderia escrever... mais atuais, sem dúvida, e talvez mais famosas, conhecidas e reconhecidas. Você era um cara comum, bem sucedido na vida, mas um cara comum. E, como qualquer comum dos mortais, sua lembrança estaria designada ao esquecimento com o passar dos anos. Por melhor que passemos nossas vidas, dos sete bilhões que estamos na Terra, mais as dezenas de milhares de milhões que por aqui já passaram, compartilhamos a mesma sina... Esquecimento! Somos quase todos ao completo pó destinados.

Não reclamo, não leve a mal meus comentários, são uma simples constatação. Realmente não lamento, pois não creio que seja esse o grande consolo do mundo! Meu tatataravô era um homem maravilhoso: de um coração magnânimo, uma vida tranquila e ainda por cima foi o bonitão do vilarejo! Pois é, mas sinceramente falando, meu tatataravô é um completo desconhecido até por seus tatataranetos!!! Portuga, por que estou lhe dizendo isso? Porque vivendo sua vida numa fugaz eternidade você faz parte dessa mínima porcentagem que não está destinada ao esquecimento.

Com todo respeito, provavelmente você nem era tão bonitão como o meu antepassado que antes citei. No entanto o Zezé nos deixou uma fotografia sua... dessas quase em 3D! É engraçado pensar que quando o conheci você já tinha se mudado para o mundo da lembrança. Aí se encontra o enorme talento do José Mauro de Vasconcelos: ele conseguiu nos transmitir sua descrição, embora o tempo o separasse de sua imagem. É justamente esse o ponto que mais admiro num autor: sua capacidade de transmitir tão intensamente sentimentos tão reais, tão humanos, tão passíveis de serem compartilhados... Parece que todas as minhas rosas estão sendo destinadas ao autor, pessoa sensível e de sentimentos tão intensos. No entanto uma grande jogada dele foi ter posto grande foco em você.

Sim, ligaram os holofotes para mostrar o coração bom de um homem estrangeiro, saudoso de sua terra natal, numa boa desenvoltura em seu tempo e sociedade... E esse homem, você, soube ter uma dose quase sobre-humana de humanidade! Desculpe o trocadilho, na verdade é mais fácil pensar que a dose era além do natural, pois isso justificaria nossas incapacidades de ter o mesmo olhar para as pessoas à nossa volta.

Portuga, por quê?? Por que, por quê???

Só me explique, se for possível, por que as histórias reais têm às vezes finais tão tristes? Perdoe-me se devaneio, mas é que essas coisas sempre me trazem essa pergunta tão curta e tão complexa: Por quê????

Ele precisava de você. De fato, você foi o bálsamo de humanidade, de ternura, para uma terra sedenta. Você o ajudou a crescer, a ser melhor, a aprender a amar... e não sou eu que digo, senão o próprio autor. Então, Portuga, por que você tinha que ir embora assim, bruscamente? O que realmente aconteceu? No que você estaria pensando naquele momento? Você chegou a saber o que ele sentiu?

Não vou reencontrar você num outro livro, tampouco bisbilhotar dados de sua estadia por aqui. Já me basta saber que você morreu. E repetiria a frase de Zezé: “estava condenado a viver, viver”. Condenado a viver num mundo sem cor, sem som, sem gosto, perfume ou relevo... Num mundo já sem você!

Espero um dia poder encontrá-lo. Espero que possamos conversar com calma e que eu possa experimentar sua dose de altruísmo. Gostaria de já agora aprender... O mundo seria sem dúvida melhor se soubéssemos ter seus olhos!

Não quero terminar pessimista... Antes, prefiro agradecer por você ter sido quem foi, na simplicidade, na quase banalidade de uma rotina. Obrigada, meu caro Manuel Valadares, obrigada por ter sido um raiozinho de luz que ajudou a iluminar e esquentar à sua volta!

Adeus, meu querido Portuga!

Lúcia


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Notas finais do capítulo

Linda carta, não? Que tal dizer algo a respeito?



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