Natasha ficou fitando o desenho se sentindo confusa. O que isso significava? E por que só o local sem a gente na imagem? Foi aleatório? Foi pra se lembrar ou para apagar o que aconteceu? Por quê? Natasha ficou pensando. Ela tinha o raciocínio bem rápido, mas o desenho realmente a pegou de surpresa. Ela precisava de uma resposta imediata, e não sabia encontrar palavras que não a deixasse culpada.

Steve é bem mais lento em ler expressões faciais, mas da Natasha estava bem óbvio, seus olhos estavam bem abertos e ela não parava de mover os olhos nos detalhes do desenho. Ele sabia que ela estava pensando no que dizer pra ele e ele não tinha a menor intenção de constrangê-la, de forçá-la ou de causar algum tipo de remorso. Ele estava convencido de que aconteceu, porque aconteceu. Não tinha sentimentos envolvidos.

S: Uma hora teremos que conversar sobre isso.

Natasha olhou pra Steve com as sobrancelhas levantadas, suspirou e consetiu com a cabeça. Ela não queria conversar sobre o que passou. Não agora. Ela acabou de conseguir uma brecha pra voltar a falar com ele e aparece essse desenho trazendo tudo que levou a essa atmosfera entre eles, voltar à tona.

N: Nós devíamos sim.

Enquanto isso, Clint, que não perdeu nada do que estava acontecendo, se mantinha o mais quieto possível. Ao ouvir o Steve dizer que precisavam conversar, ele concordou com a cabeça e revirou os olhos, como quem diz: ALELUIA.

S: Não precisa ser agora...

Clint franziu a testa e balançou a cabeça em protesto, pensando Não, não, não. Resolvam agora.

N: Não gosto de postergar as coisas. Vamos resolver agora.

Clint sorriu e consentiu com a cabeça firmemente, empolgado. Na cabeça de Clint, ele queria ter uma câmera e registrar todos os momentos de Steve e Natasha, brincando, brigando, lutando. Ele era fascinado pelos dois individualmente e pelos dois juntos.

S: Antes de mais nada, queria dizer que está tudo bem. Eu sei que você gosta de implicar comigo e de fazer brincadeiras e que aquele beijo não significou nada. Eu sei de você e Bruce...

Antes que Steve terminasse, Natasha o interrompeu.

N: Steve, não é...

Natasha também foi interrompida pela chamada de um dos televisores do jatinho.

Clint amaldiçoou a ligação com todas as forças.

S: É da base?

C: Sim, vou transferir pra tela daí dos fundos.

Assim que Clint transferiu a chamada, a imagem na pequena tela em frente ao Steve e Natasha foi tomando forma. Uma figura loira, com cabelos cacheados e olhos castanhos. Sharon Carter.

S: Sharon? Algum problema?

Steve se levantou para ficar ao alcance da câmera do televisor.

Sharon: Sim. Um carinha me convidou para um café e parece que ele vai se atrasar.

Steve estava preocupado achando que tiveram algum problema na base, estava aliviado por ser apenas brincadeira da Sharon e ao mesmo tempo um pouco irritado por não ser nada demais e ela o chamar no meio da missão. E, ele não tinha motivos de se sentir mal por interagir com a Sharon na presença da Natasha, mas ele se sentia.

Steve é um homem muito educado e gentil, claro que sorriu pra Sharon e respondeu da melhor maneira.

S: Desculpe.

Sharon: Dever chama. Eu entendo, mas você terá que me compensar.

S: Claro. O que você quiser.

Sharon: Surpreenda-me.

Steve sorriu.

Sharon: Bom, melhor eu ir andando. Só estava com saudades. Tomem cuidado. Avisa ao Clint que a mulher dele ligou e que está tentando ligar pro celular dele e não consegue.

S: Avisarei.

Sharon: Ah e a Natasha está aí?

S: Sim, está aqui.

Sharon: Ela quer mandar algum recado pro Bruce?

Steve respirou fundo nessa hora, e nem olhou para Natasha porque o ciúme que sentiu estava muito evidente no rosto dele. Ele também desviou o rosto da câmera, para Sharon não notar.

N: Não, obrigada.

Sharon: Ok. Façam uma boa viagem. Tchauzinho.

No quesito ciúme ainda não está definido quem sente mais. Podemos dizer que chega a dar empate. Mas os ciúmes se manifestam de maneiras diferentes em cada um deles.

Mas Natasha tinha mais controle sobre o que expressar.

N: Você e Sharon... Finalmente aceitou meu conselho.

Steve estava um pouco chocado e com raiva por Natasha não sentir ciúmes dele. E por que haveria de sentir? Ela está com o Bruce. Gosta do Bruce. Steve a olhou, ainda sério e deu de ombros.

S: Ainda não saímos.

N: Hoje seria o 1º encontro?

Steve consetiu com a cabeça.

N: É uma pena que a missão tenha adiado as coisas pra vocês. Como eu disse antes, ela é legal.

S: É, tenho certeza que sim. Acho que estou pronto dessa vez.

Natasha sentiu como se tivesse engolido uma espada afiada que a cortava lentamente e a fazia sangrar lentamente. A dor que estava sentindo piorava ainda mais por ela se empenhar a manter as aparências. Para poder aliviar um pouco, ela se levantou, deixando o bloco de desenhos do Steve no banco e se juntou ao lado de Clint, novamente.

Clint sabia que Natasha estava pertubada e como um bom amigo, inventou que precisava usar o banheiro e esticar um pouco as pernas. Clint pediu para Natasha pilotar enquanto ele fazia uma pausa.

Ao passar por Steve, Clint deu dois tapinhas de leve sobre o ombro do Steve, como quem diz: Vai ficar tudo bem.

Steve o olhou e voltou sua atenção novamente para os desenhos.

Enquanto voltava a desenhar, Steve não parava de pensar... Natasha não sente ciúmes, realmente, não sente nada por mim. Sharon sente. Eu gosto da Sharon. Não gosto como gosto da Natasha.

Steve a olhou de relance e voltou a rabiscar.

Não posso gostar dela, ela pertence a outro homem e esse homem é meu amigo. Não posso gostar de quem não gosta de mim. Mas eu preciso de alguém. Preciso tentar novamente. Não deve ser normal ter sido apaixonado somente por uma mulher por tanto tempo. Mas ela está morta.

Steve começou a se sentir deprimido. Sempre que lembrava de Peggy, lembrava de tudo que perdeu durante o tempo congelado. Tanto que ele podia ter vivido ao lado dela. Tanta coisa que ele perdeu. Quem era ele nesse mundo agora?

Steve bateu com a mão na testa e fechou os olhos para impedir que mais pensamentos como esses chegassem. Porque quando chegam, ele até sente vontade de morrer ou de nunca ter sido descongelado. Estar perdido no tempo, causa muita confusão mental. E isso atrapalha o lado emocional dele. Steve logo associa paixão à perda. E, Natasha ele nem a ganhou e já a tinha perdido. Por isso ele não queria investir em ninguém.

Com muita ajuda do Sam e algumas consultas com psicólogos, ele foi aceitando a ideia de ter uma mulher na vida dele novamente.

Natasha observou o momento que Steve bateu com a mão na testa e franziu a testa, tentando entender o que o pertubou. Steve tem ciúmes de mim? Ela se perguntou, já sabendo a resposta. No fundo, Natasha sabe que Steve sempre foi atraído por ela, mas ela achava que era a atração que todo homem sente por uma mulher bonita. Ela sabia que Steve sentia algo mais, mas ela não queria admitir para ela mesma a possibilidade dele estar apaixonado por ela.

Por mim? Mesmo se estivesse, o que aconteceria? Eu sinto o mesmo? E o Bruce? Eu tenho sentimentos por Bruce. Também tenho por Steve. São sentimentos diferentes. Se eu ao menos conseguisse distinguir que sentimentos são esses. Mas eu não quero. Não quero saber. Não posso. Jamais poderia. Ele não merece alguém como eu. Não... Steve merece alguém que possa ser a melhor mulher pra ele, alguém que possa lhe dar filhos. Ele é antiquado, deve querer ter filhos. Eu não posso dar isso a ele.

Natasha sacudiu a cabeça negativamente, mantendo a expressão de que nada está acontecendo.

E por que eu daria filhos a ele? Ridículo pensar nessa hipótese. E, eu tenho Bruce. Talvez dê certo.

Natasha afirmava para ela mesmo que Bruce era o homem pra ela, sempre. E, sempre algo dentro dela negava isso de certa forma. Ela gostava da companhia dele, ele é um bom homem. Mas há um outro homem que a companhia era muito mais agradável pra ela. E ela estava olhando pra esse homem agora, pelo retrovisor.