Que som é esse? Esse som fino, intermitente, irritando meus ouvidos, me impedindo de ter qualquer pensamento lógico no momento. O que é essa imagem escura, quase um preto total que me impede de ver qualquer coisa que seja. Esse maldito som. Eu odeio esse som. O que é esse outro barulho? Parece ser minha respiração. Eu odeio esse som também. Por que está tudo escuro? Por que eu não consigo me mover? Alguém me ajuda. Estou presa. Amarraram minhas pernas, meu tronco e meus braços. Quebraram minhas pernas, não consigo me mover. Estou presa. Alguém faz esse som parar. Por favor. Eu não consigo respirar, eu não consigo respirar. Estou com medo, não consigo respirar, será que ninguém nota que não consigo respirar. Estou sozinha. Estou presa. Estou sem ar.

Argh, que gosto amargo na minha boca, o que estão fazendo comigo? Como ousam. Esse cheiro. Não, afasta de mim. Eu não quero sentir esse cheiro, eu não quero sentir, eu não quero respirar, eu não quero ver, não me traga de volta. Não me liberta. Me mantenha presa, por favor. Não me traz de volta. Eu amo aquele som. Tantos sons, tanto barulho. Eu não quero ouvir, eu não quero sentir. Eu não quero ver. Me deixa em paz. Por favor, não.

Pensamentos que Natasha estava tendo, enquanto estava na maca da enfermaria. Um enfermeiro colocou um vidro com amônia perto das narinas de Natasha para acordá-la.

Natasha sentiu espasmos pelo corpo, ela movia as pernas e as mãos, parecendo lutar para permanecer inconsciente. Ela não queria acordar, no lugar onde ela estava não tinha nada, só um som intermitente, não tinha pensamentos lógicos.

Natasha abriu os olhos devagar e viu uma figura a encarando. Estava muito embaçado. Ela moveu lentamente a cabeça pros lados e piscou os olhos até conseguir ver claramente.

Clint Barton, estava olhando para sua amiga com preocupação. Ele deu um meio sorriso. Natasha fechou os olhos novamente e fechou a mão com força.

As narinas dela estavam dilatadas e ela respirava fazendo força. Todas as lembranças de ontem chegaram de uma vez só. Natasha começou a se tremer. Eles não deviam tê-la acordado.

Agora ela se lembra. Steve caído entre os escombros que desabaram sobre ele. Ela lembrou de ter corrido até ele e visto o corpo dele imóvel, completamente deslocado. Ela tremia tanto que não conseguia tocar nele, ela mal o via porque tinha muitas lágrimas caindo dos olhos dela. Steve, Steve, ela repetia baixinho, sem forças. O dia estava nublado e gotas do céu começaram a cair, Natasha tentava achar uma forma de encostar nele, ela tocou o rosto dele, gelado. Ela recolheu a mão, ela não queria acreditar. De repente era a chuva que tornou o corpo dele gelado, está frio. Não pode ser. Natasha se aproximou e encostou os lábios que tremiam nos dele. Steve, por favor.

– ELE NÃO ESTÁ RESPIRANDO, ELE NÃO ESTÁ RESPIRANDO. ALGUÉM, POR FAVOR.

Natasha começou a gritar. Natasha sentiu alguém a puxar pela cintura e viu várias outras pessoas em volta de Steve, removendo ele dos escombros. Natasha se debateu, ela não queria ninguém tocando nele. Ele era dela. Ninguém tem direito de o tocar. Eles vão mata-lo. Ele está morto. Mas talvez não esteja. Vão mata-lo. Preciso salvá-lo. Era o que Natasha pensava, até sua visão apagar completamente e ela perder a consciência.

Natasha se sentou bruscamente na cama e segurou com força nos braços de Clint.

N: STEVE! CLINT, O STEVE.

O olhar de Natasha continha puro terror e esperança. Uma esperança já morta, ela tinha certeza que ele estava morto, ela sentiu o corpo gelado e sem respirar de Steve Rogers. Ela suplicava ao Clint por uma notícia que aliviasse a dor dela.

Clint a olhou com calma e tocou o rosto da amiga.

C: Natasha, ele não está morto.

Ao ouvir que Steve não tinha morrido, Natasha começou a chorar desesperadamente, de chegar a soluçar. Clint tentava de tudo para acalmá-la, a abraçou, fez carinho nas costas, simplesmente não cessava.

Clint a afastou de si, para olhar nos olhos dela.

C: Natasha, me escuta.

Natasha chorava com menos intensidade e olhava pro Clint.

C: Preciso que se acalme, ok?

Natasha limpou as lágrimas que insistiam em cair de novo, e limpou o nariz também, porque o desespero causa essas coisas. Natasha olhava pro Clint, aflita.

C: Ele sobreviveu, ok? Ele está em coma, quando Hulk o acertou, o escudo acertou a têmpora dele com tudo. Ele está com uma hemorragia muito séria. E não é só uma. Ele está em cirurgia até agora. Ele teve uma concussão cerebral.

N: O que isso quer dizer?

C: Natasha, os médicos não sabem se ele vai sair dessa. Vamos esperar pelo melhor, tá legal?

O rosto de Natasha começou a tremer em negação novamente, porque foram acordar ela, ela preferia continuar inconsciente. Ela se deitou novamente pra digerir a informação. Clint tentava consolá-la como podia.

C: Vamos ser otimistas, ele já levou outras surras. Ele é o Capitão América, ele pode sair dessa.

N: Eu quero ir até ele.

C: Ele está em cirurgia, Natasha. Tivemos que leva-lo pro hospital da cidade.

N: Ficarei na porta, aguardando. Não posso ficar aqui.

C: Tem mais uma coisa Natasha.

Natasha o olhou esperando resposta.

C: Sharon está de volta.

Natasha só respirou fundo. Ela não quer saber se Sharon está de volta, ninguém a impedirá de ir pro hospital. Ela não sabe se é capaz de fingir não estar tão preocupada, e ela não liga. Ela precisa estar perto dele.

Clint levou Natasha até a cidade, ele entrou com ela no hospital.

Na área de espera estavam Sam, Hill, Tony, Pepper e Sharon.

Hill foi até Natasha assim que a viu se aproximar.

H: Natasha.

N: Como ele está?

H: Ainda estamos aguardando notícias. Como você está?

Natasha não respondeu, ela obviamente esteve chorando. Agora, não mais. Hill queria dizer que sabe sobre eles dois e que sentia muito e que era pra Natasha não dar bandeira, perto da Sharon, pra não piorar as coisas. Não que a Hill fosse tão insensível, ela apenas prevê as tragédias e tenta impedir.

Natasha e Clint se sentaram, Natasha não conseguiu encarar Sharon, que estava chorando no ombro de Sam. Mas Sharon tinha o que dizer pra Natasha.

Sharon: Você estava lá.

Sharon dizia entre os soluços.

Sharon: Ele defendeu você.

Natasha a olhou sem nenhuma expressão no olhar. Ela não tinha parado pra pensar que Steve a salvou, Steve a defendeu do Hulk, era culpa dela, ele estar nessa situação.

Sam: Ele faria isso por qualquer um de nós.

Sharon: Eu sei, eu sei. Eu não quis dizer isso de maneira ruim. Steve é um homem bom, ele salvou a melhor amiga dele.

Natasha semicerrou os olhos. Não sabia se encarava como ofensa ou elogio. Mas levou como elogio. Será que Steve disse pra Sharon que ela era a melhor amiga dele?

Pepper: Eu vou pegar algo pra comer, alguém quer alguma coisa?

C: Eu quero doritos.

Hill deu um leve tapa no pescoço de Clint.

C: Desculpe, eu esqueci...

Natasha fitava as flores na mesinha de centro.

Tony: Te ajudo, amor.

Sam: Só me tragam um café.

H: 2 por favor.

Pepper: Sharon, não quer nada? Você veio do aeroporto direto pra cá, deve estar faminta.

Sharon agradeceu e disse que não queria nada, assim como Natasha.

Enquanto Pepper e Tony estavam na lanchonete do hospital, um médico finalmente apareceu com notícias.

Natasha levantou imediatamente e foi até o médico, assim como Sharon. Hill, Sam e Clint levantaram, mas não foram até o médico.

– Conseguimos estabilizar ele.

Quando Natasha ouviu, ela colocou a mão no nariz e respirou fundo pra não desabar a chorar de novo, enquanto Sharon sorria e chorava ao mesmo tempo. Natasha apenas deu as costas pra ela, pra esconder seu estado emocional.

Sam se aproximou de Sharon e apoiou a mão no ombro dela.

Sam: Eu disse que ele ia ficar bem. Ele é o Capitão América, cara. Eu disse.

– Olha ele está em coma ainda, mas os danos que ele sofreu foram muitos. Nós não sabemos qual será o estado mental dele quando acordar.

Sharon: Ele terá sequelas?

– Não podemos dizer com certeza. Mas ele pode perder a fala e a memória.

Sharon começou a chorar de novo.

Sam agradeceu ao médico, que se retirou.

Natasha estava mais aliviada agora, não interessa se Steve vai ficar em estado vegetativo, ou se não vai lembrar de nada. Ela o quer vivo, precisa dele vivo.

Quando Pepper e Tony voltaram, ficaram felizes ao saber que Steve ia sobreviver.

Hill aproveitou que tinha boas notícias e anunciou que ia embora. Pepper e Tony foram junto com ela.

Uma enfermeira apareceu no fim da tarde anunciando que 1 pessoa podia entrar para ver Steve e ficar por meia hora.

Quem foi a primeira a se levantar pra se candidatar? Não foi Natasha. Isso mesmo, foi Sharon. Ela nem achava que era motivo de discussão, ela era a única que tinha o direito, por ser a namorada dele.

Natasha ficou furiosa, porque ela não demonstrou, mas quando a enfermeira anunciou, os olhos dela brilharam e ela precisava tanto ver o Steve.

Dra. Cho apareceu assim que Sharon entrou com a enfermeira.

Todos foram pra perto dela, obter mais detalhes e ela contou que tudo que o médico disse é verdade. Que era pra ele estar morto, que está em coma e que pode ter sequelas quando despertar do coma.

Dra. Cho também alertou que nada adiantava eles ficarem lá, porque visitas só por meia hora, e somente 1 pessoa de cada vez pode vê-lo. Que deviam revezar e voltar no dia seguinte.

Sam: Vou esperar Sharon voltar para leva-la pra casa.

N: Vou ficar.

Sam e Clint a olharam.

C: Você ouviu a médica, Tasha. Não adianta.

Clint segurou o braço de Natasha e apertou pra ela olhar pra ele e entender que ela não deve agir assim na frente dos outros, principalmente Sam que era muito amigo da Sharon.

C: Voltamos amanhã. E aí você pode ficar uns minutinhos e depois Sharon entra...

Natasha não disse nada.

Sharon voltou e Sam a convenceu de ir pra casa. Ela queria passar a noite ali na recepção. Clint e Natasha também deixaram o hospital.

No carro, Clint olhou pra Natasha.

C: Quer conversar?

N: Eu vou voltar.

Clint suspirou.

C: É, eu sei.

Clint parou o carro. Natasha tirou o cinto e desceu do carro.

C: Me liga se precisar de alguma coisa, tá?

Natasha consentiu com a cabeça.

Clint seguiu pra B.V. e Natasha pegou um táxi de volta ao hospital.

Ela era uma espiã nata, conseguiu um jaleco de médica na rouparia, arrumou um óculos, fez um coque no cabelo, pegou uma prancheta e roubou um crachá de médica na recepção.

Natasha acessou a UTI e procurou no quadro qual era o leito que Steve estava, ao chegar na porta, ela empacou ao visualizar ele cheio de tubos, todo imobilizado.

Ela entrou e fechou a porta. Ela se aproximou da maca e sentiu um remorso muito grande. Ela estava convencida que ela é a culpada dele estar nesse estado.

N: Eu quase te perdi.

Natasha sussurrou. Ela estendeu os dedos pra alcançar o rosto de Steve, mas tinha medo de machuca-lo apesar do coma. Ela nem se sentia digna de tocar nele. Apenas uma lágrima solitária rolou pelo rosto dela.

N: Me desculpa.

Natasha puxou uma cadeira e ficou observando Steve durantes horas.

Natasha apoiou os braços na maca e o queixo sobre os braços enquanto observava Steve. Ela bocejou umas três vezes, e adormeceu sem notar.