Closer to the Edge: the grand finale escrita por mrsdaddario


Capítulo 4
Dark Paradise


Notas iniciais do capítulo

EVERYTHING IS FINE BUT EU QUERIA ESTRELA MORTAAAAAA gente sei mais como cumprimentar vocês então bora fingir que demos um abraço na maior paz e ta valendo. Esse capítulo deveria ser até maior, só que quando eu dei por mim ja tinha ultrapassado a faixa de 3000 palavras fiquei até caralho Deus como assim e até ia parar na parte do cemitério mas preferi continuar então ficou esse ser enorme. Vai ser só Charlotte e nico nico e Charlotte E MEU DEUS VOCES ESTAO SHIPPANDO ESSES DOIS vou ter que falar que inicialmente eu realmente pensava em um love affair entre eles só que seria muito estranho. Mas assim, admito que rola uma amizade colorida entre esses dois não restam dúvidas. Anyway amores vejo te lá em baixo.



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2015 – Canal da Mancha,Ainda na Inglaterra

Charlotte agora encarava o próprio reflexo nas grandes janelas do Eurotúnel. A parede de pedra que circulava o metrô submarino passava em alta velocidade, mas a média do percurso ainda era de duas horas e meia. Ela ficava imaginando se no futuro o concreto pudesse ser substituído por vidro, daí então fosse possível ver o fundo do Canal. Charlotte não se perguntava se seria em um futuro próximo ao qual pudesse ainda estar viva, ela sempre vai estar.

Nico a fitava, sentindo-se até um pouco constrangido e meio idiota por ter usado o tom de acusador nela. Ele sabia, e entedia, que Charlotte amava o irmão. Morrera por ele e se pudesse teria morrido de novo. Falar desse episódio com Percy ainda a machucava como se tivesse acontecido ontem. Nico compreendia tal sentimento porque teve uma irmã que não pôde salvar, pois a mesma pediu para que não o fizesse.

Quando se desafia a morte, nunca se sai ileso. Cada pessoa com esse, digamos, “dom” de viver para sempre só pode transmitir esse dom para outro uma única vez em toda sua existência. O pai de Nico, Hades, passara para a irmã Hazel, e então Hazel passou para ele. E Nico esperava passar para Bianca, mas então ela recusou. Daí Charlotte morreu e era essa a lógica: não dá para matar aquilo que já jaz morto. O ritual de sangue era bem medonho, mas no fim de uma semana Charlotte estava mais viva do que nunca.

A coisa é que nada realmente acaba quando você nunca morre. E no fim do dia, por mais que se ria e sorria e demonstre felicidade a dor de trezentos anos volta como um peso no seu peito e você nunca se vê livre disso. Nem se tentar suicídio, porque, afinal, você já está morto.

Bianca não quis ser imortal e agora Nico se perguntava se viver para sempre era realmente um bom negócio.

– Maravilha. – resmungou Charlotte, fitando a tela do celular. – Place de la Dorothea é agora o Centre Pompidou. – ela olhou para um Nico confuso, e então revirou os olhos. – É um centro cultural. Um museu se preferir. Como nós vamos achar papéis de duzentos e quarenta e dois anos ali?

Nico agora a olhava com olhos arregalados, passando o olhar dela para o banco do lado, tentando transmitir uma mensagem. Charlotte estancou e olhou de soslaio para a garotinha de, no máximo, quatro anos cantarolando ao seu lado. As mãos pequeninas remexiam no pelo do panda de pelúcia, os olhos azuis intensos alheios ao mundo ao redor.

Elle parle Français? – perguntou Charlotte.

Nico observou a garotinha, ela pareceu confusa, então isso lhe foi suficiente para saber que a menina não falava francês. Ele assentiu pra Charlotte continuar.

– A não ser se tivermos a permissão de entrar com uma escavação, mas não acho que os franceses vão se impressionar com o alerta de “problemas na segurança nacional” vindo da Inglaterra. – disse ela com um perfeito sotaque esnobe parisiense.

– Ou nós vamos pelo modo antigo.

– Seu francês é péssimo. – observou. – Que modo antigo?

– Desculpe se sou italiano e não francês. – rebateu Nico. – Nosso modo antigo. O faro para achar tesouros em um mapa confuso é conosco mesmo.

Questo non è una scusa.(isso não é desculpa) – contra-atacou Charlotte falando em italiano. – As coisas antigamente eram mais fáceis do que é hoje. Por exemplo, creio que assassinato ainda é crime.

Parlo italiano, così come si parla francese.(falo tão bem italiano quanto você fala francês) – respondeu Nico, em um italiano não tão bom assim. – Assassinato sempre foi crime. Mas acho que você nunca realmente se importou com isso.

Je suis en désaccord avec vous. Non sono d’accordo com te. (discordo de você). – rebateu Charlotte, falando a frase em francês e em italiano. – Nunca me importei porque nunca seria presa.

– Screw you, Green. – disse ele, voltando ao inglês; o linguajar fez a garotinha o olhar horrorizada. Ingleses, hipócritas desde o Império Romano. Depois, se recompôs e voltou ao francês: - Você é rica, vai se safar de qualquer jeito.

Charlotte abriu a boca, mas se deteve quando uma mulher loira de olhos cor de café apareceu exasperada, abraçando a garota e murmurando:

– Nunca mais faça isso! Não saia de perto da mamãe, Katherine, nunca mais!

E então arrastou a garotinha até mais pra frente do trem, com a menina tentando acompanhar os passos rápidos de salto alto da mãe. Charlotte ficou ali, olhando para a menininha de costas com a boca aberta ainda sem fala. Outra lembrança, a pior de todas, lhe atingiu como um caminhão e ela não se preocupava em parecer idiota.

Katherine. O nome da garotinha de olhos azuis era Katherine. Exatamente como outra garotinha de olhos azuis que morrera nos braços da mãe.

Lei universal: um filho morrer antes dos pais não é natural. E não importa quantos anos se passem uma mãe não esquece um filho morto. E Charlotte nunca realmente esquecera Katherine. Nem com o gosto doce de vingança quando matou Piper. Como poderia? Sua filha com menos de um ano gélida e sem batimentos em seus braços ainda era uma memória límpida. As mãos dela agora tremiam e sua respiração ficou mais pesada enquanto tentava não deixar as lágrimas caírem.

Charlotte finalmente entendeu porque nunca olhou para trás. Se vislumbrasse seu passado se perderia e não tinha certeza se encontraria o caminho de volta.

Nico odiava essa situação. Era péssimo em consolar as pessoas e, bem, o que diria? “Ela deve estar no céu dos bebês”? “Em um lugar melhor”? Charlotte já tinha morrido e, assim como ele, sabia que não havia nada além de escuridão. Só escuridão. Uma eterna negritude sem estrelas.

Por fim, ele resolveu abrir a boca e falar algo que possivelmente iria melhorar:

– Provável que esteja no subsolo, esperamos fechar e cuidamos dos seguranças que estiverem no local. A planta lá embaixo não deve ter mudado muito e você provavelmente se lembra de como era os cômodos inferiores dú Place de la Dorothea. – os olhos de Nico brilharam, tentando transmitir a ansiedade para ela. – Topa voltar a ser a capitã Charlotte Green só por uma noite?

Aquilo fez o brilho do sorriso torto aparecer nos lábios vermelhos, e isso foi a primeira memória boa em duzentos e cinquenta anos.

***

Paris merecia o título de Cidade Luz.

Não era assim tão tarde – afinal quando se está em uma capital europeia três da madrugada nunca era considerado madrugada – eram nove da noite, mas as luzes em torno do Senna, da Rue de Rivoli e a iluminação do Musée dú Luvre, mais a cidade se estendo até chegar ao Quai Branly e Avenue de La Bourdonnais e as luzes derem espaço para o vergão construído em 1889, um farol de 324m chamada Torre Eiffel; todo esse conjunto fazia parecer dia.

Charlotte e Nico saíram da estação Port Royal e resolveram ir até a próxima estação Cluny La Sorbonne, passando por de baixo do Senna e da Ilé de La Cité, chegando na Rambuteau. Dali, só foi atravessar a Rue Beaubourg e chegaram ao Beaubourg, também conhecida como Centro Cultural Centre Pompidou.

Era um esqueleto de lajes e concreto, elevadores, escadas rolantes e tubulação de água a mostra, como se tivesse em uma constante obra. Na verdade, a última restauração foi na primavera de 2013. Foi construído por Renzo Piano e Richard Rogers em 1970 e é um dos lugares mais visitados do mundo. Estava no fim do expediente, normalmente fechando às 22h.

Charlotte segurou o cigarro entre o indicador e o dedo do meio, mordendo a unha do dedão pensativa. Mesmo tendo deixado o casaco e o lenço em Edwiges, ela não sentia frio, e era até melhor assim, com Nico somente de terno negro e ela de saia e blusa com a mesma cor.

– Repassando – pronunciou ela, ajeitando a saia apertada – Finjo ser qualquer coisa que tenha acesso aos compartimentos inferiores, vou pelo elevador enquanto você vai pelas escadas e, então, procuramos onde Sophia pode ter deixado aqueles papéis idiotas.

– E dar em cima do vigia se for necessário.

– Estou coberta dos ombros aos joelhos, Di Angelo.

– Mas o decote continua maravilhoso.

– E você continua sendo um machista de merda e um tarado de primeira. – Nico se limitou a um dar de ombros como resposta. – Preciso de um crachá.

Nicholas a entregou o dele próprio. Era na verdade para entrar em Buckingham quando precisasse, mas o jeito era Charlotte não deixar o vigia ver o que estava escrito, já não possuía foto. Charlotte arqueou uma sobrancelha, mas era o que tinha, então o prendeu no cós da saia, incomodando um pouco nas costelas. Depois, ela repassou o batom vermelho e ajeitou os cabelos, pisando como se tivesse em uma passarela em direção ao Centre Pompidou.

– Ah, querida Charlotte, é meio impossível não ser um tarado com você por perto. – suspirou Nico, seguindo o caminho para as entradas do lado esquerdo do prédio.

O vigia Felipe Mosterfique estava fechando o prédio mais cedo por causa do domingo quando a mulher apareceu diante da porta de vidro. Ela parecia um fantasma de uma miss, com as roupas pretas e o batom vermelho, mesmo com a pele bronzeada ela ainda dava calafrios. A personificação da expressão “linda de morrer’’. Monsterfique costumava não ouvir as lamurias dos turistas, mas abriu uma exceção para moça.

Charlotte sorriu quando o homem pequeno abriu uma fresta. Sem querer, acabou se lembrando da frase que sua mãe costumava lhe dizer quando era pequena “és uma bela menina, e beleza é uma moeda de compra valiosa, seja inteligente ao usá-la.”. Elizabeth Miranda Green era psicótica, mas até que sabia das coisas. Que Lúcifer a tenha.

– Pardonnez-moi, bonsoir, sou Nicole Digori – ela hesitou, pensando em uma boa desculpa para estar ali – vim para... – ela fingiu ver algo no celular – ver uma peça. Vim a mando do curador – Charlotte mostrou o crachá e antes que o vigia pudesse ler qualquer coisa ela o escondeu na palma da mão. – Averiguar uma peça do depósito.

– E pode me dar o nome dela? – perguntou o vigia, bem desconfiado.

– O curador pediu segredo.

– Sim, o curador...? – ele incitou.

Felizmente, Charlotte viu o nome do curador do Centro Cultural pelo celular. Que Deus salve a Internet!

– Raphael Sant-dè-Checspiere? – respondeu com um sorriso calmo por fora, mas vitorioso por dentro. – Enfim, ele só pediu para que eu visse uma simples obra, mas se o senhor não quiser me deixar entrar pode se entender com ele...

– Não, não! – o vigia se exaltou, se atrapalhando com as chaves. – Pode entrar, senhorita Digori.

Charlotte agradeceu e se dirigiu ao elevador, sendo seguida imediatamente por todos os seguranças do local. Cinco brutamontes no total. Charlotte suspirou, obvio que não seria assim tão fácil. Ela respirou e se virou para o vigia, sorrindo e perguntando com o olhar que merda era aquela.

– Desculpe, senhorita, protocolo de segurança.

Charlotte fez que entendia com um gesto de cabeça. Ela olhou de soslaio uma figura se esgueirando pelas sombras em direção as escadas. Então, não contradisse, só precisava se livrar dos cinco homens. Eles entraram junto com Charlotte no elevador, três atrás dela e dois nas laterais. Um deles pressionou o botão do subsolo, e as portas se fecharam.

Foi uma cena quase constrangedora. Charlotte sentia todos os olhares direcionados em sua direção, enquanto se concentrava para não ter um tique nervoso e começar a atacar sem pensar. Um bom jeito era se algum deles fizesse o primeiro movimento, mas como isso não vir acontecer, ela que tem que dar o primeiro passo.

– Ah, que se dane! – exclamou. – Sabe, rapazes, isso deveria ser mais fácil...

Então ela pegou uma arma do console de um dos seguranças e atirou a esmo, só que, bem, ela era uma atiradora boa e acabou acertando a perna de alguém. Os seguranças, menos o que estava com a perna machucada, avançaram juntos. Num reflexo, ela se abaixou e esticou a perna, girando, dando uma rasteira em todos.

Os seguranças caíram um sobre o outro de forma desajeitada, então Charlotte aproveitou a deixa e se levantou em um pulo, mirando e atirando em todos em um ponto que iria incapacitá-los na hora. Assim que deu o ultimo tiro, o elevador tocou o sino e abriu as portas.

Nico já estava de pé quando o elevador se abriu, revelando uma Charlotte com os pés rodeados de corpos desacordados e sem nenhum arranhão. Ela deu de ombros como se aquilo fosse super normal.

– Não posso evitar que homens caiam aos meus pés. – disse ela. Nico bufou e balançou a cabeça, mas não pôde conter o sorriso. – Vai me ajudar com isso ou vai ficar aí parado?

Nico então segurou os braços e Charlotte as pernas, daí em algum tempo os cinco gorilas estavam amontoados do lado de fora do elevador, um em cima do outro. O cômodo logo adiante era uma sala de concreto com uma porta trincada feita do mesmo material, a chave era um sistema que funcionava ou com senha ou com um cartão. Nico fuçou os bolsos dos seguranças e deu sorte em achar um, mais sorte ainda foi quando inseriu o cartão no sistema e a porta fez um barulho de chaves intricadas e se se abriu com um estalo.

A próxima sala era o enorme subsolo, com grades e uma cabine iluminada com um guarda de fones observando um jogo de basquete qualquer, tomando um refrigerante, sugando com força o canudo quando o jogo pareceu animar. Obviamente, o único jeito de abrir as grades era por meio do homem na cabine.

Nico fez um sinal para Charlotte e se esgueirou como uma sombra atrás da cabine, enquanto Charlotte por sua vez andou balançando os quadris em direção à janela de frente para o guarda, que levou um susto e acabou por derramar o refrigerante e retirar os fones, se perguntando de onde via aquele anjo todo de preto.

– O-olá. – balbuciou ele.

Muito idiota, não? Mas o cheiro dela era tão bom, e era tão bela. Uma criatura assim não podia fazer mal. Antes mesmo do guarda pensar em dizer algo melhor que um simples “olá”, seus olhos se arregalaram e uma bala se alojou no cérebro dele.

Charlotte teve tempo de fechar os olhos antes de o sangue explodir em seu rosto. Ela limpou o respingo perto do olho direito com uma expressão de nojo e fitou Nico com fogo no olhar. Ele levou o cano da arma perto da boca, assoprando e abrindo um sorriso de deboche.

– Você? Com nojo de sangue? – perguntou ele com certo escárnio, observando as telas de segurança e retirando a dos lugares que eles passaram e então desligando todas. – Geralmente suas mãos vivem com o sangue escarlate. Jorrando. Pingando. Escorrendo por entre seus dedos...

– Sério? – perguntou Charlotte. – Sei dos meus próprios demônios, Di Angelo. – ela se inclinou por dentro da janela pequena e apertou um botão debaixo da mesa onde estava a TV que se passava o jogo. – Não preciso de alguém para me lembrar de que eles existem.

O enorme portão fez um longo barulho agudo e deslizou para o lado, abrindo-se completamente. Quadrados com barreiras imaginárias continham peças de arte modernas, desde quadros psicodélicos a peças de decoração elaboradas magnificas. Charlotte olhou ao redor e suspirou. Aquilo não seria fácil.

Mas, ei, ela era Charlotte Rebbeca Green afinal. Sempre conseguia o que queria.

Fechando os olhos, ela imaginou tudo ao seu redor se diluir e transformar-se do subsolo do Place de la Dorothea. Ainda com os olhos fechados, se equilibrava nos saltos pelo local, sentindo a presença de Nico bem ao seu lado. Onde a Cachinhos Dourados Júnior enfiou aquilo?

– Nicholas? – Charlotte chamou, com os olhos fechados andando pela enorme sala.

Ele suspirou. Nada de bom vinha quando ela o chamava pelo nome, não pelo apelido.

– Sim?

– Mesmo que alguém encontrasse algum papel e soubesse de toda história – ela parou abrindo os olhos e o encarando – como esse alguém saberia aonde ir e como tentaria achar papéis aqui? – ela esticou os braços, indicando a sala inteira. – Além disso, como vamos saber onde aquela loira pôs o maldito final do diário?

Nico parou pra pensar. Ele pegou a única página que deixara com si – o resto deixou em um cofre muito bem guardado em seu escritório na Inglaterra – e leu a frase mais uma vez. Talvez, só talvez, a pista tenha tanto a ver com a Charlotte que deveria guia-los até o destino final tanto a Charlotte em si. Mas em que lugar poderia...?

Então, como um flash, a luz passou pelo fino papel e Nico descobriu que Sophia Deborah Chase tinha muito mais a ver com a mãe do que poderia se imaginar.

Contra a luz, a frase em tinta invisível se mostrou e Nico a leu em voz alta:

– La mort du Immortel guide vous.

Charlotte o encarou por uns segundos, tentando engolir a informação.

– Que a morte da Imortal lhe guie?

Nico assentiu, guardando a página de volta ao bolso do terno.

– Você forjou sua morte em 1778 não foi? – perguntou ele, mesmo que já soubesse da resposta.

– Fui para Paris para comprar sapatos, de algum jeito o boato de que nunca morria se espalhou. Então me tornei Charlise. – ela deu de ombros. – Quando o boato se espalhou de mais, acabei fingindo minha morte. – Charlotte parou, fitando Di Angelo e esperando sinceramente que ele não estava tendo uma ideia idiota. – Acha que ela enterrou a tão esperada parte final no meu tumulo?

– Ora, porque não? – supôs Nico – Além disso, se Sophia escondesse algo aqui você saberia.

– Está me dizendo que acabamos de matar seis pessoas por nada?!

– Um: - Nico estendeu um dedo no ar – serão sete na verdade, o vigia pode ser testemunha. Dois: desde quando se importa em tirar uma vida? Isso é quase um hobby para você.

Charlotte bufou, andando em direção à saída ao lado dele.

– Matava porque nesse mundo ou você morre ou mata. Vence ou perde. Caça ou vira jantar. Não é uma diversão.

– Bem, então tem sorte de me ter ao seu lado. – Nico abriu um sorriso torto, cortante e assustador. – Porque essa é minha brincadeira favorita.

Com movimentos de um time que cumplicia há muito tempo, Nico e Charlotte pegaram os corpos e os colocaram em um carro de carga. Parecia mais um grande carrinho de compras com uma cabine de trator, mas serviu. Nico embalou o indicador em um lenço e digitou no banco de dados alguma peça que parecesse uma pá, mandou o sistema busca-la e quando o braço mecânico chegou com a entrega, ele apagou o registro. Charlotte pegou um cartucho cheio e carregou a arma que pegara do segurança, apertando o botão para chamar o elevador com o cotovelo.

– Muito bem. – suspirou ela quando sentiu que Nico estava perto. – Você some com os corpos tão bem que nem os próprios fantasmas podem encontra-los. Enquanto eu – ela levantou a arma de fogo – cuido do vigia.

– Desculpe, mas quem te colocou no comando e te deixou com a parte divertida e eu com o trabalho sujo?

O elevador chegou com um barulho de sino e Charlotte entrou de costas.

– Ora, quem me colocou no poder foi Deus meu caro. – respondeu, apertando o botão para a recepção com o cano do revolver. – Ele o fez quando me fez mulher e você homem.

– De qualquer jeito foi bom a crise ter passado. – comentou Nico sutilmente, tirando o paletó e tomando o volante do carrinho.

Aquilo despertou Charlotte e ela interrompeu o fechamento das portas colocando seu braço esticado na entrada. Os olhos dela encararam Nico de tal forma que não precisava de palavras para pôr voz nos seus pensamentos. Ele entendeu, e então disse:

– Não precisa me olhar assim. Sabe que é tão psicopata quanto eu. – o sorriso debochado meio de escárnio apareceu novamente nos lábios finos de Nico, fazendo Charlotte se lembrar do porque todos tinham receio dele: era o que sabia o defeito e segredo de cada um. – Você possui um coração sombrio, capitã.

Charlotte recolheu o braço e as portas se fecharam, a superfície polida refletindo o reflexo e a obrigando-a a ver que Nicholas, afinal, tinha razão. Para sobreviver a sua própria escuridão era preciso apagar as estrelas e fingir que não possuía coração – ou no caso sentimentos, já que seu coração não batia de qualquer jeito.

Sozinha, ela sussurrou para si mesma:

– Mais sombrio do que você imagina.

***

O elevador se abriu para o saguão vazio, porém iluminado. Claro que estava iluminado. Era Paris, tudo naquela cidade parecia ter que exalar brilho. A entrada era toda de vidro e o vigia Felipe viu pelo reflexo a mulher sair do corredor sozinha. Quando se virou em sua cadeira, ele quase teve um ataque cardíaco. A moça parecia mais macabra ainda com os respingos vermelhos pelo rosto, pescoço e decote. Felipe não precisava olhar de novo e mais de perto pra saber que aquilo era sangue.

– A... A s-senhorita está bem? – gaguejou, se levantando e indo em direção a ela. – Precisa de um curativo... está machucada? – seu coração pareceu palpitar com mais força – Quem fez isso? Mais alguém está...?

Ele parou de falar quando a moça levantou a arma.

– Shhh – pediu ela, com o cano da arma perto dos lábios, no lugar do dedo.

Felipe entrou em pânico. Tentou gritar, mas se lembrou de que o vidro era a prova de balas e de som. Então correu para sua mesa, a mão erguida para pegar o telefone, mas a mulher atirou em sua perna e o fez cair com nariz no assoalho. Sua visão estava turva de dor e ele só conseguia observar os lustrosos sapatos pretos andando em sua direção, cada passo mais torturante que o outro.

Ela o virou de costas para o chão com o pé, sorrindo cruelmente ao encará-lo.

– Realmente não esperava que as coisas terminassem assim. – admitiu, apontando a arma no ponto entre os olhos castanhos do vigia. – Mas infelizmente você acabaria sendo uma testemunha. E sabe o mais legal de ser mortal? É que vocês morrem. E os mortos não contam histórias.

Se o vigia iria dizer últimas palavras, essas ficaram com ele. A arma disparou certeira e se alojou bem entre os olhos, fazendo uma bela poça de sangue escorrer pelo chão branco.

Charlotte olhou para além da fachada de vidro. Os poucos que passavam pela praça pareciam alheios ao que tinha acabado de acontecer. Dando-se por satisfeita, ela saiu à procura de algum armário ou deposito de limpeza. Acabou achando um no segundo andar e, com a luz proveniente do celular, pegou rodo, alvejante e água. Arrastou o corpo para de baixo da mesa e limpou bem o chão entre os azulejos.

Quando terminou a limpeza, verificou o relógio. Era quase uma da manhã. Charlotte olhou para o corpo e depois olhou para o jardim ao lado e fez o raciocínio lógico: se há jardim, há ferramentas para cuidá-lo. Os ponteiros do relógio davam 2h03 quando ela terminou de ajeitar a grama artificial em cima da cova que acabara de fechar. Charlotte retornou ao prédio e limpou mais uma vez o chão só para garantir, guardou tudo no lugar e só retirou as luvas de borracha que pegara no armário de limpeza e soltara os cabelos do coque quando saíra do prédio.

Aquilo era só precaução, claro. Se antes ninguém a pegava sabendo seu nome e sobrenome e que foi a culpada, quem dirá agora. Mas vai saber? Hoje em dia tem CSI e eles te pegam por causa de um maldito fio de cabelo.

Charlotte pegou o maço preso entre a saia e a blusa, e assim que colocou um na boca, uma mão pálida apareceu com um flama de isqueiro e acendeu o cigarro. A pequena chama deu um brilho mais psicótico aos familiares olhos escuros. Charlotte soltou a fumaça pelo canto da boca e encarou Nico com os olhos semicerrados.

– Onde os colocou?

Em resposta, Nico segurou o queixo dela e o virou gentilmente para o lado oeste da cidade, onde uma fumaça ao longe ascendia ao céu noturno.

– Não acha que vai chamar muita atenção?

Nico deu de ombros.

– Com mídia, sem mídia, nenhuma diferença. Vão achar que foi um incêndio sem proposito, já que eu enterrei os ossos. – respondeu ele, indiferente. – Temos coisas mais importantes para nos preocupar.

Ele levantou a “pá artística”. Era uma pá, com certeza, só que toda pintada de amarelo-canário e trançada, por tanto era considerado objec d’art.

– Se lembra de onde foi supostamente enterrada? – perguntou Nico, girando a pá amarela casualmente.

– Cimetière du Père Lachaise.

Nico bufou. Mas é claro...

– E onde fica?

Charlotte entortou o nariz de forma adorável, pensativa.

– Na Grande Paris, em uma colina perto de onde ficava a Bastilha. Poderíamos pegar um metrô para a estação Bastille, porém está tarde.

– Outra alternativa? – perguntou ele. – Place de la Bastille fica do outro lado da cidade.

– Espero que tenha dinheiro. – falou Charlotte. – Vamos de táxi.

***

Não é necessário dizer que o pobre taxista quase teve um ataque cardíaco quando duas figuras de preto entraram no seu táxi no meio da madrugada e com destino ao maior e mais famoso cemitério da cidade. O parisiense com descendência grega suou frio e olhou mais para o banco de trás pelo retrovisor do que para a rua. A sorte era que naquele horário as ruas estavam calmas, senão os passageiros não seriam os únicos a irem para o cemitério naquela noite.

Cimeitière du Père Lachaise se situa em uma colina arborizada com vista para a Cidade Luz. Como se os mortos se importassem. Era de Père de la Chaise, confessor de Luis XIV, e foi comprado por Napoleão Bonaparte em 1803, de lá para cá, foi feito de moradia eterna para ilustres defuntos como o escritor Honoré de Balzac, o compositor Fréderic Chopin, a cantora Edith Piaf e a bailarina norte-americana Isadora Duncan, morta enforcada quando sua echarpe ficou presa na roda do automóvel que dirigia para Nice, em 1927. O cemitério era tão concorrido pelas famílias burguesas de Paris que só no século XIX teve que ser ampliado seis vezes. Mas no século XVIII, era só um cemitério comum.

– As antigas tumbas estão no centro, então comecemos por lá. – sugeriu Charlotte.

Até eles chegarem ao centro do cemitério, demorou em torno de vinte minutos. E daí até encontrar o túmulo de Charlise Santi com a fraca luz demorou mais que o dobro. Nico quase quebrou a pá grã-fina quando a usou como pé de cabra pra violar o túmulo vazio, afinal, aquilo tinha duzentos anos.

– Sério, mesmo?– resmungou ele, subindo nas pedras e esticando o braço para ela pegar o paletó. Depois, ele arregaçou as mangas e começou a cavar. – Você tinha que ter colocado ouro na borda?!

Charlotte estava clareando com a lanterna do celular e a uma distancia segura da chuva de terra que Nico soltava para o lado. Ela colocou o terno de Nico por cima dos ombros e falou:

– Se fosse uma tumba de alguém normal, seria totalmente de pedra. Mas era meu tumulo e, mesmo que eu nunca estive aí dentro, ainda tinha que ser diferenciado.

Nico rolou os olhos e continuou o trabalho. Quando estava a muito mais que sete palmos, começou a achar que aquilo era perda de tempo até a pá bater em algo duro. Ele deixou a ferramenta de lado e retirou a caixa de madeira com ouro sujo de terra com as mãos mesmo. Charlotte contornou o monte de terra e se aproximou na boca da cova, iluminando a tranca para que Nico abrisse a caixa decorada.

A fechadura só não estava deteriorada porque era feita de ouro – e existe uma razão por alquimistas adorarem tanto esse metal: ele é para sempre, uma das únicas substancias naturais que nunca se destrói. Talvez esse seja um dos motivos do porque Charlotte gosta tanto de ouro, afinal, eles têm algo em comum.

Enfim, a caixa abriu e Nico e Charlotte abriram um sorriso juntos ao verem papéis deteriorados enrolados em outra fita rosa. Charlotte segurou a caixa enquanto Nico desembrulhava e, graças aos deuses, era a última parte do diário. O sorriso de Nico se desfez quando ele pulou para as últimas páginas.

– Cachinhos dourados desgraçada! – ralhou.

Charlotte juntou as sobrancelhas, tentando ler sobre o ombro dele.

– Que foi, criatura?

Nico resmungou um palavrão e colocou os papéis no bolso do terno, pegando as fitas das câmeras do Centre Pompidou. Jogou as fitas e pegou a caixa das mãos de Charlotte, jogando a esmo pela cova e voltando a recolocar terra ali.

– Ainda falta uma parte. – explicou. – Lar doce lar. Foi isso que ela escreveu. Lar doce lar. Imbecil desgraçada. – ele estava com vontade de socar algo, como não pôde, recolocou a terra com mais fervor. – Ela podia ser um pouquinho menos como os pais e ter facilitado as coisas, mas não, tinha que ser uma Chase com sangue Jackson, tinha!

Charlotte escondeu o riso, abafando-o com a mão na boca, enquanto observa Nicholas jogar a terra do modo mais furioso possível enquanto ralhava com uma garota morta que sequer tinha o corpo perto dali. Nico parecia mais calmo quando jogou a pá amarela de lado e recolocou a tampa do tumulo.

– Para que esse estresse, Nickito? – perguntou Charlotte, fazendo um biquinho. – Você tem acesso ao Palácio de Buckingham quando preferir. – ela mudou o peso de um pé para o outro, o sorriso clássico do bom e velho charme de saber algo que mais ninguém sabe. – Ah não ser, é claro, que ela tenha escondido na segunda casa...

Charlotte deixou a frase solta no ar. Nico revirou os olhos pra ela.

– Não desperdice meu tempo. Desembuche.

Os lábios vermelhos de Charlotte se abriram em um sorriso torto e ela se inclinou sobre a tumba, bem perto de Nico.

– Apenas digamos que Sophia não voltou para Buckingham.

– Por quê? Ela morreu ou algo assim?

Charlotte revirou os olhos.

– Claro que não, idiota! Por favor, seja inteligente. – ela deu um passo para trás e, mesmo na escuridão e sabendo que Nico não veria, não conseguiu esconder o sorriso travesso. Adorava saber algo e Nico não. – Venha. Vamos beber alguma coisa enquanto te conto o resto da história.


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Notas finais do capítulo

EVERYTIME I CLOSE MY EYES IT'S LIKE A DARK PARADISE NO ONE COMPARES TO YOU BUT THERE'S NO YOU EXCEPT MY DREAMS TONIGHT OHOHOHOHOH I DON'T WANNA WAKE UP FROM THIS TONIGHT VÃO ESCUTAR LANA MINHA DIVA ESSA MULHER É DEPRESSIVAMENTE MARAVILHOSA diquinha pra música em tempo ruins estrelando mrsdaddario. Amores to assistindo aqui gossip girl tristeza poderiam ter um especial cara saudades dessa série. FALANDO EM SÉRIE TO JOGADA AINDA COM O FIM DE GOT MEU DEUS DONA DAENERYS A SENHORA ESTA MTO FERRADA CADE DROGON SENHOR? MENINO SNOW AI MEU CU TA DOENDO LENA HEADLEY MEU CORPO É SEU mas vê se toma água sabe rainha cersei provamos cientificamente que falta d'água causa caimento de seios bebam água amiguinhos. Enfim amores beijo no fundo do core



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