300 dias antes da América escrita por Michele Bruna da Silva


Capítulo 3
Não sei voltar sozinha




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Os quatro estavam sentados em uma das escadas da escola, congelados de frio e desacreditados.

Katsuo: eu não acredito que o clube ficará fechado durante o inverno.

Katou: mas o Ryoma e a Ryuzaki-sensei farão alguma coisa, não?

Horio: eles não tem o que fazer, foi decisão do diretor.

Katou: E a sensei foi aposentada também.

Eles suspiraram em conjunto, ainda mais desanimados.

Ren: será... - os outros o encararam esperando alguma idéia salvadora. - que ela é tão velha assim? - mas viram que não. - sempre a achei tão jovem e cheia de vigor...

Horio: qual é o seu problema?

Katsuo: Ren-kun, você não está preocupado? Se ficarmos o inverno todo sem treinar, não teremos chance no campeonato.

Ren: mas não precisamos do clube para treinar.

A naturalidade dele falando, parecia tornar tudo tão fácil.

Claro que precisamos! - contestou Katou, sempre muito dedicado nos treinos.

Ren: eu quero vencer o Echizen-sempai. - disse se levantando e se espreguiçando - então, vou treinar mesmo sem o clube, com ou sem inverno, com ou sem a sensei.

Ele estava certo. E tinha muita determinação para um novato. Dois dos três patetas sentiram um pouco de vergonha. O aluno do primeiro ano queria vencer o capitão e no dia anterior eles estavam querendo cabular o treino, apesar de que o culpado de tudo era Horio e ele parecia nem se importar.

Katsuo: por que não pedimos para a Ryuzaki-sensei nos dar um treino especial de inverno?

Eles se entreolharam matutando a idéia.

Horio resmungou:- Prefiro pedir pra eles fazerem um plano do que pra sensei, ela é muito rígida e violenta. - esfregou as orelhas como se tivesse pena delas.

– Eles? - perguntaram os demais.

De repente, Katsuo e Katou abriram sorrisos gigantescos e abraçaram a ideia.

Katsuo: podemos ir hoje mesmo.

Katou: mas será que não é muito repentino?

Horio: Ir aonde?

Katou: Pedir para eles nos treinarem.

Horio: Vão mesmo fazer isso? Eu não estava falando sério!

Katsuo: precisamos arranjar um lugar para treinar primeiro.

Katou: Posso pedir para meu pai reservar uma quadra lá no clube!

Ren, que foi automaticamente excluído da conversa, finalmente perguntou:

– Quem são eles?

Horio: Os nossos sempais. As lendas do Seigaku.

Ren soltou um "Ah" de que tinha entendido, mas não estava nem um pouco interessado. Horio começou a falar sem parar sobre os sempais, pois viu uma oportunidade de se exibir, mostrando que sabia mais. Não que Ren estivesse lhe dando alguma atenção de qualquer forma.

Do outro lado da escola, na biblioteca, Echizen colocava alguns livros na estante.

– Ryoma-kun? - Ryuzaki tinha uma pasta nas mãos.

– Yo - ele respondeu sem olhar.

– A vovó pediu para entregar aos alunos do clube. Eu mesma já entreguei, mas não encontrei Horio, Katsuo, Katou e nem o Kusanagi-kun.

– O que é isso? - virou-se para ver o que ela tinha e folheando os papéis que estavam dentro da pasta pareceu feliz. - hmm, pelo visto, a sensei não aceitou bem a aposentadoria.

– Nem um pouco - disse ela sorrindo

– Eu entrego a eles.

– Ok.

Ele colocou a pasta sobre a mesa e voltou a guardar os livros. Sakuno ficou observando e comentando, mentalmente, tudo o que via."Está grande. Ryoma-kun não cortou o cabelo ainda" - o tempo todo ele jogava o cabelo pra trás, mas nem percebia o que estava fazendo. - "é mais brilhante que o meu... " - disse olhando para a ponta da trança. Ficou o encarando de onde estava e ficou levemente vermelha. Estava tão concentrada em sua visão que a sua mente começou a apagar as janelas e as estantes mais distantes - " ele também cresceu. Está mais alto do que eu." - fez uma comparação à distância. A mesa desapareceu, e os livros sobre ela, havia uma luz focando seu olhar, provavelmente criação de sua cabeça. - "Será que ele vai crescer mais?" - e agora só havia a estante à frente e Echizen - "Sim, ele vai crescer muito, vai para América. América?" - sentiu uma pontada doída no peito, levou a mão direita para o lugar da dor, tentando confortar o próprio coração.

– Ainda vou demorar, não precisa esperar.

– Hã? Ah... - ele interrompeu os desvaneios dela muito depressa. A garota se assustou e andou para trás, esbarrando em uma escada que tinha alguns livros, os quais tentava segura-los desesperadamente. - S-S-Sem problemas, eu não tenho nenhum compromisso. - até que todos caíram no chão, incluindo a escada, fazendo um estardalhaço. Echizen a olhava, desacreditado.

– M-M-Me desculpe. - começou a pegar os livros, ergueu a escada e tentou deixar como estava antes. - desculpe Ryoma-kun !

O rapaz suspirou e apenas respondeu um "sem problemas" antes de retornar ao que estava fazendo. Um silêncio sepulcral tomou conta do lugar, o que levou Ryuzaki a tentar ser gentil:

– Quer que eu o ajude?

– Já fez o bastante - foi uma resposta direta, o que a chateou, mas não abalou. Não queria ir embora sozinha, então, voltou a observá-lo e se deixou ser motivada pela curiosidade.

– Por que você faz parte do clube de literatura?

– Pão.

– Pão?

– As sempais me pediram para ajudar atrair novos membros, eu pedi pão de melão em troca.

"Suborno?" - típico dele - Elas te pagam pão desde o primeiro ano? - disse passando a mão pelos livros na estante atrás de si, como quem não queria nada.

– Não, elas já se formaram.

– Então, por que continua no clube?

– Sei lá. Acho que gosto do silêncio.

Foi uma indireta, dita de um belo sorriso zombador. Essas provocações não funcionavam com ela, não mais, Sakuno achava aquele sorriso muito lindo, tanto que automaticamente ela sorria de volta.

– Você gosta de chocolates, certo? O Valentine's Day estava chegando, a pergunta era bastante constrangedora e foi inevitável que ela ficasse envergonhada. A frase saiu entre as mãos que escondiam o rosto.

– Sim. - mas assim como Sakuno é ruim com localização, Ryoma é para lembrar das coisas e das pessoas.

– Tem algum sabor que você goste mais?

– hmmm. - ele parou de guardar os livros para pensar. - Acho que não faz diferença. - deu de ombros.

– Então, prefere não ganhar chocolates?

– Você anda falante ultimamente - Ele se aproximou

– S-sério? - ela já estava com as bochechas rosadas, agora sentia que queimavam. Parou de andar pra trás quando sentiu o calcanhar contra a estante.

– E anda fazendo muitas perguntas - ele guardou um livro na estante atrás dela. Estava muito perto, pela primeira vez, ela conseguiu sentir o perfume dele. Sim, ele usava um, bastante discreto e amadeirado. A encarou de cima e foi quando notou que estava mais alto que ela. Ryuzaki estava quase derretendo e não conseguia tirar os olhos dele.

– é ruim perguntar?

– não. - ele continuou encarando como se quisesse perguntar alguma coisa, porém não o fez. Virou-se para mesa, deixando tudo silencioso novamente. Ryuzaki se aproximou da mesa também, encarando a pasta que lhe tinha entregue. Echizen ameaçou dizer algo, mas ela não percebeu, e sussurrou para si mesma "não consigo voltar sozinha, é esquisito". Achou que ele não tivesse ouvido, só que ouviu. De repente disse:

– Vou procurá-los de novo! - disse pegando a pasta e saindo em seguida, sem dar nenhuma chance a ele de dizer o que queria dizer.

Logo após Sakuno sair da biblioteca pela porta da frente, um grupo entrou pelo outro lado, cumprimentaram Echizen e começaram a ajudar a guardar o resto dos livros e a limpar tudo.

Ryuzaki encontrou os garotos conversando animados perto das quadras e assim que explicou os papéis em mãos, eles pareciam em ecstasy.

Katou: era exatamente disso que estávamos falando!!

Katsuo: obrigado Sakuno-chan!

Horio: então vamos lá, rumo ao treino de inverno.

Eles saíram sem se despedir direito, correndo feito loucos. Deixando Ren e Ryuzaki olhando estáticos.

– Eu deveria ir atrás deles, mas o que acha de eu te fazer companhia, Ryuzaki-sempai? - disse tentando fazer uma pose de galanteador.

– Eu vou embora com o Ryoma-kun. - mas foi imediatamente repelido.

Na biblioteca, eles terminaram de guardar todos os livros, limparam algumas estantes e se despediram.

Ryoma saiu da escola, seguindo pelo caminho de sempre, até que se deparou com um gatinho miando choroso na calçada alguns metros à frente. Depois um outro gato chegou o rodeou e fez cessar o miado, e foram embora juntos. Ficou encarando os dois seguirem e olhou para trás, mas não havia nada e nem ninguém além de neve. A frase de Ryuzaki veio à sua mente, pensou que realmente era estranho ir embora sem ela. Olhou para os gatinhos novamente e depois para o caminho. Até que ajeitou o boné na cabeça e decidiu voltar por onde viera.

– O que eu estou fazendo?

De volta à biblioteca, Ryuzaki encarava a estante onde há poucos minutos seu príncipe guardava os livros. Só que não havia ninguém, estava tudo limpo, arrumado e quieto. A menina deu um longo suspiro.

– Ele deve ter ido pegar as coisas na sala. -disse confiante para si mesma e foi até a sala de aula, o terceiro ano B, que não estava diferente da biblioteca. Ela fez uma cara pensativa - Talvez nos armários. - Já sabia que Echizen não estava mais na escola, mas queria ter certeza. Um certo desconforto em pensar na realidade fazia com que ela andasse mais rápido. Olhou no corredor dos armários, sem surpresas. - talvez... talvez na quadra! - E para lá ela correu. Seu rosto começou a se contorcer, uma lágrima escorreu, mas ela limpou em seguida.

A quadra vazia, trancada, intocável foi tudo que encontrou. "Ele voltará para América". A frase dolorosa e irritante ecoava na mente mais do que o necessário, como se dissesse "não vai dar tempo". E agora que não o encontrava, a frase parecia ter mais força, tornando a busca ainda mais aterrorizante. Olhou para o portão da entrada, estava com medo de ir até ele.

Respirou fundo, juntou um pouco de coragem e andou em passos largos e ligeiramente dramáticos até o portão. Desejando que seu príncipe estivesse esperando do outro lado


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Notas finais do capítulo

O Echizen ainda não está tão provocador quanto eu gostaria, mas pretendo deixá-lo nos próximos capítulos. Aceito sugestões, por que desse roteiro sairá meu quadrinho, toda ajuda será bem vinda.



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