300 dias antes da América escrita por Michele Bruna da Silva


Capítulo 14
Acampamento de Férias


Notas iniciais do capítulo

dedo-de-moça: pimenta vermelha e muito ardida

Divirta-se :3



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E o festival passou, muita gente passou, o café marítimo foi um sucesso! Enquanto limpavam, os alunos brincavam, animados apesar do cansaço, finalmente estava acabando o semestre. E depois, quando tudo estava limpo, apagaram todas as luzes. Fogos de artifício iluminaram os céus, encerrando a noite de verão e dando início às tão esperadas FÉRIAS!

O pátio e o terraço estavam abarrotados de gente. Ali da quadra, Ryuzaki e Echizen, sozinhos em silêncio, tinham uma bela vista colorida do céu.

Ele se lembrou do cochicho: "Me encontre na quadra A, na hora dos fogos". A frase parecia tão simples e sem malícia agora que não fazia o menor sentido ele ter ficado perturbado quando a ouviu pela primeira vez. No fundo, no fundo, acreditava que receberia uma declaração, a culpa era do Ren, é claro. Mas Ryuzaki era tão pura para essas coisas que Echizen estava se sentindo envergonhado, um idiota e pervertido igual ao pai.

Os olhos deram uma escapada para o lado, Sakuno estava com os olhos fechados, mãos no peito, as bochechas rosadas... Sentiu um frio na barriga. Até aqui, achava que não era possível ter batimentos cardíacos tão acelerados sem ter arritmia ou pressão alta; talvez estivesse tendo um ataque de ansiedade, massageava seu peito vez ou outra para tentar controlar as emoções.

— Eu gost... - Ryuzaki demorou a continuar, e quando o fez, a voz saiu abafada e cortada pelo barulho dos rojões, Ryoma entendeu o que queria ouvir. E uma alegria esquisita invadiu-o todo!

— Eu gostaria que você ficasse no Japão. - ela disse vermelha e arrependida. De verdade, Ryuzaki iria se declarar, mas perdeu a coragem no último minuto. A cara de decepção de Echizen era nítida, como se tivessem jogado um balde de água fria em sua cabeça, lavando toda sua euforia. - E-eu disse algo errado?

Ryoma incomodou-se. Seu pensamento racional parecia um mosquito zunindo e repetindo que os dois não combinavam e de que não daria certo por que ele iria embora no fim do ano. E ele estava se acostumando à paixão, e gostando dela, não queria ser lógico, não queria deixar pra lá. Deixou despertar seu lado galanteador, que tanto temia ser igual ao do pai.

— Por que quer que eu fique? - o tom de sua voz mudou, estava como um veludo, deu um passo, e pela primeira vez, encarou de propósito aqueles olhões. Se aproximou mais, mais perto do que na biblioteca, tão perto que ela sentia sua respiração.

— Eh... p-p-por que... por... bem... - ela afastou por reflexo desviando o olhar, o rosto como de uma dedo de moça.

— Você não sabe? - ele deu um passo maior e encostou testa com testa empurrando-a devagar, obrigando-a olhá-lo nos olhos. Se encararam por alguns segundos, até que ele começou a balançar a cabeça para lá e para cá, massageando a testa dela devagar como se a forçasse a pensar num motivo, o que na verdade só fazia com que ela tivesse menos ainda o que dizer.

Involuntariamente o corpo dela foi tombando para trás, estava tão nervosa que estava perdendo o equilíbrio. Ele segurou de leve em suas mãos, para mantê-la bem ali na sua frente. - Mada mada dane Sakuno.

O cérebro dela pifou, podia-se ver fumaça saindo de sua cabeça, foi chamada pelo primeiro nome, pela primeira vez, sem sufixos, olho no olho, debaixo de fogos de artifício e... 

— SAKUNO-SEMPAAAAAAAAAAAI!! - aquele momento perfeito foi IN-TER-ROM-PI-DO! Quando a irritante voz estridente de Ren veio ao encontro deles. Ryuzaki se assustou, afastou e virou de costas para Ryoma escondendo o rosto atrás das mãos. 

Dammit!— resmungou Echizen desabotoando o casaco de capitão com uma mão, e usando o cap de abanador, com a outra. Ren parou bem na sua frente e ficou encarando.

— Ah... Ochibi-taichou, você está aqui também - disse com desdém

I hate you. - respondeu Echizen num resmungo, enquanto o encarava de volta, soltando faíscas pelos olhos.

— Hmm. - Ren não sabia inglês e não entendeu bulhufas. Ao olhar pro lado, viu Ryuzaki, que ainda estava vermelha, com as mãos no rosto. Achou ter visto uns coraçõezinhos saindo dela. - O que estavam fazendo aqui, no escurinho, sozinhos? - perguntou ao capitão sem tirar os olhos dela.

— Nenhum marinheiro entregaria seus tesouros sem um duelo, sabia? - respondeu sorrindo de lado, pondo o cap de volta para retomar sua pose de capitão, lembrando da conversa no banheiro. Ren que era meio burrinho, demorou um pouco para entender.

— Há então, resolveu agir pelas minhas costas é? Achei que você fosse um marinheiro mais honrado, não um pirata também.

— O que quer? - falou Echizen rispidamente.

— Tch. As professoras estão chamando na quadra D - apontou sem tirar os olhos de Echizen - combinaremos a saída de amanhã. - os dois ficaram trocando faíscas com o olhar, enquanto a pequena Ryuzaki tentava se recompor. - O que você fez com ela Ochibi-taichou?!

Ele sorriu, colocou as mãos no bolso e disse:

— Eu não fiz nada, ainda

Ren o importunou até o fim daquela noite.

 

—---------------

08h30 foi o horário combinado de saída para pegar o metrô, depois dois ônibus e carroça para parar em um belo alojamento no meio do nada, onde iniciariam um treino infernal até o fim do verão. E como treinar sozinhos não seria diferente do que treinar na escola, reforços foram solicitados.

— ORAAAAA, I'M BURNIIIIIIING!!! 

— Ah! Kawamura-sempai está ainda mais forte do que o inverno passado. - comentou Kachiro

— Todos eles vieram, isso é ótimo! - comentou Mizuno, bastante animado

— Todos eles vieram, isso é péssimo! - comentou Horio, ao mesmo tempo, sabia que seriam as piores férias de sua vida. - E como ele consegue ser tão forte?!

— Só está faltando o Tezuka, mas ele ainda não voltou da Alemanha de toda forma. - lembrou Kachiro.

Um a um, os pobres novatos foram trucidados pelos antigos alunos do Seigaku. E já se via, mesmo aos poucos, olhinhos voltarem a brilhar diante das quadras. O ânimo do clube estava renascendo. Não dava para saber se era só para evitar os sucos assassinos do Inui ou para evitar perder a partida e ter que jogar contra o Kaidou e o Echizen, que a propósito, estava terrível desde o início da manhã. Seu humor só melhorou depois de destruir Ren (em 6 sets a 0), o pobre garoto estava há cerca de uma hora caído na quadra, praticamente morto. 

Ryoma estava uma pilha de nervos, Ryuzaki fugira dele o dia inteiro. E era nítido. Tudo o que ela disse, cabia num SMS, "acho que a crise do clube passou, isso é bom, bom treino :) ". Só de olhar ele se irritava de novo.

— O que fez pra ela, ochibi? - perguntou Kikumaru durante o almoço, vendo que ela o evitava de propósito.

— Nada. - disse parando os hashis na boca, sem olhar pra ninguém. Depois tomou um suco. - Por que eu teria feito algo? - Quando se tocou, estava sendo encarado por todos na mesa. - O que foi?

E todos disseram um "nada" seco e uníssono e começaram a imitá-lo, bebendo cada um seu suco. 

Os demais estavam comendo do lado de fora da casa. Na sala de jantar estavam os ex-alunos, o trio pateta e Ren de intrometido:

— Ochibi-taichou fez algo com ela ontem no escuro, durante os fogos na escola. - falou de propósito querendo arrumar encrenca. 

Voou suco cuspido para todo lado.

— Ora, ora, quem diria que vocês realmente começariam a namorar. - disse Kawamura se recuperando rapidamente.

— O que fez com ela, ochibi?! - perguntou Kikumaru assustado, esperava que fossem ficar juntos, mas já estava imaginando coisas que sequer passaram pela mente de Echizen.

— N-não estamos namorando - Ryoma respondeu meio chocado com a reação deles.

— Impossível. - Inui chamou a atenção de todos (sem querer) - Ryuzaki precisaria ter investido muitas horas para criar uma nova variável na equação, ainda assim levaria muito mais tempo para causar qualquer tipo de interesse. Ela deve ter utilizado algum apelativo para acelerar as coisas. Terei que verificar que táticas ela utilizou para... - Kaidou tapou a boca de Inui com um pedaço de carne.

— Shh. Está fazendo minha comida ficar com um gosto ruim.  

— Inui-Sempai... "Assustador" - espantaram-se Mizuno, Kachiro e Horio.

— Haha, você perdeu Inui! Vai ter que tomar aquele seu suco horroroso de xixi ácido! - Momo disse quase subindo na mesa, virou-se para Echizen dando-lhe tapinhas nas costas, fazendo-o engasgar com a comida. - Finalmente, tão jovem, tão jovem!

— Isso dói sempai...

— E a Sensei já autorizou o namoro? - perguntou Oishi que é todo correto

Silêncio tomou conta do lugar e depois vieram os cochichos:

— Acho que enfrentar a Sensei é pior do que enfrentar um pai, não é? - comentou Mizuno, fazendo Kachiro chorar só em pensar.

— Se considerar o histórico do pai dele com mulheres, principalmente. - afirmou Horio.

— O que quer dizer com isso? - perguntou Ren, que ainda não sabia quem era o pai de Echizen.

Uma ponta de desespero surgiu em Echizen, nem seu pensamento mais distante tinha considerado a hipótese ou necessidade de pedir permissão à sua professora. Era estranhíssimo.

— Mas onde estão os pais de Ryuzaki? - perguntou Kawamura

— O pai trabalha fora do país. A deixou com a avó e nunca mais teve contato. A mãe dela faleceu quando era pequena. - respondeu Fuji traduzindo Inui que não conseguia engolir a carne cheia de nervos que Kaidou botou em sua boca.

— Hmm, a experiência delas com homens são as das piores. - comentou Kikumaru. - Vai ter que se esforçar ochibi.

Ryoma estava em desespero agora, pelo menos para sair daquela sala, sequer tinha rolado algo entre eles e já estavam tratando como um namoro escondido que enfrentaria a fúria de uma avó psicótica. Quando a própria Sumire entrou pelo outro lado da cozinha, que ele sentiu total desespero. Aqueles caras continuariam falando e Ren seria o mais inconveniente de todos, saiu de mansinho na primeira oportunidade e correu para o outro lado da casa.

Deu de cara com Sakuno, que estava comendo meia melancia sozinha. A jovem ficou da cor da fruta rapidinho e escondeu dele o seu rosto. Echizen deu um suspiro e sentou ao seu lado, pegou uma fatia de melancia que estava no prato dela e começou a comer. Sequer tinha almoçado direito, ainda estava morrendo de fome.

Ficaram um bom tempo ali em silêncio, um esperando o outro puxar assunto. A melancia acabou e ninguém havia dito nada. Ele tirou o prato que estava entre eles e sentou-se de frente para ela.

— Então, por que está me evitando? 

Ryuzaki demorou para responder. Lembrou-se de Tomoka dizendo que ela deveria largar mão da timidez, que COM CERTEZA, Ryoma já estava na dela. Mas o que fazer, quando só de vê-lo, sua mente e seu corpo lembravam da noite anterior? Quando ele perguntou por que estava sendo evitado, ela não tinha nenhuma resposta:

— N-não sei.

— É por causa de ontem?

Ela ficou em silêncio de novo.

— Eu te assustei?

Mais silêncio. Mentalmente, Echizen dizia "Diga que não, diga que não, diga que não". Quando ela finalmente ia responder, três garotas do clube feminino vieram chamá-la. Sim, os dois clubes estavam ali. Ryoma ficou esperando a resposta, que não veio.

— Tudo bem se continuarmos depois? - Ryuzaki perguntou já se levantando, ele concordou num resmungo. Sentiu um nó na garganta vendo-a se afastar com as amigas, e a provocação escapou.

— Sakuno! - foi inevitável todas olharem para ele chamando-a pelo primeiro nome - Eu quero terminar a conversa de ontem à noite.

As garotas perguntavam o que eles tinham conversado e vendo elas que Ryuzaki estava toda tímida, embaralhada para responder, incentivaram: "Seja o que for, vá conversar com ele", "ele parece sério e meu Deus como é lindo", "se você não for eu vou!".

Encorajada, respondeu:

— E-eu também!

O nó se desfez completamente ao ouvir aquilo. 

Echizen agora sabia, que seu coração estava rendido por Ryuzaki, completamente. O que ambos não sabiam é que estavam sendo observados. Seria o observador um amigo ou inimigo?


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Notas finais do capítulo

Maoeeeeee mil anos sem dar as caras aquiiii. Esse capítulo deu MAIOR TRAMPO, mas saiu #todascomemora

Último capítulo tá chegando.
Será que eles vão ficar juntos? Quem será o misterioso observador? Será que os veteranos vão ajudar? Será que o clube vai ganhar o campeonato? Será que a Tomoka vai contar pra Sakuno de quem ela gosta? Será que ETs existem? Não, pera...

Não perca o útlimo capítulo desta fic! Comente o que achou e o que espera para esse desfecho.

Beijos de luz!



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