300 dias antes da América escrita por Michele Bruna da Silva


Capítulo 12
A nova professora


Notas iniciais do capítulo

Estou fazendo os capítulos um pouco mais longos, espero que vocês não se importem, se estiver muito maçante me avisem. A história está chegando ao seu grande momento, vou precisar de toda criatividade do universo para criar um desfecho fofo. Torçam por mim.



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A sala estava vazia quando ela chegou e o encontrou dormindo debruçado na carteira, em cima do caderno dado por Sumire com estratégias de treino para inverno. Ele estava se esforçando tanto no clube que cochilava nas aulas com mais frequência e às vezes não ouvia a sala esvaziar no último horário.

Suspirou e sentou-se na cadeira da frente, o observando, ainda chateada por terem se afastado tanto depois daquele maravilhoso encontro no parque.

O cabelo de Echizen tinha uma cor diferente, era esverdeado, mas num tom muito bonito. Estava morrendo de vontade de acariciá-lo, porém não teve coragem e deixou a mão apoiada em cima da carteira.

Não queria acordá-lo, mas precisavam ir embora.

– Ryoma-kun. - disse baixinho, próximo ao ouvido dele, para que não assustasse; como não teve efeito, chamou uma segunda vez. Ele resmungou, e se ajeitou, ainda deitado, abriu os olhos bem devagar. - As aulas já acabaram. - Echizen estava num modo zumbi. Vendo a mão dela na carteira, começou a brincar com os dedos dela. Eram leves, meio calejados de cozinhar e limpar, as unhas feitas, com o esmalte clarinho descascando. Havia uma pulseira fina no braço dela, não era bonita, talvez ele devesse presenteá-la no natal, antes de ir embora. Começou a acariciá-la, deixando Ryuzaki completamente encabulada. Assim, ele fechou os olhos de novo, segurando a mão dela. A garota não sabia como reagir, depois de um tempinho, matou a vontade a que tanto resistia e acariciou os cabelos dele.

O encanto foi quebrado quando um celular tocou e se soltaram no susto, tentando fazê-los parar te tocar. E Echizen atendeu ao seu com a voz molenga e rouca.

– Ochibi-taichou! - gritou Ren do outro lado, Ryoma desligou, e deu um longo bocejo. O telefone de Sakuno tocou em seguida, ela atendeu e passou a Echizen.

– Ochibi-taichou! - gritou Ren de novo, no mesmo tom de voz de uma sirene, deixando Echizen descontente, era tão irritante quanto o próprio toque do celular.

– O que você quer?

– Sumire-sensei não te ligou? Ela disse para irmos até a quadra agora.

Ryoma encarou seu celular com o ícone de três chamadas perdidas e uma cara de "merda", respondeu:

– Estou indo.

– Pode retornar para a Sakuno-sempai? Eu queria convid... – Ren provavelmente continuaria falando sobre qualquer assunto desnecessário, então ele desligou com pressa para evitar a fadiga.

Olhou para frente e assim que seus olhos cruzaram com os de Ryuzaki sentiu seu coração pular no peito. Para disfarçar, coçou a cabeça e desviou o olhar, ao mesmo tempo que tentava lembrar de quando ela chegou ali ou de quando todo mundo foi embora. A garota, por sua vez, estava com as bochechas rosadas.

– V-você deveria ter me acordado - lembrava-se vagamente do que acabara de fazer, mas se forçava a acreditar que tinha feito em sonho. Independente disso, sentia-se envergonhado também.

– Eu tentei, mas você, você não acordou. - ela segurou a mão acariciada, junto ao peito.

– Preciso ir até a quadra primeiro. - ele se levantou da carteira e foi andando na frente.

– Ah, Ryoma-kun, e-eu... - ao levantar Sakuno esbarrou na carteira e quase caiu. Tinha intenção de perguntar se tinha feito algo de errado, mas acabou esquecendo com a dor. No fundo ela sabia que não tinha feito nada, mas perguntar não ofende. Acabou dizendo outra coisa para deixar menos estranho - S-se precisar de ajuda com o clube, pode pedir para mim.

– Não precisa. - respondeu seco, ainda abismado, como era desastrada aquela garota

Ryoma percebeu que ela ficara chateada por ser deixada de lado, algo mais a parecia chatear. Milagrosamente lembrou-se que Tomoka pegara uma gripe fortíssima e não estava indo às aulas, Sakuno estava bem sozinha ultimamente, então tentou dar um consolo.

– Na verdade, preciso fazer um inventário do equipamento do clube amanhã. Acho que em dois será mais rápido.

Sakuno sempre foi lerdinha para pegar essas deixas dele, mas sempre ficava contente depois de entender. Echizen gostava de ver aquela reação que ia da cara de um gato fofo confuso para uma criança feliz.

Na quadra, estava o clube todo reunido, na frente Sumire com uma jovem muito bonita, bem vestida e paraplégica.

– Ouçam todos - ela iniciou seu discurso - Essa é a nova professora de tênis de vocês.

Ninguém entendeu. Cochichos começaram por todos os lados. "Sumire saiu e uma paraplégica entraria no lugar?" "Como ela ensinaria tênis?"

– Eu sou Yamada Suzume, ex-capitã invicta do clube feminino. - os cochichos cessaram. Todos se surpreenderam. "Invicta?" "Ex-Capitã?". Era impressionante - Sou enfermeira técnica e graduada em Educação Física nos Estados Unidos, além de manter o time feminino do Seigaku no TOP 3 do campeonato nacional enquanto estudava aqui.

O currículo dela era impecável, uma pena todos voltarem a olhar apenas para sua limitação. A mais impressionada com o currículo da professora, era Ryuzaki. Yamada vendo a reação da maioria, esclareceu entre suspiros:

– Há seis meses eu sofri um acidente e ainda estou em recuperação. Sei e posso jogar tênis se é o que preocupa vocês, mas por enquanto Ryuzaki-sensei estará me ajudando.

Sumire queria entender muito o que passara na cabeça do diretor ao demiti-la e encarnou a detetive para investigar. Depois de tanto pesquisar, descobriu que Yamada entraria em seu lugar. Um tempo depois de sair do hospital, a jovem foi demitida do emprego anterior e não conseguiu trabalho algum. Suzume sempre foi muito chegada ao diretor e pediu um auxílio até passar essa fase mais difícil da recuperação. Houveram outras complicações que atrasaram sua chegada ao colégio, e sem supervisor, o clube ficou fechado.

Sumire já estava na ativa há muito tempo, pareceu bem ao diretor substituí-la, por uma causa nobre.

Nanjirou sempre foi um tipo de "conselheiro" para Yamada, então Sumire acabou convencendo-o a visitá-la para dar um ânimo e relembrar os velhos tempos, e ajudar na mudança, por isso eles saíram na noite do dia dos namorados, quando ela chegou na cidade.

– Aquele diretor bem que poderia ter esclarecido tudo, eu não o teria amaldiçoado tanto. - brincou Sumire. - Bom, nós duas trabalharemos em equipe até que ela se recupere. Fiquei sabendo que sem mim vocês ficaram ainda mais molengas. Para compensar o tempo perdido, vocês terão um treinamento infernal até o campeonato.

E foi o treinamento do capiroto.

Os que não seguiram os planos de treino enquanto ela estava afastada, eram os que mais sofriam.

Yamada mexeu até na alimentação deles.

Assim que o inverno acabou, os treinos em quadra ficaram ainda piores, séries de exercícios, partidas quase o tempo todo. Até os primeiranistas estavam treinando em quadra. Yamada não gostava do esquema deles só catarem as bolas e as redes.

O torneio para escolha dos titulares foi realizado e muito acirrado, todos os alunos participaram. O novo ritmo de treinos atraiu muitos olhares das escolas concorrentes e das outras turmas. Echizen tinha até seu próprio clube de torcida, do qual ele fugia constantemente.

Não levou muito tempo para o campeonato das prefeituras chegar e deixar todo mundo louco. Os terceiranistas estavam exaustos por conta do ritmo de estudos para faculdades e treinos intensos. Quando enfim chegaram as eliminatórias, o clube ainda não estava 100%, realmente não era o mesmo clube da época do Tezuka, as partidas foram longas, vencidas quase na sorte, sempre no tie-break, no último set e as escolas adversárias nem estavam tão fortes assim.

Enquanto rolava a última partida do torneio, Echizen simplesmente desapareceu. O fã clube desesperado o procurava por todos os lados.

– Ei Sakuno, você não vai procurá-lo também? - perguntou Tomoka depois que o grupo desvairado passou. Odiava aquelas gurias intrometidas do fundo da alma.

– Ele provavelmente está dormindo embaixo de alguma árvore. Acho melhor não incomodá-lo.

– Já é quase meio do ano sabe? Logo, logo serão férias de verão.

Ryuzaki se contorceu no banco em que estava sentada e saiu correndo, dizendo que iria procurá-lo. Tomoka riu vendo o quão apaixonada e boba a amiga estava, também notou em como a ausência de Echizen seria difícil para ela. Viu os garotos passando e os chamou, achou que já estava na hora deles intervirem nesse romance, por que senão não teria nada entre eles nunca.

Sakuno passou pelas quadras masculinas, foi perto das femininas, pelos banheiros, se perdeu, para variar, e não sabia mais onde estava, foi quando o avistou dormindo embaixo de uma árvore. Havia uma máquina de bebidas no caminho e resolveu comprar dois sucos. Chegou devagar e colocou um ao lado dele. Ficou em dúvida se sentava ali ou se ia embora como sempre.

– Você demorou. - ela tomou um susto. O boné tampava o rosto dele, e não tinha percebido que estava acordado.

– Ah, bem... - não sabia o que dizer, ficou corada imediatamente e sentou-se por impulso, já que as pernas tremiam. Ryoma sentou-se e abriu a latinha de suco. Também tinha um pacotinho com dois pães e ofereceu um. - O-obrigada - respondeu, pegando delicadamente. - A última partida está acabando, precisa ir receber a premiação.

Ele concordou num resmungo; não se moveu.

– O que você vai fazer nas férias de verão? - ela perguntou mordiscando o pão.

– Dormir.

– Hmm.

E comeram em silêncio, até que ele lembrou-se de que concordara em saírem nas férias. O pão desceu quadrado. Não sabia agora como lidar com a situação, pois já tinha decidido não ter nenhum tipo de relacionamento.

– Minha avó disse que vocês ainda não decidiram o que fazer no festival escolar.

– Na verdade, não queremos fazer nada no festival escolar.

– Mas esse ano a participação é obrigatória.

– Continuamos não querendo fazer nada.

– Vocês poderiam ajudar no café da sala.

– Faremos um café? - ele dormiu a votação inteira

– Sim. - Ryuzaki o encarou um pouco preocupada, olhando de perto, ele parecia ter perdido peso. E andava mais sonolento do que o normal e tinha certeza de já ter comentado com ele sobre o café - Você está bem?

– Estou.

– Tem certeza?

Demorou para responder quando encarou os olhos grandes dela, não conseguia mentir, mas não parecia contente com o rumo da conversa.

– Sim. - terminou de beber o suco e amassou a lata. Levantou-se. - Estou voltando.

Ela ainda não tinha terminado de comer e beber, estava de saia e ficou confusa para se levantar. Aliás, ela não fazia ideia de como voltar às quadras principais onde ocorriam as partidas de consolação. Tentou comer o pão mais rapidamente, para ficar de pé e acompanhá-lo, mas engasgou.

– Se você morrer engasgada não vou ter par no café da sala - disse se sentando novamente e recostando na árvore. - Eu espero você acabar.

Ela agradeceu a gentileza e não conseguiu tirar o riso do rosto por ele ter dito "par". Não eram casais no café, ela nem seria maid.

– Na verdade, eu vou ajudar na cozinha.

Ele percebeu que tinha dado um fora, encarou a árvore, depois ficou a observando enquanto comia. Usava a presilha que tinha lhe dado, estava um pouco gasta também, pois usava muito.

– Então vou ter que trabalhar muito.

– Por quê?

– Todo mundo virá comer a sua comida. - ele ajeitou o boné para ela não ver a cara de vergonha que fez.

Echizen ainda resistia em admitir que não conseguia andar sem Ryuzaki por perto ou o perseguindo, e que a necessidade de tê-la ao seu lado estava aumentando gradativamente e contra sua vontade. O que ele não imaginava, é o turbilhão de sentimentos que lhe esperavam durante o festival escolar.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Festival escolar não percam! (*u*)/