After The End escrita por Matt Sanders


Capítulo 9
s1x09 - The Devil's Night - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Depois de anos de demora (-qqq) After the End finalmente voltou!



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Os trovões lançavam seu rugido impiedoso sobre a cidade agora devastada pelas máquinas de matar, os poucos moradores eram completamente destroçados pelas garras gigantes das criaturas demoníacas.

Elliott seguia atirando nos monstros ao lado de Heather, Alexia e o restante do pessoal também atiravam. Alguns caíam, outros desviavam das balas.

A chuva começou a apertar, a água já alagava praticamente toda a pequena cidade, os pneus da caminhonete derrapavam no chão enlameado e Nathan não conseguia manter o controle do veículo.

Os monstros se aproximavam, arranhavam a lataria do carro, ao fundo, um pequeno posto de gasolina explodiu e as chamas iluminaram o céu. Elliott olhava Heather tentando achar alguma coragem para seguir atirando, mas suas mãos estavam ensopadas e trêmulas de frio e de medo e parecia que o cheiro do medo era o que atraía os animais.

— Para onde você está indo? — Lorenzo gritou na direção de Nathan.

— Estou tentando sair deste inferno!

Descuidadamente, Nathan passou por um imenso buraco no meio das ruas sujas de lama e a caminhonete deu um agressivo salto fazendo com que Rachel caísse de caçamba.

O sangue escorria de um ferimento no alto de sua testa, mas antes que ela pudesse raciocinar direito, uma das aberrações já estava sobre ela com sua bocarra aberta exalando o cheiro de putrefação que vinha do interior do seu corpo.

— Eu vou lá! — Heather pulou da caminhonete e abriu caminho atirando nas criaturas que seguiam o carro.

— Você não pode ir sozinha! — Elliott gritou.

— Então vamos acompanha-la logo! — Lorenzo também saltou da caçamba e seguiu a ruiva.

— Onde vocês pensam que vão? — Nathan berrou do volante.

— Não podemos deixar ninguém para trás! — Elliott seguiu os dois, deixando Enzo e Alexia dando cobertura, Caleb desceu do banco do carona e ajudou a abrir caminho.

A criatura saltou para cima da menina, que se defendeu dando um chute certeiro em seu focinho. A aberração soltou um guincho e saltou na direção da jovem.

Rachel sacou sua faca no momento em que o monstro avançou contra ela, mas ele foi mais rápido e conseguiu desferir um poderoso golpe em sua barriga, cortando profundamente de uma ponta até a outra.

— HEY! — Gritou Heather do lado oposto da criatura, que a encarou com os dentes apontados em sua direção. — Venha me pegar. — Os cabelos vermelhos e ensopados cobriam seu rosto e seus olhos azuis. A criatura disparou em sua direção e antes que pudesse a alcançar, foi desviado por uma rápida investida da menina que aproveitou a oportunidade e desferiu três tiros na nuca do animal. O bicho desabou com toda a região do pescoço e do crânio em pedaços.

Heather correu para amparar Rachel, ela segurava o ferimento onde de seus intestinos saltavam. A menina já não tinha mais forças.

— Rachel olhe para mim! Rachel! — Heather gritava com a menina em seu colo.

— Ela perdeu muito sangue e o ferimento é muito profundo... — Lorenzo disse se ajoelhando ao lado das duas.

— Es-es-está tu-u-do b...

— Não fale. — Heather posicionou o dedo de leve nos lábios de Rachel.

— CUIDADO! — Gritou Elliott alertando sobre outro monstro indo na direção de Heather e Lorenzo. O loiro o acertou com quatro disparos, três na barriga e uma entre os olhos.

Ao olhar para seu redor, viu um montado de corpos pertencentes aos poucos moradores daquela cidade, sua garganta embolou e seu corpo começou a tremer mais. Sua atenção foi desviada pela chegada de Heather.

— Vamos...

— E a Rachel?

— Não há o que fazer... — Ela o encarou com os olhos azuis e as palavras sumiram do vocabulário de Elliott.

— Melhor vocês virem logo! — Alexia gritava enquanto disparava em mais um grupo de criaturas vindo ao fundo. Os três se apressaram e Nathan deu a partida na caminhonete outra vez.

— São quantos? — Heather perguntou.

— Contei oito. — Respondeu Enzo.

— Beleza. — A garota pegou outra arma e disparou na direção dos monstros que os seguiam, a maioria dos tiros rasgavam o ar e desapareciam ou morriam pelo chão enlameado.

— Você vai acabar com todas as balas assim! — Elliott falou desesperado.

— Então honra esta merda que você tem no meio das suas pernas e me ajude! — Ela entregou a arma para o loiro num forte solavanco e pegou a arma da mão de Enzo e voltou a atirar.

Elliott a encarava com medo, mas sabia como ela se sentia, conseguia sentir a adrenalina correndo em suas veias como um tsunami varrendo uma cidade costeira, a mesma sensação que ele sentiu quando esfaqueou Bryan.

— Por favor, faça algo logo! — Heather o cutucou com o cotovelo. Elliott voltou sua atenção para as outras aberrações que estavam cada vez mais perto. Tentou atirar, mas os solavancos do carro só ajudavam a atrapalhar os disparos, foi então que ele resolveu descer mais uma vez, mas não para salvar alguém e sim para encarar as criaturas de frente. Heather desceu logo após ele e foi seguida por Alexia, Enzo e Lorenzo.

— Eles comem merda? — Resmungou Nathan no banco do motorista.

— Eles estão agindo, diferente de você. — Respondeu Caleb carregando a arma e saindo do carro. Nathan xingou uma dúzia de palavrões, pegou sua arma e foi na direção do restante.

Elliott avançou na direção de um dos monstros, mas foi derrubado. A criatura tentou retalha-lo com suas garras, porém teve a mão ferida por um disparo de Heather, que logo em seguida deu dois tiros em sua cabeça. O loiro levantou em um pulo ao perceber uma das criaturas correndo na direção de Heather.

— ABAIXA! — Ele o acertou bem no coração e o bicho despencou no chão.

— Obrigada... — Ela sorriu.

No lado oposto, Alexia, Lorenzo, Enzo, Caleb e Nathan terminavam de derrubar o restante das criaturas. Quando os ânimos se acalmaram, todos se reuniram perto da caminhonete e ficaram em silêncio até Alexia resolver quebra-lo:

— Bem, vamos voltar ao meu apartamento.

— Você ficou maluca? — Nathan indagou.

— Precisamos de água, pelo menos... E de munição também, armas...

— Não temos mais como carregar tudo isso.

— Onde está o ônibus? — Elliott foi quem perguntou.

— Fomos atacados, perdemos tudo e... Todos... Só sobrou Caleb e eu.

— Bem, então mais do que nunca precisamos ir até o meu apartamento. — Alexia saiu caminhando em direção ao prédio. — Além do mais, precisamos conversar.

O grupo seguiu rápido pelas ruas sujas de lama, entranhas, sangue e corpos de humanos e de monstros. A chuva continuava caindo dos céus negros, logo chegaram até o prédio de Alexia e se abrigaram no apartamento.

Após alguns minutos se recompondo, todos se entreolharam esperando quem seria o primeiro a interrogar Nathan, previsivelmente, Alexia deu a largada:

— É melhor você contar toda a verdade.

— Estamos no meio do caos e você quer bancar a juíza?

— Nathan, responda... — Heather sacou a arma e apontou para ele.

— Precisa disso? — Caleb se assustou.

— Cale a boca ou eu explodo o seu cérebro junto com o dele! — A ruiva vociferou.

— O que vocês querem que eu diga?

— Tudo. — Elliott também sacou sua arma e apontou para Nathan, logo em seguida, Lorenzo e Enzo fizeram o mesmo. Caleb saiu de perto e sentou-se sobre o parapeito da janela de madeira.

— O que vocês estão vendo, o que enfrentamos, nós chamamos de Devoradores, eles são demônios que consomem carne humana e habitam lugares escuros e escondidos.

— Então estamos lidando com demônios criados em laboratório? — Indagou Heather.

— Exato... Havia uma seita séculos atrás que visava ser a Nova Ordem Mundial, porém, a seita foi extinta durante a epidemia da Peste Negra. Séculos depois encontraram um corpo de um Médico da Peste perfeitamente preservado na Rússia contendo uma amostra do vírus. — Nathan encarava Elliott.

— É possível? — Enzo rebatou.

— Não sei, mas encontraram e foi durante a Segunda Guerra Mundial... Levaram para estudo de armas biológicas na União Soviética, os Estados Unidos se uniram no estudo e fizeram diversas mutações ao vírus. Os estudos passaram para iniciativa privada de uma corporação chamada de Helix na década de 1990 e os ideais continuaram os mesmos, propagar a Nova Ordem Mundial.

— História para boi dormir. — Bufou Heather.

— Vocês pediram explicação e eu estou dando... — Nathan a encarou cerrando os olhos.

— Está bem, continue. — Heather se jogou no sofá.

— Eles modificaram o vírus de todas as formas até jogarem ele na atmosfera, a precipitação do vírus provocou um apagão no cérebro de todos os expostos ao que chamamos de Chuva Negra, tempo suficiente para o vírus infectar todos nós. Nós não sentimos o impacto, apenas fomos contaminados com uma chuva qualquer.

— Isso quase tudo... — Comentou Elliott.

— Explica, principalmente, você ter atacado todos nós naquela cabana... Era o vírus se manifestando dentro de você, era sua sede de sangue falando mais alto... Você estava se transformando em um devorador. Nem todos irão sentir essa manifestação viral ao mesmo tempo e na mesma intensidade, você reagiu mais rápido.

— Isso não interessa agora. — Interrompeu Alexia. — Onde você entra nesta história?

— Na época anterior ao espalhamento do vírus, eu estava sem dinheiro nenhum, eu e Alessa passávamos fome, foi quando um homem chamado Bruce me abordou na rua, ele explicou todo o esquema de sequestro e de vendas e como eu precisava de dinheiro, acabei aceitando e recebendo uma amostra da Camuflagem.

— Camuflagem? — Perguntou Lorenzo.

— Uma espécie de vacina que previne que o vírus me infectasse... Enfim, segui o esquema por três anos, todo aquele dinheiro me deixava cego, mas então eu fui convidado para visitar o laboratório da Helix e eu nunca senti tanto arrependimento.

— Tocante... — Zombou Heather.

— Porém existe o primeiro infectado, a chave de tudo, chamamos ele de A Estirpe.

— Quem é?

— Noah Smith. — Ao ouvir as palavras de Nathan, Elliott se recordou do nome que leu em uma das anotações de Alexia.

— O vírus não o transformou, pelo contrário, aumentou sua força vital, várias doses do vírus foram introduzidas nele e nada... Ele só fica mais e mais forte. E eles estão ai, os Médicos da Peste são da Helix e estão atrás de mais vítimas.

— E nós vamos combate-los. — Afirmou Alexia.

— Você sim, eu não. — Elliott rebatou fazendo Heather o encarar com cara de repreensão. — Eu não vim aqui para lutar, eu não vim aqui para ser o salvador de nada ou fazer parte de um exército... Eu não sou um herói.

— Mas é a sua vida que está em jogo! — Alexia aumentou o tom da voz.

— E a de Heather, Enzo, a sua! O que podemos fazer é ir até Anchorage e ficarmos por lá.

— E quem garante que Anchorage não está igual qualquer outra cidade destroçada? Não seja inocente, só podemos lutar a partir de agora!

— Eu não sou um soldado, eu não sou um guerrilheiro ou um rebelde!  — Elliott gritava abrindo os braços.

— Se você não lutar, vai acabar se tornando uma dessas criaturas e é isso que está acontecendo com você. — Nathan se intrometeu.

— E você pode falar algo? Você contribuiu para isso tudo acontecer!

— Não jogue a culpa em mim, eu fui apenas um peão neste tabuleiro! — Nathan vociferou.

— Eu estou cansado disso, cansado! — Elliott arremessou a arma em Nathan e saiu andando em direção ao corredor dos quartos. Alexia e Nathan encararam Heather que logo foi atrás dele.

O temporal havia dado uma trégua, agora, apenas um vento intenso acompanhado de clarões e finíssimas gotas pintavam o lado de fora do prédio.

Elliott estava sentado no chão de um dos quartos, fitava o vazio enquanto o vento uivante fazia as abas da janela de madeira dançarem em suas dobradiças. Ele não queria mais ser um garoto indefeso, mas também não queria enfrentar algo tão grandioso... Talvez a vida normal não voltasse mais.

— Ei... — A voz doce de Heather rompeu o ambiente.

— Oi.

— No fim, sempre acaba sendo eu e você, não é? — Ela riu enquanto se sentava ao lado dele.

— Pois é...

— Você não precisa ir para o campo de batalha, caso exista um... Só precisamos achar um lugar seguro.

— Não existe lugar seguro...

— Existe sim, Elliott... Eu também não quero lutar, mas também não quero ser indefesa para sempre e se para achar um lar for preciso lutar, eu irei lutar.

— Você tem razão...

— No fim só restará você e eu... E o Enzo e talvez o Thor também. — Ela riu. — Foi assim que começamos e é assim que terminaremos. — Elliott sorriu e deitou sua cabeça no ombro de Heather, sentiu a paz e o conforto tomando conta do seu corpo, até o mesmo ser consumido pelo cansaço e ser dominado pelo sono. Adormeceu.

—--x---

Elliott vagava por um corredor comprido e alto, as vidraças iam até o alto do teto decorado com luxuosos lustres, a luz dos postes em meio ao bosque do lado de fora iluminava o lado de dentro do corredor, e vez ou outra, um relâmpago inundava o ambiente.

Ouvia vozes, gritos de dor e agonia. Ouvia risadas descontroladas, ouvia passos em ritmo de corrida, ouvia barulho de rodas metálicas rangendo pelo chão de madeira.

Sua roupa era uma vestimenta de paciente, havia uma pulseira branca ao redor do seu pulso e uma bolsa de soro injetada na sua veia e apoiada em uma haste, mas ele não sentia o peso de carregar aquilo.

Foi avançando pelo corredor, vozes o guiavam para uma porta parecida com uma porta de cofre de banco, porém, com um vidro blindado para proporcionar uma visão interior. Não havia ninguém do lado de dentro, apenas uma maca suja de sangue. A porta estava aberta. Ele abriu.

Uma sala branca como a luz da lua, um branco frio, gélido e duro. Corpos jaziam pelo chão, pareciam médicos.

Continuou caminhando por dentro da sala, avistou seringas, bisturis, amarras... Que lugar era aquele?

— Isto vive dentro de você. — Disse uma voz fria atrás de Elliott. Outro garoto, aparentemente da mesma idade, cabelos platinados levemente cacheados que formavam uma franja sobre sua testa e olhos num tom claro de azul aterrorizante.

— Quem é você?

— Isto vive dentro de você. — Ele repetiu.

— O que? O que vive dentro de mim?

— Isto vive dentro de você?

A frase foi se repetindo, a visão de Elliott passou a ficar embaçada e a girar, então as cores mudaram para um tom de vermelho sangue. Saiu em disparada arrebentando a agulha que o prendia ao soro, corria pelos corredores pisando nos cacos de vidro das vidraças destruídas pela força do vento que rugia feito um monstro que renascia do inferno.

E ele correu, e correu e correu... Avistou Heather do outro lado do corredor. Ela sorria e ele o abraçou.

— Heather, temos que sair daqui! — Ela não respondeu. — Heather? HEATHER! — Foi então que ele viu que suas mãos estavam completamente encravadas em sua barriga, seus intestinos escorriam por entre os dedos de Elliott. O sangue jorrava. — HEATHER!

Ela o encarou com os olhos azuis que sangravam e sua boca também banhada em sangue emitiu uma única frase:

— Isto vive dentro de você.


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