After The End escrita por Matt Sanders


Capítulo 4
s1x04 - Lost


Notas iniciais do capítulo

Mil perdões pela demora do capítulo, mas ai está ele!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/624536/chapter/4

 

O ambiente era úmido e abafado. A lâmpada lançava seu brilho amarelado pelo centro do local, deixando a penumbra dominar ao redor da sala.

Não sabia quanto tempo estava ali, estava com sede e com fome. Sua cabeça doía. Passos foram ouvidos e sua espinha gelou imediatamente, sentiu o suor começar a escorrer em sua testa.

A figura da mulher loira tomou forma saindo do breu que o cercava, não conseguia enxerga-la direito por conta da lâmpada posicionada bem a sua frente.

— Acordou... – A mulher sorriu terrivelmente.

— O que você quer? – Elliott tentou dizer, mas a voz saiu como um gemido por conta a garganta bastante ressecada.

— Você logo saberá. – Ela sorriu novamente. Andou até uma parte do recinto onde a escuridão cobria tudo como uma manta e voltou arrastando outra cadeira e em suas mãos, um grande revólver.

Elliott encarou a arma prateada na mão da loira, seu coração começou a bater freneticamente. Pensou em Heather e no som de disparos enquanto estava com o maldito pano cobrindo sua visão.

— Espero que você colabore comigo. – Ela o encarou fechando o semblante e engatilhou a arma, por fim a apontou para Elliott. Ele suava frio.

— O que você quer? – Ele tentou manter a voz estabilizada, mas não conseguia, seu corpo denunciava seu estado de pânico.

— Serei curta e grossa, não gosto de rodeios. – Ela fez uma pausa e sorriu para ele, seu sorriso era perturbador. Prosseguiu dizendo: - Para onde Nathan pretende levar o grupo medíocre dele?

— Como...?

— Não seja burro garoto, sei muito bem que o idiota do Nathan conseguiu uma transmissão que dizia a localização de uma cidade segura! – Ela vociferou.

— Se você sabe que ele conseguiu a transmissão, por que não tentou captá-la também? – Ele arqueou a sobrancelha esquerda, não sabia como havia criado coragem para realizar tal ato diante de um enorme revólver bem na direção da sua testa.

— Não sentencie a sua própria morte... – Ao ouvir a resposta de Alessa, Elliott sentiu sua espinha gelar.

O silêncio reinou por alguns instantes, eles se encararam. O azul dos olhos dela transmitia toda uma frieza, ela seria capaz de puxar aquele gatilho sem hesitar. Lembrou-se que Lorenzo disse que certo dia Nathan chegou ao galpão o grupo carregando o corpo sem vida do irmão mais novo, uma criança morta pela mulher que estava sentada poucos centímetros dele.

— Você quer que eu diga onde fica a localização então? – Elliott encarou a mulher nos olhos e ela confirmou com um gesto da cabeça. Ele respirou fundo e soltou a resposta: — Alasca.

O semblante da mulher mudou completamente, parecia não acreditar no que tinha acabado de ouvir. Alasca? Um lugar frio como o Alasca seria capaz de abrigar uma das poucas cidades que restaram no mundo?

— Espero que esteja certo disso seu pirralho, mas agora me diga – ela fez uma pausa – o que você sabe sobre o que aconteceu conosco?

— Um golpe bioterrorista... – Ele continuava a encara-la.

— Você acredita nisso? Você é bem grandinho, questione-se...

— Foi o que Nathan me disse.

— Nathan surgiu do nada para você e seus amiguinhos de tragédia, e vocês foram logo confiando nele? Você não se questionou em nenhum momento que ele poderia estar mentindo?

— Porque você contesta isso?

— Eu conheço o Nathan melhor que ninguém e sei bem o que ele quer. — Ela sorriu com o canto da boca.

— E o que ele quer? – A cabeça de Elliott se encheu de perguntas que vinham como um intenso furacão.

Alessa o encarou e um sorriso se desenhou em sua face novamente, ela guardou o revolver e se levantou.

— Não preciso mais de você aqui, você já me disse onde fica o refúgio e parece que não sabe quem Nathan verdadeiramente é... Inocente.

— Vai me matar? – Ele a encarou.

— Você foi útil. – Ela se virou e saiu andando até sumir no breu que pairava no fundo da sala. A luz da lâmpada sobre sua cabeça apagou e a escuridão inundou tenebrosamente todo o local. Elliott ficou ali, amarrado, sem chance de escapar. Estava sozinho com seus pensamentos e a maioria deles vinha com um enorme ponto de interrogação junto.

Tentou relaxar, tentou evitar lembrar como era a sua vida antes de tudo isso. Pensou em Heather e Enzo. Podiam ser apenas dois estranhos para ele, mas se sentia extremamente confortável junto a eles. A noção do tempo sumiu, não sabia se era dia, se era noite. O tempo foi passando até que ele adormeceu. Sonhou.

—--X---

Acordou em um pulo com algo cobrindo sua cabeça, sentiu que estava sendo erguido por mãos. Não sentiu mais a cadeira, ao invés disso, sentiu suas mãos sendo imobilizadas atrás de suas costas. Algo cilíndrico tocou sua barriga, passando seu ar gelado pela camiseta. Uma arma.

Queria perguntar o que estavam fazendo, mas preferiu permanecer calado. Ninguém falava, só ouvia passos e a respiração das duas pessoas que o seguravam enquanto ele andava cambaleante. Minutos depois ele sentiu seu corpo ser jogado em uma superfície macia, um banco. Estava em um carro.

As mãos o ajeitaram para que ficasse sentado. Ouviu a partida do motor e logo o carro se moveu fazendo os pneus cantarem, seu corpo ia de um lado para o outro enquanto o carro se movimentava. Depois de muito tempo, alguém falou:

— Vamos deixa-lo aqui. – Era a voz de um homem. Nada foi ouvido em resposta, as demais pessoas devem ter concordado com a cabeça ou algo assim.

Instantes se passaram até o carro parar com um forte solavanco. Sentiu mãos os puxando para o lado de fora, deu alguns passos até perder o equilíbrio e se chocar contra o chão. A dor do impacto tomou conta de seu corpo fazendo-o emitir um gemido de dor.

— Nos veremos outra vez. – Disse uma voz feminina ao fundo. Alessa. Logo após sentiu suas mãos tomando liberdade com a corda sendo cortada. O som do motor de um carro foi ouvido assim como o cheiro de combustível queimado, logo após os pneus cantaram e o barulho foi ficando mais distante.

Elliott esperou até ter certeza de que o carro já estaria longe para tirar o que cobria sua cabeça. O ar frio se chocou contra seu rosto, dando-lhe uma sensação de alívio. Mexeu os pulsos doloridos por conta das amarradas e se levantou.

Estava em um lugar desconhecido, os prédios se erguiam ao longe e tudo o que via era o chão cinza coberto de concreto, poeira e pedras além de algumas pequenas casas destruídas. Atrás dele se erguia uma floresta com um número considerável de vegetação morta se misturando ao verde brilhante de outras árvores.

Seu olhar se perdeu na enorme montanha que se erguia ao fundo da floresta. Observou o céu cinzento que clareava com o amanhecer e notou alguns pássaros voando, os acompanhou até sumirem no horizonte na direção dos prédios. Tinha que achar Heather e Enzo, mas não fazia a mínima ideia de qual direção seguir.

Caminhou sozinho por alguns minutos tendo apenas a companhia de algumas casas destruídas, cercas rompidas e um ou outro carro abandonado. Tentou ligação direta em pelos menos dois, mas nenhum funcionou.

Andou por mais um longo tempo, o suficiente para chegar até os prédios. Julgava que aquele seria o centro da cidade. Viadutos e passarelas se erguiam sobre grossas pilastras de concreto, outros haviam desabado se tornando uma montanha de entulho.

Caminhou até chegar próximo de uma extensa avenida, ao andar por ela por alguns minutos sentiu uma sensação de familiaridade preencher seu coração com força. Estava perto de sua casa, ou do que um dia foi sua casa. Seu corpo começou a tremer quando alcançou a rua repleta de casas, parecendo a rua em que ele e Heather encontraram Enzo.

Muitas casas estavam aos pedaços, algumas ainda inteiras com uma ou duas janelas quebradas e outras completamente incineradas. Sentiu a necessidade de correr, correr para o seu lar, correr de volta para sua família e ele correu. Correu com toda a velocidade que conseguia alcançar com suas pernas cansadas e doloridas.

A repentina euforia se dissipou tão rápido quando se alastrou dentro dele, a antiga casa estava acabada. Ao entrar pode ver que o teto havia desmoronado tomando conta de onde era a sala. Seu coração acelerou. Subiu com cuidado a escada de madeira e foi caminhando até seu quarto. Deu de cara com um ambiente escuro e pouco conservado, o chão de madeira rangia e os móveis estavam revirados, resolveu não ficar ali por muito tempo e foi até o quarto de seus pais e ao chegar sentiu algo duro sobre seus pés, algo que emitiu um som metálico.

Tateou o chão coberto de poeira até encontrar um cordão, uma belíssima e perfeita pedra da lua. O colar de sua mãe. As lágrimas se juntaram em seus olhos, tentou impedir que eles caíssem, mas foi em vão... Pela primeira vez ele se permitiu chorar, chorar de medo, de saudade e angústia. Ele sabia que precisava ser forte, talvez eles estivessem vivo.

Recostou-se na parede do corredor segurando firme o colar de sua mãe, colocou-o no pescoço. Os pensamentos ficavam cada vez mais intensos e por muitas vezes, pensar demais acaba atrapalhando.

Ficou imerso nas lembranças e no silêncio até criar disposição para se levantar e continuar a caminhada. Deixou para trás a sua antiga casa, estava cada vez mais determinado para encontrar a Semente, se é que ela existisse.

—--X---

As ruas estavam cada vez mais geladas, após passar quase todo o dia caminhando e parando algumas vezes para descansar, Elliott já sentia a fome e a sede começando a consumi-lo. Seu desespero para encontrar Heather, Enzo e Nathan se manifestava de forma nociva dentro de seu corpo e mente.

O fato do sol não aparecer o deixava intrigado, diria que poderia ser só um período de tempo nublado, mas visto que armas químicas foram usadas, o clima pode ter sofrido alguma alteração. O frio ficava mais intenso.

Sua mente se distraíra tanto mergulhada em tantas coisas que ele não notou que estava próximo ao hospital da cidade, com suas ambulâncias em pedaços sobre o enorme pátio localizado na frente da construção.

Algo estranho chamou sua atenção, um barulho de motor e por um minuto pensou que poderia ser a van de Nathan, mas era mais potente... Era barulho de algo maior e que vinha de trás dele.

Entrou no hospital para poder observar melhor o que poderia estar vindo e conseguiu avistar um caminhão preto. Algo cutucou Elliott e ao se virar deu de cara com uma garota, mais ou menos da idade dele, de cabelos escuros e olhos claros.

— Eu não ficaria ai se fosse você. – Sussurrou ela.

— Quem é você?

— Isso importa agora? Vem logo! – Ela o arrastou segurando em seu pulso levando-o para um corredor perto do refeitório onde ele esteve da última vez, entraram em um consultório e ela fechou a porta.

— Quem é você? – Ele perguntou novamente.

— Meu nome é Kimberly e o seu? – Ela estava tensa.

— Elliott. O que está acontecendo?

— Não sei se você percebeu, mas estamos sendo observados. – Ela cruzou os braços.

— O que?

— Agora cala a boca ou eles vão nos ouvir! – Ela tapou a boca dele com as mãos e apontou para a porta do consultório que possuía uma pequena vidraça que servia de janela.

Elliott foi até ela observar e seu coração começou a saltitar dentro de seu peito. Uma figura diabolicamente aterrorizante, parecendo que havia saído das profundezas de uma mente doente: Uma grossa e pesada túnica negra acompanhada de um capuz e uma horripilante máscara preta que se projetava para frente formando um bico de pássaro. Conseguia ouvir a respiração mecânica da pessoa debaixo daquela fantasia, se é que isso poderia ser chamado de ‘’humano’’.

A respiração do garoto criava uma melodia com a respiração a figura do outro lado da porta, a menina chamada Kimberly ofegava e tremia. Foi então que uma mão atravessou a porta e agarrou o pescoço de Elliott. Ele segurava o braço do agressor, mas sem qualquer sucesso, ele estava sendo erguido no ar. Sentia o ar sendo impedido de atravessar sua laringe.

A estranha garota golpeou o braço da criatura horrenda com uma faca que provavelmente ela mantinha escondida. A pessoa por debaixo de toda aquela roupa infernal gritou e soltou Elliott que se chocou como uma pedra no chão frio segurando o pescoço e tentando recuperar o ar.

— Vamos, precisamos sair daqui! Deve haver outros! — Ela o ajudou a levantar e carregou-o por alguns metros enquanto ele tossia: — Você pode parar de tossir? Está chamando atenção!

— Desculpa, não foi você que teve o pescoço quase esmagado! – Ele tentou falar, mas a voz soava bastante falha. Kimberly soltou uma ligeira risada que logo se desfez ao encontrar três outras pessoas vestidas exatamente iguais ao outro agressor na porta que dava para o próximo corredor.

— Queria ter uma arma. – Ela sussurrou.

— Eu queria ter duas. – Elliott respondeu com certo sarcasmo na voz.

Conseguiu notar que todos carregavam uma espécie de cajado em suas mãos, o mesmo cajado possuía uma lâmina não muito grande, mas suficiente para perfurar o coração de alguém. Ao olhar para trás notou mais dessas figuras horripilantes, estavam cercados.

O medo que sentia lhe dava a impressão que seu sangue estava em processo de congelamento dentro de suas veias, tremia e suava frio. Sentiu a mão da menina desconhecida tocando seu braço como se quisesse chamar atenção, olhou com o canto do olho para ela e a viu inclinar a cabeça para algo perto da parede esquerda. Forçou um pouco mais o olho e notou algo parecido com uma abertura. Uma escada.

Sua mente trabalhava tentando descobrir em como conseguir alcançar a saída e enquanto isso as pessoas se aproximavam em passos lentos como se quisessem por ainda mais medo nos dois.

— Um. – Elliott sussurrou e a menina olhou para ele assustada.

— O que você disse?

— Dois. – Ele sussurrou de novo fazendo a menina finalmente entender o que estava acontecendo, o próximo número na contagem seria o sinal para darem o fora dali. As figuras vestidas de preto estavam cada vez mais próximas, a respiração cada vez mais audível e muito mais amedrontadora, o da frente já havia levantado o cajado com a lâmina apontada direto para os dois. Elliott respirou fundo e soltou: - TRÊS! – Os dois se jogaram para a esquerda fazendo a pessoa golpear o ar e perder o equilíbrio. A subida pelos degraus parecia infinita, quanto mais rápido eles iam a sensação era que nunca chegavam ao andar seguinte.

Depararam-se com um imenso corredor com macas recostadas nas paredes laterais, continuaram correndo por cada corredor, virando para esquerda, direita até alcançarem outra escada. Desceram pulando um ou dois degraus por vez muitas vezes perdendo o equilíbrio e chegaram a uma garagem imensa, os portões haviam sido arrombados. Dispararam na direção do buraco onde ficariam imensos portões de ferro e ganharam a rua novamente, correram para bem longe. Pararam para descansar, se jogaram contra o chão ignorando a dureza do mesmo.

— Quem são essas pessoas? – Elliott disse ofegante.

— Ouvi dizer que são os membros do tal grupo bioterrorista, estão levando as pessoas. – Kimberly também ofegava bastante.

— Levando? Levando para onde?

— Você está perguntando isso para mim? Só vi meus amigos sendo levados por esses maníacos. – Ela deu de ombros e se deitou.

Havia muitas coisas para serem processadas na mente do menino, horas atrás estava com Alessa e depois foi abandonado em um lado desconhecido da cidade e agora havia acabado de fugir de um bando de loucos com uma garota desconhecida. Quando conseguiu equilibrar a respiração para o ritmo normal, ouviu uma voz... Não só uma voz, mas como uma voz conhecida, familiar. Seu coração que já havia trabalhado bastante por um dia só voltou a se acelerar. Ouviu seu nome sendo chamado outra vez, sabia quem era. Levantou-se em um pulo e começou a olhar ao redor até conseguir enxergar uma figura feminina correndo em sua direção.

Heather.

Ele disparou na direção dela se apoiando sobre as pernas exaustas e doloridas. Encontraram-se em um abraço apertado, o seu coração se sentiu estranhamente acolhido e em paz.

— Pensei que eles tinham te matado. – Ela disse apertando ele.

— Não, eles não, mas quase morri. – Elliott riu.

— O que? – Ela saiu do abraço e olhou para ele arqueando uma sobrancelha.

— Tenho muita coisa para contar, mas... Bom, essa é a Kimberly. – Ele apresentou a menina estranha para Heather e as duas se cumprimentaram.

— Kimberly! – Elliott ouviu a voz de Nathan que vinha acompanhado de Caleb.

— Vocês se conhecem? – Disse Heather.

— Estudamos juntos. – Kimberly sorriu.

— Nossa... – Elliott não sabia o que responder.

— Elliott, seja o que for que você tenha que contar, conte no caminho. – Nathan disse apressando todos eles.

O barulho de ronco de um motor foi ouvido, motor de caminhão e estava próximo, muito próximo. Eram Eles.

— Direto para a van, temos que correr! – Heather saiu correndo e logo atrás Elliott, Nathan, Kimberly e Caleb.

Ao entrarem na van e se acomodarem ouviram Nathan dizer:

— Melhor se segurarem!

Elliott olhou através da janela da porta de trás e viu o caminhão branco com inscrições azuis dobrando uma rua ao sul. Era medonho. Um monstro automotivo de metal expelindo uma densa fumaça cinza por um cano em sua lateral. Seu corpo foi jogado para trás com a arrancada do motor da van, o caminhão os seguia. Havia sido iniciada uma caçada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar! O quinto capítulo sairá mais rápido que esse, eu prometo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "After The End" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.