After The End escrita por Matt Sanders


Capítulo 11
s1x11 - Northbound


Notas iniciais do capítulo

Capítulo inspirado no filme ''Southbound'' de Radio Silence, Roxanne Benjamin, David Bruckner e Patrick Horvath.



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A manhã passou correndo com toda a movimentação para a viagem do grupo até Seattle. Nathan e Alexia tratavam de arrumar os armamentos na traseira da caminhonete, Lorenzo, Enzo e Caleb guardavam nas mochilas o pouco de comida que restava e Elliot e Heather traçavam o plano de viagem.

— Como faremos com Nathan? — Heather passava a mão em seus cabelos cor de sangue pondo-os de lado.

— Podemos tentar despista-lo quando chegarmos a Seattle.

— Mas só ele sabe onde estão as Harpias.

— E se as Harpias forem um grupo de pessoas iguais ou piores do que ele? Eu não confio nele, eu só quero chegar a uma cidade grande e lá vejo o que farei. — Elliott encarava o rosto de Heather, ela fitava o chão enquanto ouvia as palavras do loiro.

— Seja como for, vamos precisar dele até lá... Eu só acho estranho ele não ter mencionado sobre esse tal grupo antes.

— Por isso eu estou desconfiando, mas eu vou esperar para ver, Alexia também não confia nele, estaremos bem. — Ele tentou sorrir para amenizar o clima. Nathan pôde ser visto carregando uma espingarda ao longe, Elliott o encarou por alguns segundos e voltou suas atenções para Heather. — O que deve ter acontecido com Alessa?

— Bem, nós fugimos do galpão e o deixamos em chamas, ela deve ter virado churrasco. — A ruiva soltou um sorriso.

— Eu espero que sim. — Ele fez uma pausa tentando censurar sua pergunta, mas não se conteve. — Você vem sentindo algo estranho ultimamente?

— Tipo...?

— Não sei... Pesadelos, calafrios, visão embaçada...

— Alguns pesadelos...

— Então eu não sou o único... Como eles são?

— Você está muito interessado. — Ela riu.

— Por favor, responda.

— Está bem... — O semblante de Heather mudou. — Geralmente eu estou sendo perseguida por essas criaturas e quando elas me alcançam, eu consigo as sentir arrancando cada pedaço do meu corpo e todas, todas elas, possuem rostos que eu possivelmente conheço.

— Quantas vezes você já sonhou isso? Você nunca sonhou em estar matando alguém?

— Elliott! Se acalme! São apenas sonhos.

— Eu sei, eu sei... Desculpa. — Elliott exibiu um sorriso desengonçado para Heather.

— Encerrem o papo! Está na hora de partir! — Nathan gritou se dirigindo ao banco do motorista da caminhonete.

— Escroto... — Resmungou Heather.

Os dois se juntaram ao restante do grupo, Enzo e Lorenzo já estavam posicionados sobre a caçamba da caminhonete.

— Onde está Caleb? — Indagou Elliott.

— Olha ali. — Alexia apontou para o irmão que vinha trazendo Thor em uma coleira improvisada.

— Gente, o Thor está vivo! — Heather foi logo afagando o pelo do vira-lata. — Onde ele estava?

— Estava escondido em um galpão aqui perto, não podia deixar ele aqui pra virar comida desses bichos. — Caleb piscou para Heather e ela sorriu como resposta. Elliott desviou o olhar da cena e voltou a atenção para Enzo que conversava com Lorenzo na caçamba, os dois riam e lançavam olhares um para o outro.

— Bem, nós vamos pegar a estrada até a noite cair, vamos continuar por mais duas ou três horas na noite e pararemos para descansar. — Alexia falava como um comandante do exército. — Vamos nos revezar na hora de dormir e partiremos assim que o dia ficar ligeiramente mais claro, se tudo der certo, chegaremos a Seattle amanhã pela noite.

Todos concordaram com um aceno de cabeça e se posicionaram na caminhonete. Nathan, Alexia e Elliott ocupavam os bancos da frente, Caleb, Heather, Enzo, Lorenzo e Thor ocupavam a traseira.

— Pensei que você fosse com a Heather... — Questionou Nathan.

— Não, ela está bem ali... — Elliott lançava um olhar com o canto do olho para a janela na cabine da caminhonete. Era possível enxergar Caleb e Heather conversando e rindo com Thor lambendo seus rostos.

Elliott voltou seu olhar para frente, Nathan já havia dado a partida no veículo. O carro ia dando fortes solavancos pelas ruas acidentadas da pequena cidade e logo ganhou a estrada rodeada por colinas e árvores.

Na cabine todos estavam mudos e imersos em seus pensamentos, os únicos sons que eram ouvidos vinham do motor e das conversas na traseira. Elliott toda hora se perguntava o motivo de Nathan nunca ter revelado a existência das Harpias.

Quase todo minuto, ele lançava olhares para o mais velho tentando buscar qualquer expressão naquele rosto frio que pudesse revelar qualquer coisa. Nathan conseguia ser mais misterioso do que qualquer outra coisa. Seu pensamento se voltou para Alessa, será que realmente havia morrido queimada no galpão? Lembrou-se de Bryan, irmão de Alessa que Elliott degolou para salvar Heather. Teria sido efeito do vírus? Ele encarava Nathan e imaginava como ele teria sido capaz de integrar parte do projeto. Elliott não confiava em Nathan e isso era um fato, mas precisava dele para ir até Seattle. Se o grupo das Harpias for uma armadilha, será preciso lutar, mas torcia para que não fosse necessário, pois assim que chegar em Seattle, fugiria com Heather, Lorenzo e Enzo.

A estrada estava quieta, havia poucos carros abandonados nas pistas, as nuvens cinzentas formavam o teto que cobria toda a imensidão. Vez ou outra a chuva caia, mas nada que pudesse preocupar o grupo.

Quatro horas após o início da viagem, fizeram uma pausa um rápido descanso e para poderem se alimentar.

— Vamos parar só por quinze minutos! — Anunciou Alexia.

— Quem colocou esta criatura na liderança? — Lorenzo sussurrou para Elliott enquanto saíam da caminhonete.

— Não questione ou ela vai explodir seus miolos. — Elliott soltou uma pequena risada.

Caleb levou Thor para passear pelo acostamento da estrada, Heather encarava Nathan que vasculhava o capim alto procurando alto.

— Você acha que estamos sendo muito cruéis com ele? — Ela se virou para Elliott ao perceber que o loiro se aproximava.

— Não sei, mas eu não confio nele, não consigo...

— Eu também não, mas então por qual motivo ele nos salvou do ataque dos Devoradores?

— Não sei... Ele também nos deu abrigo e comida na estação de rádio, mas eu não sei, eu não sei mesmo... — Elliott chutou uma pedra para longe.

— E sobre o tal Noah?

— O que tem ele? — O loiro levantou a sobrancelha.

— Nathan o chamou de A Estirpe... Ele deve ter alguma importância.

— Não sei se isso é da nossa conta no momento.

— Você está teimando em não se envolver nisso, sendo que não tem mais para onde fugir! Estamos todos no mesmo barco, não podemos mais fingir que nada está acontecendo. — A garota começou a se exaltar.

— Eu não estou fingindo que está muito bem, mas se envolver nisso é suicídio!

— Ir para Seattle já é um suicídio e eu só estou indo com você porque eu gosto e confio em você! Confio mais em você do que em qualquer outra pessoa daqui, mas, por favor, pense no que você está fazendo! Você está deixando Nathan guiar a gente até um grupo que a gente nem sabia que existia. — Ela abria os braços gesticulando com Elliott.

— Mas o nosso plano é fugirmos assim que chegarmos a Seattle amanhã à noite.

— Espero que você esteja certo e que isso funcione, Nathan já mostrou do que é capaz...

— Acho que ele pode ser capaz de coisa pior... — Elliott voltou seu olhar para o próprio que já voltava para a caminhonete. — Vamos, eu vou na caçamba agora, deixe Caleb ir com Alexia e ele. — Heather concordou com a cabeça e os dois retornaram ao veículo.

O dia foi avançando conforme o grupo cortava a estrada em direção ao estado de Washington, o céu ia escurecendo e o caminho se tornava cada vez mais sombrio. As colinas iam desaparecendo nas sombras do anoitecer, as árvores se tornavam enormes monstros que se erguiam tocando os céus.

— Acha que já está na hora de pararmos?  — Nathan perguntou para Alexia.

— Vamos avançar mais um pouco.

— O problema é que nosso combustível não vai aguentar outro dia de viagem.

— Tem algum galão sobrando? — Alexia perguntou olhando pelo visor da cabine na direção de Elliott.

— Tem um pela metade, não sei vai aguentar...

— Vamos precisar abastecer. — Afirmou Heather.

— Aonde vamos arrumar um posto no meio do nada? — Rebateu Alexia.

— Dê o seu jeito, você não é a líder?

Elliott soltou um pequeno riso na direção de Heather depois da sua resposta, mas Alexia estava certa, aonde iriam arrumar um posto no meio daquela estrada? A noite por mim assumiu todo os céus lançando seu manto escuro e levemente avermelhado sobre a paisagem fantasma.

Mais um tempo se passou até uma pequena luz despontar no horizonte, uma pequena centelha perdida no meio da escuridão.

— Faz ideia do que seja aquilo? — Heather se virou para Elliott enquanto o vento gélido jogava seus cabelos vermelhos em seu rosto.

— Parece ser um posto... — Respondeu Caleb de dentro da cabine.

— No meio do nada? — Rebateu Alexia.

— Precisamos abastecer, se for um posto e ainda tiver gasolina... — Nathan a encarou por alguns segundos até voltar sua atenção para a estrada.

— Temos munição?

— Temos.

— Então vamos. — Alexia se acomodou no banco e Nathan acelerou mais a caminhonete. A figura do posto de gasolina ficou bem mais nítida e uma pequena casa bem ao lado também se revelou com a forte luz.

— Está ativo?

— Há luzes, isso já é um bom sinal... — Heather segurou a mão de Elliott, que por sinal, era o que mais estava longe do assunto. Tentando disfarçar o susto, ele sorriu para a ruiva e foi surpreendido pela desaceleração do veículo, as luzes do posto inundaram seus olhos.

Caleb saltou do carro ainda em movimento com a espingarda já engatilhada e empunhada, Lorenzo e Heather se posicionaram com as armas apontando para todos os lados possíveis.

Elliott pegou o galão de gasolina e saltou da caçamba e correu até a bomba de gasolina, Nathan conduzia o carro cuidadosamente pelo pátio do posto. Surpreendentemente, o posto ainda tinha gasolina e naquelas condições, era uma mina de ouro.

O loiro tratou de encher o galão e depois de feito, colocou a mangueira no tanque da caminhonete para que reabastecesse. Pegou outro galão e encheu até a borda.

— Estão vendo algo? — Gritou Nathan.

— Só uma simpática senhora com cara de susto e os dois braços levantados para o alto. — Lorenzo falou tentando conter o riso.

E era verdade... Uma pequena senhora completamente trêmula e assustada saia de dentro da casa ao lado do posto.

— Não me machuquem, por favor!

— Não viemos machucar ninguém. — Alexia foi firme.

— Qual o motivo de tantas armas então? — A velha estava com a voz embargada.

— Acha que iremos confiar no primeiro estranho que aparecer na nossa frente? Dê a volta e não iremos colocar uma bala no meio do teu rosto.

— Alexia! — Gritou Heather. — É só uma senhora! Você está ficando maluca?

— Não devemos confiar em ninguém!

— Conta outra história, se ela quisesse fazer algo contra nós, ela já teria feito. — Com todo cuidado, Heather se aproximou da frágil senhora e olhou dentro de seus olhos. — Qual o nome da senhora?

— Olivia.

— Prazer, eu me chamo Heather e aqueles são Elliott, Enzo, Caleb, Lorenzo e Nathan.

— Quem é a durona? — Olivia apontou para Alexia.

— Ela não é importante e eu peço perdão por ela ter falado daquele jeito com a senhora, o cérebro dela deve possuir algum defeito ainda não estudado pela medicina. — A ruiva lançou um olhar de raiva para Alexia que virou os olhos em repulsa.

— O que vocês desejam?

— Nós só queríamos um pouco de gasolina... Estamos indo para Seattle.

— Seattle? Vários viajantes já passaram por aqui, disseram que há um refúgio por lá.

— Então os boatos são verdadeiros. — Elliott quebrou seu silêncio.

— Boato ou não, meu querido, recebi vários hóspedes que estavam indo para Seattle.

— Hóspede?

— Sim, aqui é uma pequena pensão. — A senhora disse com certo orgulho na voz. — Os ataques não chegaram nesta região do país e não há muitas destas criaturas por aqui, por isso não sai.

— A senhora está sozinha? — Nathan foi quem falou desta vez.

 — Não, meu rapaz, eu estou com meus três netos.

— Bem, a senhora tem certeza de que não quer ir para Seattle? Se organizar direito todos podem ir na caminhonete.

— Eu agradeço, mas eu estou bem segura aqui com meus netos, agradeço de coração. — Olivia passou a mão nos cabelos vermelhos de Heather.

— Bem... Então vamos. — Nathan se voltou para a caminhonete estacionada.

— Vocês não querem passar a noite aqui? Temos comida e quatro quartos.

— Desculpa senhora, não temos nem um centavo.

— Não há problemas, quase nenhum dos viajantes que passaram por aqui possuía dinheiro e os recebemos muito bem, garantir o bem de vocês é o suficiente para mim. — Olivia falava exalando o famoso acalanto de uma avó. — Já tenho meus netos que são tudo para mim.

Elliott olhou para Heather e depois para Enzo, os dois concordaram com a cabeça, Caleb e Lorenzo também apoiaram a ideia. Alexia foi a única contra, mas era a minoria e sua palavra não adiantar de nada.

Guiados por Olivia, os seis, e o cachorro Thor, entraram na pensão. A recepção possuía um grosso tapete cobrindo o chão e era decorada com quadros com retratos de pessoas que certamente eram do século XVIII ou XIX. Uma mesa de centro e dois sofás, além de um balcão, terminavam a decoração da primeira sala. Um lustre ligeiramente luxuoso fazia a decoração do teto.

Sentado em um dos sofás estava um garoto de cabelos pretos como a noite e intensos olhos verdes, Elliott não conseguiu desviar a atenção dele. O mesmo possuía um alargador em cada orelha e um piercing prateado em seu septo.

— Este é Skyler, meu neto mais velho. — Olivia o apresentou para o grupo.

Elliott examinava cada centímetro do outro garoto, chegando a ser até um pouco indiscreto. Heather o deu pequenas cutucadas com o cotovelo em seu braço.

— Prazer. — Disse o outro garoto. — Bem, eu vou mostrar os quartos para vocês. — O garoto os guiou pela escada que levava até um corredor com pouca luz e com quatro quartos dispostos com dois em cada lado da parede. — Só escolherem. — Ele fez um sinal com as mãos e os outros tomaram sua frente.

Elliott e Heather ficaram em um dos quartos, no outro Lorenzo e Enzo, Caleb e Nathan ficaram no terceiro e Alexia ficou sozinha no último quarto.

O quarto era amplo, uma cama de casal e uma televisão, além de um tapete compunham o ambiente. Um banheiro se localizava ao lado da cômoda que abrigava a televisão. Elliott, ao se aproximar do botão de ligar do aparelho, foi repreendido por Skyler.

— Eu não acho que você vá conseguir assistir nada. — O garoto riu levemente. — Desligaram todo o sinal de televisão deste lado dos Estados Unidos, se estivéssemos na Flórida...

— Vocês têm água quente? — Heather jogou o cabelo para o lado.

— Temos sim, por enquanto. — Ele sorri. — Aproveite, vou pegar algumas toalhas e algumas roupas. — O garoto saiu deixando Heather e Elliott sozinhos no quarto.

— Você acha que foi uma boa ideia? — Elliott virou-se para Heather.

— Precisávamos deste descanso mais tranquilo, fora que precisamos de comida, de combustível e de um banho, eu estou com cheiro de gambá podre. — Ela riu.

Skyler voltou com quatro toalhas e as entregou para Elliott, que agradeceu e as repassou para Heather que logo se dirigiu ao banheiro. O loiro ficou sozinho no quarto, enquanto o vapor da água passava por baixo da porta, o loiro pensava o quanto já havia viajado em tão pouco tempo.

Parecia que já havia se passado meses desde que ele acordou naquele ônibus, mas foram apenas alguns dias e agora ele estava em um albergue no meio do nada tentando chegar a Seattle.

Deitou-se sobre o colchão macio e cochilou por alguns minutos até Heather o acordar.

— Sua vez de tomar banho, pequeno gambá! — Ela cheirava bem, um aroma difícil de distinguir, mas era mais agradável do que qualquer outra coisa que ele poderia ter cheirado nos últimos dias. Elliott se levantou e foi ao banheiro.

O local ainda estava com bastante vapor e o espelho estava bastante embaçado. Tratou de retirar sua roupa manchada de sangue, lama e todo tipo de sujeira possível. Jogou tudo no canto do banheiro e deixou a água quente se chocar contra seu corpo, a sensação era ótima, sentia toda o peso dos últimos dias sendo levado pela água e pela espuma do sabonete e do shampoo.

Sentia-se uma nova pessoa, completamente limpo e renovado. Seu estômago roncava e conseguia sentir de leve o aroma da comida sendo preparada por Olivia.

Ao sair do chuveiro, notou que não havia levado nenhuma toalha para dentro do banheiro. Pensou por alguns segundos e abriu com cuidado a porta.

— Heather? — Falou ele baixinho, mas ninguém respondeu.  A solução foi sair completamente nu pelo quarto para alcançar a toalha que se encontrava bem no centro da cama.

Foi então que Skyler entrou no quarto e deu de cara com Elliott, os dois ficaram se encarando por alguns segundos. O loiro estava completamente sem reação.

— Eu só vim trazer suas roupas. — Skyler tentava disfarçar o olhar do corpo nu de Elliott.

— Obrigado. — O loiro deu um passo e pegou a calça jeans e a camisa que parecia ser do Ramones das mãos do outro garoto, com a outra mão pegou a toalha e voltou ao banheiro.

A vergonha de Elliott foi tão grande que demorou para que ele pudesse se recompor completamente. Ignorou o que estava sentindo e se vestiu rapidamente. A sensação de poder usar uma roupa limpa era revigorante, sem manchas de sangue, lama ou sujeira, havia apenas o cheiro de amaciante.

Tratou de passar pelo corredor do andar de cima de pensão e descer as escadas em direção ao hall onde era nítida a voz de Heather e os demais do grupo.

Logo de cara, encontrou os irmãos de Skyler, muito diferentes dele e iguais entre si. Eram gêmeos, ao que podia ver.

— Estávamos só esperando você, Elliott. — Disse Olivia com sua voz doce. — Esses são Matt e Will, os gêmeos e irmãos mais novos de Skyler. Os dois eram mais baixos e mais magros que o irmão mais velho, mas mesmo gêmeos, possuíam alguns traços que lembravam vagamente Skyler.

O jantar veio logo em seguida, uma mesa foi posta com uma travessa de lasanha e uma jarra de suco de laranja recém-preparado.

— Como vocês estão se mantendo com tudo isso aqui após o ataque? — Heather indagou enquanto dava garfadas gulosas em seu prato de lasanha.

— Estamos muito longe dos centros mais populosos e parecem que essas criaturas não possuem um senso de direção muito apurado, só tivemos que nos preocupar algumas vezes, mas Skyler atira muito bem. — Will falou com um grande sorriso direcionado ao irmão mais velho.

Elliott tornou a encarar Skyler e seus olhares se encontraram e por alguns segundos ficaram conectados até Olivia dizer algo sobre como haviam chegado tão longe.

O jantar durou mais que o esperado e após seu término, cada um foi para seus respectivos quartos tentar, pela primeira vez, ter uma noite de sono tranquila. Elliott foi o único que ficou acordado enquanto toda a pensão dormia. Estava sentado na varanda externa enquanto o vento forte balançava a vegetação, seus cabelos e a placa do posto de gasolina poucos metros dali.

Sua imersão em pensamentos foi interrompida por uma figura estranha parada no meio do posto de gasolina. Possuía uma cabeça grande, ombros largos e braços que iam até o chão, mas o corpo parecia só ir até onde poderiam ser as costelas, após isso, nada, apenas algo fino e longo que sustentava todo o misterioso corpo que estava coberto inteiramente por um manto vinho que voava com a força do vento.

A criatura estava imóvel e o loiro piscava e coçava os olhos tentando ver se era alguma ilusão, mas não era, estava ali, seja lá o que fosse aquilo.

— Talvez não seja tão seguro ficar aqui fora. — A voz de Skyler rompeu o transe em que Elliott se encontrava.

— Você está vendo?

— Quem?

— Aquela cri... Sumiu...

— Acho que você está muito impressionado com o que tem visto nos últimos dias. — Skyler falou.

— Acho que já estou acostumando... — Elliott encarou o espaço onde, até poucos segundos atrás, estava a criatura.

— Vamos entrar, não vai querer ficar aqui. — Skyler conduziu Elliott até o quarto, o loiro deitou-se cuidadosamente ao lado de Heather que dormia um sono profundo e tranquilo.

A figura do ser pairava em sua mente, os trovões iluminavam o quarto e frequentemente acordavam Elliott.

—--x---

Depois de horas e mais horas virando na cama, ele se levantou e desceu até a sala. A chuva era torrencial e as gotas socavam com força o vidro da porta e das janelas.

Foi até a cozinha, preparou um chá após vasculhar todos os armários atrás de um. Voltou até a sala, não quis acender as luzes para não despertar a atenção de ninguém.

Ficou ali por um tempo bebendo o fumegante chá de camomila até encontrar Skyler descendo as escadas.

— Também está com problemas para dormir?

— Talvez... — Disse o loiro com o olhar fixo na caneca de chá.

— Só vim pegar um remédio para tentar dormir, boa noite.

Antes que Skyler pudesse subir de volta para seu quarto, os trovões iluminaram um ser demoníaco parado na porta. Era a criatura vista por Elliott mais cedo.

Suas mãos tremeram e seu coração se acelerou de maneira descontrolada. Um grito agudo e estridente explodiu do lado de fora arrebentando todas as vidraças e quebrando a caneca nas mãos de Elliott.

O manto vinho que cobria o ser caiu e revelou uma visão dantesca: O corpo do monstro era todo revestido com uma espécie de exoesqueleto, sua boca era um enorme buraco que se abria em dois na vertical em meio ao seu crânio, seus braços eram finos e longos com mãos enormes e garras gigantes, seu corpo se apoiava sobre algo parecido com uma coluna e que também se assemelhava a um corpo de uma centopeia feita de osso e das suas costas, um esqueleto de asas se abriu.

Era possível ver os órgãos internos da maldição parada na porta da pensão através das suas costelas.

O peito de Elliott estava dolorido por conta das batidas aceleradas de seu coração, sua respiração estava ofegante e seu corpo começou a suar, parecia que estava de cara com a morte mais uma vez, mas desta vez, ela ria na cara dele.


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