After The End escrita por Matt Sanders


Capítulo 1
s1x01 - Ashes


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo, eu espero que vocês gostem e não deixem de comentar ♥



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Dor. A primeira coisa que os sentidos recém-retomados de Elliott o alertaram. Sua visão ainda estava embaçada, mas conseguia identificar que estava em um ambiente com janelas. As imagens começaram a ficar mais nítidas, avistou bancos, barras de ferro usados para servirem de apoio e... Corpos.

‘’Um ônibus?’’, pensou ele. Sim, um ônibus ou o que restou de um. As janelas estavam completamente destruídas, as portas no mesmo estado, alguns bancos estavam queimados e em alguns deles havia corpos do que seriam passageiros. Sentiu suas costas e seus joelhos estalarem ao se levantar, talvez tenha ficado desacordado muitas horas ou até mesmo muitos dias. O cheiro de podridão vindo dos cadáveres era forte e nauseante , Elliott tratou de procurar um jeito de sair. Notou que o vidro da janela traseira havia sido estilhaçado só restando a armação, foi andando com dificuldade por conta das articulações e músculos doloridos e tendo que desviar de dois mortos no chão.

Ao se apoiar no vão da janela, sentiu uma mão o puxando e o jogando contra um dos bancos. Era uma senhora. Ela estava bastante ferida e exalava um forte fedor, seus olhos estavam vidrados nos olhos de um assustado Elliott.

— ELES! FORAM ELES! – Gritava a velha sacudindo o loiro com força.

— Eles?! Eles quem?!

— FORAM ELES! FORAM ELES! – Ela continuava berrando.

— Eles quem?! – Elliott estava bastante assustado com o súbito ataque da velha, que foi soltando devagar seu braço e sua voz diminuindo. Seus olhos se fecharam e ela só pronunciou sua última palavra: ‘’Eles’’.

Ela caiu por cima do corpo do jovem assustado no banco, empurrou com delicadeza o corpo sem vida e fedorento da velha, mas não conseguiu evitar com que ele caísse feito pedra no chão do ônibus. Ficou parado por alguns minutos pensando no que havia acabado de acontecer, era muita informação para apenas uma mente processar. Decidiu que pensaria sobre isso em outro momento, precisava sair dali, portanto, levantou-se e voltou para a janela traseira. Ignorando as dores das mãos e do resto das articulações, deu impulso para conseguir subir no vão onde ficava a vidraça e saltou para fora daquele resto de ônibus.

O que avistou ao sair de dentro do veículo foi assustador: Os prédios estavam em ruínas, as ruas estavam lotadas de carros abandonados e corpos jogados pelo chão. Alguns veículos queimavam, havia postes caídos, tubulações estouradas jorrando água para todos os lados e muito entulho espalhado. Parecia que havia acontecido um bombardeio.

‘’Eles...’’, ele repetia mentalmente as palavras da velha que o atacou. Quem seriam ‘’Eles’’? O que tinha acontecido e o principal: Porque ele ficou tanto tempo desacordado?

Antes que ele pudesse se fazer mais perguntas notou o céu nublado, o vento começou a correr gelado levantando poeira e fumaça e sons de trovão ecoavam ao longe. Tateou os bolsos até encontrar seu celular, ainda com um pouco de carga, viu que eram três horas da tarde. Pensou em ligar para seus pais, mas não havia qualquer sinal. Pensou em ir para casa, mas com o cenário apocalíptico presente ali, ficava difícil saber em que parte da cidade estava. Correu até a frente do ônibus torcendo pela placa de destino ainda estar lá, só que dela só havia sobrado pedaços. Estava completamente perdido.

— Ei! – Gritou uma voz feminina atrás de Elliott, que se virou e deu de cara com uma garota aparentemente da sua idade – 19 anos – com cabelos pintados de vermelho, vestindo uma grande camisa xadrez vermelha de manga longa.

— O-Oi...

— Você viu o que aconteceu? – Perguntou a garota.

— Não, eu acordei dentro daquele ônibus. – Fez sinal para o ônibus em frangalhos parado poucos metros dali.

— Então eu não fui a única...

— Você também acordou e já estava tudo assim? – Ela pareceu espantada ao ver que Elliott balançou a cabeça confirmando.

— Eu não sei em que parte da cidade eu estou ou como isso aconteceu... Seu celular está com sinal?

— Nenhum... Aliás, qual seu nome?

— Elliott. E o seu?

— Heather, prazer. – Disse ela apertando a mão do jovem loiro. O silêncio reinou por alguns instantes enquanto os dois olhavam toda a destruição ao seu redor, como isso tudo foi acontecer? Como isso tudo foi acontecer sem eles terem visto ou se viram, não se lembrarem?

— Eles... – Elliott sussurrou para si mesmo, mas não conseguiu evitar que chamasse a atenção de Heather.

— O que disse?

— Eu estava saindo daquele ônibus e fui atacado por uma velha já nos últimos momentos de vida dizendo que foram ‘’eles’’. – O jovem fez o sinal de aspas com as mãos.

— Eles? – Ela coçou a cabeça.

— Pois é, eu não sei o que a velha quis dizer... Eu só sei que preciso encontrar meus pais.

— E eu preciso de um telefone ou alguma coisa assim, preciso saber se isso foi só aqui ou foi no resto do mundo.

— Você acha que pode ter acontecido no mundo inteiro?

— Olha Elliott, se fosse só aqui eu creio que o governo já teria mandado o exército ou algo do tipo para resgatar possíveis sobreviventes, assim como fazem quando tem terremotos ou furacões e aqui, bom, só estou vendo você e um bando de gente morta jogada pelo chão. – Ela soltou uma pequena risada que contagiou até mesmo um desnorteado Elliott.

— Acho melhor irmos andando...

— Vamos. Precisamos achar água e algo para comer, está escurecendo. – Disse Heather começando a caminhar.

Os dois andaram por algum tempo, passando por diversas ruas devastadas sem nenhum sinal de vida humana, só avistaram um cachorro vira-lata perto de um carro revirado e não pensaram duas vezes em levá-lo com eles. A avenida principal da cidade estava completamente deserta, o único barulho que ouviam era o da própria voz, além dos seus passos, alguns barulhos emitidos pelo cachorro batizado de Thor e do vento que uivava gélido.

— Eu me sinto em The Walking Dead... – Comentou Heather olhando a longa avenida vazia.

— Por favor, não me diga que teremos zumbis em nossa companhia. – Elliott riu e não conseguiu deixar de notar que Heather soltou um pequeno sorriso, estava feliz por tê-la ali, pelo menos não estava sozinho. Também estava feliz por terem encontrado Thor, cães são bem-vindos em qualquer lugar. O silêncio voltou a reinar entre os dois, o loiro sentiu certo incômodo pois parecia que estava sozinho e sozinho era a última coisa que ele queria estar: - Onde você acordou? Digo, como você... Ah, você entendeu!

— Eu acordei dentro de uma loja de ternos perto de onde você estava, estava com uma ferida bem irritante no ombro e improvisei um curativo. – Ela puxou a camisa xadrez e a camisa que estava por baixo para o lado revelando um curativo improvisado com um tecido e fita crepe.

— Você não se lembra de nada?

— Nada... Não sei nem o que eu poderia estar fazendo em uma loja de ternos! – Ela abriu os braços enquanto falava: - Só sei que eu acordei pensando que estava atrasada para minha aula, quando olhei tudo aquilo ao meu redor e sentir essa ferida eu me dei conta do que estava acontecendo. Você não se lembra de nada?

— Nada que seja muito revelador. Só lembro-me de sair de casa ont – ele se deteve- em alguma manhã, me despedir dos meus pais e só... Confesso que acho que isso possa ser um sonho meu, mas e se não for? E se tiver acontecido alguma coisa?

— Tipo...? – Heather parou de andar.

— Não sei, mas alguma coisa muito séria. Como você disse, se fosse só aqui o governo já teria mandado equipes de resgate. – Elliott sentia seu coração se acelerar conforme os pensamentos dançavam em sua mente.

— Elliott – ela pousou a mão em seu ombro – seja o que for que tenha acontecido, nós iremos descobrir. Não é possível que tenha sobrado só nós dois e o Thor nesta cidade imensa!

— É, tem razão...

— Bom, vamos continuar andando. Está escurecendo e parece que está ficando mais frio. – Ao terminar a frase observou pequenas nuvens de fumaça saindo de sua boca enquanto falava.

A caminhada durou até chegarem a um ponto onde se erguia uma rodovia, provavelmente a interestadual, perto da entrada havia o que parecia ser um bairro residencial. Talvez encontrassem alguém, um telefone, comida, água... A rua era larga, com casas todas iguais – mudando apenas a cor – dos dois lados, palmeiras se erguiam em uma fileira ao longo da rua. As casas estavam destruídas, algumas árvores caídas assim como postes. O vento soprava bem mais forte e a temperatura havia caído abruptamente, com toda certeza, o que havia ocorrido mudou drasticamente o clima, pois a estação do ano em que estavam não deveria fazer tanto frio.

— Olha – Heather apontou para uma casa ao fim da rua, perto de um enorme portão gradeado – tem alguém ali! – Elliott acompanhou o olhar de Heather até encontrar um menino aparentemente mais novo que ele, sentado no meio da calçada. Os dois correram até ele, que não se assustou ao vê-los, pareceu até aliviado por não estar mais sozinho.

— Ei! – Disse Heather com um tom simpático. — Como se chama?

— Enzo. Enzo Davis e vocês? – Disse o garoto os encarando com seus olhos azuis bem claros.

— Eu me chamo Elliott e ela se chama Heather. Você sabe do que aconteceu?

— Cara... Eu só lembro de ter ido dormir e depois não sei mais o que aconteceu... Eu sei que acordei algumas horas atrás. – Enzo estava com a voz embargada, parecia que segurava o choro. — Meus pais... Eles morreram...

Elliott sentiu seu coração pesar e seu estomago revirar ao ouvir a notícia, via o menino segurar o choro com todas as forças, tinha medo do mesmo ter ocorrido com os seus.

— Ei, fique com a gente. – Elliott se agachou ao lado de Enzo, sentando-se na grama e sendo acompanhado de Heather e um Thor que não parava de farejar o menino mais novo.

— Quantos anos você tem? – Perguntou Heather.

— Fiz dezesseis esses dias. Na verdade não sei há quanto tempo foi meu aniversário, não sei quanto tempo fiquei desacordado...

— Bom... Se isto for lhe confortar, nós dois também acordamos e tudo isso já estava nesta situação, não foi só com você. – Elliott apontou para a destruição ao redor dos três.

— Me conforta um pouco.

— Mesmo? – Elliott sorriu.

— Não. – Enzo soltou uma pequena risada e continuou. — Vocês não acham isso estranho?

— É estranho até demais, mas não adianta ficar pensando nisso agora, você tem algum telefone? – Heather olhava paras as casas ao redor dela.

— Meu celular está sem sinal e meu telefone fixo está mudo, estou sem luz também.

— Merda. – Bufou Heather.

— Bom, precisamos de comida e água – Elliott olhou o céu já escuro – ou talvez um lugar para dormir.

— Precisamos nos comunicar com alguém de fora daqui... – Heather se levantou limpando pequenos pedaços de grama grudados em sua calça.

— Mas não há energia em lugar nenhum, só em lugares com gerador... – Enzo encarava os dois mais velhos.

— Tem o hospital e o aeroporto. – Heather comentou roendo as unhas.

— Só esses? – Elliott a encarou.

— São os que eu conheço.

— Vamos para lá então... Amanhã. – Concluiu Elliott.

— Você vem com a gente? – Heather olhou para Enzo e sorriu.

— Se não ir com vocês significa estar nesse pesadelo sozinho... Eu vou.

— Bom, vamos entrar, comer algo e amanhã resolveremos.

Os três se encaminharam para o que seria a casa de Enzo, completamente arrasada. O mais novo acendeu quatro velas para iluminar o ambiente já com o breu abraçando o espaço.

O frio estava cada vez mais intenso e a chuva do lado de fora começou a despencar dos céus com uma força descomunal. Por conta dos buracos no teto a água da chuva pingava em alguns cantos da casa, mas nada alarmante. Enzo os entregou dois travesseiros, um cobertor e salsichas enlatadas.

Eles comeram até não suportarem mais nenhuma garfada, ficaram mais um tempo conversando até Heather cair no sono, um sono profundo. Enzo e Elliott ficaram um tempo em silêncio, ouvindo a chuva, o vento e os trovões rugindo.

— Você não está com medo? – Perguntou o jovem de olhos azuis quebrando o silêncio que estava imperando.

— Posso ser sincero? – Elliott se virou para Enzo que balançou a cabeça em concordância. — Estou com muito medo.

— Não aparenta...

— Eu tento esconder quando estou com medo...

— Por quê?

— O medo nos enfraquece, nos deixa vulneráveis, abre as portas para o inimigo atacar. O mesmo acontece com o ódio... Ele nos deixa sem controle sobre as nossas ações, precisamos sempre estar em equilíbrio.

— Não há um inimigo ou há?

— Se houver eu prefiro não descobrir quem é. Eu só quero saber onde meus pais estão.

— Eu queria os meus aqui... – Enzo fitou uma das velas com a chama dançante acesa.

— Eu sinto muito pelo que houve...

— Tudo bem.

— Onde eles estão?

— No segundo andar, ainda não tive coragem de enterrá-los.

— Vai ficar tudo bem... – Elliott pôs as mãos sobre o ombro de Enzo.

— Eu espero que fique. Obrigado por vocês dois aparecerem, não sei o que seria de mim sem companhia, ficar sozinho não é uma opção neste momento.

— Ninguém vai ficar sozinho aqui. Bom, vamos dormir, amanhã vamos procurar algum lugar com gerador.

— Vamos, boa noite.

— Boa noite. – Elliott se virou e se cobriu com o grosso cobertor, fitou a porta ou o que poderia ter sido uma porta algum dia, fechou os olhos e deixou com que o som dos pingos de chuva caindo invadisse seus ouvidos fazendo-o relaxar.

Elliott não sonhou, ou não se lembrava de que havia sonhado com alguma coisa, acordou ouvindo um barulho de pá. Olhou para a porta e via que o dia estava clareando, ainda bastante frio e chuvoso, notou um relógio na parede a sua frente onde marcavam cinco da manhã. O loiro se levantou com cuidado para não acordar Heather que dormia tranquilamente com Thor enroscado sobre seus pés, foi andando em direção ao som que parecia vir dos fundos da casa. Se não fosse o tal acontecimento, poderia dizer que a casa teria sido bem luxuosa, mas agora estava em ruínas. Foi caminhando até chegar a um quintal nos fundos, bem amplo e cercado por muros altos de tijolo.

No centro do quintal estava Enzo dentro e um buraco, a terra estava bastante enlameada e o menino bastante sujo e molhado. Ele retirava a terra do monte que se formou ao lado dele para tapar o buraco, improvisou uma cruz com duas madeiras e as fincou no chão ao lado da cova.

Enzo deixava as lágrimas que tanto segurou escaparem sem qualquer tipo de censura. Não queria estar enterrando seus pais, não queria que nada disso tivesse acontecendo, mas não podia negar a realidade... Agora ele estava por conta própria, sozinho com dois desconhecidos que poderiam ser boas pessoas ou serem dois assassinos que o matariam na primeira oportunidade.

Seu olhar se encontrou com o de Elliott que estava parado na beira da porta. Ficaram alguns instantes se encarando até Enzo continuar terminar o trabalho e se ajoelhar ao lado da cruz, estava rezando. Decidiu que ia deixar o menino em paz em um momento tão doloroso, certamente Enzo não queria que ninguém o julgasse ou o observasse.

Sentou-se na escada localizada na sala, Thor veio ao seu encontro. Ficou olhando a chuva cair sobre as casas, a rua, sobre toda a cidade completamente devastada por algo que ele nem mesmo conseguira presenciar. Não sabia onde estavam seus pais, seus amigos... Olhou para Heather dormindo a poucos metros de onde ele estava e se sentiu agradecido por ter ela e Enzo com ele. Não os conhecia o suficiente, mas sabia que sem eles talvez não tivesse nem saído de perto do ônibus em que acordou.

Voltou para a cama improvisada no chão e deitou-se encarando o teto avariado, tentou dormir novamente, mas o sono não veio. Estava muito cedo ainda, mas não conseguia mesmo dormir... Levantou-se e voltou para onde Enzo estava cavando o buraco, o menino agora se encontrava sentado no perto da porta que dava para o quintal.

— Desculpe-me lhe acordar... – Ele disse ao ver Elliott chegando.

— Não tem problema.

— Não queria que você visse.

— Por quê? – Elliott se sentou ao lado dele.

— Acabei de conhecer vocês e...

— Enzo, isso não importa... O que importa agora é que estamos juntos, somos um trio e um cachorro. – Elliott riu. — Vamos cuidar um do outro, tudo bem?

— Tudo bem. – Enzo sorriu e abraçou forte Elliott. Os dois ficaram conversando por mais um tempo até Heather acordar, comeram pão e geleia e foram se preparar parar ir. Heather e Enzo encontraram mochilas onde puderam guardar bastante comida e água para os próximos dias, além de uma terceira mochila com casacos e cobertores.

— Parece que estamos indo acampar. – Comentou Heather socando um cobertor dentro da mochila.

— Acampamento nas ruínas... Adorei a idéia. – Elliott riu. Quando terminaram de arrumar tudo, improvisaram uma coleira para Thor.

Os três saíram da casa animados, a chuva tinha parado, mas o frio continuava forte. Enzo carregava em seus braços um retrato de seus pais, ficava olhando o rosto sorridente dos dois na foto apagando as faces sem vida que estavam quando o menino os viu pela última vez. Em algum lugar eles estavam felizes por vê-lo seguir em frente e estariam sempre olhando por ele.

— Vai ficar tudo bem. – Disse Elliott pondo seu braço em volta dos ombros de Enzo, Heather olhou para os dois e sorriu.

— Sim... Vai.


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