Diário da Morte escrita por Isabela Bernardino


Capítulo 1
One-Shot


Notas iniciais do capítulo

Olá outra vez! Antes de ler, só vim avisar que a palavra "Coño" significa "Bichano". Haverá mais palavras em espanhol, mas achei que talvez não entendessem essa, por isso vim avisar sobre ela antes.Faça uma boa leitura!



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Querido diário... Droga, eu estou fazendo mesmo isso? Que tolice! Ainda não acredito nesta decisão que tomei. Escrever um diário? Sério mesmo? Foi eu mesma que tive esta ideia? Dios mío! Eu ainda não estou acreditando...

Bom... Acho que já que comecei, devo terminar, já que eu odeio não acabar algo que comecei. Aonde estávamos? Ah sim, com “Querido Diário”. Então vamos tentar outra vez.

Querido diário, hoje foi um dia triste, mais um na minha vida, ou seria morte? Mas hoje... Acho que foi um dos piores dias, apesar de ter muitos iguais como este, algo o fez deixar mais triste ainda.

Diário, caso não saiba, eu sou a Morte, sim... Yo soy la Muerte. Meu trabalho é levar as almas dos seres vivos para o seu caminho, ou seja, devo levar para o céu ou para o inferno. Gosto mais quando tenho que levar para o céu. Na maioria das vezes, eu tenho que levar humanos, mas desta vez foi diferente... Quer dizer... Não tão diferente... Mas foi um pouco mais triste...

Eu estava fazendo o de sempre: esperando alguém morrer, quando eu ouvi a Voz, me dizendo que eu devia ir para a Cidade Do México, pois a alma que eu deveria levar, desta vez para o Céu, estava me esperando por lá. Eu não posso desobedecer esta voz, nem mesmo quando eu quero, então fui para a Cidade Do México. Claro que, como eu sou um ser sobrenatural, foi pra lá rapidamente, porque às vezes ser a Morte tem suas vantagens. Já viajei pelo mundo todo, sabia? Mas eu amo o México! Lá eles tem o Dia de Los Muertos, e eu adoro este dia.

Cheguei na Cidade Do México e me deparei com uma cena que já havia visto várias vezes: uma menina agachada no chão chorando ao lado do corpo atropelado de seu gatinho. Quando eu vi o gato, pude perceber que o carro não havia passado por cima dele. Com certeza, quando o carro veio na direção do gato, ele se assustou e tentou correr, mas acabou não dando tempo e o carro o atingiu, fazendo o gatinho indo parar um pouco longe por conta do impacto, e acabou morrendo de Traumatismo Craniano. Eu só queria saber como é que o gato não havia visto o carro, já que ele era enorme, gigante perto do coño! E estava em plena luz do dia! Como o gato não viu?!

Bom, eu não podia ficar ali olhando o corpo do gato e a chica chorando, eu tinha que fazer o meu trabalho.

Comecei a procurar a alma do gato, já que era para ela estar perto do corpo sem vida dele. Olhei em volta e nada. Quando eu percebi, o gatito estava escondido atrás de sua dona. Acho que ele não queria vir comigo, acho que ele queria ficar com sua dona.

Eu não tinha tempo para brincadeiras, então peguei o gato no colo, e para provar que, mesmo sendo a Morte, sou alguém bom, comecei a fazer cafuné nele.

Já ia ir embora, já estava pronta para levar a alma do gatito para o Céu, quando alguém dizer bem baixinho e com voz de choro “Señorita”. Eu senti que era a mim que a pessoa chamava, então me virei e me deparei com a menina de pé, com o rosto e olhos vermelhos de tanto chorar, e com o seu nariz escorrendo. Ela dava suspiros e suas mãos tremiam. “Señorita Muerte” ela disse, e eu me arrepiei. Aquela menina podia me ver.

Com os olhos arregalados, me atrevi a dizer “Sí” para ela, e ela me perguntou onde eu levava o seu bichano, e eu respondi dizendo que levaria para o Céu. A menina desatou a chorar novamente, e eu senti um aperto em meu coração. “Não o leve, eu o amo muito”, a me disse, e eu respondi eu já era a hora dele. Como se fosse fazer ela parar de chorar, claro!

A menina chorou outra vez, e eu senti meus olhos marejarem diante da cena. Então eu olhei para o gato, ele não era muito grande, e era preto, era realmente um gato muito bonito – Bonito e amado por aquela chica.

Eu olhei para a menina e disse que ele iria para um lugar bom, e ela me perguntou se eu poderia levar ela junto, pois o gatinho em meus braços sempre pedia carinho durante a noite, e só ela sabia como fazer carinho nele, do jeitinho que ele gostava. Droga! O meu coração apertou outra vez, e eu disse que não, que ainda não era a hora dela. A menina me perguntou quando seria a hora dela, e eu disse que ainda iria demorar muito.

A menina enxugou as lágrimas, se aproximou de mim e puxou a saia do meu vestido, sinalizando para que eu abaixasse, e eu o fiz. Quando me agachei, ela deu um beijo no meu rosto, aquele menina, além de me ver, podia tocar em mim, e eu estava perplexa! Mas na hora, não foi o que me preocupou, já que o beijo dela era morno e aconchegante. Eu nunca havia sentido algo do tipo, a sensação era incrível!

A menina me disse que o nome do gato era Brócolis, e disse para eu cuidar bem dele, e eu o disse que faria. Mas ainda estou me perguntando quem é que coloca o nome de “Brócolis” em um gato...

Fui para o Céu levar a alma de Brócolis, e voltei no meu cantinho para esperar a Voz me dizer onde seria meu próximo destino, qual seria minha próxima alma.

Passou-se algumas horas, já havia pego várias almas e as levado para o seu destino, mas a Voz me chamou, e me disse para ir novamente a Cidade Do México. Fui, não estranhei, afinal, é normal eu ir em um mesmo local varias vezes ao dia. Mas eu preferiria não ter voltado para lá, não queria ver o que vi.

Cheguei no local, era na mesma rua em que havia pego a alma de Brócolis, e entrei em uma das casas, e me deparei com a alma da chica ao lado da cama, ao lado de seu corpo sem vida. “Você disse que ia demorar”, ela me disse, e eu chorei. Não sei por que chorei, só sei que chorei.

A menina tinha uma doença, uma doença a qual ainda não haviam descoberto ainda, ninguém sabia dizer ao certo o que a menina tinha. Mas nada importava agora, pois agora, a menina ia ser levada por mim.

No caminho para o Céu, ela me disse que se chamava Maria, e que havia apenas 7 anos. Uma pena, ela tinha a vida toda pela frente, e eu tive que a levar. Não podia dizer não, tinha que cumprir o meu dever, pois se eu não a levasse, a alma dela ia ficar vagando sem rumo. Eu não tinha opção, a levei para o Céu.

Os olhos da menina brilharam ao ver os portões do Céu, e ela gritou de felicidade ao ver Brócolis correr em sua direção alegremente.

Meus olhos marejaram, e eu voltei ao meu canto, para esperar outro chamado.

Já que não havia o que fazer, comecei a escrever aqui, para passar o tempo, apesar de achar uma inutilidade isso. É... Hoje foi um dia triste, muy triste, porém... Apesar de ter que levar as pessoas para longe daquelas que elas amam, um dia, elas vão se reencontrar, e vão ser felizes, igual à Maria e ao Brócolis.

Recebi um chamado, a voz disse que eu tenho que ir para o Rio de Janeiro agora. Diário, acho que vou escrever mais em você talvez, quem sabe... Ainda acho isso um pouco inútil.


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Notas finais do capítulo

Muy - Muito
Chica- Menina
Sí - Sim
Señorita Muerte - Senhorita Morte
Señorita - Senhorita
Gatito - Gatinho
Coño - Bichano
Dia de Los Muertos - Dia dos Mortos
Yo Soy La Muerte - Eu sou a Morte
Dios Mío - Meu Deus

Eu espero que tenha gostado da fic!
Muito obrigada por ler!