Loucamente Apaixonada escrita por Angie


Capítulo 61
Palavrinhas Mágicas




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Eu encarava as páginas do livro, os cartões que Samuel tinha deixado marcando-as, os que eu tinha pego na minha bolsa -- que eram idênticos -- e a minha agenda. De acordo com o livro eu deveria trocar cada uma das letras do código pelas seguintes, mas tudo que eu estava conseguindo era mais uma combinação sem sentido de letras. Mordi o lábio inferior refletindo sobre o que eu poderia ter errado. Li as instruções de novo. Nada. Mas se o código era esse, porque não estava funcionando?

Peguei o bilhete de Samuel e o li novamente, mas dessa vez me prendi numa frase: "Seja do contra ao menos nesse momento."

Fala sério. É claro que se tratando de Samuel sempre tinha que ter alguma complicação. Comecei a decodificar a frase do primeiro cartão que ele tinha me dado, usando o mesmo código, mas dessa vez ao contrário. Em vez de pegar as próximas letras do alfabeto, peguei as anteriores e sorri ao ver que estava dando certo. Logo eu tinha uma frase em letra cursiva -- não tão bonita quanto a de Sammy -- na página da minha agenda:

Sabia que você era a garota certa assim que te vi.

Arregalei os olhos sentindo minha boca ficar seca de repente, então tratei de respirar fundo. Ele não poderia estar querendo dizer o que eu achava que era. Não é? Tipo, ele me deu essa cartão junto com as rosas no meu aniversário, a séculos atrás. Tá bom, não séculos, pouco mais de uma semana apenas, mas depois de tudo isso, sinto que o conheço a muito mais tempo. Ai, meu Deus, a síndrome da garota apaixonada. Fechei os olhos, balancei a cabeça e voltei a abri-los.

Concentre-se em decodificar o resto, Heather. Deixe para surtar depois, pensei.

Buscando me concentrar, comecei a trabalhar no próximo código e soltei um gritinho abafado assim que o tinha decodificado por completo. Foi a mensagem codificada do cartão que ele tinha me dado junto com a pulseira, também no meu aniversário. No cartão onde ele tinha dito que eu era "a melhor amiga que ele poderia ter ganho". Naquele dia eu tinha começado a tentar descartar cada ideia romântica que eu pudesse ter dele, cada sentimento além da amizade -- não que tenha funcionado por muito tempo --, mas vendo o código desvendado agora, percebi como fui boba.

Embora eu gostaria que fosse algo mais.
Amo você.

E por fim, a solução do código do último cartão:

Será que vai conseguir retribuir meus sentimentos um dia, ou isso continuará como algo unilateral?

As lágrimas já lutavam para escorrer pelo meu rosto. Não as contive, deixei-as cair. Estava tão feliz e confusa que meu peito parecia querer explodir. Antes mesmo de perceber eu já estava discando o número de Gabriely no meu celular.

—- Gabe?

—- Heather, você está chorando? -- perguntou preocupada. -- O que foi que a Helen...?

—- Ele me ama -- falei e ri nervosa, mordendo o lábio, sem me importar com o fato de que ele poderia começar a sangrar a qualquer momento.

—- Espera aí, do que você está falando?

—- O Sammy, ele me ama, eu só não entendo porque ele não me disse isso antes, mas...

—- Opa, calma lá! É claro que ele te ama! Você é inocente ou só lerda mesmo? Pensando bem, ignore a pergunta e me diga, que ser te iluminou? Como foi que você fez a "grande descoberta"?

Ela estava sendo sarcástica comigo, mas dava para perceber também, que estava feliz por mim.

—- Ele meio que veio me dizendo esse tempo todo. Lembra dos códigos dos cartões que eu te falei?

—- Aqueles que te irritavam para caramba, ao mesmo tempo em que te faziam parecer uma idiota?

—- Pois é -- funguei baixinho. -- Samuel praticamente me deu as respostas de bandeja hoje e estava tudo lá. Ele disse que me ama com todas as letras. Ai, meus Deus, o que eu faço agora?

—- As vezes eu me esqueço de que você nunca levou um relacionamento a sério -- suspirou. -- Escuta, da próxima vez que você o vir...

—- Eu vou dormir na casa dele hoje, Gabriely! -- exclamei, mais nervosa que nunca.

—- Hã... bem... acho que é melhor você arranjar um jeito de não ficar parecendo uma pateta e conversar direitinho com ele sobre isso.

—- Como se fosse fácil!

—- É fácil. Ele te ama, você o ama também, o que pode dar errado?

Eu odeio essa frase. Geralmente quando as pessoas dizem isso, algo sempre dá errado.

—- Tudo! Como você fez questão de lembrar, eu não levo relacionamentos a sério, Gabe! Se eu começar a namorar com ele, pode ser que eu estrague tudo. E eu não quero estragar, eu só... Ah, droga, eu preciso dele como eu nunca precisei de ninguém. Ele é meu melhor amigo, eu estou apaixonada por ele e me sinto dentro de um clichê.

—- Que bom, não é? A maioria dos clichês tem finais felizes.

—- Na maioria dos clichês sempre acontece algo muito ruim -- argumentei.

—- Foque nos finais felizes. A maior parte da sua vida já foi ruim o suficiente, Heather. Sua mãe já foi castigo o suficiente. Tome as rédeas da sua própria história e não desperdice essa chance -- disse severa e decidi acreditar nela. Vai dar certo. -- Agora, como toda boa mocinha, se renda aos encantos do seu boy magia.

—- Não fale mais boy magia -- pedi.

—- Heather!

—- Okay—- suspirei.

—- Ótimo. Agora que estamos entendidas, você vai começar a me explicar tudo que aconteceu por aí, principalmente uma coisinha: Que história é essa de que você vai dormir na casa dele?

☆☆☆

Eu estava jantando com Amélia quando Samuel e seu avô chegaram. Ela tinha dito que o horário deles era sempre imprevisível e que havia a possibilidade de eles demorarem muito para chegar, então deveríamos começar sem eles. Eu tinha contado a ela numa versão resumida toda a minha vida e o que tinha acontecido desde que conheci seu neto, principalmente a parte dos cartões. Sim, eu estava falando pelos cotovelos, mas ela também tinha ficado indignada com tudo aquilo e começado a falar sobre como todos os homens da família eram complicados. Ela e o marido já se conheciam a dois anos -- ela era funcionária da empresa -- quando ele finalmente reuniu coragem para convidá-la para sair. Eu nunca poderia ter imaginado algo assim julgando pela personalidade extrovertida de Oliver.

Enfim, os homens da casa chegaram, mas só o avô de Sammy, depois de um tempo, se juntou a nós e a essa altura já tínhamos terminado o jantar e estávamos apenas conversando.

—- E então, sobre o que essas duas beldades tanto conversam? -- perguntou Oliver sorrindo.

—- Sobre o traço genético que dita que todos os homens dessa família devem ser idiotas e complicados quando se trata de romance -- disse Amélia.

Ele assentiu, sem se ofender nem um pouco.

—- Devemos lembrar que na família até hoje ninguém quebrou o recorde do nosso filho -- ele viu minha cara de interrogação e começou a explicar: -- Olavo conheceu Charlote quando começou a frequentar o restaurante dos pais dela. O problema é que nessa época ele namorava uma estilista.

—- Muito bonita -- falou Amélia. --, mas insuportável. Quanto mais tempo se passava, mais ela se tornava pegajosa e ciumenta. Então, na bela noite em que meu filho conheceu sua esposa, foi amor a primeira vista. Mas o idiota não sabia o que fazer para se livrar da namorada sem "machucá-la e passaram-se semanas antes que conseguisse terminar o namoro. Mas, em vez de Olavo ir atrás do amor de sua vida, ele decidiu que seria mais respeitoso deixar o morto esfriar no caixão antes de tentar iniciar outro relacionamento, embora eu acredite que ele só não sabia o que fazer e estava desesperado por dentro. Ficar solteiro fez com que a estilista continuasse o rondando por um bom tempo, mas ele se manteve firme e não quis mais nada com ela, felizmente.

—- E então ele foi atrás da Charlote, certo? -- perguntei, não deixando de me divertir com o modo como eles estavam contando tudo aquilo.

—- Ah, sim, mas como ela já tinha percebido com que tipo de companhia ele costumava se relacionar, não quis nada com ele durante meses -- continuou Oliver. -- Mas além do traço genético mencionado anteriormente, temos dois outros que o ajudaram muito: Insistência e paciência. Ele teve que trabalhar muito, mas enfim conseguiu conquistá-la.

—- Resumindo: quem tem que ter paciência somos nós, mulheres da família -- retrucou a avó de Sammy. -- Só Deus sabe o quanto eu precisei dela para te esperar por dois anos, principalmente quando já era óbvio que você estava caidinho por mim.

***

Deixei os donos da casa conversando e subi decidida até o segundo andar. Precisava falar com Samuel por motivos óbvios, mas tinha que ter cuidado para não dar uma de manteiga derretida, por isso fiz minha melhor cara de séria e entrei em seu quarto sem bater, como sempre faço. Mas ele não estava lá e não havia qualquer barulho que denunciasse que ele estava tomando banho, então saí e fui em direção ao "meu", pois era provável que ele estivesse me esperando.

Tenho certeza de que minha cara de séria foi para o espaço assim que abri a porta e me deparei com ele, sentado na minha cama e olhando para minhas anotações. Samuel estava vestido de um jeito que nunca vi: Calça e camisa social e uma gravata frouxa pendendo do pescoço, combinando de forma sexy com o cabelo bagunçado.

Ele olhou para mim, ainda empacada na porta e inclinou a cabeça de lado, abrindo um pequeno sorriso torto. Desviei o olhar e acabei percebendo uma rosa cor-de-rosa sobre o criado-mudo. Ele obviamente a tinha colocado ali. Que fofo...

—- Você já está corando e eu ainda não disse nada -- falou, mas ao contrário de sua expressão, seu tom não demonstrava tanta segurança e isso teve um efeito positivamente reverso em mim.

Olhei novamente para ele.

—- Porque não me disse nada antes? -- perguntei e cuidadosamente fechei a porta.

—- Preciso mesmo listar os motivos? -- ele levantou da cama ficando de frente para mim, mas sem se aproximar e me esperou assentir. -- Lembra do dia em que Gavin chegou no complexo e eu te deixei conversando com a minha mãe? -- Tradução: ele me "sequestrou" do meu próprio apartamento e me largou na cozinha da mãe dele. -- Ele decidiu ter uma conversa séria comigo e explicar que não importava o quanto eu tentasse me aproximar de você, porque em algum momento você iria embora. Que você era do tipo de garota que nunca tem um relacionamento que dure muito. Que se divertia sempre e depois se mandava. E era óbvio que você estava sentindo alguma coisa por Justin. Mas depois teve a conversa que você teve com Wendy...

—- Então você ouviu mesmo -- resmunguei baixinho.

—- Sim. E mesmo que tenha ficado aliviado por saber que você não queria mais nada com meu irmão, eu não gostei de te ouvir praticamente confirmando tudo que o seu primo tinha dito. Eu estava me apaixonando por você e não era nada bom saber que você não conseguia amar ninguém.

—- Mas você me disse no aeroporto que não queria que eu me apaixonasse por você! -- exclamei nervosa.

—- E eu realmente não quero -- disse calmamente caminhando até mim. Parou bem perto e eu tive que erguer um pouco a cabeça para olhá-lo nos olhos. -- Não se for como das outras vezes que você se apaixonou por alguém. Eu não quero te perder, Little Witch. Não quero que me deixe para trás como faz com todas as pessoas que entram na sua vida. Eu quero que você me ame, como eu te amo, assim você nunca iria embora -- suavisou ainda mais sua voz. -- Seria pedir demais?

Respirei fundo ao ouvi-lo dizer aquilo em voz alta. Saber de algo é uma coisa, mas ter a confirmação dita em alto e bom som, é outra completamente diferente. Ele disse as três palavrinhas mágicas que podem fazer qualquer garota pirar. As palavras que tantas outras pessoas dizem da boca para fora. Palavras que ninguém nunca me disse com tanta sinceridade.

—- É claro que não seria -- suspirei e cruzei a pouca distância que nos separava, então peguei a gravata dele e o puxei para mim, ficando com os lábios bem próximos aos dele quando disse: -- Eu te amo, seu bobo.

E diferente de antes, dessa vez quem começou o beijo fui eu.


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Notas finais do capítulo

Eeeeeeeeeeeeeeeee
Finalmente!



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