A organização na sala de cinema tinha ficado assim: Ariela do meu lado direito, Justin do esquerdo e Mikaelle do outro lado de Justin. Os amigos dele estavam em algum lugar por ali. Estavámos assistindo o filme a uns vinte e cinco minutos e já tinha rolado umas cinco mortes. Sinto dizer que sim, os efeitos especiais eram tão bons quanto Mika havia dito que seriam, pareciam reais demais. E é claro que eu estava tão amedrontada que nem estava conseguindo comer minha pipoca, mas Justin tinha se encarregado de fazer isso. Eu ainda não conseguia compreender como ele tinha comido a dele tão rápido. Ao meu lado Ariela estava parecendo uma pedra, com uma expressão assustada que com certeza era a cópia da minha.

No entanto, contrariando todos os pedidos de silêncio, Mikaelle e Juntin falavam o tempo todo, ora nos zoando, ora comentando o filme.

—- Está na cara que a amiga dela é a assassina. -- disse Mikaelle num sussurro alto.

Justin riu baixinho.

—- Você está brincando? É óbvio que é o irmão dela. Você não achou suspeito quando ele...

—- Justin -- ela o interrompeu. --, séria óbvio demais se fosse ele. Já a garota é muito boazinha, prestativa, inocente demais e tem uma explicação para tudo, não me importa se ela tem um álibi. Seria mais sutil se pusessem um letreiro de néon do lado dela com uma seta piscando.

—- Pelo que você acabou de descrever, posso presumir que você é uma assassina em segredo? -- Justin zombou.

—- Eu não sou tão boazinha e inocente assim! -- ela exclamou o mais baixo que podia, mas ainda podíamos ouvir uns "xiu!" das pessoas pedindo silêncio. Não tardaria e seríamos expulsos dali.

—- Ah, você é sim. -- ele disse a contrariando. -- Só de olhar da para ver. É quase impossível acreditar que você e sua irmã compartilham o mesmo DNA.

—- Ei! -- Ariela sibilou, finalmente despregando os olhos da tela. -- Fica na sua, Justin!

—- A medrosa resolveu abrir a boca, é? -- ele provocou com um sorrisinho maldoso.

Ariela respirou fundo, procurando se acalmar. Infelizmente um grito preencheu a sala atraindo a atenção de todos e voltamos nossos olhares para a tela. Aí eu e ariela agarramos o braço uma da outra e começamos a gritar feito loucas, acompanhadas por um coral disperso pela sala. Ao menos não éramos as únicas covardes dali.

—- Já chega! -- falei empurrando minha pipoca para Justin, me levantando e procurando um caminho para sair dali.

Ariela ainda estava agarrada ao meu braço, o que era assustador e reconfortante depois de ver aquele sangue todo. Enquanto procurávamos sair, recebíamos xingamentos e quase íamos ao chão algumas vezes. Verdade seja dita. Verdade seja dita, cheguei a cair no colo de um barrigudo e ela quase caiu em cima de mim.

Quando nos encontramos em segurança fora da sala, respiramos fundo e sorrimos uma para a outra. Aí percebemos a estranheza daquela situação -- tipo, ex-inimigas amigáveis. -- e nos afastamos.

—- Lembre-me de nunca mais deixar o Justin escolher o filme. -- falei me recostando a parede.

—- Nem a minha irmã. -- ela disse, então franziu a testa. -- Agora eles estão lá dentro. Animados com a carnificina e sozinhos. Não gosto disso.

—- Eu não acho que você precise se preocupar -- dei de ombros. -- Eles estão assistindo a um filme de terror e falando sobre sangue e assassinato, não poderia ter um clima pior que esse para romance.

Ariela riu.

—- É, pode ser -- ela olhou para o balde de pipoca que ainda segurava e para mim novamente. -- Já que estamos de trégua hoje, que tal procurarmos um filme de romance bem mulherzinha com caras quentes ao ponto de aquecer o Alasca para assistirmos? Preciso tirar aquelas imagens da minha cabeça.

Não pensei duas vezes.

—- Eu topo.