Loucamente Apaixonada escrita por Angie


Capítulo 39
Bônus - Achyle - Girassóis - Parte 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/624120/chapter/39

–- Achyle? -- Gavin bateu na porta. Você vai sair ou eu vou ter que entrar aí?

Deus, faça um raio fulminá-lo nesse momento, please.

Entrei no vestido mais que depressa, arrumando a frente sobre o busto e dando graças por estar de sutiã sem alças. Subi o zíper até onde deu, mas aparentemente o cosmos estava conspirando contra mim, desde o momento em que Mikaelle chegou chorando no meu apartamento e tive vontade de matar seu ex, ao instante em que concordei em vir nesse maldito jantar e só piora. Quero dizer, o jantar em si não estava tão ruim, mais aquele loiro metido tem o poder de estragar tudo. Ultimamente tenho sido até mais boazinha com os outros já que a minha raiva se concentra principalmente naquele traste.

Peguei a escova dentro da bolsa que ela havia deixado sobre a pia, penteei os cabelos e os amarrei em um rabo de cavalo descuidado. Olhei minha imagem no espelho e franzi a testa. Maquiagem ligeiramente gótica: OK. Saltos de tira pretos: OK. Cara de Bad Girl: OK. Vestido de patricinha: Cara, onde eu fui me meter?

–- Você está perdendo parte de sua personalidade, Ach. -- falei a imagem refletida no espelho, arqueando as sobrancelhas.

Caminhei indignada até a porta, fula da vida por estar consciente de que estou fazendo parte de um grande clichê. A abri e não demorou para Gavin me medir com o olhar, dos pés a cabeça.

–- Vai ficar aí babando ou vai me ajudar? -- perguntei ácida, o peguei pelo pulso e puxei-o para dentro do banheiro, fechando a porta.

Foi a vez dele de erguer a sobrancelha. Talvez estivesse se perguntando se perdi a cabeça de vez.

–- O que foi, princepessa? Gostou tanto do beijo que já quer ficar trancada em um banheiro comigo?

Por favor, chão, se abra agora e o engula. Bufei e virei de costas.

–- Seja útil e suba esse zíper. -- como eu disse, clichê. Odeio clichês.

Ele riu.

–- Você realmente não quer minhas mãos longe do seu corpo, não é?

–- Acho que você é o único projeto de Ser humano que eu conheço que literalmente sonha acordado.

–- Vou decidir não tomar isso como uma ofensa.

–- E está comprovado que o único neurônio em seu cérebro está com defeito. -- rebati. Não sei porque ele é tão insistente, ou melhor, acho que sei. Ele faz acusações sobre o meu orgulho, mas acho que acabei ferindo o dele. Bem, Gavin acha que o odeio porque me sinto atraída por ele e me recuso a pensar nessa possibilidade, mas há outras coisas também:

1. Ele é mulherengo;

2. É muito cheio de si;

3. Acha que consegue o que quer na hora em que quer;

4. Aquele idiota loiro parece comigo, falando em termos de personalidade, menos as listadas acima.

Gosto de mim, mas detesto cópias minhas.

–- Nem a roupa de patricinha consegue mudar seu humor, não é? -- riu curtamente.

–- Ah, claro que consegue -- ironizei. -- Se possível estou ainda mais irritada.

–- Não vi muita diferença -- disse ao se aproximar de mim. -- Eu sou especial ou existe mais alguém a quem você trata assim?

Olhei por sobre o ombro.

–- Você não é especial -- falei.

–- Quer dizer que existe alguém mais a quem você dedique tanto ódio? -- pôs uma mão em minha cintura e com a outra começou a puxar o zíper para cima.

–- Me recuso a responder essa pergunta.

Se eu disser que sim, Gavin vai acabar distorcendo o que quer que eu diga para sua própria diversão, possivelmente irritando-me com argumentos do tipo embora-você-negue-sei-que-sou-especial, e se tratando de alguém com o ego tão irritantemente gigante, aquilo não era algo saudável. Se eu disser que não, bem... Gavin não é a única pessoa que eu odeio, é apenas o alvo mais constantemente próximo em que posso descontar minhas frustrações. Mas eu ainda o detesto. Não pensem que nada do que eu disse ameniza as coisas.

Gavin descançou ambas as mãos em minha cintura e me virou, logo depois abriu um sorriso irônico e se afastou dando um passo para trás.

–- Quase parece uma dama -- seu sorriso era mais irritante do que eu me lembrava a um segundo atrás.

O que me levou, claro, ao meu ato seguinte. Bom, não só isso, teve o "beijo" que ele me deu também. Vocês não podem me culpar por no mesmo instante ter dado uma bofetada na cara dele.

Respirei fundo vendo-o tocar a bochecha onde aos poucos aparecia a marca da minha mão. Ele não tinha dito um "ai". Além de esfregar a bochecha, a sua única ação foi erguer as sobrancelhas para mim, como se pensasse algo como "sério? Isso é tudo?".

E então ele sorriu de novo.

–- Sem dúvida alguma essa foi uma noite bastante interessante -- afirmou ele. -- Mas agora temos que voltar a nossa mesa, já devem estar se perguntando sobre nós.

Ri debochadamente.

–- No dia em que eu deixar um homem me dar ordens, pode me internar no hóspicio.

–- Eu poderia fazer isso hoje mesmo considerando seu comportamento -- enfiou as mãos nos bolsos e caminhou em direção a porta. -- Mas perderia toda a diversão que está por vir.

–- Diversão? -- cruzei os braços de frente ao peito. -- Se depender de mim, você não terá diversão alguma.

–- É mesmo? -- olhou para mim. -- Pode acreditar, me divertirei muito no momento em que você decidir olhar o que está perdendo. Você ainda vai correr atrás de mim, Achyle. Guarde minhas palavras.

Peguei a bolsa de Gabriely, caminhei até Gavin e passei por ele, esbarrando em seu ombro, então abri a porta e disse:

–- Vai sonhando, modelo de araque. Eu nunca vou me prestar ao ridículo de correr atrás de homem nenhum. Não de novo -- acrescentei meio que para mim mesma. -- Afinal, "errar é humano, mas persistir no erro é burrice". Caso esteja se perguntando -- falei ao ver sua expressão levemente surpresa, com os lábios entreabertos. -- o nome do cara que me fez cometer esse erro uma vez é Thiago e, abrindo o jogo, ele é a única pessoa que tem mais do meu ódio do que você. Isso, claro, quando raramente lembro da existência dele. Tipo agora.

–- Quer dizer que a Coração de pedra já se apaixonou uma vez, hein? -- ele não parecia particularmente feliz dessa vez, só... debochado.

–- Ah, claro. -- minha voz saiu ainda mais gelada do que antes, mas esse fato já havia deixado de me afetar a um bom tempo. Thiago é passado. Como eu disse, na maior parte do tempo até me esqueço da existência deplorável daquele desgraçado. -- E nunca mais vou querer repetir a dose. É uma droga.

Virei minhas costas para ele e saí caminhando pelo corredor enquanto ajeitava minha franja atrás da orelha. Claro que eu tinha a consciência de que Gavin, poucos segundos depois estava logo atrás de mim, mas fiz pouco caso disso. No fim das contas, eu ainda odeio Gavin e o pensamento mais saudável que poderia ocupar minha mente nesse instante são os girasóis de seu futuro velório.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!