Gabriely tinha acompanhado Achyle para ajudá-la a se limpar porque aparentemente tinha trazido um vestido na bolsa "para eventuais acidentes em restaurantes". Agora, sem Gavin e as duas, a conversa na mesa tinha se tornado menos tensa e girava mais em torno de nossos interesses.

–- Meu pai queria que eu fizesse publicidade ou qualquer outra coisa que pudesse ajudá-lo em seus próprios negócios -- Mikaelle disse. --, mas mamãe me apoia quando digo que quero me formar em artes. Ariela já é mais do que o suficiente para pôr os negócios da família para frente.

–- Sua irmã é tão responsável assim? -- perguntei curiosa.

–- Ela faz faculdade de administração -- Mikaelle deu de ombros. -- E gosta disso.

–- Oh, meu Deus -- falei. -- Perceber que ela e eu temos algo em comum é bizarro.

Wendy riu.

–- O bizarro é você querer justo essa faculdade -- disse James. -- Se eu não te conhecesse como conheço e alguém me dissesse eu não acreditaria. Moda parece combinar mais com você.

Mostrei a língua para ele.

–- Eu gostava de brincar as vezes no escritório de papai quando era mais nova. -- ao menos assim conseguia me sentir mais próxima dele. -- Acabei me acostumando com a ideia de que um dia quem irá controlar esse império serei eu. Tenho que ser responsável.

–- Mas é claro que se esse não for o caminho que você quer seguir, não há problema em renunciar. -- papai falou como se quisesse deixar bem claro para mim que eu tinha mais opções. -- Nossos negócios continuarão em família mesmo que você queira seguir outro rumo.

–- Eu sei -- sorri. -- Mas eu meio que gosto da ideia de estar no comando. -- James revirou os olhos e balançou a cabeça como quem diz "inacreditável", mas estava sorrindo como se a ideia de que euzinha no comando de uma empresa fosse algo que ele esperava para ver. Papai riu baixinho. -- Pensem em mim, toda bonita e produzida no salto alto caminhando por aqueles corredores, meu cabelo brilhante e impecável e minha roupa passando uma imagem de empresária séria. Vai ser o máximo.

Eu estava quase dando pulinhos na cadeira quando meu celular começou a vibrar e então me lembrei da mensagem que Samuel tinha me enviado antes, mas que eu ainda não tinha visto por causa de toda a confusão com Achyle e Gavin.

Percebi vagamente que Gabriely tinha acabado de chegar a mesa e ocupava seu lugar.

–- Qual é a piada? -- perguntou enquanto eu conferia as mensagens.

A primeira que Sammy tinha me mandado perguntava:

Eu disse algo errado?

E a segunda dizia:

Heather? Aconteceu alguma coisa?

–- Heather gosta de sonhar demais. Essa é a piada. -- disse Wendy.

Ergui uma sobrancelha. Até aquela garotinha estava rindo de mim. Bem, tanto faz. Preocupei-me em responder a mensagem, Sammy aparentemente tinha ficado preocupado por eu ter passado tanto tempo sem responder.

Eu: Está tudo bem agora, desculpe pela demora pqra responder. O que aconteceu foi que Achyle e Gavin resolveram dar um showzinho. Ela deu um banho de champanhe nele, ele a beijou e então derramou vinho nela. Quando meu pai voltou a mesa o espetáculo já tinha acontecido.

Samuel: Eu não estou rindo. Sério, não mesmo.

Eu: Vou fingir que acredito nisso.

Samuel: Tá bom, eu ri, confesso. Mas o que seu pai fez?

Eu: Levou tudo numa boa. Ainda estou tentando acreditar que meu verdadeiro pai não foi abduzido por um ET que o substituiu por uma versão mais paciente e amável.

James e Mikaelle estavam contando a Gabriely como foi que a conversa foi chegar ao ponto de eu sonhar tão alto com uma vida "fácil", até que os interrompi:

–- Vocês não acham que Gavin e Ach estão demorando demais?

–- Hã... digamos que nesse momento eles devem estar conversando. -- Gaby disse, de repente muito interessada no restante da comida já fria em seu prato. -- Quando deixei Achyle se trocando, Gavin estava esperando por ela fora do banheiro feminino.

Wendy tocou no meu braço, levando minha atenção para ela.

–- Depois de tudo aquilo -- ela disse. -- eu não ficaria surpresa se esse jantar terminasse em uma ida ao hospital.

Olhei para papai que tinha a testa levemente franzida no momento e cruzei os dedos embaixo da mesa, fazendo mentalmente o pedido de que aqueles dois finalmente se resolvessem, porém, logo que meu celular alertou que uma outra mensagem havia chegado, minha atenção era toda de Samuel novamente.

O que? Vocês não podem me julgar por isso.