Apesar de não entender exatamente o poder que Samuel exercia ali, eu estava fazendo festinha em minha mente. Por quê? A cara que Ariela fez foi realmente impagável. Ela estava verdadeiramente boquiaberta e com raiva, o que era de certa forma engraçado. O que eu não conseguia entender muito bem era a expressão de Justin. Ele não parecia muito satisfeito com a intromissão do irmão. Isso me fez pensar…

Mesmo que Samuel estivesse passando um tempo significativo comigo, ele nunca falava sobre Justin. Sobre o casamento de seus pais e Wendy sim, mas nunca sobre o irmão. Eu já tinha percebido que eles não se davam bem, esteve sempre na cara, mas isso é um pouco ridículo. Aparentemente mesmo entre as famílias mais perfeitas, há uma porção de discórdia.

As vezes a vida é mesmo um porre…

– Você não deveria se meter em algo que não lhe diz respeito. – Justin dizia entredentes, encarando o irmão. – Nada disso é da sua conta, então sugiro que pare de se meter e deixe-me resolver isso sozinho.

Sammy riu sem humor.

– Passa a ser dar minha conta quando nossa irmã chega em meu quarto, assustada, com a possibilidade de que Heather se machuque ainda mais por causa de um casinho seu.

– Juro que se uma nova briga começar aqui, eu não vou tentar separar dessa vez. – Gavin disse de forma audível, mas eu mal notei. Estava presa demais ao que Samuel disse.

… ainda mais. Ele não estava se referindo ao físico e sim ao emocional. Me pergunto como ele deve me enxergar. Apenas uma garota quebrada que talvez mereça conserto, ou como alguém forte por ter tentado superar toda a mágoa e rejeição de cabeça erguida?

Inferno, são apenas mais e mais incógnitas. Ahhh! Vou enlouquecer antes dos vinte anos!

– Tudo de que eu preciso é de um telefonema, irmão, e a Ariela poderá ser expulsa. Talvez até mesmo você, estou cansado da sua irresponsabilidade.

– Você nunca foi um santo Samuel, não seja hipócrita! – explodiu Justin.

– Eu não sou. Mas ao menos eu aprendo com meus erros. Não você. Nunca você. – replicou Sammy friamente, então pegou o irmão pelo colarinho, olhando-o fixamente. – Agora seja obediente e saia daqui com essa garota. Minha paciência com você está por um fio e posso dizer o mesmo sobre a de nosso pai. Repense seus feitos, pois não gostará de ver como refletirão em um futuro próximo. Olavo Hunter é um homem sério e ele não gostaria de ter o nome da família manchado por uma pessoa como você dirigindo os negócios. Você está perdendo cada vez mais pontos com nosso pai, irmão. Não terá o direito de retirar seus atos e palavras futuramente.

Dito isso, o empurrou para trás, fazendo-o cambalear ligeiramente, e logo em seguida entrou em seu apartamento, passando por Wendy, sem dirigir o olhar para absolutamente ninguém.

Justin parecia perdido, mas sua raiva continuava se tornando cada vez mais latente sob nossos olhares. Troquei um olhar com Wendy, que continuava parada em seu lugar e ela deu de ombros, talvez porque estava tão confusa quanto eu, talvez por ser algo que apenas Samuel deveria compartilhar caso quisesse.

– O que foi tudo isso? – questionou Ariela, quebrando o silêncio. – O que seu irmão quis dizer?

– Nada que seja da sua conta. – não havia dureza na voz de Justin quando ele disse isso, era apenas um fato que ele devia considerar óbvio. – Agora vamos sair daqui e sem escândalos. – ele segurou sua cintura e ela teve ao menos a noção de ficar calada. – Samuel conseguiu estragar meu humor, talvez você consiga fazer algo para melhorar isso.

Ela riu, fazendo o papel de loira burra que esquece de tudo de modo instantâneo e revirei os olhos ao vê-los sair. Parece que Ariela ainda vai poder servir de garota objeto para Justin por mais um tempinho.

– Bem, isso foi estranho. – falei.

– É um modo de dizer isso. – Gavin concordou e logo um novo olhar surgiu em seu rosto. – Mas não deve se preocupar. Vamos seguir apenas o que foi planejado para o dia e esquecer toda essa bizarrice, para o bem de nossas sanidades.

Estou longe de ser uma Ariela da vida, mas decidi tentar esquecer, em vista de algo mais interessante.

– O que foi planejado? – ecoei suas palavras.

– Vou esperar vocês na recepção. – ele disse a Wendy sem se incomodar em me responder.

Eu ODEIO ser ignorada, mas antes que pudesse dizer-lhe umas poucas e boas, Wendy segurou minha mão.

– Tenha paciência – abriu um pequeno sorriso. – e venha comigo. Meu irmão planejou um aniversário legal para você, mas acho que vai ser um pouco estranho com todo esse clima pesado, então porque não tenta acalmar ele um pouquinho?

Tudo que fiz foi assentir, pois já que nada ali parecia ter lógica, as dúvidas me consumiam de tal modo que conversar com Sammy era a única coisa que ocupava meus pensamentos.

Minha prioridade.