A Verdadeira História da Criação escrita por Lady May


Capítulo 3
As crônicas de Caim




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Capítulo 3: As crônicas de Caim.



- Foi esplêndido, Lilith, foste melhor do que imaginava. – Elogiou Samael ao saber o que se passara com Adão e Eva.

- Duvidaste da minha capacidade, Samael? – indagou a primeira rainha do Outro Lado.

- Apenas por um lapso de tempo. – confessou o Único Abaixo.

- Adão e Eva foram castigados e expulsos do Paraíso, mas não pretendes parar agora, pretendes?

- Não, mas esperaremos até que surja uma nova oportunidade. – respondeu malévolo.

- Esperemos que não demore muito. – disse Lilith sorrindo de maneira sedutora.



* * *



Adão e Eva, após saírem do Éden, estabilizaram-se no deserto nas terras desconhecidas de Nod. Lá, o casal teve dois filhos, Caim, o primeiro nascido e Abel, o segundo nascido.

Desde crianças, os irmãos ofereciam sacrifícios ao Único Acima. Já que seus pais cometeram o pecado de desobedecê-Lo, Caim e Abel tinham a esperança de retornar ao Éden e obter o indulto do Pai para eles e seus descendentes.

Depois que se tornaram homens, Caim passou a cultivar a terra e Abel, a cuidar dos rebanhos. Um dia, Adão aproximou-se dos filhos e lhes disse:

- Caim, Abel, devei fazer um sacrifício. Um presente da primeira parte de tudo o que tendes.

O primeiro nascido juntou brotos tenros, as frutas mais luminosas e a mais doce grama. Abel sacrificou o mais jovem, mais forte e mais doce de seus animais. No altar, eles colocaram seus sacrifícios e acenderam fogo para que a fumaça levasse suas oferendas até Deus.

O sacrifício do segundo nascido cheirou docemente ao Único Acima e Abel foi santificado. Já Caim fora golpeado com palavras severas, porque seu sacrifício era desmerecido.

Semanas se passaram e tudo o que Caim fazia era rezar e chorar lágrimas de dor por ter sido rejeitado.

Quando Adão avisou que o tempo de sacrifícios havia chegado novamente, Abel ofereceu seu mais amado animal para o fogo. Caim não levou nada, pois sabia que o Criador não os queria.

- Irmão, não trouxeste um sacrifício? Um presente da primeira parte de tua alegria para queimar no altar? – perguntou Abel intrigado.

O primeiro nascido chorou e com as ferramentas afiadas que usava para cultivar a terra, Caim sacrificou a primeira parte de sua alegria, seu irmão. E o sangue de Abel cobriu o altar e cheirou docemente quando queimou.

- Amaldiçoado és tu, Caim, que matou teu irmão – gritou Adão quando viu o assassinato – Expulso-te como eu fui expulso!

Caim foi condenado a vagar pela escuridão sozinho, com medo, frio e fome.



* * *



Durante meses, alguns dizem anos, Caim vagou, sentiu frio e fome.

Sozinho nas trevas, o filho de Adão chorou, fazendo a oportunidade perfeita surgir.

- Se tens fome, posso alimentar-te, se tens frio, posso vestir-te, se estás só, posso confortar-te.

Caim levantou os olhos marejados de lágrimas para ver a dona daquela voz de mel que proferia palavras de auxílio e conforto. Assustou-se ao ver uma mulher sombria e adorável, com olhos que perfuravam a escuridão.

- Quem confortaria um amaldiçoado como eu? – questionou entre soluços.

- Não chores, criança. – pediu Lilith docemente enquanto tocava o rosto úmido do homem – Conheço teu sofrimento: uma vez tive frio e não havia calor para mim, tive fome e não havia comida, estava só e não havia conforto.

- Quem és tu? – sussurrou o primeiro nascido.

- Sou a primeira esposa de teu pai. Aquela que discordou do Criador e ganhou liberdade na escuridão. Eu sou Lilith.

- Por que queres me ajudar?

- Porque estás sozinho como eu estive um dia. – respondeu simplesmente.

Lilith levou Caim para o Castelo de Samael e lá ele ganhou conforto, alimento e calor, permanecendo lá por algum tempo.

- Como construíste este lugar fora da escuridão? – indagou Caim durante os breves momentos que tinha com a rainha.

Lilith sorriu – Ao contrário de ti, estou acordada. Isto me dá o poder de controlar até a escuridão.

- Despertem-me então, Lilith. Necessito deste poder. – implorou Caim.

A preocupação dobrou as sobrancelhas da mulher – Não sei. És verdadeiramente amaldiçoado por teu pai. Poderás morrer ou mudar para sempre.

- Não tens escolha! Eu morreria sem teus presentes. Não viverei para sempre assim. – rebateu Caim.

Lilith sabia que era arriscado, mas se desse certo, a desgraça que sempre desejou para a humanidade seria liberada e ela e Samael poderiam finalmente viver apenas como sombras por trás de todos os males. Nunca mais precisariam interferir na vida dos mortais. Era uma oportunidade boa demais para ser desprezada.

A rainha lembrou de como fora o seu despertar. Samael sangrou e lhe deu uma tigela com seu sangue. A rainha sofreu, viu anjos e arcanjos até mesmo o próprio Deus e renegou a todos. Despertou como a primeira rainha do Outro Lado e companheira fiel de Samael.

Assim ela o fez, sangrou para Caim e entregou-lhe a tigela. Ele bebeu e então caiu no abismo da escuridão mais profunda.



* * *



Surgiu, no meio da escuridão, uma luz de fogo revelando o general dos exércitos celestiais, Miguel:

- Filho de Adão, filho de Eva, teu crime é grande e também é grande a clemência do Pai. Arrepender-te-á do mal que fez e deixarás que Sua clemência o lave para que fique limpo?

- Não por vontade do Único Acima que vivo, mas por minha própria e com orgulho. – respondeu Caim renegando o arcanjo.

- Então para que caminhes nesta terra, tu e tuas crianças temerão minha chama viva, que morderá e saboreará tua carne. – amaldiçoou Miguel.

Pela manha, Rafael veio iluminando o horizonte com o Sol:

- Filho de Adão, teu irmão perdoará teu pecado se te arrependeres e aceitares a clemência do Criador.

- Aceitarei não pelo perdão de Abel, mas pelo meu próprio perdão. – Assim renegou Caim o segundo arcanjo.

- Então para que caminhes nesta terra, tu e tuas crianças temerão o amanhecer. Os raios do Sol queimar-te-ão como fogo onde quer que te escondas. – praguejou Rafael – Esconde agora para o nascer do sol não levar sua ira até ti.

Naquele dia, Caim escondeu-se profundamente na terra e dormiu até que o disco solar se escondesse atrás da montanha da noite.

Quando despertou, ouviu o som de asas avançando. Olhando atentamente, Caim viu as asas negras do anjo da morte, Uriel, aproximando-se:

- Filho de Adão, filho de Eva, o Todo-Poderoso perdoou o teu pecado. Aceitarás Sua clemência e me deixará levar-te já não amaldiçoado?

- Não pela clemência de Deus que eu vivo, eu sou o que sou, eu fiz o que fiz e nada me mudará. – gritou Caim.

Por Uriel, Deus Todo-Poderoso proferiu a última maldição – Então para que caminhes nesta terra, tu e tuas crianças agarrar-se-ão a Escuridão. Tu te alimentarás de sangue e viverás de tristeza. Sempre serás como a morte, mas nunca morrerás. Tu entrarás para sempre na escuridão, tudo o que tocares tornar-se-á nada até o fim dos dias.

Caim deu um grito de angústia a esta maldição terrível. Chorou consumindo-se em sua própria tristeza. E com isso, a escuridão foi erguida como um véu e a única luz eram os olhos luminosos de Lilith. Olhando ao seu redor, o filho de Adão, sabia que tinha despertado.

O homem permaneceria no castelo até que aprendesse a conviver com suas maldições e aperfeiçoasse seus poderes adquiridos, os poderes da Escuridão. Feito isso, Caim fugiu para as terras de Nod, escondendo-se onde nem os demônios pudessem encontrá-lo.



* * *



- Então está tudo acabado? – perguntou Samael sentado em seu trono.

- Caim acaba de fugir. – respondeu Lilith sentando-se ao lado do parceiro.

- Vais deixá-lo partir?

- Por que impedi-lo? Caim tornou-se um monstro com sede de sangue e seus descendentes terão o mesmo fim, parasitando a raça humana até o fim dos tempos.

- E nós ficaremos apenas a observar. – concluiu Samael.

- Quase. Seremos a sombra que instigará as diferenças, o estopim de todo o mal que assolará o mundo. – Lilith riu loucamente

- Não deixaremos ninguém entender as diferenças, faremos com que sejam caçadas, disseminaremos o ódio e a raiva, começaremos guerras e até o fim do mundo, as criaturas de Deus se destruirão. – Sorriu Samael compartilhando da loucura.

- Tudo graças a Caim, o primeiro amaldiçoado, o primeiro que é diferente. – sorriu a rainha deleitando-se com os futuros acontecimentos.



______ * FIM * ______



Considerações finais:

Agradeço a todos que leram esse texto e peço humildemente que comentem.

É a primeira vez que publico alguma coisa com mais de um capítulo e o meu maior medo é não ter mantido o mesmo nível em todas as partes. A opinião de vocês é muito importante.



Obrigada mais uma vez e desculpem a demora, eu estava prestando vestibular e não tinha tempo nem para pensar.



Sem mais, minhas saudações a todos.



PS: Não conjugo tantos verbos na segunda pessoa desde a quinta série. (Viva a minha professora de português!!)

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