Mais uma manhã fria, o inverno chegava mais uma vez e eu não tinha boas lembranças dele, esse teria sido o terceiro inverno sem Naruto.

Levantei da cama cedo e coloquei minha roupa de corrida. Essa semana tinha sido tão estressante que eu tinha deixado minha corrida matinal para escanteio. Comi uma maçã rapidamente e ainda prendendo meu cabelo saí de casa e comecei a correr em direção a floresta das montanhas de Olympic pairando próximo a Cordilheira das Cascatas. Ao longe pude observar o Monte Rainier marcando sua poderosa presença como se estivesse acima de qualquer um de nós, livre, estável, inatingível. Comecei a correr em direção a ele como se buscasse exatamente essas coisas, não a superioridade, mas a felicidade e estabilidade que eu uma vez tivera em minha vida.

De início o carro da polícia me acompanhou, mas quando a mata foi se tornando mais densa, os dois patetas que me vigiavam tiveram que descer do automóvel e me acompanhar a pé e é lógico que sua obesidade não permitiu que eles me seguissem por muito mais tempo. Sei que aquilo era perigoso, se eles ligassem para o chefe, em um minuto todos os policiais do departamento de polícia de Seattle estariam atrás de mim, mas eu precisava me arriscar. Precisava de respostas.

Eu corri e corri até que alcancei a pedra marcada em uma das protuberâncias da montanha na na metade do caminho do pequeno monte que eu subia em minha corrida. Ofegante, parei em frente àquela pedra encarando toda a sua superfície úmida e esverdeada pelos musgos que se reproduziam nela, ainda sim bem no meio dela ainda tinham duas marcas distintas, duas iniciais: N e H.

Eu lembrava do dia em que trouxe Naruto, meu namorado na época, aqui e apresentei como “meu lugar de pensar”. Ele riu e se sentou ao meu lado na base da pedra, ficamos alguns momentos apenas sentados olhando a floresta densa. Uma mistura de árvores frondosas, folhas verdes, troncos marrons e folhas secas no chão, pedras cinzentas e musgo por toda a parte, mesto assim parecia ser o paraíso. Curtíamos o silêncio e a presença um do outro como se não houvesse amanhã e de repente ele se levantou tirando o canivete que sempre carregava no bolso e entalhamos nossas iniciais na rocha.

— Eu me lembro desse dia. — A voz rouca me fez saltar de susto. Olhei para traz e Naruto estava em pé com suas famosas calças jeans surradas e vestindo um grosso casaco marrom.

Abaixei meu olhar e encarei as letras na pedra.

— Eu também. — Comentei baixo.

— O que você queria me dizer? — Ele foi direto ao ponto. Voltei a olhar pra ele e sua beleza atordoante.

— Como deve ter notado, estou sendo monitorada e investigada e quero saber o por que. — Respondi sucinta.

Ele fez uma careta contrariada e pareceu pensar em algo antes de voltar sua atenção para mim.

— Não é o Chefe de polícia que deveria te dizer isso? — Ele rosnou quando se referiu ao homem, mas no todo parecia desinteressado e inocente. “Cara-de-pau filho da mãe...”

— Não se faça de desentendido, Naruto. Quero respostas! Pra começar, por que você foi embora daquele jeito a dois anos atrás? — Fui incisiva. Cruzei os braços e o olhei da melhor maneira interrogativa que eu poderia.

Naruto abaixou a cabeça e suspirou.

— Eu gostaria de poder contar, Hinata, mas não posso fazer isso ainda. Faltam muito pouco para que finalmente eu possa responder suas perguntas, mas isso não é agora. — Ele falou baixo.

Eu fiquei irritada com ele.

— E quando será, Naruto? Eu espero por respostas a quase três anos! Minha vida está um inferno, tive que mandar meu filho para um lugar que não faço ideia de onde seja e nem mesmo posso ligar pra ele para não correr o perigo da minha chamada ser rastreada, posso perder meu emprego e ainda ser presa e ainda nem sei por que! — Esbravejei finalmente colocando tudo para fora, descontando nele tudo o que eu sentia.

Eu coloquei minhas mãos em meu rosto em desespero, meu mundo caía e eu não podia fazer nada já que nem mesmo sabia porque tudo isso estava acontecendo comigo.

— Me desculpe, Hinata. Eu realmente sinto muito... — Seu sussurro era pedinte e ele se aproximou de mim lentamente. Seus passos ecoavam pelas pisadas nas folhas secas até que chegou a um braço de mim. Ainda que hesitante, ele tentou me tocar, mas toda a minha raiva fez com que eu me afastasse dele. Ainda não sabia como sentir, mas sei que queria ser consolada foi por isso que quando notei que ele não iria desistir e tentou novamente erguer a mão e me tocar, não pude resistir ao calor de seu corpo e aceitei seu abraço.

Eu chorei, bati e o soquei incontáveis vezes botando para fora todo o desespero que sentia a dias sem poder de fato colocar pra fora. Fiquei ali no meio de seus braços involuntariamente me sentindo protegida, sentindo que tudo iria dar certo, me deixei abraçá-lo até que finalmente me acalmei.

— Tudo já está se resolvendo, Hinata. Em breve tudo fará sentido... — Ele me prometeu entre sussurros.

— Então, só me diga uma coisa... — Pedi sussurrando também. Afastei meu rosto do seu peito e olhei para cima tentando enxergar os seus olhos azuis de anil. Ele me olhou de volta e eu pude ver a dor que ele escondia por baixo da pose concentrada e controlada, sabia que ele estava ainda pior do que eu e eu preferia pensar que era porque ele sabia a verdade e não poderia me contar.

Ele assentiu incerto.

— Por que você foi embora, Naruto? Não me refiro a todo esse segredo que você esconde, ou o por que de você achar que precisava ir embora. Me refiro ao que fez com que você se decidisse a partir. Você sempre disse que era para me proteger, mas porque não me levou com você? Por que me deixou para trás? Eu teria ido até o inferno se fosse para ficar do seu lado sem reclamar e ainda estaria feliz... — Eu ainda olhava no fundo dos seus olhos e implorava por aquela resposta.

No final das contas aquilo era tudo o que que eu realmente queria saber, desde o início. Aquela era a verdadeira pergunta que eu queria resposta e mesmo assim menti para mim mesma, mas agora eu não podia mais mentir. A sinceridade do meu sentimento era tamanho que o vi refletido na lágrima solitária que escorreu pela face do loiro.

— Por que eu a amo demais, Hinata. E jamais me perdoaria se você saísse machucada por minha causa. — Ele disse aquilo de coração, da sua alma e antes que eu pudesse processar aquela resposta, ele abaixou a cabeça lentamente e seus lábios se juntaram aos meus.

Foi um beijo doloroso, sofrido, saudoso. Tinha o gosto da distância, do sofreimento e das lágrimas. As minhas e as suas. Suas mãos me prensavam ao seu corpo de maneira desesperada como se aquela pudesse ser a última vez, sua última chance de estar ali e a mim só restava retribuir tudo aquilo.

Naquele instante eu não queria pensar, não queria pesar. Só queria sentir. Sentir seu corpo com o meu, suas mãos, seu rosto, seus lábios... Não importava o quanto tentei me iludir, eu nunca tinha odiado a ele, eu apenas continuava a o amar e era isso que eu odiava, mas ali junto a ele naquele beijo no meio da floresta não me importei em o amar na mesma intensidade em que o amei antes dele partir.

Aquilo não poderia durar por mais muito tempo e logo tivemos que separar nossos lábios para respirar. Ele me largou e encostou sua testa na minha, ainda estávamos de olhos fechados apenas aproveitando aqueles últimos segundos de contato intenso.

— Eu te amo, Hinata. Sempre te amei e tudo o que eu fiz foi porque pensei que era o melhor para você. Eu irei acabar com tudo isso e nunca mais permitirei que você saia do meu lado. Dessa vez não vou fugir mais nem esconder alguma coisa de você, ao invés disso, eu vou te ensinar a se proteger. É uma promessa. Mas por enquanto nós precisamos ir embora antes que a polícia venha atrás de você e a encontre comigo. — Ele prometeu ainda com a testa na minha entre sussurros sofridos e obstinados.

Eu assenti a cabeça sem discordar, afinal, aquilo era tudo o que eu queria. Em seguida, Naruto me soltou e me olhando saudoso desapareceu na floresta novamente. Eu voltei a correr, dessa vez voltando para a minha casa.

Surpreendentemente quando eu saí da floresta, os dois policiais obesos estavam escorados no carro com um telefone na mão e parecia indecisos sobre alguma coisa, mas assim que me viram correndo na direção deles ficaram aliviados.

Eu não parei, não falei com eles e nem cumprimentei, passei como se não os tivesse visto ali e eles agiram como se também não estivessem me vigiando. Sem perder o folego continuei correndo até parar na porta da minha casa e a abri entrando em seguida.

Ciente de que ainda era vigiada, retirei o moletom ficando apedas com a calça e a regata de baixo. Corri para o banheiro tomando uma ducha rápida e jogando as roupas na máquina de lavar a ligando em seguida. Em seguida escovei os dentes tentando eliminar de mim qualquer DNA referente a Naruto. Podia estar sendo paranóica, mas era melhor prevenir do que remediar. Aproveitei para lavar todas as roupas sujas e guardar as roupas secas em seus devidos lugares. Por fim fui ao quarto do meu filho e fiquei lá pensando nele por alguns momentos.

Em algum momento disso, meu telefone tocou e meu estomago protestou. Desci as escadas e atendi o telefone da sala.

— Hina, é a Tenten, por que não atendeu o celular? — Minha amiga perguntou ansiosa. Franzi a testa, mas respondi.

— Eu costumo deixar no silencioso por causa do trabalho, como não estou com ele não o vi tocar. — Respondi objetiva. Com o telefone na orelha fui até a cozinha e comecei a fazer um sanduíche para o almoço.

— Entendo... — Ela respondeu pensativa. — Bom, o Chefe quer te ver, só não sei porque. Acho que ele descobriu alguma coisa do Uzumaki.

Eu fiquei pensando e se eu não estivesse ciente de que provavelmente estariam vendo essa reação eu teria tremido, então apenas apertei o pão que eu fechava com um pouco mais de força do que o necessário.

— Ok. Estou indo aí, então. Beijos, amiga. — Respondi como se não me importasse.

— Beijos, até mais. — Ela respondeu e desligou. Também apertei o botão para encerrar a chamada e coloquei o telefone de volta na base. Peguei minha bolsa e ainda comendo, me dirigi ao meu carro para ir até a delegacia.

Felizmente eu terminei o meu almoço antes de chegar lá, porque assim que coloquei os meus pés naquele lugar, meu estomago ficou embrulhado.

— Hyuuga, o chefe quer você no interrogatório. — Um dos meus colegas avisou com a expressão inalterada e logo se voltou para a sua mesa e o monitor ficando com a cara no “trabalho” como pareciam que todos estavam. Alguns ergueram os olhares pra mim, outros nem se importaram com isso. Parecia que eu novamente teria plateia. Não vi Tenten, ou Lee ali, nem mesmo Kiba que por mais que fosse meu parceiro, tinha estado afastado de mim desde o incidente na festa da mansão mediterrânea. Respirei fundo e fui até a sala de interrogatório batendo duas vezes antes de entrar.

Assim que visualizei quem estava com Danzou fiquei lívida e me escorei na porta fechada para me firmar. Ali na minha frente, sentado na cadeira de interrogado estava Naruto, seu cabelo estava bagunçado e seu rosto estava machucado — Um sangramento acima da sobrancelha e os lábios machucados— as roupas amassadas, embora muito diferentes do que as que vi mais cedo, e fora isso sua postura estava séria, altiva e prepotente. Resisti ao impulso de correr até ele e apenas encarei interrogativa Danzou Shimura que tinha um sorriso cruel no rosto.

— Veja, Uzumaki. Nossa convidada chegou. — Danzou tinha uma diversão sádica na voz, Naruto então se virou para mim e vi algo se quebrando dentro de seus olhos, mas ele manteve a postura inalterada. Ele apenas se voltou para Danzou em silêncio.

— Seu namoradinho não quer abrir o bico, Hyuuga. Será que você poderia persuadi-lo? — Ele ainda tinha aquele olhar cruel.

Ignorei Danzou e, tremula, me aproximei de Naruto me sentando a sua frente.

— O que aconteceu com você? — Perguntei escondendo minha preocupação atrás de uma voz fria. Naruto também atuava, por que me olhou e abriu um sorriso irônico olhando pra Danzou em seguida.

Semicerrei os olhos e olhei pro meu chefe.

— Isso é contra as normas. O protocolo diz que só podemos usar a violência em caso de resistência física. — Falei seriamente.

— Que se dane o protocolo, Hyuuga. Essa é a única maneira desse desgraçado falar. Espero que você tenha algum avanço por que do contrário eu farei do meu jeito. — Ele falou cruzando os braços e se encostando na parede.

Voltei meu olhar para Naruto e ficamos nos encarando por alguns segundos.

— Eu não sei o que eles querem saber de você, mas poderia me dizer, por favor? — Eu pedi educadamente, ainda fingindo distanciamento. Parecia que eu seria a policial boazinha nessa brincadeira clichê de policial bom e policial má.

Naruto pareceu pensar um pouco, mas logo sorriu debochado sem dizer um nada.

— Você já pediu um advogado? — Perguntei sem me importar com as reações dele.

Ele afirmou com a cabeça como se aquilo fosse insignificante.

De repente Naruto volta a se empertigar na cadeira e eu tento olhar para traz para entender o por que, mas não tenho tempo. Sem previsão ou tempo de reação, um braço se prende ao meu pescoço apertando minha traqueia. Eu queria gritar de dor, mas não conseguia. O sentimento de desespero se apoderava sobre mim, já sentir o ar faltando e pequenos pontos coloridos flutuavam ofuscando minha visão. Eu tentava puxar o ar pela boca, tentava tirar aquele braço do meu pescoço e lutava para empurrar a pessoa que estava tentando me enforcar, mas tudo parecia inútil. Eu era uma boneca de pano nas mãos do meu possível assassino. Já estava vendo pequenos pontos pretos a minha frente quando misericordiosamente, me soltaram.

Eu tossia tentando puxar o ar de volta aos meus pulmões de maneira sofrida. Mal pude perceber, mas de alguma forma Danzou estava do outro lado da sala sendo segurado por alguns policiais e Naruto do outro lado sendo segurado por Lee e Tenten. Kiba se aproximou de mim e bateu levemente nas minhas costas aparentemente sem saber o que fazer. Eu também não sabia, tudo que eu queria era conseguir fazer o ar fluir novamente por meu corpo.

— Você está bem? — O moreno questionou preocupado.

Eu ainda estava ofegante, mas mesmo assim olhei assustada para Danzou.

— Você tentou me matar? — Perguntei histérica. Ele moveu os ombros e os policiais o soltaram ainda em dúvida. Ele tinha um pouco de sangue na boca e seu olho esquerdo começava a inchar.

Ele ignorou minha pergunta e voltou a olhar Naruto que estava furioso, mas já estava parado mesmo que ainda sendo contigo pelos meus dois amigos. Danzou limpou a boca grotescamente e olhou para o punho vendo o próprio sangue que escorria em sua mão.

— Finalmente uma reação. Algo me disse que você ainda sentia alguma coisa depois de tantas melosidades que tive que aturar quando investiguei sua relação com ela. É como dizem, até mesmo os crustáceos tem uma parte macia por dentro... — Ele sorria cruel, parecia se divertir com tudo aquilo.

Quase podia ouvir Naruto rosnar, mas ao contrário do que eu pensei que ele faria, ele ainda estava parado, como um predador estudando sua presa.

— Saiam daqui todos vocês, menos a Hyuuga. É uma ordem! — Vi todos olharem para mim e ficar indecisos. Eu assenti para meus amigos e pude ver a irritação no rosto do Naruto. Provavelmente ele não gostou da minha decisão, mas ele que se dane, eu estava envolvida nisso e eu iria até o fim agora.

Por um momento Danzou sorriu feliz, mas eu tinha uma coisa para aquele desgraçado. Quando todos na sala saíram indecisos, fui até Tenten.

— A chave das algemas de Naruto e uma arma de choque. — Pedi em sussurros.

Ela pareceu hesitar, mas mexeu em seus bolsos e me deu a arma escondendo sutilmente a pequena chave.

Eu continuei na sala e olhei irônica para Danzou.

— Por precaução, já que está tão apto a quebrar protocolos hoje. — Comentei irônica com a arma em punho. Ele sorriu falsamente voltando o seu olhar para o loiro.

Fui até Naruto e vi o sangue em suas mão, olhando para Danzou pelo canto dos olhos fingi ir verificar as mãos do homem que havia me libertado daquele crápula. Sutilmente passei a chave pelos nós dos dedos dele e ele me olhou intrigado, mas eu estava preocupada demais fingindo verificar a sua mão.

— Obrigada por me livrar daquele idiota. — Pedi tentando parecer indiferente.

— Por nada. — Ele falou e eu o soltei me afastando dele, mas permanecendo atrás dele e longe de Danzou.

— Então agora você vai falar, não? Sabia que esse era o quebra-gelo necessário... — Ele comentou destilando veneno.

Eu sorri debochada pra ele e acho que Naruto também, por que ele parecia tentar não rir.

— Ela ainda é seu ponto fraco, não é? Bem, então é melhor você falar se não quiser que eu faça da vida dela um inferno. — Danzou me ameaçou e eu tremi involuntariamente. Pelo visto fazer isso seria o passatempo mais divertido da vida dele.

“Cretino!”

Não vi a expressão de Naruto, mas podia ouvir a ironia em sua voz.

— Você quer mesmo que eu fale, Danzou Shimura? Eu acho que seria muito melhor para você se eu me mantivesse de boca fechada e não contasse tudo o que descobri nesses últimos meses que passei por aqui... — O sarcasmo e a ironia em sua voz também possuíam um leve tom de ameaça. Rapidamente me lembrei da mulher na cela me falando que Danzou tinha muitos podres escondido.

Finalmente isso fazia sentido. É por isso que Danzou queria tanto pegar Naruto, por isso que ele me perseguia incansavelmente, por isso que ele estava tão furioso quando descobriu sobre Boruto, por isso que estava tão feliz por ter o loiro ali, por isso que não hesitou em tentar me matar. Naruto sabia os podres de Danzou, e ele temia que o loiro soubesse mais do que ele sabia.

Vi o sorriso de Danzou se desmanchar sutilmente. Ele ainda manteve a face divertida, mas eu vi o medo e o receio espreitando seu olhar. Então era isso...

Eu estava curiosa e inquieta. Era isso que Naruto tanto escondia de mim? Era dele que ele tentava me proteger? Ainda não parecia ser tudo, uma vez que ainda tinha a história de seus pais.

— Falar besteira não vai te safar daqui, Uzumaki... — Ele ameaçou sutilmente. Creio que poucos teriam percebido a ameaça, mas eu vi. Vi a fúria por trás daqueles olhos negros. A mesma fúria que eu enfrentei no dia anterior.

— Não, mas quem sabe o que pode acontecer quando eu disser sobre as sujeiras que descobri quando estava fazendo uma... Pesquisa... Sobre os cartéis de drogas de Seattle e finalmente cheguei aos líderes da famosa “Olhos Vermelhos” que domina esse território a décadas... — Naruto tinha aquela voz calma e aveludada quando queria algo de alguém.

Eu não entendi muito bem o que o loiro queria implicar com aquelas palavras, mas arregalei os olhos e arquejei assim que a compreensão inundou minha mente. Então assim, isso fazia todo o sentido. Tudo o que eu sabia, tudo fez sentido de repente.

— Isso é impossível Uzumaki. A delegacia investiga a anos e nunca encontrou nada. — Danzou franziu a testa e olhou para o loiro a minha frente de maneira chocada parecendo genuinamente interessado, e oh homem... Ele é realmente muito bom em mentir, se eu não tivesse conhecido sua outra faceta e escutado o comentário daquela mulher, até mesmo eu duvidaria do sentido da frase de Naruto.

— Não quando realmente se quer saber de algo, Danzou Shimura. — Cada sílaba foi proferida por Naruto pausadamente como se ele saboreasse o sabor da ameaça.

“Esse é um jogo interessante. Muito interessante. Mas… Estou torcendo pra Naruto ganhar. O cretino do Danzou deve ficar com o pau no cu antes de se fuder bonito.”

Vi Danzou perder a máscara rapidamente antes de voltar a expressão de alegria cruel, mas agora eu sabia que era falsa. Eu sabia que ele estava irado.

O homem já ia sair da sala quando Naruto o impediu.

— Ué, já vai embora, Shimura? — Naruto perguntou sarcástico.

— Você não está falando coisa com coisa, iremos aguardar seu advogado. — Ele avisou seriamente com o tom de voz profissional.

Escutei a risada de Naruto e fiquei me perguntando o que era tudo aquilo. Primeiro pensei que meu ex-namorado era suicida, mas então percebi que aquilo era um confronto. Parecia que havia muito mais, e Danzou estava tentando fugir.

— Não fuja Danzou. Enfrente como homem que eu sei a verdade de como você tem controlado essa delegacia e tentando apagar todas as pistas que te conectem com a rede de cartéis de drogas da cidade. Como eu levei um mês para fazer um serviço que a policia em 10 anos não conseguiu? Simples. Eu fui atrás de cada ponto de comando e distribuição de drogas da cidade até chegar em você, o líder da “olhos vermelhos” nos últimos 15 anos. Foi você quem mandou assassinar meu pais quando eu tinha 14 anos, foi você quem tentou se livrar deles por que eles tinham chegado perto de você, por isso que você queria me matar, queria encontrar meu filho e torturou psicologicamente minha ex-namorada. — Naruto sorria vitorioso e furioso. Mas eu percebi esse secundariamente porque o que mais importava nos meus pensamentos era que finalmente eu estava tendo minhas respostas. Menos uma.

“Se ele queria pegar Danzou, por que foi embora da cidade?”

Para me proteger? Mas se Danzou sabia quem ele era, por que não desconfiou assim que tivemos uma visão do rosto de Naruto? Danzou obviamente não sabia quem ele era por que ele ficou verdadeiramente surpreso quando eu contei sobre Naruto, provavelmente também nunca viu Minato já que Naruto era praticamente idêntico ao pai e se eu me lembro, ele ficou irado muito antes de saber sobre os pais dele.

“Ainda tem alguma faltando.”

Saindo de meus pensamentos percebi que o silêncio de Danzou era mais inquietante que suas ameaças uma vez que eu não sabia o que esperar dele. Vi sua expressão livida até que a fúria se tornou incontrolável em seus olhos, talvez fosse aí que ele juntou as peças e perdeu o controle de si mesmo. Sua expressão se tornou ameaçadora e seu olhar estava totalmente focado em Naruto.

Todas as dúvidas que eu poderia ter de que Naruto dizia toda a verdade caíram por terra.

Mas ainda sim algumas coisas não faziam sentido, principalmente o fato de Naruto ter ido embora. Não seria mais fácil ficar e se integrar na rede aos poucos e acima de qualquer suspeita? E também tem o fato de que ele mesmo confessou que ele descobriu tudo em mês. Por que ele não enfrentou Danzou antes então? Por que só agora?

Danzou ainda estava parado na frente da porta de costas para nós.

— Você está falando bobagens, Uzumaki. — Ele parecia conter a fúria.

Naruto riu mais uma vez.

— Sabe o que ainda não entendi? Por que você se arriscaria tanto fazendo o papel de Chefe de policia quando podia simplesmente foder tudo aqui e se dar bem... — Com esse último comentário de Naruto, Danzou reagiu apontando a arma pro loiro. Eu me assustei e ofeguei. Como se levado pela minha reação, Danzou mudou de posição e mirou a arma em mim.

Eu fiquei parada em choque, minha garganta ainda doía e isso me impedia de respirar tão profundamente como eu gostaria de fazer naquele momento.

— Acho que você está falando bobagens, Uzumaki. — Danzou falou entre dentes e eu vi a loucura em seus olhos e temi.

Eu tentei dar um passo e Danzou tensionou seus dedos no gatilho. Então tudo aconteceu ao mesmo tempo, rápido demais: Naruto se levantou já sem as algemas pulando na direção de Danzou enquanto eu pulei para o chão e Danzou disparou a arma. Em seguida, escutei o estampido do disparo e senti algo queimar no meu braço então caí de bruços no chão.

“Que merda.”

Balancei a cabeça ainda atordoada com o momento, mas a levantei para ver que felizmente Naruto segurava Danzou imobilizado e estava bem. Logo vi vários policiais entrando na sala de interrogatório rendendo tanto a Danzou como Naruto. Finalmente o loiro me olhou sorridente apenas para me ver suspirar aliviada por ele não estar ferido.

Olhei meu braço e vi o sangue escorrendo pelo ferimento, olhei para traz e vi a bala fincada na parece branca de concreto. Felizmente a bala pegou apenas de raspão. Então olhei para Danzou, e ele tinha um olhar mortal dirigido ao loiro. Naruto fez um sinal para os policiais que o seguravam e logo Tenten e Lee o soltaram, os outros dois não entenderam, mas o soltaram também.

— Pode me dar, por favor? — Ele pediu a Tenten estendendo a mão e eu não entendi. Ela pegou algo nos bolsos, uma Glock, uma carteira e um par de algemas.

Vi os policiais colocando a mão em suas próprias armas com um olhar repreensivo a Tenten, porém Naruto apenas ergueu a blusa de frio e colocou a arma no coldre. Colocando a blusa de volta no lugar estendeu a carteira mostrando o distintivo do FBI.

Minha boca se escancarou em surpresa e vi Danzou da mesma forma. Logo o loiro botou o distintivo na base da calça e sacou as algemas prendendo o Chefe de polícia que ainda parecia atônito.

— Danzou Shimura, sou Uzumaki Naruto agente do FBI e trabalho nesse caso em conjunto com a CIA e com a polícia do estado de Washington, você está preso pelos crimes de tráfico internacional de Drogas, contrabando internacional de armas, lavagem de dinheiro, estelionato, fraude e formação de quadrilha. Você tem o direito de permanecer calado e tudo que disser poderá ser usado contra você no tribunal, tem direito a um advogado e... — Naruto prosseguiu dizendo seus direitos enquanto nós olhávamos para ele ainda chocados.

Naruto então segurou Danzou e Sasuke entrou na sala acompanhado de Sakura e outras pessoas que eu não conhecia. Sasuke usava um colete a prova de balas com a insignia do FBI e Sakura um da CIA. O moreno estendeu um coleta a Naruto que sorriu para ele.

— Sempre apressado... Poderia ter esperado pelo suporte. — Sasuke reclamou, mas tinha um sorriso no rosto.

— Você é lento demais... — Naruto brincou pegando o colete da mão do amigo antes de tirar a blusa e o coldre com a arma, em seguida deu as coisas ao amigo segurar para poder vestir a camisa e o colete por cima que agora o identificava como agente federal.

Foi só após isso que o choque se derreteu dos expectadores e pareceu que todos acordaram para vida, mas ainda olhavam impressionados os agentes federais em nosso decrépito departamento.

— Ainda temos uma última parada. Acho que a delegacia vai gostar de invadir conosco a central da “Olhos Vermelhos”. — Sasuke comunicou e logo vi que meus colegas estavam começando a se animar, alguns pegando seus próprios coletes e outros rindo. Vi dois homens fortes e robustos arrastando finalmente Danzou da sala que ainda olhava malignamente para Naruto.

— Acho que isso é seu. — Tenten falou humildemente me estendendo meu distintivo, minha arma e um colete a prova de balas do departamento policial. Eu peguei as coisas devagar colocando em mim sem olhar para ela.

— Hina... Eu... Eu não podia te dizer. Sinto muito. — Ele balbuciou e eu sei que ela estava chateada.

Eu respirei fundo e olhei para ela.

— Eu só estou um pouco chateada porque você sabia e eu não. Eu entendo Tenten, de verdade. — Eu falei olhando nos olhos dela para que ela soubesse que eu estava sendo sincera.

Ela sorriu fracamente.

— Você não saber fazia parte do plano, era a maneira de te livrar de mais sujeira, uma vez que sabíamos que sua ligação com o agente Uzumaki era obvia. Ele também não podia te contar e ficava preocupado com você, por isso pediu que eu cuidasse dessa linda morena emburrada. — Ela comentou e eu sorri pra ela feliz em saber que ele se importava comigo e que queria ter me contado.

Eu terminei de vestir e me ajeitar. Ainda estava sorrindo.

— Agora deixa eu te falar que esse loiro é um pedaço de mal caminho, ou melhor, ele é a verdadeira estrada da perdição... Que bunda perfeita. Viu aquele peitoral cheio de lindos quadrados no tanquinho? Se ele já não fosse seu eu investia... — Ela comentava com um olhar malicioso, mas parecia perdida em pesamentos, eu sabia muito bem que naquela cabecinha suja só tinha perversões, mas também sabia que ela estava apenas brincando.

Eu ri gostosamente revirando os olhos pra ela.

Ao longe ouvi a risada de Naruto. Com certeza ele ouviu assim como outros, já que Tenten não falava nem um pouco baixo e eu podia escutar as risadinhas.

— Como o loiro já tem dona, será que o moreno sensual chamado Sasuke está disponível? — Ela perguntou sem se importar em estar sendo ouvida. De alguma forma vi que aquilo era uma mais uma brincadeira dela para tentar aliviar a tensão do lugar e integrar os “amigos” na conversa, meio que os fazer se sentir mais a vontade ali conosco.

— Nem pense nisso, morena. O moreno já é meu. — Ouvi uma voz melodiosa e logo vi que pertencia a agente da CIA de cabelos cor-de-rosa. Acho que essa é a Sakura, mulher de Sasuke, ela estava sorridente também. Sabia que era zoação da minha amiga.

— Droga... — Tenten parecia aborrecida. — Bom, ainda tem outros espiões por aqui, acho que vou tentar a sorte com alguns deles. Até mais pessoal... — Ela falou saindo e eu senti que era Naruto quem se aproximava agora pelas minhas costas.

— Boa sorte! — Gritei para ela que saia rindo arrastando Lee pela gola da camisa enquanto ele conversava com Shino sobre alguma coisa.

— Você vai conosco? — Naruto perguntou incerto quase sussurrando em meus ouvidos.

Eu virei para ele e sorri amplamente. Agarrei seu pescoço e o puxei para um beijo apaixonado.

Naquele momento, não liguei para o barulho atrás de mim, nem pra onde eu estava, nem o fato de que fiquei 2 anos sem vê-lo. Tudo o que importava era que eu agora sabia a verdade e mesmo com tanto a perguntar, aquilo podia esperar, uma vez que o mais importante era que ele estava ali sem me deixar pra traz e me convidando a andar com ele.

— Sempre! — Respondi sem deixá-lo ir.