O quarto estava silencioso, e o único som que podia ser ouvido era o de aço sendo polido, e nossas respirações. Eu estava deitada na cama, com um livro em mãos, fingindo ler. Sasuke estava em sua cadeira negra, a kusanagi em seu colo, polindo-a. Voltara da missão na qual estava há exatos dois dias, e até hoje ainda não tomei coragem de dizer que teríamos um filho ou filha daqui há cinco meses.

Sim, cinco meses. Um mês se passou desde que descobri que estava gravida, um mês bem turbulento. Eu passava mal com frequência, náuseas e tonturas, além da fome que aumentara ainda mais. Já tinha ganho três quilos, e minha barriga começara a ficar saliente. Ainda não estava muito perceptível, mas para olhos perspicazes seria fácil descobrir que estava gravida de alguns meses. Bem, aquele não era o caso de Sasuke, que apesar de ter olhos poderosíssimos, motivo o qual o mesmo era tão temido pelos inimigos, ainda não tinha percebido nada. Nem mesmo que meu quadril aumentara, e minha barriga tinha um pequeno monte.

Suspirei, fechando o livro entediada. Por que Sasuke tinha que ser tão...Sasuke? Era sempre tão calado, sério... imprevisível. E era exatamente por isso que estava com tanto medo de contar para ele. Não sabia como ele iria reagir, afinal não foi nada planejado. Simplesmente aconteceu. Mas apesar de tudo, era uma coisa boa, não era? Pelo menos para mim...agora, o que passaria pela mente de meu ilustre marido? Ficaria feliz? Com raiva? Ativaria o sharingan e me queimaria com as chamas negras?

Ri de meus próprios pensamentos. Era obvio que ele não faria isso. Mas o que faria?

Passei a observa-lo de longe, com o livro jogado sobre meu colo. Estava com a camisa negra comprida que usava para dormir, calças de moletom também negro e com pantufas também negras. Tudo negro e escuro. Se as luzes não tivessem acesas, provavelmente nem o veria. Seus cabelos, relativamente maiores agora, caiam sobre sua face séria e compenetrada, enquanto sua única mão polia sua longa katana. Parecia tranquilo. Sereno.

– Sasuke- kun? – o chamei sem nem me dar conta. Ele me encarou, e eu sorri. Tinha essa mania de fazer isso, pois as vezes tudo parecia muito surreal. Sempre fui apaixonada por aquele homem a minha frente, sempre idealizei casar e ter uma família com ele, mas agora que tenho parece que a qualquer momento tudo vai ruir e o sonho acabar.

– Hn? – Ele arqueou uma sobrancelha, sua atenção totalmente voltada para mim. Os olhos negros me fitavam tão intensamente, que toda a minha coragem de dizer o que estava entalado parecia esvair.

– Nada não, hehe. – murmurei, depois de alguns segundos pensando. Ele deu de ombros e voltou a fazer o que estava fazendo. Droga.

Respirei fundo, me levantando. Sai do quarto lentamente, descendo as escadas e indo até a cozinha. Meu estomago roncava, sinalizando que era hora de um lanchinho. Felizmente tinha feito compras para a chegada de Sasuke. Peguei um copo e enchi com leite, mas de repente tudo pareceu girar, e o copo caiu de minha mão, derrubando todo o leite no chão. Me apoiei na porta da geladeira, respirando fundo.

– Calma, neném. Já vamos comer. – murmurei para a minha barriga, colocando uma mão sobre o montinho.

– O que aconteceu? – quase pulei de susto ao ouvir a voz rouca dele. Virei meus olhos rapidamente em sua direção, um grave erro meu pois novamente fiquei tonta. Em um segundo ele estava ao meu lado, me segurando. – Sakura?

Sua voz pareceu me despertar, e eu o encarei. Seus olhos, tão inexpressíveis as vezes, brilhavam com preocupação. Ele estava preocupado comigo. Seu braço me circundava enquanto me ajuda a me sentar em uma cadeira, sentando-se ao meu lado. Ficamos nos encarando por algum tempo. Suas sobrancelhas estavam arqueadas, em um questionamento mudo.

– Sasuke- kun, o que acha de um bebê? – a pergunta escapuliu, mas não me repreendi. Já tinha adiado aquilo por muito tempo.

– Por que quer saber isso? – perguntou claramente confuso. Devia estar pensando que sou louca. Mesmo assim, sorri.

– Acharia legal ter um bebê? Você sabe.... aumentar a família? – perguntei como quem não quer nada. Se ele dissesse algo positivo, contaria que estava gravida, mas se dissesse algo negativo, postergaria o assunto novamente.

– Eu acharia... incrível. – ele murmurou, sem tirar os olhos de mim, e eu fiquei muito, mas muito feliz. Entendam que, para qualquer mulher com o marido normal, isso teria sido pouco. Afinal, sempre queremos mais. Contudo, para mim aquela resposta era tudo o que eu precisava. Peguei sua mão, que estava sobre a mesa, e a levei até minha barriga, sorrindo.

– Parabéns, então. Você acaba de se tornar papai.­

Em todo esse tempo em que conheço Uchiha Sasuke, o que é muito, já tinha o visto com raiva, triste, vingativo e meio louco... mas nunca, repito, nunca tinha o visto assustado. Seus olhos arregalaram, e ele lambeu os lábios. Piscou algumas vezes, encarou sua mão sobre o meu ventre, me encarou.

– Você está...?

– Sim. – Sorri mais ainda. – Quatro meses já. Descobri mês passado, mas não tive oportunidade para te dizer.

Ele ficou quieto, sorvendo a informação. Sasuke sempre foi inexpressivo, poucas vezes o vi expressando alguma emoção que não fosse raiva ou tédio, mas pude ver várias passarem em seus olhos em um flash: alegria, medo, alegria, esperança, alegria. Sim, ele estava feliz.