O sol brilha através, deixando uma imagem avermelhada
Dentro das minhas pálpebras fechadas
Então eu pego meu caderno e caneta na minha bolsa
E saio para caminhar

Kou fechou os olhos e os abriu novamente pelo que parecia ser a milésima vez naquele dia, sentindo mais entediado do que achava ser possível. Como era possível que uma tarde linda como aquela, tendo a Torre Eiffel como vista, pudesse ser tão entediante?

Ele simplesmente estava sentado de frente para a tela vazia, encarando as tintas espalhadas em sua palheta, as cores se misturando. Olhou mais uma vez para o horizonte parisiense e achou que fosse ficar cego, pois olhara diretamente para o sol. Agora, sua visão estava escurecida e, ao fechar os olhos, tudo ficava vermelho. Ah, ele precisava descansar sua mente.

Com certa preguiça, ele se forçou a se levantar e caminhou penosamente até seu guarda-roupas, retirando o seu paletó marrom de onde estava pendurado. Pegou seu caderno de desenhos seu conjunto de lápis junto de algumas borrachas e apontadores, que enfiou dentro de um estojo cinzento. Tudo isso, junto com sua agenda e carteira, foram para dentro de sua bolsa, que ele usava atravessada no tronco. Colocou sua boina grená na cabeça e saiu de seu ateliê, trancando a porta. Precisava espairecer.

Não importa o quanto eu desenhe, Apenas não sai certo
Mas não por culpa dos meus esforços
Ainda me lembro da estrela cadente que vi
Na calada da noite, Eu estava esperando...

Agora, sentado numa das mesas exteriores de seu café favorito de Paris, tomando um café, Kou ajeitava seus materiais em cima da mesa, separando os lápis de esboço dos que usava para fazer sombras, certificando-se de que não esquecera nada. Assim, bebericou seu café e pegou seu lápis de esboço, segurando-o acima da superfície lisa do papel, sem tocar no espaço em branco.

Kou olhou ao seu redor, procurando algo que pudesse desenhar, sem encontrar nada de realmente interessante. À sua volta, as pessoas passavam conversando sobre coisas que ele não sentia nenhuma vontade de saber. Saía do café uma mulher que segurava a mão de um menininho ruivo, que comia seu croissant. E então, Kou pensou em desenhar o céu. As estrelas. Quem sabe não conseguisse reproduzir com perfeição alguma de suas constelações favoritas.

Assim, ele começou a esboçar um céu, onde haviam várias bolinhas brancas. Mas parecia errado desenhar aquilo.

Kou tinha uma espécie de sexto sentido quando o assunto era suas obras de arte. Normalmente, quando não parecia certo desenhar algo, era porque havia algo muito melhor para se retratar por perto. Na verdade, se tinha uma coisa que Kou odiava, era essa sensação.

Deu mais uma boa olhada ao seu redor e então viu, ela passar como a estrela cadente que ele avistara noite passada.

Olá estrela cadente
Olá estrela cadente, novamente
Eu estava lhe esperando
Aquele sonho de criança ainda está aqui
Sempre... ah... ah...
Assim como ela estava aquele dia, ah... ah...

Quando aquela garota passou ao lado de sua mesa acompanhada por uma menina ruiva mais baixa, Kou percebeu que ela havia reparado nele. Aquela menina, que passara como uma tempestade ao lado de sua mesa, tinha algo que quase fez com que Kou se levantasse para cumprimenta-la. Mas ele se conteu.

Olá, ele queria dizer, Acabei de notar que você é como uma tempestade e que preciso pintar um retrato seu. Mas aquilo soava ridículo até para ele, que se considerava um homem romântico.

Mesmo que não fosse dizer aquilo. Kou simplesmente precisava falar com ela. Nem que fossem apenas duas palavras, ele precisava daquilo. Aquela garota despertara nele algo que não sentia há muito tempo.

Olá estrela cadente
Olá estrela cadente, novamente
Estou esperando
Mesmo que eu esteja em lágrimas
Por que não posso desistir de sonhar ah... ah...
Mesma que eu esteja sorrindo ah, ah....
Então brilhe novamente

Kou perdera a conta de quantos cafés mais pedira, e de quantos croissansts comera. Mas continuava ali, firme e forte, buscando manter a calma. Esperava há algumas horas, mas aquela garota não aparecera mais. Teria achado que ele era um maníaco e preferira sair pelos fundos do estabelecimento? Não. Parecia muito improvável.

Por via das dúvidas, decidiu esperar mais.

Eu olho diretamente para esses olhos
E esse mundo transparente é refletido nele
Eles possuem uma cor muito parecida
Olhando para o céu e sentindo paz

E então ela apareceu. Mais uma vez, passando diante dos olhos cinzentos de Kou como uma estrela cadente, ela passou bem ao seu lado, trajando o uniforme daquele estabelecimento, os cabelos castanhos presos num penteado elegante e simples. Então ela trabalha aqui, Kou pensou consigo mesmo.

Qualquer um diria que fora um delírio dele, mas Kou vira quando a menina o olhara, pegando-o no flagra. Rapidamente, desviaram o olhar. Mas então, se olharam novamente. E a garota foi chamada pela amiga baixinha, deixando somente a lembrança dos belos olhos castanhos que ela possuía.

Temendo acabar se esquecendo de algum traço, Kou tratou de deselhar os olhos dela, esforçando-se me representar cada detalhe com precisão e beleza e elegância, o que era a marca de seu trabalho.

Eu não consigo explicar por palavras
Não existe cor mais bela que a sua
Se eu pudesse te representar por sons
O mundo seria acometido pelas reverberações brilhantes

Quando a menina saíu de dentro do estabelecimento novamente, ela carregava uma bandeja com um doce qualquer e caminhava apressada até uma mesa. Quando se voltou na direção de Kou novamente, o artista sentiu seu coração falhar uma batida. Aquela cor incomum, semelhante ao dourado, que os olhos dela assumiram, quando o sol alcançou sua face alva.

Kou sentiu-se ficar confuso e começou a riscar com um lápis mais forte, o contorno dos olhos da morena.

Eu estou esperando por você
Eu estou esperando por você, sempre
Estou esperando
Sonhando, você está indo longe
Sempre, ah... ah...
Perseguindo, ah... ah...

E sem que percebesse, Kou estava sonhando.

Em seu sonho, ele e a garota estavam no ateliê dele. Kou mostrava com orgulho suas obras de arte e a menina comentava sobre a leveza das pinceladas de Kou. Então, eles se aproximaram... e Kou acordou.

Eu estou esperando por você
Eu estou esperando por você, sempre
Não quero desistir de sonhar, nunca
Assim como você ah... ah...
Assim como naquele dia, ah... ah.

Kou se sentiu sendo sacudido de leve e abriu os olhos lentamente, surpreendendo-se ao notar que já escurecia. E que quem o acordara era aquela garota, que se assemelhava a uma estrela.

-Ei... Já estamos fechando -ela comunicou, sorrindo soliedariamente.

Kou se endireitou e juntou seus materiais, guardando-os dentro de sua bolsa cuidadosamnte. Olhou para a garota à sua frente, pensando o quanto ela era bonita.

-Obrigado por me acordar -ele disse, meio sem graça.

-Tudo bem -ela sorriu genuínamente, estendendo a mão -Me chamo Futaba. Yoshioka Futaba!

Kou apertou a mão dela levemente, respondendo:

-Mabuchi Kou.

-É um artista?

-Sim.

-E o que desenhava antes de adormecer? -ela indagou, curiosa.

Kou achou graça de como ela parecia confortável em falar com alguém que acabara de conhecer de forma tão íntima. Como uma tempestade. Quando viram, ambos tinham se sentado novamente na mesa, enquanto Kou mostrava à Futaba seu desenho dos olhos dela.

-Acha que consegue terminar meu rosto? -ela perguntou e Kou apenas assentiu com a cabeça.

Assim, passaram a noite acordados, conversando ali mesmo, no meio da rua, enquanto a lua reinava no céu noturno e Kou terminava seu desenho do rosto de Futaba.

Aquela foi a primeira de várias noites.

Olá estrela cadente
Olá estrela cadente, novamente, estou esperando
Vamos nos encontrar numa noite com uma imensa lua
Estou aqui... ah... ah...
Como eu estava naquele dia, ah, ah...
Então continue brilhando

-FIM-