Sentado no meu escritório, encaro a pilha de relatórios que tenho que revisar, mas confesso estar tão nervoso que não consigo me concentrar em nada. Deixo meus olhos se fixarem em uma certa mesa lá embaixo, pois desde a notícia de ontem estou tão nervoso e só consigo pensar nela, talvez seja uma mistura de arrependimento e culpa.

Bem, desde a partida de Emily, eu senti algo adormecido em mim por dez anos despertar de repente, talvez não fosse tão de repente assim. A verdade é que ao longo dos anos eu ainda me sentia ligado a ela, não apenas por Amanda, mas um vínculo invisível que insistia em sempre saber se ela estava bem, talvez eu apenas me convencesse que fosse apenas por Amada, mas quando ela me comunicou que estava saindo em missão, eu sabia que era perigoso e essa coisa dentro de mim despertou.

Tentei me distrair com Beth, mas de nada me adiantou, por vezes me peguei imaginando Emily no lugar dela. Eu queria terminar com ela, na verdade era isso que eu estava pretendendo, mas com a recente noticia eu não poderia fazer isso, eu não poderia deixar um filho meu sem pai.

Tudo bem que há uns quinze anos atrás eu não queria ser pai, tanto é que eu e Emily tínhamos conversado sobre isso, aparentemente ela tinha concordado com meu argumento: tínhamos um trabalho perigoso, vivemos em um mundo perigoso, não podíamos trazer uma criança a um mundo como esse. Tudo ia bem, até que comecei a notar que ela estava ficando diferente, ela quase não conversava comigo mais, ela estava me evitando a todo custo, eu pensei que foi por algo bobo que eu pudesse ter dito a ela, foi quando eu a confrontei. Devo dizer que a pequena quantidade de álcool em meu organismo fez a minha abordagem um pouco agressiva, e com isso gerou uma resposta agressiva. Ela confessou a mim que estava gravida e não importava minha opinião, ela ficaria com o bebê.

Lembro-me perfeitamente dela sair e bater à porta, e eu apenas fiquei ali sentado no sofá encarando o nada. Depois de algumas horas, eu tomei uma decisão e um banho e fui atrás dela, mesmo que estava de madrugada. Não seria difícil acha-la. Emily nunca foi de ter amigos, e com a embaixadora na cidade eu sabia muito bem aonde ela estava. Fui até a casa da família Prentiss, surpreendentemente quem atendeu a porta foi Elizabeth, ela não queria me deixar ver Emily, ela disse que eu já tinha causado estragos suficientes, mas Emily apareceu atrás dela, ela pediu a mãe para nos deixar a sós, ela queria conversar comigo e somente comigo. Quando ficamos a sós, eu logo comecei a falar antes que minha coragem fosse embora, eu disse a ela que o que falei mais cedo foi um erro, eu disse que ela era mais importante pra mim que qualquer coisa e que esse bebê seria amado tanto quanto ela, por fim ela me abraçou, chorou e voltou para casa comigo, devo dizer que Elizabeth não aprovou muito, mas respeito a decisão da filha.

Quando Emily entrou em trabalho de parto, eu estava em um caso em Nova Jersey, mas quando recebi a notícia, entrei no primeiro voo sem nem olhar para trás. Houve complicações no parto, Emily demorou um tempo a mais que o normal para se recuperar, mas Amanda nasceu bem. Ainda me lembro de quando ela escolheu o nome. Eu perguntei a ela qual seria o nome, já que se fosse menino eu escolheria, ela me disse que seria Amanda e eu tive que concordar, não havia nome que expressasse melhor o quanto ela é “digna de amor”.

Sou interrompido por uma batida na porta, eu digo “entre” e sou surpreendido ao ver Strauss acompanhada de um homem que eu não conhecia. Pedi a eles que se sentassem e observei o homem. Ele estava na casa dos trinta anos, cabelos negros e olhos verdes. Strauss apresentou ele como “Agente Nolan da Interpol” foi ai que meu sangue congelou. Eu virei para Strauss e pude perceber que ela estava abatida, isso era como somar um mais um, e o resultado não era nada bom.

“Agente Hotchner, infelizmente venho lhe informar que agente Prentiss foi dada como morta.” Eu apenas o encarei “Como?” ele respirou fundo, aparentemente ele tem pratica nessas coisas “Ela estava em missão e desapareceu, tentamos encontra-la, mas isso tem sido impossível, então dadas as circunstancias ela foi declarada morta em campo.” Tentando não acreditar no que o homem disse eu lembro a ele “Mas ela está desaparecida” ele faz que sim com a cabeça “Agente Hotchner, ela foi dada como morta, mas ainda existe agentes procurando por ela, normalmente não damos esse tipo de notícia a qualquer um, mas quando revisamos a ficha da agente Prentiss, descobrimos a ligação de vocês. Eu sinto muito” Ele disse apertando a minha mão e saiu.

“Hotch eu sinto muito” era Strauss, fiquei tão sem chão que nem percebi que ela não havia acompanhado o agente Nolan. “Ela não pode Strauss... O que eu vou dizer a Amanda? Ela vai me odiar, Emily não pode ter feito isso com ela, ela não pode ter feito isso...” eu parei e completei mentalmente comigo, eu ainda estava na presença da minha chefe, não poderia dizer isso a ela. “Olhe eu realmente sinto muito, Emily era uma boa pessoal, uma agente incrível e sei também que uma mãe extraordinária. Tome o resto do dia de folga e busque sua filha na escola, ela precisa de você agora, tanto quanto você precisa dela.” Eu encarei Strauss, nunca imaginei que ela diria isso, eu iria responder algo, mas ela apenas sorriu e saiu.

Arrumei minhas coisas e sai do escritório. No momento eu precisava de ar fresco, eu precisava por meus pensamentos em ordem, eu precisava pensar como agir, de agora em diante eu estou pisando em um caminho perigoso. Amanda não falou nada desde que recebeu a notícia que Beth está gravida e isso vindo de alguém como ela definitivamente não é bom, ela deveria ter ao menos gritado aos quatro ventos que não está gostando disso, é triste mais eu sei que ela não quer um irmão, sinto que vinculo que estávamos reconstruindo lentamente foi quebrado naquela noite. Então como irei dar a notícia que a mãe dela não vai voltar? Isso será devastador para ela.